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Chego da escola, mas um dia torturante de implicâncias com aquelas garotas e garotos, cada palavras de ofensas e brincadeiras sem limites que chegam a doer na minha alma o que mais dói é os professores assistirem a tudo e não fazer nada, como se fosse minha escolha viver da forma que eu vivo, estou tão cansada, já faz 5 dias que não durmo, nem por um minuto, as vezes eu mesma me pergunto como ainda estou de pé.
Amanhã preciso me levantar cedo, limpar a casa e ir trabalhar, lá pelo menos nos horários em que as crianças dormem, eu também posso dormir um pouco, essa semana estou com o corpo mole, acho que estou gripando, decido fazer uma sopa, talvez assim me fortaleça um pouco.
Assim que entro dentro de casa percebo que está tudo em silencio.
- Parece que eles saíram, vou tomar um banho depois arrumo tudo e preparo a sopa. Tomara que eles demorem um pouco.
Subo para meu quarto corro para o banheiro, meu quarto não tem porta mais, Liam inventou para minha mãe que eu estava levando homens para meu quarto, agora me diz, como isso seria possível se nem na boca eu ainda beijei, nenhum garoto nunca se interessou por mim, mas entendo, não sou bonita, aquilo que dizem que todas as loiras são lindas e perfeitas, não se encaixa em mim. Sim sou loira, de nascença, puxei a meu pai ele é descente alemão, minha mãe é branca dos cabelos pretos, então sou quase transparente, mas magrela demais, olhos fundos por falta de dormir, tenho dois dentes quebrados um por um soco que levei da minha mãe, em um de seus momentos bêbada e outro por me baterem na escola. Vivo com meu cabelo preso, pois os lavo com sabão caseiro, meu cabelo não vê um xampu e condicionador desde que Liam pisou nessa casa, diz a minha mãe que é supérfluo, que o sabão caseiro que eu mesma faço limpa mais, pode até ser verdade, mas eles ficam com cheiro de óleo e todo ouriçado.
Tomo meu banho, visto minha roupa e desço, eles ainda não chegaram, tudo que eu mais queria era ficar uns 2 dias pelo menos sozinha em casa, regularizar meu sono e dar energia a meu corpo, me sinto muito fraca. Organizo a sala e sinto uma tontura, eu ainda não comi nada hoje. Resolvo adiantar a sopa e enquanto está no fogo eu organizo essa zona. Assim eu faço.
- Que paz meu Deus, poderia tanto ser assim mais vezes.
Me sento para comer, mas não consigo relaxar, estar dentro da casa onde cresci e tive momentos felizes em família e hoje me traz apenas medo e dor, muitas cenas se passam pela minha cabeça e por isso fico tensa, como minha sopa, só que ao invés de me dar força me deixa com muito sono.
- Vou aproveitar que estou sozinha e dormir um pouco.
Desde que mamãe retirou a porta de meu quarto, faça, chuva, sol, frio ou calor eu durmo de calça de pijama e camiseta, pois não quero dar motivos, para outro soco no meu rosto. Visto meu pijama e me jogo na cama, não sei por quanto tempo eu dormi, não faço ideia de quantas horas são, a única coisa que sei... é que sinto que tem alguém segurando meus pulsos acima da minha cabeça, com dificuldade abro meus olhos e vejo, é Liam, Liam está em cima de mim, ele prendeu meu corpo entre as pernas dele e com apenas uma mão segura meus pulsos, ele tenta me beijar eu viro o rosto, tento gritar e com a mão dele que está livre ele me enforca.
"Meu Deus me leva antes que ele abuse de mim, por favor" – Peço a Deus em pensamento.
Sinto faltar o ar em meu pulmão, não sinto mais meus pulsos, não consigo mais me mexer, vejo Liam ficar longe, ouço sua voz gritando meu nome.... e mais nada.
Acordo assustada, me sento na cama.
"Era tudo um pesadelo meu Deus?" – Penso comigo, mas aí ouço barulho da TV ligada na sala e olho meus pulsos, estão vermelhos, passo a mão em meu pescoço e sinto os vergões no formato dos dedos dele.
"Ele quase me matou" – Começo a chorar, como pode.
"Deus apesar de tudo nunca desacreditei que isso seria uma fase ruim e que mamãe voltaria a si, por favor me leva desse mundo cruel."
Não sabia o que fazer, dependendo de como minha mãe estivesse ela nem sequer me daria a oportunidade de falar alguma coisa, faço o que sei fazer de melhor, me encolho em posição fetal e choro, em silencio, choro por tudo, me levanto as 04 da manhã como sempre para limpar a zona da casa, só que eles ainda estavam na sala, faço um café preto, tomo e subi novamente para meu quarto, separo minha coisas que preciso para levar ao trabalho e fico aguardando eles passarem para ir limpar lá embaixo, quando ouço Liam gritar por socorro.
O instinto de qualquer ser humano ao ouvir um pedido de socorro e ir até lá, mesmo sem saber se pode fazer algo e comigo não foi diferente, desço as escadas correndo.
- O que foi?
- Liga para a emergência, sua mãe está tendo uma convulsão.
Peguei o celular dele que está em cima da mesa de centro no meio de toda a droga que eles estavam usando e ligo, assim que mamãe parou de tremer o corpo e eu não sei se ela está morta ou não, ele solta a língua dela, corre no quarto deles, pega uma mochila e sai fugido da casa. O desgraçado não teve coragem nem de acompanhar minha mãe. A ambulância chega e vou com ela para o hospital, eles dizem que o pulso é fraco, mas ela ainda está viva.
Minha mãe ficou internada por 5 dias, policiais, juizado de menores, todos forma lá, eles queriam internar ela em um centro de recuperação, mas não tinham com quem me deixar, não conseguiram falar com meu pai. Ela assinou um termo de responsabilidade informando que iria participar de reuniões 3 vezes por semana, fomos embora, assim que chegamos em casa, foi Liam quem abriu a porta.
- Oi meu amor, como você está?
- Eu achei que iria morrer Liam.
- Não fala besteira querida, vem vamos para o quarto.
Eles sobem a casa está parecendo uma casa abandonada. Ele revirou todo meu quarto, provavelmente atrás de dinheiro. O bom de ficar esses dias no hospital foi que me alimentei muito bem e consegui dormir, mas para meu desespero a realidade voltou.
Me acostumei a dormir no hospital e acabei adormecendo na minha cama e mais uma vez acordo com Liam segurando meus pulsos e me prendendo, mas dessa vez consegui soltar um grito.
- MÃEEEE.
- Cala a boca sua vadiazinha.
Apenas um grito, isso foi tudo que saiu da minha boca, e claro pedi ajuda de minha mãe, minha mãe, logo em seguida ele me dá um soco no rosto e eu sento engolindo o sangue, ele rasga minha roupa. Começo a chorar e para minha sorte, minha mãe aparece na porta do quarto.
- O QUE SIGNIFICA ISSO?
Liam sai de cima de mim, eu tento me cobrir, levo a mão na boca e tento limpar o sangue.
- Mamãe.
Ela olha para mim e olha para Liam. Eu até respiro aliviada acho que agora ela o coloca para fora, só que eu me enganei, ela vem até mim, puxa meu cabelo e sai me arrastando para fora do quarto.
- Te dei de tudo nessa vida.
- AI MÃE.
Ela me arrasta escada abaixo.
- Tanto homem no mundo e você quer roubar o meu?
- Mamãe para por favor, me escuta, eu não fiz nada, foi ele.
Ela abre a porta da casa, olho e está tudo escuro, tudo deserto, ela me joga na calçada de casa.
- Espere aqui sua vagabunda que irei trazer seus trapos.
- Mamãe.
Ela fecha a porta, tento me cobrir com o resto das roupas que estão em mim, escuto os passos dela subindo as escadas e logo em seguida descendo, ela joga tudo meu no chão em cima de mim.
- Mãe, para onde eu vou? Eu não fiz nada.
- Você acha que não sei, que ficava se jogando para cima dele? Ele me conta tudo sua vagabunda, mas, eu não pensei que chegaria a tanto. Nunca mais quero te ver, você está morta para mim, você não presta igual aquele desgraçado do seu pai.
Ela entra e fecha a porta, encontro uma blusa de frio que está ali, junto minhas coisas e saio andando, choro caminhando sem rumo, não sei para onde ir, não tenho amigas, não sei do meu pai.
"O que eu faço agora, se fui esquecida até por Deus?"