Capítulo 5 Uma bebedeira e uma amiga

- Olá você deve ser o senhor Launder.

Observo ela que me recebe com um sorriso no rosto.

- André, não há necessidade de formalidades.

- Tudo bem, senh... André. Rsrs.

- Rsrs. Bom, o que temos aqui?

- Esse apartamento fica na cobertura como me pediu, ele possui dois quartos com suíte e um quarto de hospedes, um banheiro social, sala de visitas, sala de jantar, uma cozinha espaçosa, dois quartos pequenos de empregadas, que ficam separados do restante do apartamento e possui entrada por um elevador independente, temos também um escritório com as medidas que me passou, a sacada percorre por todo o apartamento, sei que me pediu simples, mas, na área externa da cobertura possui um piscina e área de lazer, a garagem é para dois carros.

- Tudo bem, vamos ver se eu me agrado dele.

Seguimos para o elevador privativo, ela me entrega um folder do prédio com as descrições dele, ela coloca um cartão chave no elevador e ele reconhece que se deve seguir para a cobertura, o prédio é composto de 25 andares, os 5 primeiros são 4 apartamentos por andar, os próximos 10 apenas 3 apartamentos por andar, os próximos 5 são 2 apartamentos por andar, os próximos 4 são apenas um apartamento por andar e a cobertura composta por dois andares, a área de lazer e a piscina compõe o último andar, na área comum, tem uma piscina comunitária com regras para os moradores, academia, sauna, parque para as crianças se divertirem de forma segura, portaria 24 horas, com câmeras na entrada e tudo mais, segurança aqui é o forte do condomínio.

- Senhor André tenho uma pergunta um tanto quanto pessoal, se não sentir à vontade em me responder, eu entenderei.

Quando ela me fala isso me sobe um frio na barriga e já penso que ela irá perguntar sobre Beatriz.

- Combinado.

- Bom, quando disse a meu gerente que você era o meu cliente, ele separou para mim alguns apartamentos bem mais... chiques, mansões e queria passar o senhor para outro colega com mais experiencia, quando me recusei ele me contou que o senhor é um CEO muito importante na cidade, sua empresa se prospera a cada dia mais, porque me escolheu como corretora ao invés de alguém com mais experiencia?

- Ah! Isso. – Respiro aliviado.

- Bom, Elaine, as pessoas têm o costume de quando crescem em suas profissões param de escutar os clientes e quando estão no início dão foco em cada detalhe que solicitamos, confesso que estive nessa busca a um tempo, mas como seu gerente, tentaram me convencer que o que seria melhor para mim seria mansões e apartamentos enormes. Pensei em comprar um apartamento no subúrbio, mas o que me fez mudar de ideia é a segurança, estimo a segurança até de meus funcionários e sendo como me disse eles também terão conforto.

- Agora entendi, confesso que meus colegas estão torcendo para que eu não consiga concluir a venda.

- Outras mulheres, creio eu.

- Sim.

- Infelizmente Nova Iorque é um lugar onde se tem cobra tentando derrubar cobra e quando veem alguém inocente, tentam tirar proveito disso, e você, sempre foi corretora?

Percebo que ela foge de me responder e é salva por enfim chegarmos ao apartamento, assim que o elevador se abre, damos de frente com um hall com a decoração estilo rústico, ponto para Elaine, pois pensei que entraria diretamente dentro do apartamento, o que iria me tirar a privacidade, imaginei Arthur entrando direto.

- Bom, pode fazer as honras. – Ela diz.

Ela me entregar o mesmo cartão chave, pego e coloco no local indicado e a porta se abre, entro e fico encantado, a decoração é bem rustica, parece ter sido decorado para um homem morar sozinho o que me agrada, caminhamos pelo apartamento ela me mostra cômodo por cômodo, todo móvel planejado já está ali, de forma rústica, guarda-roupa, painel de TV, armário da cozinha, embaixo da ilha da cozinha, armário sobre o local que se deve ficar a lava-roupas, faltando apenas, camas, sofás e decoração básica. Consigo me ver morando aqui, começando do zero minha vida.

- Até agora tudo me agrada, se eu for realmente ficar, por favor preciso das medidas das janelas para mandar fazer as cortinas, tem muita claridade aqui.

- Sim senhor.

Enfim chegamos à área de lazer, quem iria amar isso seria Beatriz, ela conseguiria em um apartamento plantar suas flores favoritas. Isso me entristece.

- Gostei bastante Elaine, principalmente por ter tudo que eu te pedi, confesso que quero me mudar o mais rápido possível, mas preciso de uma arquiteta, quero mudar algo aqui, consegue uma para mim e fechamos o negócio.

- Sem problemas, me passe as alterações que deseja fazer e irei providenciar.

- Aqui nesse espaço onde poderia ser um canteiro, quero que mande retirar essa terra e areia sei lá, apenas quero que transforme em um bar, rústico de acordo com toda a decoração do apartamento.

- Certo, irei providenciar.

- Mais uma coisa.

- Sim.

- Você será minha ponte com a arquiteta, não quero contato com ela.

Vejo que ela fica pensativa.

- Será mais fácil ela te escutar do que a mim, se possível mantenha segredo o meu nome.

- Compreendo, será dessa forma.

- Leve toda a documentação para mim na minha empresa. – Entrego a ela meu cartão.

- Sim, entro em contato com o projeto para ser aprovado.

- Perfeito. Vamos?

Saímos de volta, cada um em seu carro e seguimos cada qual para o seu destino.

Alguns dias se passam e Elaine me envia um e-mail é incrível o tanto quanto ela é esforçada, ela presta atenção em cada detalhe do que pedimos, o projeto que ela me enviou é como se ela estivesse lendo minha mente quando disse a ela os detalhes, aprovo e ela me pede o prazo de uma semana. Digo a ela que pode trazer a documentação, pois já irei acertar tudo. Combinamos tudo, uma pena que no dia em que agendei o horário com ela, não me atentei que dia seria, foi bem no dia em que eu e Beatriz faríamos quatro anos de casados, tínhamos um jantar reservado e só me atentei a que dia era, quando me ligaram para confirmar a reserva, eu deveria ter desmarcado com Elaine, mas não tive forças nem para isso, mandei desmarcar tudo e pedi que ninguém me perturbasse, tirei meu terno e fiquei somente de camisa e calça, com um copo de whisky olhando a vista pela grande janela em meu escritório, é uma data que estará marcada em mim pelo resto da minha vida, conectada a um dos dias mais felizes da minha vida e agora uma sensação de vazio, ali bebendo a não sei quanto tempo vejo o céu escurecer, tudo em que vivemos desde o nosso primeiro esbarrão na faculdade até aquela última mensagem se passam e repassam na minha mente, ouço baterem na porta, olho para a porta de vidro e vejo Elaine, aí me lembro da reunião, respiro fundo e passo a mão pelos cabelos, faço sinal para ela entrar, como me esqueci de desmarcar, vou apenas pegar os papeis e amanhã entrego para ela, hoje não tenho condições, quando tento andar para a minha mesa, tudo gira, tento me firmar mas cambaleio, Elaine corre e me apoia.

- Epa...

- Desculpa.

- Calma aí grandão, se sente aqui.

Com ela me apoiando me sento no sofá. Ela olha para a mesa.

- Meu Deus senhor André está tentando ter uma cirrose?

- Que?

- Duas garrafas já se foram, e a terceira está pela metade.

- Ah isso. Pega meu celular, liga para o Gabriel...

Eu não vejo mais nada, eu simplesmente apago no sofá. Eu acordo um tempo depois e vejo Elaine encolhida na minha cadeira, com meu terno por cima, dela. O que ela faz aqui. Observo tudo e está impecável, mas quando tento me sentar.

- Aí... MERDA. – Que pontada, eu sinto que minha cabeça vai explodir.

- Hum... Senhor André.

- Para com essa merda de senhor e fala baixo.

- Rsrs. – Ouço ela rir baixo.

- O que foi?

- Eu estou quase cochichando.

- Preciso de um remédio.

- E um banho.

Realmente eu estou fedendo a whisky.

- Bom agora que acordou eu já vou embora, toma, um analgésico e um copo de água.

- Obrigado. Mas espere eu tomar um banho, eu vou melhorar e te levo para casa, está tarde, você ficou aqui e me viu desse jeito...

- Calma, todos temos dias que deveríamos esquecer.

- Como sabe?

- Sabia que fala enquanto dorme?

- Só quando estou bêbado. Rsrsrs e eu estava bêbado.

Ela levanta duas garrafas de Whisky vazias.

- Devo ter falado bastante.

- Digamos que sinto que eu te conheço muito bem agora.

- Hahaha, me espera aqui um minuto, vou tomar um banho e já volto.

Tomo um banho, e só da água cair na minha cabeça já me sinto melhor, agora só preciso dormir mais um pouco, saio do banho, visto uma forma menos formal, escrevo um bilhete para a minha secretária. "Desmarque todos pela manhã. A. L."

Ela conhece minha caligrafia, vou dormir pela manhã e me recuperar, mas vou para um hotel, não quero minha mãe me enchendo.

- Vamos?

Ter esse momento com Elaine, foi muito bom, ela é simples, divertida e me parece uma boa amiga, não me julgou e me apoiou mesmo sem me conhecer, sinto como se fosse uma irmã, chegamos na casa dela, uma casa simples, pequena.

- Não repare senhor André.

- Quem?

- André...

- Isso garota. Tinha tempo que não me sentia bem falando com alguém, obrigado.

- Digamos que você foi a primeira pessoa que me tratou de igual para igual e temos uma classe social bem distinta.

- Não me importo com isso, descobriu alguns segredos meus, preciso saber os seus. Vamos marcar um jantar.

- Não, se quer descobrir meus segredos, vamos nos divertir um pouco, vamos a um bar pelo menos.

- Vemos isso, levo o contrato para você mais tarde.

- OK, até André.

Sigo para um hotel, quando acordo leio toda papelada assino e vou para o escritório, no fim do expediente vou até o escritório de Elaine para entregar os papéis, mas ela não está.

            
            

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