O leão e a pantera
img img O leão e a pantera img Capítulo 2 Segundo
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Capítulo 10 Décimo img
Capítulo 11 Décimo primeiro img
Capítulo 12 Décimo segundo img
Capítulo 13 Décimo terceiro img
Capítulo 14 Décimo quarto img
Capítulo 15 Décimo quinto img
Capítulo 16 Décimo sexto img
Capítulo 17 Décimo sétimo img
Capítulo 18 Décimo oitavo img
Capítulo 19 Décimo nono img
Capítulo 20 Vigésimo img
Capítulo 21 Epílogo img
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Capítulo 2 Segundo

Se aproximou do buraco e enfiou o dedo para ver se era de verdade. Vendo que o dedo atravessou, era mesmo um buraco e não coisa da sua mente. Mas o que aconteceu afinal? Estava tão confusa com tudo. Se lembrava de estar esperando eles voltarem para casa com a comida e depois o Kenup chegar. O que aconteceu depois disso? Por mais que se esforçasse, não conseguia se lembrar de jeito nenhum.

Pegou o desenho e desamassou. Respirou fundo e apertou o papel contra o peito. Como ela faria para ver o Adriel de novo? Será que eles sabiam o que tinha acontecido? Quem sabe não conseguiriam abrir um portal e fossem buscá-la?

Resolveu puxar o armário para onde estava o buraco para que ninguém visse aquilo e perguntasse o que aconteceu, ela não saberia responder. Depois ficou horas deitada na cama lendo o caderno dos sonhos. Era incrível que cada coisa que escreveu foi visto naquele lugar. Sorriu sozinha com as lembranças. Acabou dormindo com o caderno em cima do peito.

No dia seguinte sentiu uma cosquinha na bochecha e abriu os olhos. A mãe dela a acordava. Será que aconteceu algo com ela? Nunca foi uma mãe carinhosa e agora estava a acordando com carinhos em vez de gritos?

- Está bem?

- Sim.

- Vamos.

- Aonde?

- Pra escola, onde mais?

- Ah não! Eu ainda estou muito mal! - Cobriu a cabeça com o travesseiro.

- Você acabou de dizer que está bem, July.

- Mas eu perdi um tempo de aula!

- Não tem problema, os professores vão te ajudar. Foram só alguns meses.

July resmungou contrariada.

Ter que vestir aquele uniforme cafona de novo a fez ficar com um grande mau humor. Sem falar no grande calor que estava sentido! Já tinha se acostumado com o frescor daquele lugar, agora voltar para o forno ia ser difícil!

- Tenha um bom dia - o pai dela falou isso depois de beijar sua testa.

- Vocês estão bem? - perguntou com a testa franzida.

- Por que não estaríamos?

- Nunca foram assim comigo.

Os dois trocaram olhares e July percebeu que ficaram incomodados com o que ela disse.

- Quando chegar, vamos conversar melhor.

- Por que não conversamos agora e amanhã eu volto pra escola?

Os dois cruzaram os braços e ela suspirou.

Saiu de casa e respirou fundo, até respirar ali era mais difícil. Caminhou até a escola, que agora era bem perto e não vinte minutos de distância a pé. Praticamente se arrastou até sua turma e quando apareceu na porta, todos olharam para ela. Alguns vieram em sua direção e perguntaram se estava bem, se não ficou com sequelas.

July espantou os curiosos quando as perguntas começaram a irritar. Agora ela entendeu porque o Adriel reclamava tanto das perguntas dela! O professor entrou na turma e cumprimentou ela. No fim da aula, quando ia embora, ele pediu para que ficasse. Parou em frente à mesa do homem careca e esperou o que ele queria falar.

- Sei que está cansada e quer ir pra casa, só queria falar sobre a matéria que se acumulou.

- Eu vou repetir, não é? Perdi muito tempo.

- Não vai repetir se você se esforçar.

- Isso quer dizer estudar até morrer...

- Quer dizer estudar para conseguir nota. Você só perdeu quatro meses de aulas.

- Dá no mesmo - resmungou e o homem olhou a porta do lugar. Se alguém visse ela falando assim, poderia dar problemas.

- Controle-se! Acho que não esqueceu as regras sobre comportamento, ou esqueceu?

- Se eu tiver esquecido por causa do acidente, ninguém pode brigar comigo, não é?

July percebeu que ele segurou o sorriso.

- Melhor você ir descansar.

- Obrigada.

- Até amanhã.

Voltou para casa reclamando sozinha por ter que ficar com o nariz enfiado em livros. Quando entrou, viu seus pais parados em pé um ao lado do outro e tinham expressões suspeitas no rosto.

- Que foi?

Os dois se afastaram e ela viu um pequeno bolo de aniversário em cima da mesa. A menina se aproximou e deixou a mochila cair no chão. Se passaram dez meses desde a guerra... Era aniversário de dezessete anos dela.

Isso não podia ser bom!

- Feliz aniversário, minha filha!

A mãe dela a abraçou e depois o pai.

- Não pode ser meu aniversário! Eu perdi dez meses da minha vida?

Os dois trocaram olhares.

- Sei que ainda está tudo complicado para você, mas as coisas não pararam enquanto você estava lá - disse o pai dela e July olhou para o chão. Realmente enquanto ela estava com Adriel, o tempo não deve ter parado. Mas por que será que eles achavam que ela ficou em coma?

- Eu não quero comemorar, por favor, não me levem a mal.

- Claro que não. A gente entende.

- Obrigada. Só quero deitar na minha cama...

Ela foi para o quarto e encostou na porta. Precisava voltar para a casa de Adriel antes que começasse a aparecer homens querendo se casar com ela! Mas não fazia ideia do que fazer!

***

Os dias começaram a passar depressa. Quanto mais os dias passavam, mais aflita July ficava. Os pais dela já tinham recebido três pessoas em casa para se casar com ela e isso estava a deixando louca! Precisava agir e já!

Passou pelo corredor como uma bala e apareceu na sala com um short curtinho, que ela cortou com a tesoura. Os pais do garoto que estava se apresentando a olharam com os olhos arregalados.

- Com licença... - A mãe de July a agarrou pelos braços e a arrastou para o quarto. - O que está fazendo?

- Evitando uma tragédia!

- Aquele foi o melhor partido que encontramos até agora!

- É mesmo? E quem disse que eu ligo?

O rosto da mulher endureceu.

- Acho melhor você começar a se controlar, July. Sabe que as coisas têm que ser feitas perante a lei.

- Eu não ligo pra essa lei idiota! - falou alto.

- Fala baixo, July! - repreendeu com o rosto vermelho, a menina não soube dizer se de raiva ou vergonha. - Comece a se acostumar! E se ficar de gracinha, escolheremos o marido mais velho que chegar aqui! - Saiu do quarto batendo a porta e July sentou na cama.

Em pouco tempo começou a chorar de soluçar. Precisava fugir dali. Como se casaria com alguém depois de encontrar o Adriel? Se antes já era ruim, agora ficou pior ainda.

***

Entrou em casa depois de mais um tedioso dia de aula. Ao passar pela sala, ficou paralisada olhando sua mãe e um homem. Estava sozinha com ele. A mulher sorriu ao ver July e o homem a olhou também. July arregalou os olhos ao ver o médico que cuidou dela. Ele sorriu ao vê-la e a olhou de cima para baixo. July estava com a roupa da escola e um pouco descabelada, mas tinha a boina na cabeça. Não encontrou reação para aquela cena que presenciava. No fundo ouvia sua mãe dizer que era o melhor partido que tinha entrado naquela casa, mas parecia até sonho. As vozes pareciam estar baixas, como se fosse um rádio tocando no volume baixo.

Saiu do transe quando o homem parou na frente dela.

- Até mais, July.

Não respondeu, pois estava chocada demais para isso. Viu sua mãe se aproximar com um largo sorriso e revirou os olhos.

- É ele!

- E se eu não quiser?

- Você não tem que querer!

July bufou estressada. Jane passou a mão no cabelo dela e tirou a boina de sua cabeça. Ela analisou a garota.

- Que é?

- Seu cabelo está muito grande - falou apontando para o cabelo que batia na altura do cotovelo. - Vamos cortar.

Quando ela falou isso, a memória de Adriel colocando o cabelo dela atrás da orelha veio sem que pudesse evitar.

- Não vai cortar nada!

- July não piora as coisas!

- Eu não quero cortar o meu cabelo por causa de um cara que nem conheço! Não quero me casar com ele e viver, comer e dormir com uma pessoa que nem sei o caráter!

- Pare de falar besteiras, July!

- Eu me nego.

- Você não pode fazer isso. Quem escolhe somos eu e seu pai.

- Mas a vida é minha!

Jane segurou o braço dela com força.

- Pare de pedir para morrer, July! Você sabe que quando faz dezessete tem que se casar com alguém!

- Eu não quero mãe...

A mulher soltou o braço dela ao ver seus olhos cheios de lágrimas.

- Eu não quero...

- Eu sei que está assustada, July, mas estamos fazendo isso para te proteger. Se não fosse essa lei, você não se casaria tão cedo.

July fechou os olhos e as lágrimas escorreram pelo seu rosto.

- Vem cá.

Quando sentiu os braços de sua mãe em volta de sua cintura, chorou mais ainda. Nunca tinha acontecido isso antes e a mãe dela nunca conversou com ela sobre nada. Absolutamente nada!

- Estou escolhendo-o porque conheço e sei que vai te tratar bem. Entendeu?

July concordou.

- Confie em mim. Ele é o melhor de todos.

Não tinha muita opção mesmo, não é?

***

Alguns dias se passaram e o médico sempre visitava July depois do trabalho. Isso também era uma regra. O homem que quisesse se casar, deveria cortejar a garota até que firmasse o compromisso.

July estava sentada na varanda da casa com um grande bico. Ele chegaria a qualquer momento. Viu ele aparecer e revirou os olhos. Podia falhar pelo menos um dia, não é? Assim teria desculpa para falar que era ruim!

- Olá.

- Oi - respondeu emburrada.

- Não precisa ficar com raiva de mim.

- Não tenho raiva de você, só dessa situação.

- Você não tem travas na língua mesmo, não é? Por isso gostei de você.

Ela levantou o olhar que estava em seus pés e o encarou. O homem sorriu de lado.

- Já posso entrar?

Ele deu uma risadinha.

- Não. Vou te levar para sair hoje.

- Fala sério... - resmungou.

- Ande logo! - Agarrou o pulso dela e fez com que levantasse da cadeira.

- Não me apresse! Não gosto disso.

- Quanto mais rápido formos, mais rápido você volta.

July ficou pensativa.

- Aonde vamos? - perguntou já indo na frente dele e escutou sua risada.

- Vou te levar para conhecer meus pais.

Ela parou de andar na mesma hora e olhou para trás.

- Você está indo rápido demais!

- Pra que demorar tanto? - Ele deu de ombros.

- Não gosto que fiquem me pressionando...

- Olha eu sei que tudo isso deve ser horrível pra você. Tão nova e tendo que se casar. Mas eu estou disposto a te fazer feliz.

- Por que acha que consegue? - July riu.

- Muitas meninas queriam estar no seu lugar, sabia?

- Ótimo! Ainda por cima é convencido! - Revirou os olhos e o homem deu uma gargalhada alta.

- Vamos, eles estão esperando a gente.

- Droga! - reclamou e foi com ele.

Quando chegaram na casa dele, July ficou um pouco mais tensa do que já estava. A casa era imensa e muito bem arrumada. Olhou o loiro e ele sorriu. Entraram no lugar e ela reparou tudo. Tanta gente passando fome e eles com estátuas de ouro? Jura? Agora que não queria casamento mesmo!

- Olá! Bem-vinda! - Um homem baixinho e gorducho se aproximou e abraçou July.

Ela franziu a testa e olhou para o médico. Ele fez sinal para ela abraçar de volta e ela deu um leve tapa no ombro do homem.

- Meu nome é Augustin! É um prazer receber uma menina tão bonita como você!

July sorriu sem graça.

- Pena que eu já sou casado... - sussurrou para ela, que ergueu uma das sobrancelhas.

- Pai!

O homem deu uma risadinha.

- É brincadeira, filho! Entre! Minha esposa espera ansiosa.

Os dois seguiram o homem e entraram em um lugar bem grande com uma mesa lotada de comida. Logo uma mulher magra e bem vestida se aproximou dela. Usava um vestido extravagante até os pés e um salto alto enorme. Aparentava ter uns quarenta anos.

- Bem-vinda, querida! Estamos muito felizes em conhecer você.

- Obrigada.

- Sente-se. - Apontou para a cadeira e July seguiu até lá. - Anthony me disse que você era muito bonita, mas achei que estava exagerando.

- Talvez estivesse mesmo...

Os dois riram e July olhou o loiro, que sorria.

- Não, ele tem toda a razão.

July sentiu as bochechas esquentarem e desviou o olhar.

- Ela é tão fofa!

            
            

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