- Ande logo! Troque de roupa e vamos tomar café da manhã com a gente.
July levantou da cama com fúria e começou a tirar a roupa esquecendo completamente que Adriel estava debaixo da cama. Ela pegou um vestido no armário e colocou. Tudo isso com muita raiva.
A mãe dela observava de braços cruzados. Ia ser muito difícil fazer July entender que só estava a obrigando a se casar pelo bem dela e de todos na casa.
- Deixa eu te ajudar com esse cabelo - falou quando ela já estava vestida.
- Não toque no meu cabelo - disse carrancuda.
- Por que você é tão difícil, July?
- Porque não sou fácil... - Olhou o rosto de sua mãe e se arrependeu de ter dado essa resposta. Ela a encarava de cara feia e se não estivesse se controlando e se Anthony não estivesse lá fora, ela com certeza receberia uns cascudos bem fortes.
- Tem cinco minutos para arrumar essa juba! - Saiu do quarto batendo a porta.
July jogou uma peça de roupa onde ela passou.
Adriel estava dormindo com ela, mas teve que se jogar no chão e rolar para debaixo da cama quando ouviu a mãe dela se aproximar. Ele saiu lá debaixo. Os dois ficaram em silêncio um olhando para o outro.
- A gente pode ir embora?
Adriel desviou o olhar.
- Qual o problema?
- Não sei como voltar.
July arregalou os olhos.
- Como veio até aqui?
- Pedi ajuda das fadas.
- As fadas podem abrir portais?
- Sim e você também pode.
- Acho que não. Já mentalizei, pedi e implorei por isso e nada.
Adriel concordou com a cabeça.
July pegou uma escova e começou a escovar o cabelo. Tinha um pequeno espelho na porta do armário dela. Adriel se aproximou e parou atrás dela e ficou olhando. July sentiu o rosto esquentar ao lembrar do que fez. Trocou de roupa com ele debaixo da cama!
Ela evitou olhar nos olhos dele, mas sem querer eles se encontraram no espelho. Adriel se aproximou e July sentiu o coração acelerar. Ele pegou a escova da mão dela e começou a escovar seu cabelo com todo o cuidado. Ela sorriu e ele também.
July virou de frente para ele quando terminou. A menina puxou os cabelos para o lado e começou a fazer uma trança. Adriel observou ela entrelaçar as mechas umas nas outras e sorriu quando ela amarrou a ponta terminando o penteado. A trança ficou de lado e tinha uma pequena mecha solta caindo no rosto dela.
- Você está tão linda!
- Melhor eu ir descabelada então, não é?
O garoto riu.
- Quanto mais você mostrar que é rebelde, mais ele vai querer você.
- Será? - Franziu a testa.
- Sim.
- Como sabe?
Adriel desviou o olhar.
- Eu andei bisbilhotando-o...
- Ouviu ele dizer isso?
- Sim. Estava conversando com outro cara e dizia que gostou de você por não ser como as outras meninas que já conheceu.
- Droga... Agora eu preciso controlar a língua!
Adriel se aproximou e segurou o rosto dela com as mãos.
- Nós vamos dar um jeito.
- Tomara...
Ele beijou a testa dela.
- Agora vai antes que sua mãe venha aqui.
- É melhor... Quando conseguir, vou trazer comida pra você.
Adriel não respondeu e se aproximou dando um leve beijo nos lábios dela. July suspirou e o abraçou fortemente. Tinham nove dias para descobrir como voltar para a casa dele e iam ter que dar um jeito!
July respirou fundo e colocou um bolero, pois o vestido era sem mangas e era proibido usar qualquer coisa que deixasse os ombros à mostra. O comprimento dele também era seguindo as leis, nos joelhos ou abaixo dele, o dela no caso, era nos joelhos.
Seguiu para a sala lentamente e parou perto do sofá onde sua mãe estava sentada. Não olhou na direção de Anthony.
- Que bom que resolveu aparecer.
A menina fez careta quando a mãe dela disse isso.
- Você está linda.
July sorriu forçado quando ele comentou.
- Vamos comer - disse a mãe dela e eles seguiram para a mesa. July fez questão de sentar bem longe dele. Não conseguia se controlar, a raiva era muito grande! Mas depois pensou no que Adriel disse e ele deve ter gostado disso. Resmungou sozinha. Agora não tinha como voltar atrás.
July ficou o tempo todo em silêncio enquanto eles conversavam. Nem comeu direito, aquela situação estava acabando com ela. Principalmente porque o Adriel apareceu e eles não sabiam o que fazer para voltar.
- Você me deixa levar a July para dar uma volta?
A menina olhou sua mãe com expressão que dizia "diga não!".
- É claro. Traga ela para o jantar.
July mordeu o lábio com força.
- Não vamos demorar tanto.
- Tudo bem.
- Vamos? - Estendeu a mão para ajudá-la a levantar.
July levantou sozinha e passou pela porta como um furacão. Quando chegou fora da casa, respirou fundo. Tem que se controlar! Precisa se controlar!
Anthony parou ao lado dela e olhou seu rosto. Ela não o olhou nenhuma vez.
- Não precisa sair comigo.
- Então por que estou aqui?
- Só queria me desculpar por ontem. - Ela finalmente olhou para ele. Parecia envergonhado e arrependido. - Não deveria ter feito aquilo.
- Não deveria mesmo. - Olhou ao redor e conseguiu ver Adriel escondido atrás do muro olhando os dois.
- Sei que agora está pensando mais besteira ainda sobre mim, mas não sou do tipo que força alguma coisa...
July riu nervosamente.
- Claro que não! Foi exatamente isso que mostrou ontem! - falou, cínica.
- July... - Segurou a mão dela e ela puxou com força.
- Não me toque - falou sem olhá-lo.
- Desculpe. Só queria que você não me odiasse.
- Não te odeio. Odeio quem fez essas malditas regras! - Cuspiu as palavras ao falar e ele sorriu levemente.
- Se não me odeia, já é um bom começo.
- Mas isso não quer dizer que não tenha raiva de você. - Tentou consertar o erro no que disse.
- Tudo bem - respondeu sorrindo.
- Ainda vai esperar os dez dias?
- Agora são nove.
July revirou os olhos e ele sorriu.
- E vou esperar.
- Obrigada.
- Vou indo. Até daqui a nove dias.
July o olhou quando disse isso e ele sorriu. Ela não esboçou nenhuma reação e ele foi embora. A menina respirou fundo e passou a mão no rosto com raiva. Adriel se aproximou dela ao ver que não tinha ninguém.
- Vamos dar uma volta?
- Não acha isso perigoso?
- Olha, se me matarem, ficarei mais feliz, assim não tenho que me casar com ele.
- Não fale uma besteira dessas! - repreendeu olhando-a com o semblante sério.
- Mas você viu? Eu não consigo ser falsa... - Fez careta.
- Eu sei que não.
- Então ele vai continuar no meu pé.
- Ele vai até o fim com isso de qualquer forma. - Suspirou ao dizer isso.
- O que a gente faz? - perguntou com desespero.
- Vamos entrar e conversar.
- Sobre o que?
- Vamos e eu digo.
- Tudo bem.
July passou pela porta e Adriel seguiu até a janela dela, que deixou aberta para poder voltar. July explicou para a mãe que Anthony teve uma emergência no hospital e não poderiam sair. Depois foi para o quarto. Quando ela entrou, Adriel já estava lá dentro sentado na cama. A menina sentou ao seu lado.
- Está tudo bem?
- Não.
- O que é?
- Depois que você voltou pra cá, as coisas ficaram estranhas... Parece que o duende estava certo afinal.
- Sobre a profecia?
- Sim.
- Não entendi.
- Quando o inverno acabou, algo muito ruim aconteceu, várias pessoas apareceram mortas na cidade. Em todas as cidades. Não entendemos o que estava acontecendo, até o Malfin nos lembrar do tal do Alandro. Quando mencionou que ele tinha conseguido escapar da prisão que estava, senti alívio por você não estar lá.
- Por que matou essas pessoas?
- Porque ele é ruim, July. Matou porque sentiu vontade.
- Que horror!
- Eu pensei muito antes de vir te procurar. Não sabia o que era melhor, te levar de volta e fazer correr perigo por causa dele, ou ficar longe de você pra sempre.
- Que bom que você veio... - sussurrou e ele a olhou.
O loiro se aproximou mais dela e acariciou seu rosto. July suspirou ao sentir o toque leve.
- Está todo mundo bem? Safira? Theodor? Colin?
- Estão sim - respondeu olhando o chão.
- O que aconteceu que não quer me dizer?
- Lembra do Thomaz?
- Sim.
- Colin o encontrou em uma das banheiras da cidade.
- Ele está bem?
- Estava completamente irreconhecível, não sabemos se ele apanhou até a morte ou se foi feita alguma magia.
Ficou um grande silêncio depois do que ele disse. July colocou as mãos no rosto e começou a chorar. Aquele mundo não! Aquele não podia se tornar como a Terra. Não podia acabar em mortes e assassinatos. Não aquele mundo...
- Vem cá... - Puxou ela para mais perto e a envolveu em seus braços. A menina apoiou o rosto no peito dele e continuou chorando.
- A gente tem que fazer alguma coisa...
- Não podemos fazer nada. Ele é muito poderoso.
July se afastou e olhou nos olhos dele.
- Malfin disse que eu sou mais do que ele.
Adriel balançou a cabeça em negação.
- Não.
- Não o que?
- Não vou deixar você lutar contra ele!
- Por que não? Isso pode ser realmente a salvação.
- E se não for? Não vou aguentar perder você duas vezes! - falou nervoso e July ficou em silêncio.
Adriel se afastou dela, sentando perto da cabeceira da cama. July estava no fim dela. Ele não a olhou, ficou encarando a parede com o rosto sério. A menina deslizou na cama se aproximou dele, mas ele nem se mexeu. July mexeu nas cutículas e mordeu o lábio inferior. Queria fazer uma coisa, porém tinha medo da reação dele, mas pensou em tudo que passou longe dele e como sentiu sua falta e ignorou esse medo.
Levantou da cama e sentou no colo dele da mesma maneira do dia anterior, joelhos apoiados no colchão em volta dele e agarrou seu pescoço com os braços. Adriel tinha os olhos arregalados na direção dela. Sem deixar ele reagir, se aproximou e o beijou. Ele não demorou a corresponder, só a levar as mãos à cintura dela, mas quando a segurou, apertou um pouco.
Trocaram um beijo longo e como da última vez, July não sentiu falta de ar. Talvez tudo que fazia no mundo dele, também pudesse fazer nesse. Dessa vez ela não queria acabar o beijo. Ficou tanto tempo sem ele que não estava nem aí para o que podia acontecer.
Sentiu ele puxar seu corpo para mais perto do dele e simplesmente deixou. Adriel se afastou dela, que o olhou confusa. Ele cerrou os olhos.
- Que foi?
- Não tem mais medo? - Sorriu brincalhão.
July encostou a testa na dele e ficou olhando seus olhos. Sentia falta de ver aquele azul piscina sobre si.
- Depois de ficar sem você, o meu único medo agora é de te perder.
O loiro apertou a cintura dela com força com o que escutou e sorriu, July sorriu junto com ele. Os dois se beijaram mais uma vez. Depois de falar aquilo, se sentia mais à vontade em estar sentada daquele jeito.
Como sempre o beijo estava durando tempo demais. Sentiu as mãos dele deslizarem para suas coxas e só ficou em alerta, não tensa ou com medo. Adriel passou um dos dedos por debaixo do vestido dela alisando sua coxa. Depois passou as mãos voltando para a cintura. July achou que ele ia tirar o vestido dela, mas as mãos deslizaram para debaixo dos braços e ele a tirou de cima dele, colocando-a em pé no chão. A menina o olhou confusa.
- Não quero fazer isso com você.
July olhou para o lado completamente confusa.
- Tudo bem... - Se afastou dele.
- Espera, não foi isso que quis dizer...
- Vou buscar algo para você comer.
- July...
Ela saiu do quarto e ele suspirou.