O leão e a pantera
img img O leão e a pantera img Capítulo 5 Quinto
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Capítulo 10 Décimo img
Capítulo 11 Décimo primeiro img
Capítulo 12 Décimo segundo img
Capítulo 13 Décimo terceiro img
Capítulo 14 Décimo quarto img
Capítulo 15 Décimo quinto img
Capítulo 16 Décimo sexto img
Capítulo 17 Décimo sétimo img
Capítulo 18 Décimo oitavo img
Capítulo 19 Décimo nono img
Capítulo 20 Vigésimo img
Capítulo 21 Epílogo img
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Capítulo 5 Quinto

Pegou o que conseguiu na cozinha e voltou ao quarto. Entregou a ele a comida, mas não o olhou.

- Tenho que dar uma saída - falou sem olhá-lo.

- Pra onde?

- Se eu não estudar, minha mãe vai me fazer ficar mais perturbada do que já estou. Então vou à biblioteca pegar mil livros e fingir que estou lendo eles. Coma o que te dei. Eu não vou demorar.

- Tudo bem.

Saiu de casa e caminhou lentamente pela rua indo à biblioteca. Quando chegou lá, deu os nomes dos livros que precisava para a recepcionista e ficou esperando ela buscar. Enquanto esperava, viu uma movimentação esquisita do lado de fora. Franziu a testa e foi até a porta para ver o que era. Várias pessoas corriam fugindo de algo, mas não conseguiu ver o que. Ficou na ponta dos pés e então viu carros luxuosíssimos subindo a rua. Aquela com certeza não era uma cena normal para aquela cidade!

Viu vários carros passando e entre eles um de cor diferente. Arregalou os olhos ao ver quem estava dentro desse carro. O criador das regras, o imbecil sem piedade, o motivo de sua infelicidade. Fechou as mãos com força e trincou os dentes. Virou para trás com pressa ao sentir algo em seu ombro.

- Minha nossa! - a mulher disse depois de ver o que July estava vendo. Ela tocou o ombro da menina para chamar sua atenção, mas não tinha visto nada.

- O diabo em pessoa.

A mulher agarrou July pelo braço e a tirou da porta.

- Cuidado, menina! Não fale esse tipo de coisa! Ainda mais com ele aqui! Ouvi falar que viria à cidade esse ano, mas achei que eram rumores.

- O que ele faz aqui?

- Está atrás das meninas que não se casaram. Todo ano ele vai em determinadas cidades e em cada casa se certificar disso. As que não estão casadas, vão com ele e as que não tem pais também.

July engoliu em seco.

- Era só o que faltava... - sussurrou com desespero.

- Quantos anos tem, menina?

- Dezessete.

A mulher a olhou com pena.

- Já tem marido?

- Acabei de fazer aniversário, mas já tenho um pretendente. Só falta marcar a data.

- Melhor fazer isso logo.

July fechou os olhos e apertou as mãos com força, como se aquilo fosse fazer ela acordar daquele pesadelo.

- Tome seus livros. Vá pra casa. Vai dar tudo certo - falou com as mãos nos ombros dela.

July voltou para casa com certa pressa. Quando entrou, foi recebida com um abraço apertado.

- Onde você estava?

- Fui buscar os livros para estudar...

A mãe dela olhou em suas mãos. July olhou ao redor e viu seu pai e Anthony sentados no sofá.

- Kirovs...

- Eu sei - interrompeu. - Vi ele.

Os três ficaram surpresos.

- Maldita hora para escolher essa cidade!

- July!

A menina passou a mão nos cabelos fazendo eles ficarem revoltos.

- Anthony veio marcar a data antes que ele passe por aqui.

July revirou os olhos e se sentou no sofá. Agora a coisa era pior. Ou se casava com ele, ou poderia ser obrigada a ir com Kirovs sabe-se lá para onde e para que.

- Quando vocês acham que é o melhor?

- O mais rápido possível. Não quero que leve minha filha.

- Semana que vem?

July cobriu o rosto com as mãos.

- Sim. Quanto mais rápido melhor.

- Tudo bem. - Olhou July, que encarava o chão com um grande bico. - Quarta-feira está bom pra vocês?

- Perfeito - respondeu o pai dela.

- Nos vemos na quarta então - falou olhando July.

Jane o acompanhou até a porta e ele foi embora.

- Sinto muito, mas assim é melhor, você tem que entender, minha filha.

- Tudo bem - disse em um sussurro e os dois trocaram olhares.

- Você está bem?

July concordou com a cabeça, mas era óbvio que não.

- Melhor descansar um pouco.

- Sim. - Levantou e seguiu para o quarto. Quando lá dentro, percebeu que ele estava vazio, mas não pôde olhar debaixo da cama, pois sua mãe estava atrás dela.

- July... Sabe que se você se casar com ele, não vai salvar só você, não é?

- Como assim?

- Se você se mostrar rebelde perante aquele homem, pode mandar matar todos nós. Então, por favor, se controle.

- Tudo bem.

A mulher beijou a testa dela e saiu do quarto fechando a porta.

July se jogou na cama e agarrou o travesseiro com força. Em pouco tempo sentiu braços fortes a envolver, mas continuou chorando na mesma posição. Adriel tinha o rosto enfiado nos cabelos dela e fazia carinho em sua cintura. A garota estava deitada de costas para ele.

- Olha pra mim, pequena.

July soluçou e olhou.

- Vai dar tudo certo.

- Como? Você ouviu o que eles disseram?

- Sim. Você se casa em uma semana.

July olhou o teto.

- Como é esse casamento?

- Vamos em um lugar, assinamos um papel e eu tenho que morar com ele.

- Nossa!

- Nossa...

- Mesmo que você tenha que ir pra casa dele, a gente ainda pode dar um jeito nisso.

- Como? - perguntou entrando em desespero de novo. - Eu não quero morar com ele! Não quero viver com ele! Não quero ver a cara dele e não quero dormir com ele!

Depois que ela falou isso, ele ficou em silêncio um bom tempo. Absorvia o que ouviu.

- Dormir...? - perguntou em um sussurro.

- Sim.

- Isso é melhor do que ter que fazer coisas a mais com ele, não é?

- Quando eu disse dormir, quis dizer exatamente o que você está falando agora. Só não quis falar descaradamente.

Adriel engoliu em seco. Ele sentou na cama com certa pressa. Agora que ela disse isso, tinham que correr contra o tempo. Até porque se ela fosse morar na casa dele, como faria para ficar perto dela?

- July você pode abrir o portal.

- Eu não posso...

- Pode sim! Você também faz magia!

- Mas eu não posso...

- Não pode ou não quer?

Ela sentou na cama de frente para ele.

- Se eu descobrir como fazer para abrir, o que acontece com meus pais?

- Quer ficar aqui por eles? - perguntou com o semblante triste.

- Não quero ficar aqui, mas também não posso deixá-los! Vão morrer!

- Eu entendo. - Se aproximou e segurou a nuca dela, puxando para perto e fez com que encostasse a testa na dele. - O que você achar melhor eu apoio.

- Não tem melhor, Adriel! Estou com a corda enrolada no pescoço! Não quero ficar nesse lugar horrível, mas também não posso ir embora sabendo que isso provocaria a morte dos meus pais!

- Então você se casa com ele e depois nós vamos embora.

- Mas...

- Sei que vai arrumar um jeito de abrir o portal.

- Vou ter que descobrir isso para poder ir na própria quarta.

- Tem pouco tempo.

- Eu sei, mas eu preciso! - falou com desespero.

- Por que?

July apertou o braço dele com força.

- A noite de núpcias é no mesmo dia do casamento!

Adriel arregalou os olhos e depois mordeu o lábio com tanta força que July viu sangue pingar.

- Para com isso! Olha o que você fez... - Se afastou e pegou uma camiseta no armário. Logo limpou a boca cortada dele com o pano. Teve que ficar pressionando um pouco para parar de sair sangue e o obrigou a ficar de boca fechada esperando.

Percebeu que o sangue parou e observou o lábio dele por um momento. Ele deve ter ficado com muita raiva para fazer aquilo.

- Me ajuda a pensar... O que tem que ser feito para abrir o portal? Viu o que as fadas fizeram?

- Elas usaram um desejo.

July deixou os ombros caírem.

- Eu desejei muito um portal e ele não abriu!

- Talvez seu desejo não tenha sido forte o suficiente.

July ficou pensativa. Ele tem razão. Desejou o portal para fugir daquele mundo. Talvez não tenha a ver com fuga e sim algo maior.

- Que desejo usaram para você vir?

- O meu.

- Qual foi?

- Ver com meus olhos que você estava bem.

- Além do desejo, o que mais fizeram?

- Uma magia, mas não entendo disso.

July suspirou.

- Eu vou descobrir e a gente vai embora! Quem disse que eu posso abrir portais?

- Malfin. Ele disse que foi você que abriu daquela vez que fomos pra lá. Eu sei que o portal se abre quando deseja, mas agora está diferente, aquele cara fez alguma coisa. Por isso você não conseguiu abrir só pedindo.

- Hum... Mas acho que sei porque meus desejos não eram o suficiente.

- Por que?

- Queria que abrisse para não ficar aqui. Principalmente quando vi o bolo de aniversário em cima da mesa. Estava morrendo de medo.

Adriel não falou nada, só ficou observando-a, que brincava com os dedos enquanto contava porque queria ir para o mundo dele.

- Não pensou nenhuma vez em mim?

- Todos os dias, mas isso também não foi suficiente. Tenho que descobrir o que será.

- Sem pressão, mas descubra rápido!

- Tenho uma semana, é realmente sem pressão - falou irônica. Os dois riram e Adriel deslizou a mão na coxa dela. Ele levantou os olhos para olhar o rosto de July e ela olhava a mão dele passear em sua coxa.

- July, àquela hora eu não quis dizer que não quero fazer aquilo com você. Eu quero...

A menina ficou vermelha e ele sorriu.

- Só não acho que é o momento certo pra isso, você entende?

- Está tudo bem. Eu entendo. Só não sabia que vocês tinham essas coisas...

- Que coisas? - Franziu a testa.

- De esperar o momento, a hora certa. Essas coisas.

- Acha que somos muito diferentes dos humanos nessa parte? - perguntou com uma sobrancelha levantada.

- Me diga você.

- Tem gente que sai por aí com várias pessoas diferentes e isso deu no que deu para o nascimento ser modificado.

- Por causa das raças diferentes e abandono.

- Sim.

- Você é como esses?

- Não.

- Mas já ficou com alguém dessa forma, não é?

Adriel tentou morder o lábio e fez uma careta de dor.

- Foi com aquela menina?

- July, não vamos falar disso.

- Eu quero falar disso - falou de maneira dura.

- Tudo bem. Foi.

- Só ela?

- Sim e me arrependi no mesmo momento.

July cerrou os olhos e ele sorriu.

- Se você tiver um filho com ela?

- Claro que não!

- Como sabe que não?

- Não tem como saber...

Ela se aproximou bastante do rosto dele e percebeu que engoliu em seco.

- E se eu achar?

- Como acharia?

- Quanto tempo tem que isso aconteceu?

- Cerca de dois anos.

- Ok... - Se afastou dele e ficou encarando a parede com os olhos cerrados.

- July eu não tenho filho com ela.

- Tem como você saber quando engravidou alguém?

- Não... Acho que não. Mas ela saberia.

- Safira disse que nem sempre sabem. - O olhou sugestiva.

- Vamos parar de falar disso, está me assustando.

- Medo da paternidade? - perguntou, cínica.

- Não. Medo de você e seus ciúmes...

Os dois ficaram se olhando em silêncio. July tinha a cara amarrada e um grande bico e Adriel sorria.

- Vamos pensar no portal agora? - perguntou e deu um selinho nela.

- Claro, mas não vou esquecer isso.

Adriel revirou os olhos.

- Tem alguém vindo. - Correu para debaixo da cama.

Em pouco tempo a mãe de July entrou no quarto. Ela se aproximou da cama e parou ao lado de July. Adriel viu os sapatos dela bem próximos ao seu rosto.

- Que foi?

- Tenho que dar um jeito em você.

- Como assim?

- Ele vai vir qualquer dia e você precisa estar bem.

- Estou ótima!

- Eu preciso cortar o seu cabelo.

- Não!

- July...

- Não! Que droga! Eu não vou cortar meu cabelo! - falou nervosa.

- Está muito grande. - Pegou uma mecha de cabelo dela.

July pulou da cama e se afastou.

- Não vai cortar nada!

- July para de ser teimosa! - Se aproximou dela com a tesoura na mão.

- Fica longe de mim! - falou alto.

- Acho que depois do acidente você ficou pior do que antes!

- Então fica longe! - Agora as duas estavam aos berros uma com a outra.

- Para com isso agora!

July bateu as costas na parede ao lado do armário. Estava andando de costas fugindo da tesoura.

- Não toca no meu cabelo... - disse empurrando as mãos da mãe para longe, mas ela continuava insistindo.

- Eu vou cortar de qualquer jeito. Então para de ser mexer que vai ser melhor.

- Não... Para! - Se esquivou de todas as formas possíveis e começou a deslizar pela parede. Em pouco tempo estava sentada no chão e continuava empurrando as mãos da mãe para longe. Não usava muita força com medo de jogar sua mãe longe.

- Assim vai ficar torto!

- Me deixa em paz... - pediu chorando, mas não parou de empurrar as mãos dela.

Adriel apertou as mãos com força e respirou fundo para não sair debaixo da cama e tirar aquela mulher de cima de July.

Jane empurrou a mão de July com força e ela bateu na parede. July sentiu a mão formigar e então encostou a mão com os dedos abertos na parede. O que era aquilo? Ela segurou o pulso da mãe quando ia cortar uma mecha do cabelo.

- July eu estou perdendo a paciência!

A campainha tocou e Jane respirou fundo. July fechou os olhos e suspirou, relaxando o corpo que estava todo tenso. A mulher levantou do chão e arrumou a roupa que estava amassada de July segurar com força.

- Volto depois e acho bom você deixar eu fazer isso!

- Não mesmo!

Jane a encarou séria, mas não falou nada. Ela saiu do quarto para atender a porta. July encostou a cabeça na parede e olhou para debaixo da cama. Adriel a olhava com as mãos apertadas. July levantou a cabeça e olhou para a parede. O que será que foi aquilo afinal? Passou a mão na parede e de novo sentiu formigar os dedos. Franziu a testa e depois arregalou os olhos.

O buraco!

Encostou na parede do outro lado e começou a empurrar o armário fazendo força com as pernas. Adriel ficou confuso. Queria sair dali debaixo, mas sabia que a mãe dela ia voltar a qualquer momento. July empurrou o armário até que conseguiu ver o buraco que fez no dia que jogou o desenho de Adriel na parede. Ela se aproximou e tocou a parede perto do buraco. Sentiu as mãos formigarem mais forte ainda. Se aproximou e olhou através dele. Em vez de ver o lado de fora da casa, via o gramado da terra de Adriel. Ela sorriu. Talvez o portal estivesse aberto ali, mas como passariam naquele buraquinho?

Ouviu passos e se apressou em cobrir o buraco com o armário de novo. Em pouco tempo a mãe dela estava no quarto e a encarava.

- Prenda esse cabelo e venha até a sala.

- Pra que?

- Sem perguntas! - Saiu do quarto batendo a porta.

            
            

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