- Pelo menos nossa diferença não é tão grande assim.
- Quantos você tem?
- Vinte e quatro.
- Hum...
- Amanhã venho marcar a data - falou acariciando a mão dela.
July engoliu em seco.
- Posso te fazer um pedido?
- Todos que quiser.
- Pode esperar mais um pouco? Eu quero me acostumar com isso tudo...
O homem ficou em silêncio por um momento.
- Tudo bem.
July suspirou aliviada.
- Mas você não tem que me ver como algo ruim ou forçado.
- Mas é forçado.
- Eu sei, mas seria menos tenso se você relaxasse mais - disse rindo.
- Impossível!
- Te dou dez dias.
- Só?
- Acha pouco?
- Óbvio!
- Você não tem como correr. Sabe disso, não é?
- Não me lembre...
O homem suspirou e se aproximou dela, fazendo com que ficasse tensa.
- Quando for morar comigo, vai ver que não sou nada do que pensa.
- Será? Você não sabe o que eu penso - falou com as sobrancelhas erguidas e ele sorriu.
- Sei que acha que sou carrasco e vou te fazer de empregada.
July balançou a cabeça, também pensou isso.
- Mas isso não vai acontecer.
- Tá.
- Agora vou indo. Diga a seus pais que em dez dias venho marcar a data.
- Tudo bem.
Ele sorriu e ficou olhando o rosto de July um momento. Ela desviou o olhar ao perceber que não tirava os olhos dela. Em pouco tempo ficou paralisada quando ele se aproximou e olhou para cima sem mexer a cabeça. Só conseguiu mexer os olhos. Viu ele curvar um pouco o pescoço e engoliu em seco. Quando chegou bem perto dos lábios dela...
- Você não pode me beijar.
Ele se afastou um pouco ao ouvir isso.
- Está nas regras. Somente depois de casados. - Sorriu, cínica.
- É, mas ninguém precisa saber que isso aconteceu antes. Não tem problema nenhum só a gente saber que você já beijou.
- Que bom saber que você pensa assim! Fico menos preocupada.
- Como assim?
- Ué, se só fica entre a gente, ótimo! Pois isso já aconteceu.
Os dois ficaram em silêncio depois do que ela disse. O homem a olhava surpreso e ela o encarava com um sorriso cínico. Ele sorriu e deu um passo à frente.
- Acha que por isso não vou querer mais casar?
- Quem sabe...? - Levantou os ombros.
- Não me importo com isso. Tem algumas regras que são bobas demais, mas a gente tem que respeitar as mais visíveis. - Começou a se aproximar dela e quando percebeu, foi dando passos para trás fugindo dele.
- Pensei que fosse do tipo respeitador...
- Depende do momento.
July engoliu em seco e parou de andar quando a parede lhe impediu de fugir mais. Anthony se aproximou dela e a cercou com os braços, apoiando-os na parede. July olhou para cima para olhar o rosto dele.
Não sabia o que fazer, se batia nele e entrava em casa correndo. Se chamava sua mãe e dizia que ele estava quebrando as regras, porém ele poderia contar que ela já tinha beijado. Pensou também em deixar ele fazer o que queria para acabar logo com aquilo. Qual era a melhor opção?
Viu o rosto dele cada vez mais perto e se encolheu. Anthony não ia beijá-la, só queria ver o que iria fazer, mas ao aproximar bem o rosto, mudou de ideia e capturou os lábios dela. July levantou as mãos para empurrá-lo, mas achou melhor não. Vai que ela o joga longe como com Kenup e ele morre? Fechou as mãos com força e ficou paralisada.
O loiro segurou o rosto dela com uma das mãos puxando e a obrigando a beijá-lo. July passou as unhas na parede pelo nervosismo. Por fim resolveu corresponder para ele ir embora logo, mas não tocou nele. Anthony se afastou e a olhou nos olhos. July estava emburrada e respirava rápido.
- Desculpe, não resisti.
- Não vi você fazer força para resistir!
- Eu não ia beijar você de verdade.
- Então por que não beijou de mentira? - perguntou irritada.
- Desculpe.
- Posso ir agora ou vai me agarrar mais?
- Pode ir.
- Ótimo! - Virou as costas e entrou em casa batendo a porta com força. Anthony respirou fundo e foi embora.
Seguiu direto para o quarto, ignorando seus pais que queriam saber como foi o jantar. Se jogou na cama e cobriu a cabeça com o travesseiro. Ouviu a porta abrir e resmungou frustrada.
- O que aconteceu?
- Eu não quero me casar! - falou alto.
- July entenda de uma vez que se não se casar, ele vai saber.
- Como? Tem tanta gente no mundo!
- E acha que não sabe?
July cobriu o rosto com o travesseiro.
- Eu também não gosto nada de entregar minha menina a um marmanjo qualquer, mas não posso fazer nada. Isso é o melhor pra você no momento - disse o pai dela.
- Tá bom, agora quero ficar sozinha.
Os dois saíram do quarto e July começou a chorar. Já estava perdendo as esperanças de voltar a ver Adriel e os outros. Não tinha nem uma luzinha que brotasse do nada para ajudar a saber o que fazer para ir até lá de novo. E mesmo pedindo, nenhum portal quis abrir para ela.
Sentou na cama e ficou encarando o caderno que estava em cima da mesa. Agora não precisava esconder ele embaixo da cama. Estava com tanta raiva de Kirovs e suas leis idiotas, raiva por não saber o que fazer, raiva por estar longe de Adriel e raiva por ter beijado aquele cara!
Cobriu o rosto com o travesseiro e deu um grito, que foi abafado por ele. Sentia como se fosse explodir a qualquer momento! Depois do grito, um forte choro lhe invadiu. Muitas emoções ao mesmo tempo dão nisso.
Olhou a janela e ficou paralisada. Viu alguém lá fora olhando ela. Piscou várias vezes e se aproximou da janela. Abriu o vidro e ficou de boca aberta. Ele estava ali! Estava ali!
Esticou os braços para ele segurar suas mãos e quando o fez, puxou para dentro do quarto. Foi tão forte que os dois caíram no chão fazendo um grande barulho. July caiu de costas e bateu a cabeça no chão.
- July está tudo bem?
A menina arregalou os olhos e Adriel, que caiu por cima dela, rolou para debaixo da cama. Em poucos segundos a porta se abriu.
- Está sim, mãe.
- Caiu? - Se aproximou e a ajudou a levantar.
- Sim. - Alisou a cabeça.
- Tenha mais cuidado, July.
- Estou bem - falou enquanto a mãe procurava algum machucado.
- E então, o que ele disse?
- Quem?
- Anthony.
- Ah... - Coçou a cabeça. - Que vai vir em dez dias.
- Dez dias?
- Sim.
- Por que essa demora toda?
- Não sei.
A mãe dela cerrou os olhos olhando-a com desconfiança.
- Falou alguma coisa errada, July?
- Não...Por que acha isso?
- Você sempre fala.
- Eu não disse nada.
- Aprenda a mentir, July! O que você fez?
- Pedi a ele para esperar, tá? Não quero isso e nunca vou me acostumar!
- Ele aceitou isso?
- Sim.
- A sua sorte é que ele gostou de você. Senão já teria desistido.
- Seria um favor que me fazia.
- Acho bom você começar a controlar sua língua, mocinha!
- Vou me esforçar.
A mulher respirou fundo para controlar a raiva.
- Agora durma e pense sobre o que está em risco. Sua vida! - Saiu do quarto batendo a porta. July engoliu o choro.
O garoto saiu debaixo da cama quando a mãe dela saiu do quarto. Os dois ficaram se olhando em silêncio. July estava literalmente acabada. Estava sem forças e só sabia chorar. Achou que o dia que encontrasse Adriel de novo, ia explodir, mas não. Isso porque a culpa estava consumindo-a. Ela beijou aquele cara há poucos minutos atrás...
Ele parecia hesitante e a olhava de um jeito estranho. Parecia ao mesmo tempo querer abraçá-la e brigar com ela.
- Como chegou aqui? - perguntou em meio as lágrimas.
- Eu que te pergunto isso.
- Eu não sei.
- Como não sabe?
- Acordei em um quarto de hospital e me disseram que fiquei em coma durante dez meses. Que atacaram a casa naquele dia que fui com você e o meu quarto foi o mais atingido e que eu estava nele na hora.
Adriel a olhou surpreso.
- Antes de acordar, do que se lembra?
- De esperar vocês.
- Que mais? - perguntou com semblante sério.
- Kenup...
O rosto dele se modificou e July franziu a testa.
- Sabia! - resmungou e mordeu o lábio com força.
- O que é?
- Descobri que o Kenup e a Clarisse estavam metidos com bruxas e queriam se livrar de você.
July arregalou os olhos.
- Mas não queria acreditar que ele fez isso - falou com raiva.
A lembrança veio como um raio e July se apoiou na mesa para não cair. Adriel se aproximou ao ver ela ficar pálida.
- Que foi?
- Eu me lembro.
- De que?
A menina olhou para o lado e ele estava bem próximo a ela. Engoliu em seco e desviou o olhar.
- Ele me tirou da casa falando que ia me levar para onde vocês estavam porque iam ficar à noite lá e você não queria que eu ficasse sozinha, então pediu para ele me buscar. Achei estranho porque você não o mandaria, mas fiquei com medo de ficar sozinha na casa e o segui.
- O que aconteceu depois?
- Andamos um pouco e chegamos em um lugar esquisito...
- Como era?
- Tinha árvores mortas... Lá tem árvores mortas? - Virou o rosto para olhar para ele e prendeu a respiração ao ver que estava mais perto ainda.
- Tem sim - disse olhando os lábios dela.
- Então... Quando chegamos eu fiquei confusa. Não deu tempo de perguntar nada. Ele me segurou e a mesma bruxa que quase matou a Safira jogou algo em mim. É só isso que me lembro.
O quarto ficou silencioso enquanto Adriel absorvia a história. July passava as unhas na mesa com nervosismo. Já estavam um pouco roídas pelo que ela fez na parede na hora que Anthony a agarrou. Tinha até sangrado um pouco por conta da força que ela usou.
Adriel puxou as mãos dela para que parasse de fazer aquilo e olhou seus dedos. Alguns ainda manchados de sangue. July escondeu as mãos.
- Você está namorando outra pessoa? - a pergunta foi como um sussurro.
July o olhou surpresa com a pergunta.
- Não.
- Então quem era aquele cara que estava ali fora com você?
A menina ficou sem ar.
- Você estava ali há quanto tempo?
- Estou vigiando você desde que foi pra escola.
- Por que não me chamou?
- Achei que a noite era melhor para te avisar que estava aqui. De manhã alguém poderia ver.
- Entendi... - Olhou os pés.
- Você não me respondeu.
- Respondi sim... - falou baixo.
- Tudo bem... - Virou as costas para ela e andou em direção a janela.
- Aonde você vai? - perguntou sentindo um certo desespero.
- Vou embora. - Colocou as mãos na janela e quando ia passar, sentiu os pequenos braços da menina apertarem sua barriga. Ela o agarrou antes que conseguisse sair e enfiou o rosto em suas costas.
- Por favor, não vá embora... - pediu com desespero.
Adriel soltou a janela e virou de frente para ela, deslizando em seus braços. Agora ela ficou com o rosto enfiado no peito dele. A menina apertou os braços ao redor dele e ele colocou as mãos em seus ombros. Sentiu eles subirem e descerem com os soluços dela.
Fechou os olhos com força e a envolveu em seus braços. Enfiou o rosto entre os cabelos e segurou a cabeça dela com uma das mãos.
- Me desculpa... - falou chorando e olhou para cima.
Adriel segurou o rosto dela com uma das mãos e limpou as lágrimas que rolavam sem parar. Vê-la daquele jeito estava deixando-o desnorteado.
- Pelo que?
July fechou os olhos com força e mais lágrimas caíram.
- Por causa daquele cara... - Apertou a cintura dele e enfiou o rosto em seu peito de novo.
Adriel a afastou dele segurando seus braços e olhou para seu rosto. Estava vermelha de tanto chorar e com o rosto todo molhado. Se aproximou da cama e sentou. Depois puxou July para se sentar com ele. A menina sentou em seu colo apoiando os joelhos na cama ao redor dele e agarrou seu pescoço com força. O loiro ficou surpreso com a atitude dela e envolveu sua cintura.
- O que tem ele?
- Você não viu?
- Você beijando-o? Vi.
July chorou mais forte.
- Eu não sabia o que fazer e queria que acabasse logo com aquilo...
- Quem é ele?
- Lembra que te disse que com dezessete anos as meninas têm que se casar?
- Sim.
- Eu já fiz dezessete...
Adriel fechou os olhos e respirou aliviado.
- Estão te obrigando a isso?
- Sim - respondeu soluçando.
- Fica calma - pediu acariciando os cabelos dela.
Parecia que estava mais longo do que antes. Ele colocou uma mecha atrás da orelha e acariciou o rosto dela. July sorriu com isso.
- Senti sua falta - falou encostando a testa na dela.
- Eu também - respondeu acariciando o rosto dele.
Sem demorar mais ele se aproximou e beijou ela. Pouco importava o que aconteceu antes! Só queria aproveitar o momento com ela.