- Enfim casados - falou sorrindo. - Que pena que não desistiu... Passei no cartório para ver se assinaram. Meus parabéns.
- Obrigado - respondeu Anthony.
- Se tiverem filho homem, peço que me avisem.
- Sim, senhor.
- Não vou mais atrapalhar vocês. Creio que esteja ansioso para a primeira noite... - disse olhando Anthony com um sorriso malicioso.
- Claro, senhor.
- Até mais ver.
Os três saíram da casa deles e July suspirou.
- Pelo menos as visitas dele são rápidas.
Anthony sorriu.
- Algo de bom ele tem que fazer. - Os dois riram. - Você fica linda quando sorri.
July desviou o olhar.
- Nunca viu meu sorriso?
- Não. Você estava sempre emburrada quando me via..
Ela segurou a risada.
- Não era nada pessoal.
- Sei que não. Está com fome?
- Um pouco.
- Vamos comer algo então.
Os dois se sentaram à mesa e comeram em silêncio. Apesar de Anthony tratar ela bem e estar fazendo de tudo para se sentir à vontade, ela ainda tinha um certo receio e não queria que ele se aproximasse muito.
- Tenho que ir ao hospital hoje. Talvez não volte para dormir. Você fica bem?
- Claro.
- Meus pais chegam à noite.
- Sem problemas.
- Que bom.
Depois de se arrumar, ele saiu de casa e foi para o trabalho. July voltou para o quarto onde deixou Adriel.
- Acho que podemos ir agora - falou animada.
- Já sabe como abrir o buraco?
- Não...
- Então como vamos fazer?
- Eu dou um jeito.
- Mas não podemos ir agora, acho melhor esperar a noite. Já que ele não vai ficar aqui com você, podemos sair quando todos estiverem dormindo.
- Boa ideia.
Passaram o dia pensando em como ela poderia fazer para o buraco da parede ficar maior e eles passarem e questionaram o motivo de ser ali que o portal abria e porquê daquele tamanho, mas não acharam respostas para isso.
À noite os pais de Anthony chegaram e cumprimentaram a garota. Ela teve que jantar com eles e ouvir as histórias mentirosas de Augustin torcendo loucamente para que a hora passasse e eles fossem dormir logo.
- Não acredito que o Anthony foi trabalhar logo hoje! - a mãe dele disse estressada.
- Ele devia ter algo importante para fazer.
- Mas ele tinha que ficar com você! Vai dormir sozinha?
- Eu sempre dormi sozinha. Não tem problema pra mim.
- Mas agora você é casada!
- Sim, mas não me importo. Se ele teve que trabalhar, é porque era importante.
A mulher não ficou convencida, mas não falou mais nada sobre o assunto.
***
Finalmente eles deram boa noite e foram para o quarto. July já estava nervosa pela demora em ir para a cama.
- Agora podemos ir.
- July, temos que esperar eles dormirem, podem ouvir a gente.
A menina revirou os olhos. Ficaram deitados na cama esperando que eles dormissem. Adriel conseguia ouvir eles conversando ainda no quarto.
- E agora?
- Ainda não.
July bufou estressada.
- Ficar assim não vai ajudar.
- Eu quero ir logo!
- Eu sei, mas não adianta ficar ansiosa... Vem vindo alguém - Rolou pela cama e foi para debaixo dela.
July fechou os olhos e fingiu que estava dormindo. A porta do quarto se abriu e em seguida se fechou. A menina escutou os passos se aproximando da cama e logo ficou um grande silêncio. Pensou em abrir os olhos e ver o que era, mas resolveu continuar fingindo. Em pouco tempo sentiu a cama mexer, a pessoa que entrou no quarto sentou na cama. July tinha as mãos embaixo do travesseiro e apertou a fronha com força. Anthony disse que não ia dormir com ela! O que está acontecendo ali?
Sentiu uma mão em sua cintura e apertou os olhos com força. Logo a pessoa se aproximou e deitou com ela, a abraçando. July estava deitada de lado na cama. Sem conseguir aguentar mais, abriu os olhos e olhou para trás. Assim que viu quem era, tentou gritar, mas a pessoa colocou a mão na boca dela e apertou com força.
- Quietinha... Não vou fazer nada que te machuque...
July soltou um urro e tentou sair, mas ele jogou o peso, deitando em cima dela. Augustin continuou segurando a boca da garota com força e deslizou a outra mão pelo corpo dela. July bateu as pernas na cama na tentativa de fazer barulho e chamar a atenção da mulher dele, mas a cama não faz barulho algum. Os braços dela estavam espremidos entre os corpos deles e ela não conseguia mexer. A única coisa que conseguia fazer era gemer angustiada.
Em um movimento brusco, o homem saiu de cima dela. July apoiou os cotovelos na cama e viu Adriel dar um único soco no rosto do homem e ele ficar desacordado no chão.
- Vamos agora!
July levantou da cama e seguiu o loiro. Ele abriu a janela. A menina tinha as pernas bambas pelo que quase aconteceu. Adriel pulou a janela e esticou os braços para ajudá-la a pular.
Saíram pelo terreno da casa em silêncio e escondidos. Quando se aproximaram da rua, pararam e se esconderam atrás do muro da casa. Tinha dois caras na rua conversando.
- E agora? - cochichou com ela.
July olhou ao redor e ficou pensativa.
- Fica aqui - cochichou com ele.
A menina abaixou no chão e começou a engatinhar. Adriel a olhou confuso, mas percebeu que daquela forma ela passaria e não seria vista por ser pequena. July seguiu para uma árvore perto de um poste de luz e se escondeu atrás dela. Adriel viu ela levantar a mão no ar em direção ao poste e franzir a testa. Em pouco tempo a lâmpada estourou e os homens se assustaram. Os dois ficaram em silêncio olhando o poste. July deixou os ombros caírem e logo começou a explodir todos os postes perto deles.
Em pouco tempo saíram correndo de medo e sumiram da rua. A menina riu e olhou na direção que Adriel estava, os dois sorriram. Atravessaram a rua escura juntos e seguiram seu caminho. Tiveram que passar por várias casas para poder chegar. Finalmente chegaram à casa dos pais de July e seguiram para a janela do quarto dela. Estava fechada.
- Quebro o vidro?
- Vai fazer barulho.
- Então como?
July colocou as mãos na janela e encarou a fechadura dela pelo vidro. Adriel arregalou os olhos quando a fechadura se abriu sozinha e olhou July. Ela sorriu e puxou a janela, abrindo para eles entrarem. Os dois passaram por ela e se aproximaram do armário. Eles empurraram com todo cuidado para não fazer barulho e conseguiram ver o pequeno buraco mostrando o lado de fora da casa.
A garota suspirou e pensou no porquê queria voltar naquele lugar. Então o buraco brilhou e mostrou o gramado do outro lado.
- E agora?
Antes que July pudesse responder, eles escutaram um barulho do lado de fora do quarto.
- Ouvi alguma coisa, Afonso!
- Onde, mulher? - disse bêbado de sono.
- No quarto de July.
O homem resmungou algo que os dois não entenderam e Adriel a olhou com pavor. July fez um movimento com a mão e a porta e janela se trancaram.
- Quando aprendeu a fazer isso?
- Agora. - Virou de frente para o buraco e olhou através dele. O que ela pode fazer?
A maçaneta se mexeu e Adriel apertou os braços dela com nervosismo. July enfiou o dedo no buraco e puxou ele para baixo. Conforme fez isso, foi rasgando a parede como se fosse feita de papel. Quando chegou perto do chão, ela tirou o dedo. Agora tinha uma fresta por onde o dedo passou. July enfiou as mãos e puxou a parede para os lados, abrindo um espaço maior.
Adriel olhou a porta ao ouvir um som de chave sendo colocada na fechadura e engoliu em seco. Em pouco tempo foi puxado e quando se deu conta, estava pisando no gramado e July passando as mãos no lugar onde agora via o quarto dela.
O portal não fechou e ela estava fazendo isso manualmente. Antes que fechasse o último buraco que antes foi o que July abriu com o desenho de Adriel, ela conseguiu ver seus pais dentro do quarto e então terminou de fechar tudo.
Ambos respiravam rápido pelo medo. Depois de um tempo em silêncio, ela virou de frente para Adriel e suspirou.
- Essa foi por pouco...
- Como fez aquilo?
- Eu não sei.
- Como sabia que ia dar certo?
- Eu não sabia.
Os dois ficaram em silêncio se olhando depois do que ela disse.
- O importante é que deu...
Adriel riu e se aproximou dela a abraçando fortemente. July retribuiu.
- Vamos sair daqui. A floresta não é mais tão segura como antes. Preciso que vá correndo comigo.
- Como assim?
- Quero que vire leoa.
July balançou a cabeça em negação.
- July é muito importante que vire agora.
- Eu não sei como...
- Talvez da mesma forma que abriu esse portal.
A menina ficou pensativa. Tudo o que fez foi imaginar as coisas acontecendo da maneira que pensava.
Será que daria certo?
Imaginou ela virando a leoa que um dia deu um problema para eles e em pouco tempo estava transformada. Olhou Adriel, que sorria olhando para cima e virou a cabeça de lado.
- Sabia que ia conseguir.
Depois de dizer isso ele se transformou em tigre e os dois saíram dali. Ainda tinha dificuldades em andar em quatro patas, mas conseguiu acompanhar a corrida de Adriel até a cidade dos tigres. Quando chegaram estava tudo silencioso. Percebeu que ele olhava todos os lados do local e andava sem fazer barulho.
Como ela faz para não fazer barulho? Observou bem como ele andava e imitou tudo que fazia. Chegaram em frente à casa dele e pararam.
- Espero que estejam todos bem - disse isso e voltou a sua forma normal.
July fez a mesma coisa e ele sorriu.
- Pegou o jeito rápido, não é?
- Acho que sim - respondeu sorrindo.
Os dois entraram na casa e não tinha ninguém na sala. Em pouco tempo Theodor apareceu e sorriu largamente olhando os dois. Ele correu na direção deles e abraçou July a erguendo do chão. Adriel cruzou os braços.
- Não acredito que está aqui! - falou animado.
- Ótimo! Agora meu irmão se importa mais com ela do que comigo.
July e Theodor riram e ele colocou a menina no chão. O garoto se aproximou e abraçou Adriel também.
- Por que demoraram tanto?
- Tivemos problemas - respondeu July.
- Mas agora está tudo certo, não é?
- Sim.
- Cadê os outros?
Theodor parou de sorrir e Adriel e July trocaram olhares.
- O que aconteceu? - July perguntou nervosa.
- Não sabemos...
- Cadê a Safira? - Adriel perguntou mesmo não querendo ouvir.
- Está no quarto, mas...
Ele mal terminou a frase e os dois seguiram até lá. Quando entraram no quarto, viram a menina deitada na cama e Malfin sentado segurando a mão dela. Ele os olhou surpreso.
- O que aconteceu? - Adriel se aproximou da cama da loira.
- Eu não sei. Acho que pode ser a mesma coisa que matou o Thomaz... - July percebeu que apertou a mão de Safira.
Ela estava bastante pálida e respirava lentamente. Tinha algumas manchas roxas pelo corpo, mas não parecia que tinha apanhado para aparecer aquilo. July se aproximou e tocou o rosto dela com os dedos. Estava gelada e fez a menina tirar os dedos com pressa.
- Ela vai ficar bem? - perguntou ao Malfin.
- Eu não sei - respondeu triste.
- Ela vai sim! - Puxou o garoto e fez com que levantasse da cama e desse espaço a ela. Os três trocaram olhares e July sentou na cama bem perto da loira.
Só de pensar no que queria fazer, já sentia os dedos formigarem fortemente. Colocou uma das mãos no rosto de Safira e a outra no peito da garota e balançou a cabeça ao sentir um arrepio na espinha, mas continuou o que ia fazer, ignorando aquilo.
Suas mãos formigavam muito. Nunca sentiu tão forte como agora.
Em questão de segundos Safira foi ficando mais corada e os roxos sumindo de seu corpo. A respiração agora era forte e ela mexeu a cabeça franzindo a testa. Logo abriu os olhos e ficou surpresa com o que viu.
July sorriu ao ver ela bem, mas foi a única coisa que viu, pois depois, ficou tudo escuro.