Capítulo 2 Ela Está Contratada

Seu impecável terno repousava sobre a cadeira enquanto se preparava psicologicamente para mais uma sessão de entrevistas, algo tão rotineiro que chegava a fazer parte de sua agenda, praticamente todas as semanas acabava preso em sua sala até mais tarde, esperando por cada nova candidata, com seus sorrisos falsos e saias desnecessariamente curtas.

Chegava a ser engraçada a forma como algumas candidatas usavam seus corpos para tentar suprir o que lhe faltava na cabeça, ele tentava ao máximo não parecer um homem machista nesses momentos. Entretanto, parecia de verdade que aquelas pessoas não davam ao respeito, quase como se até então, para ser uma secretária era necessário ser vulgar, algo que Julian repugnava. Ele sempre fora um homem fiel a sua esposa, e nem mesmo a mulher mais bela do mundo mudaria essa situação. O CEO precisava de alguém preparado para tudo, e não de alguém desesperado.

Pensou muitas vezes em contratar um homem, entretanto, quase nunca recebia candidatos do sexo masculino, o que provava a sua teoria de que as pessoas já haviam criado um certo padrão para aquela vaga, que não poderia ser facilmente apagado.

A candidata em questão já estava tão absorta na história que contava, que mal se dava conta de quanto tempo já havia se passado, remexia-se na cadeira de modo tão descontraído que aparentava estar em sua própria sala de estar, Julian tinha que admitir que já não fazia ideia sobre o que a mesma estava falando, apenas balançava sua cabeça hora ou outra, para não aparentar muita falta de educação.

Ela falava demais, e certamente isso não se tratava de um detalhe bobo, falar tanto só significava que tinha esse hábito mantido o tempo todo, e perderia seu tempo tagarelando com os demais funcionários da empresa com quem pudesse ter qualquer tipo de contato.

- Muito bem, Senhorita... - seus olhos se direcionaram aos papéis sobre a mesa, em uma tentativa bem-sucedida de ler o nome da moça tagarela - Lee, deixe o seu currículo no setor do RH que logo entraremos em contato.

Um sorriso falso estampava o rosto excessivamente bonito do CEO, enquanto a moça deixava a sala com olhares esperançosos. Julian encarava a porta como se a mesma fosse lhe responder algo, ou simplesmente lhe dar uma luz. As palavras ditas por Leo mais cedo, ecoavam por sua cabeça, e o simples fato de que nenhuma "mulher sem graça" havia comparecido naquela entrevista de emprego, o fazia rir internamente.

Certo que já havia visto e conhecido vários outros diretores de grandes empresas que preferiam trabalhar com homens do que com mulheres, e muitos lhe garantiam que os mesmos cumpriam com seu trabalho de forma competente. Todavia, Julian sempre foi o tipo de pessoa que mantinha rotinas, e não estava acostumado a ter alguém do sexo masculino como seu assistente. Mas por que não tentar? Porque nenhum apareceu, simplesmente isso.

Nunca se julgou alguém com preconceito, e muito menos, machista, a ponto de crer que apenas uma mulher bonita poderia ocupar aquela vaga. Mas o que o fazia tão assustador a ponto de nenhum homem vir tentar a vaga? Em anos naquela empresa, nenhum rapaz havia tentado a vaga de secretário, e muito menos uma "mulher sem graça", já que ainda não havia encontrado outro termo.

- Sabia que o pessoal do RH dispensa todas as mulheres que não são extremamente bonitas que tentam a vaga de secretária?

A voz de Leo ecoando pelo ambiente fez Julian assustar-se levemente, sua mente estava em outro plano, e tudo o que ele menos esperava naquele momento era ver seu amigo sentado mais uma vez sobre a mesa, e segurando consigo um monte de papéis. O Vilar sempre fazia esse tipo de coisa, aparecia de repente, como se jogasse uma bomba ninja e simplesmente surgisse.

- E eu aqui achando que se tratava de um problema comigo. - O tom debochado do Germanotta apareceu mais uma vez, com sua rotineira cara de tédio, e seus dedos inquietos batucando sobre a mesa, sua vontade era de ir embora, já passava de seu horário de saída costumeiro, e um atraso implicaria em mais uma briga com sua esposa.

Esse era seu maior problema, quando se casou com Liana, lhe prometeu uma vida feliz, o que incluía lhe dar toda a atenção do mundo. Mas Julian passava longe de ser o marido que prometeu ser. Além de que, também existia o pequeno Miguel, seu filho de apenas 7 anos, que desde cedo havia tido que lidar com a perca da mãe, e que ainda não aceitava muito bem sua madrasta.

Julian sabia que sua família estava infeliz, sua esposa clamava por mais amor, e seu filho o implorava por mais momentos com o pai, a vida do empresário estava tão abarrotada de afazeres, que mal tinha tempo de ir buscar o próprio filho na escola. Que espécie de pai estava se tornando? Durante toda a sua juventude, o CEO havia prometido a si mesmo que não repetiria os mesmos arros que seu pai, que seu filho teria amor e atenção. Mas infelizmente, sua promessa era quebrada e esmagada a cada dia.

- Mas pelo que eu estou vendo aqui, uma delas conseguiu escapar. - um papel balançava-se diante dos olhos do mais alto ali, Leandro esfregava um currículo em suas fuças como uma criança birrenta gabando-se de uma nota superior aos dos demais - Eu a vi lá fora, é realmente alguém que tem cara de mingau de aveia, as garotas do RH não conseguiram resistir, talvez estejam até mesmo esperançosas de que ela seja contratada, aqui no currículo, ela garante que resolve qualquer coisa.

Terrivelmente cansado, e sentindo seu estômago clamar por comida, o CEO mal deteve seus olhos naquele papel, sua vontade de ir embora era de sobremodo intensa, que o fazia aceitar qualquer desculpa para escapar daquela sala. Leandro insistia tanto naquele assunto, que o outro apenas queria se render a ideia e cair fora.

Afinal, não faria diferença alguma.

- Ótimo, ela está contratada.

Catando o que lhe era necessário, ele levantou-se da mesa, jogando o paletó sobre os ombros, o CEO indicava suas intenções de ir embora dali o mais rápido possível. E não demorou muito para que o mesmo atravessasse as portas de seu escritório. Deixando para trás um Leandro que ainda ria do desespero do chefe.