Capítulo 3 Casamento em Ruínas

A vida de Julian Germanotta era vista como perfeita através dos olhos de seus funcionários e de qualquer outra pessoa. Quem via de longe, enxergava apenas um CEO bem arrumado e de boa aparência. Mas quem via de perto, podia ver os detalhes que lhe assombravam o tempo todo. Julian não estava sendo feliz em seu casamento, o que consequentemente fazia com que sua esposa também não fosse feliz. E seu filho, fruto de um relacionamento do passado, era quem mais sofria diante daquela situação.

Ele era apenas uma criança inocente no meio daquela história, se agarrando nas pernas das pessoas esperando que alguém cuidasse dele, mas nunca obtendo o que desejava. Ele estava cansado de ser sempre a pessoa que estava sendo deixada de lado, para que alguém cuidasse quando tivesse tempo.

Julian Germanotta fora muito apaixonado por Daryn, uma estrangeira que conheceu em uma época feliz de sua vida, mãe de Miguel, durante sua adolescência, mas infelizmente, após o nascimento do menino, a moça sumiu para sempre. As suspeitas de que seu pai tinha algo a ver com isso só aumentavam a cada dia, e por mais que o pequeno fosse muito apegado ao avô, Julian sabia que seu pai havia dado um jeito de fazer a mãe do mesmo sumir do mapa, e o deixar ali pensando que havia sido abandonado de propósito. Nenhuma criança deveria passar por isso, e era ruim demais ter que ver seu próprio filho crescer pensando que havia sido largado.

Todavia, não podia fazer nada, anos já haviam se passado sem nenhuma notícia, nem mesmo a família da moça se pronunciava sobre o assunto, e quando questionados, apenas diziam que a filha havia dito que viajaria por um tempo e então nunca mais voltou. Miguel costumava perguntar sobre a mãe, o que piorou ainda mais depois do casamento de seu pai com Liana, o menino fazia de tudo para tornar a convivência dos dois ainda pior, alegando que ela nunca seria sua mãe.

Ele era tão pequeno quando ela chegou, mas ainda carregava as memórias antigas, e sabia que mesmo ela sendo a esposa de seu pai, não tinha nada a ver com ele, e o que sentia, se resumia a apenas gostar dele por ser filho do homem com quem era casada. Se um dia fosse embora, Liana não iria se importar em querer manter contato com o menino.

- Por que chegou tão tarde? - a voz de Liana chegou até seus ouvidos. A mesma se encontrava sentada em uma poltrona na sala, vestida apenas com uma camisola de seda, ao seu lado um relógio de pulso prateado repousava sobre a mesa, indicando que a mesma vigiava suas horas de espera, e estava completamente sem paciência, como alguém que contava os minutos - Quase meia noite, Julian, não se deu conta de que o tempo passa? Imagino que não tenha nada para ser feito na empresa agora.

Em automático, os olhos do homem foram até seu pulso, não se dera conta de que já era tão tarde assim, sabia que estava atrasado, mas não tanto. E não adiantaria nada se dizer arrependido, a discussão era inevitável, como sempre. Julian sempre dizia que ia embora, chegava até a porta, mas retornava ao se lembrar de algo que havia deixado pela metade. Era viciado em trabalho, e sua esposa detestava isso.

Todas as pessoas ao seu redor detestavam isso.

- Tive que selecionar outra secretária. - respondeu simplista, largando seu paletó sobre uma das poltronas vazias. - Depois disso, perdi a noção do tempo, querida.

Ela suspirou, era a mesma coisa de sempre, como se Julian sequer se desse ao trabalho de inventar desculpas decentes para estar sempre longe de casa, gastando seu tempo com outras coisas que não fossem a sua família. Ela já estava completamente exausta de tudo aquilo.

Não era o que esperava quando se casou.

- Outra secretária, Julian? - O tom de escárnio indicava que ela não havia acreditado em uma só palavra - Todas as semanas é essa mesma desculpa, o que há de errado com as suas secretárias que não conseguem durar mais do que uma semana? O que manda elas fazerem? Você é tão desagradável assim?

Essa era a pergunta que não queria calar. O que havia de tão complicado com ele que nenhuma secretária durava? Por mais movimentada que fosse a sua vida, não deveria ser tão difícil assim, tinha que ter algo mais, alguma coisa que enxotasse as moças para fora. Algo sobrenatural, talvez. Já estava procurando respostas em todos os lugares onde isso fosse possível.

- Eu não sei, querida, eu não sei. - Em um leve fechar de olhos, o moreno segurou-se para não perder a pouca paciência que lhe sobrara, sempre foi um homem calmo, mas quando o assunto era os ciúmes de sua esposa, sua calma ia embora de malas prontas rapidamente - Estou cansado, vou me deitar.

O Germanotta sumiu pela porta, deixando para trás sua esposa ainda enraivecida, era sempre assim, quanto mais ela queria conversar, mais ele fugia para longe e a evitava. Não se julgava um covarde por fugir da própria esposa, mas ao mesmo tempo estava ciente de que isso só pioraria mais as coisas, não poderia levar tudo com a barriga pra sempre.

Não demorou muito para a moça também pegar o rumo do quarto. Ela ficou em silêncio vendo seu marido trocar de roupa rapidamente, e depois se jogar sobre o colchão, Liana permaneceu parada na porta até ele se cobrisse para dormir.

Julian sentiu o colchão afundar ao seu lado, ela havia finalmente se deitado, sentiu o leve puxar do lençol, indicando que a mesma havia se arrastado até o fim da cama, ficando o mais longe possível dele. Não a culpou por isso, ele mesmo já havia dito que não gostava que ninguém o tocasse enquanto dormia - e nem qualquer ocasião - por isso, a moça sempre dormia afastada.

- Você sempre está cansado. - Foi a última coisa que ouviu de sua esposa, antes dela mesma apagar a luz do abajur e fingir que não havia mais ninguém naquele quarto.

            
            

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