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Ultimamente, sua casa era seu escritório, onde passava a maior parte do dia. Repousou a maleta sobre a mesa de madeira, retirando de lá alguns papéis que eram mais importantes e urgentes, a respeito de algumas coisas que precisava resolver imediatamente. Acomodou-se em sua poltrona de couro, que nos últimos dias estava começando a ficar desconfortável, os dias eram mais quentes, e consequentemente o couro preto esquentava.
Detestava dias abafados mais do que qualquer coisa, pois geravam um calor insuportável. Ele estava sempre vestido da cabeça aos pés, o que era uma péssima opção para dias assim.
A leve pontada em sua cabeça surgiu de imediato, logo lembrando-se do café costumeiro que tomava todas as manhãs no caminho para a empresa, havia se esquecido do mesmo devido a pressa para chegar. Todavia, antes que se levantasse para pedir um, seus olhos esbarraram no copo posto ao lado de uma pilha de papéis, era justamente o café que sempre pedia, o adesivo verde indicava ser até mesmo da mesma cafeteria. Levou o copo até a boca, reconhecendo de imediato ser o seu favorito, com leite e com bastante - bastante - açúcar, uma coisa que nenhuma de suas secretárias era capaz de entender, já que por ele ter uma aparência de quem cuidava demais de si mesmo, só poderia significar que tinha uma dieta balanceada.
Mas não era bem assim quando o assunto era o açúcar de seu café.
Estranhou aquilo, mas bebeu do mesmo jeito, estava sobre sua mesa, só podia ser seu, e não havia motivos para ninguém tentar envenená-lo, afinal, era um chefe legal que sempre dava folga aos seus funcionários. Ou pelo menos, era o que dizia a si mesmo, sendo que seu histórico de secretárias demitidas só poderia significar outra coisa. Quem sabe fosse alguma delas querendo vingança a respeito de como havia feito com que tivesse a pior semana de sua vida.
- Devo estar ficando louco. - Foi o que disse a si mesmo - Por que alguém me envenenaria?
Ouviu leves batidas na porta, o que indicava que não era Leandro, já que o mesmo nunca batia, sempre ia entrando, ou simplesmente brotava do chão ou de algum azulejo, quase como se tivesse poderes mágicos. Respondeu com um "Entre", sem sequer tirar os olhos dos papéis que estava lendo. Estava sempre ocupado, não tinha tempo para olhar para qualquer outro ponto agora, e os segundos que usava para perguntar quem era ou olhar para a porta, lhe serviriam para alguma coisa.
- Bom dia, Sr. Germanotta, aqui estão os relatórios das filiais. - Mais uma pilha de papéis surgiu diante de seus olhos - Dois deles estão atrasados, mas já estou apressando o pessoal, imagino que tudo esteja pronto dentro de meia hora, estou ligando a cada dez minutos para uma nova cobrança.
O empresário demorou alguns instantes até perceber que não conhecia aquela voz, desviando rapidamente seus olhos da papelada e procurando pela figura diante de si. Nunca havia a visto antes, aquele rosto com certeza não fazia parte de sua rotina, e tinha que admitir, não havia pessoas sequer parecidas com ela naquela empresa, nem mesmo de longe. A mulher era exatamente do jeito que Leandro havia descrito.
Mingau de aveia.
- Quem é você? - Somente depois de ter dito, percebeu o quão arrogante havia sido o seu tom, a pergunta escapou entre os dentes - Digo, eu não a conheço.
Seu olhar entregava boa parte do que estava pensando agora, mas conseguiu desviar o olhar e pensar em outra coisa. Não podia gerar um desconforto logo de início, pois isso prejudicaria em praticamente todas as suas pretensões de manter uma secretária que não incomodasse sua esposa. Iria fazer de tudo para manter seus planos, e podia se esforçar um pouco mais.
Na verdade, se tratava de uma coisa mínima.
- Ah, desculpe-me, deixe-me me apresentar. - A moça de cabelos de uma cor que ele não saberia dizer com exatidão se eram pretos ou castanhos e de estatura baixa para mediana abriu um pequeno sorriso, mostrando que ela usava aparelho, o que era bem estranho, já que deveria ter, pelo menos, uns 25 anos. Suas unhas estavam pintadas, mas dava pra ver que estavam ruidas, sem falar de sua péssima escolha de roupas. Ela se vestia como uma secretária, mas uma secretária dos anos 80 - Eu sou Eleonor Hayley, sua secretária e assistente pessoal. Espero poder cumprir todas as minhas atividades com responsabilidade, e que possamos ter uma boa convivência.
O sorriso foi involuntário vindo do maior, que o conteve assim que percebeu o quão alegre havia ficado com aquela simples notícia. Era um problema a menos, afinal - pelo menos, naquela semana. Ela era exatamente como sua esposa queria, e o tipo de pessoa que poderia frequentar sua casa, deitar em sua cama e mesmo assim Liana não iria se importar com isso.
- Ah, certo, muito bem, eu vou dar uma olhada nos relatórios. - o CEO se recompôs ao estado sério, juntando para si a pilha que Eleonor havia trazido com ela. A mulher curvou-se mais uma vez antes de se virar para a porta e andar até ela - Srta. Hayley?
A moça virou-se de imediato esperando que seu chefe continuasse com seu raciocínio.
- Foi você que trouxe o café?
Ela sorriu parecendo satisfeita em ouvir a pergunta. Havia sido uma tarefa difícil descobrir seus gostos exatos, pois cada pessoa a quem perguntou tinha uma coisa diferente para dizer.
- Sim senhor, espero não ter exagerado no açúcar.
Julian se conteve para não sorrir mais uma vez. Eleonor carregava ao redor de si uma áurea de inocência, como se fosse quebrar a qualquer momento, seu sorriso era tão simples e doce que a tornava confiável, aliás, toda a aparência delicada e completamente desleixada da moça transmitia confiança, por mais estranho que isso parecesse.
- Estava perfeito.
Eleonor deixou a sala.
Julian observou a porta por alguns instantes, durantes alguns segundos, acabou por esquecer o que estava fazendo, parando apenas para pensar na moça que acabara de sair, alguma coisa lhe dizia que as coisas seriam diferentes agora, e o copo repouso sobre a mesa berrava o mesmo, ter Eleonor ali seria uma experiência e tanto.
Nunca havia sorrido tantas vezes em um só dia.