Capítulo 4 Manhãs em Ruínas

A manhã se iniciou da mesma maneira, seguindo a rotina de sempre, com Julian agachado ao lado da cama de seu filho, pronto para despertá-lo. Essa era uma tradição que ele jurou jamais quebrar. Sempre vinha acordar seu filho para que ele se aprontasse para a aula, e quando possível, o levava para escola, algo que faria naquela manhã. O garoto sempre animava com todas as chances que tinha de estar com o pai e ter a atenção totalmente voltada para ele. Gostava de ver o sorriso de seu menino, que ficava feliz com coisas tão simples.

Muitas vezes, isso fazia com que pensasse que era um pai ruim, pois se podia o fazer feliz com coisas tão pequenas, por que não fazia isso o tempo todo, para que ele fosse sempre feliz? Julian era simplesmente péssimo com questões paternas, e estava aos poucos sendo obrigado a entender isso de si mesmo. Ele precisava encontrar algum meio para melhorar, mas não estava sabendo como fazer isso.

O menino bocejou enquanto sentava-se na cama macia, os olhinhos ainda fechados mostravam o quanto o mesmo ainda estava sonolento, os cabelos bagunçados ornavam com a aparência de quem só queria deitar-se novamente e voltar para seu sono. Julian beijou a testa do filho antes de sacudi-lo novamente, na tentativa de o despertar melhor, pois o conhecia para saber que o garoto ainda estava mais dormindo do que acordado.

- Se levanta, filho, temos apenas 40min.

Depois de dizer isto, o Germanotta mais velho deixou o quarto.

O café da manhã também cumpria com o prometido, silencioso. Ouvia-se apenas o som dos talheres nos pratos e do mastigar leve das pessoas presentes. Liana evitava a todo custo olhar para o marido, enquanto Julian olhava apenas para o seu prato. Miguel apareceu minutos depois, já vestido com seu uniforme escolar, algo que deveria ter sido feito com a ajuda da babá, já que tudo estava em seu devido lugar e ele ainda não sabia fazer isso, o menino apenas sentou-se em seu lugar e passou a comer quieto.

- Hoje eu vesti meu uniforme sozinho. - O garoto dizia com a boca meio cheia, feliz em ter conseguido isso, ele estava tentando aprender a se virar sozinho, e ser "um garoto crescido", como algumas pessoas costumavam dizer que ele já era.

Julian gostava de ver seu filho tão orgulhoso de si mesmo.

- Miguel, não fale de boca cheia. - Liana o repreendeu - Isso é falta de educação.

- Deixe o garoto fazer o que quer, ele é só uma criança. - Julian, por sua vez, repreendeu sua esposa pela forma como estava falando. Não havia problemas em corrigir as atitudes do menino, o problema estava em ter usado um tom grosseiro para fazer isso - E estamos apenas nós três aqui.

Ela não gostou de ser tratada assim.

- Só estou tentando educar o Miguel, não me trate como se isso fosse errado.

Mais tarde, Miguel recolheu seus pertences para ir à escola, enquanto Julian buscava sua maleta. Liana só sairia mais tarde para o ateliê onde a mesma trabalhava como designer de moda. O menino estava animado com a chance de passar alguns minutos com o pai - e sem a madrasta por perto - e puxava o braço do mais velho, enquanto ele tentava se despedir da esposa com um pouco mais de delicadeza.

Quem sabe, resolvesse o mal-entendido de mais cedo e mudasse aquele péssimo olhar que ela tinha agora.

- Eu vou trabalhar, Liana, nos vemos mais tarde. - Com um sorriso fraco, o Germanotta abaixou-se para beijar levemente os lábios de sua esposa, era apenas um movimento delicado, pois sabia que a mesma ainda estava chateada e rejeitava sua aproximação.

- Julian. - Ela segurou seu pulso antes que o mesmo se afastasse - Sobre ontem, eu não queria ter sido tão dura, sei que meu ciúme tem...

- Está tudo bem, querida, eu contratei uma mulher menos bonita como secretária, não se preocupe, não vai ter ciúmes dela. - o rapaz se permitiu rir um pouco, era uma boa hora para falar aquilo, sua esposa se sentiria mais insegura diante daquela informação - Só espero que ela dure mais que as outras.

Liana sorriu, e já fazia muito tempo que ela não sorria com coisas desse tipo, tanto tempo que Julian mal se lembrava de como o sorriso de sua esposa era bonito. Ter uma mulher que não fosse tão atraente como secretária de seu marido era uma segurança a mais, a deixava menos preocupada com uma possível traição. Não estava sendo paranoica, apenas via filmes demais.

- Papai, vamos! - Miguel puxava o braço esquerdo de seu pai enquanto Liana segurava o direito, se a morena não soltasse, o menino o partiria no meio de tanta força que estava colocando, não gostava de ver aquele tipo de interação de seu pai com o inimigo.

Para ele, Liana era o inimigo, que estava tentando roubar a atenção que deveria ser só dele. Diante de toda a insistência do filho, Julian acabou deixando a esposa para trás, buscando novamente a maleta que havia largado sobre a cadeira, e rumando com o filho até o carro, que estava estacionado no jardim da casa, próximo ao portão.

Durante o trajeto até a escola, Miguel aproveitou para relatar ao pai tudo quanto havia feito durante as aulas anteriores, lhe contando também a respeito do campeonato de futebol da escola, implorando para que seu pai fosse assistir os jogos. Julian prometeu ir já sabendo que quebraria essa promessa.

O carro parou diante dos portões da escola, Julian apenas observou Miguel sumir para dentro do prédio. Sorriu ao ver a forma alegre que seu filho o acenava pela última vez antes de entrar. O amava acima de tudo, sabia disso, seu coração doía ao se dar conta da falta de atenção em relação a ele, Miguel merecia bem mais do que as simples migalhas que ele sempre lhe dava.

Mas não podia ficar parado ali para sempre, não gostava de atrasos. Por sorte, a empresa era bem próxima de onde o menino estudava, cerca de cinco minutos. Logo já estava no estacionamento da empresa, saindo de seu carro e andando de forma calma até o elevador.

            
            

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