A Criada
img img A Criada img Capítulo 3 Limpar, Limpar e Limpar
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Capítulo 6 Indo Ás Compras img
Capítulo 7 Aulas Dinâmicas img
Capítulo 8 Festa Na Mansão img
Capítulo 9 Cristal Misterioso img
Capítulo 10 Corrigindo Poções img
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Capítulo 3 Limpar, Limpar e Limpar

Ponto de Vista Angelique

Aquele lugar era imenso e estava tão sujo que seria melhor derrubar e construir outro no lugar, algum com placas de metal ao invés de pedras nas paredes. Mais fácil de limpar.

Eu tinha acabado de sair do escritório do Diretor de ensino e seguia rumo a sala de artes quando o pequeno coelho se agitou dentro da minha blusa.

- Espere, peludinho - disse tirando ele do vão entre meus seios - você está me fazendo suar.

O coloquei entre as toalhas limpas no carrinho de limpeza que eu era obrigada a empurrar para todos os lugares, inclusive pelas escadas, o que me tomava muito tempo.

Suspirei pesado ao chegar na entrada da sala de artes.

- Como eu vou subir aí?

A sala ficava no alto de uma torre e para acessar era preciso subir uma escada de madeira íngreme, e passar por um alçapão no final.

Levantei a porta um pouco e ela caiu para o outro lado com um estrondo, a mulher dentro da sala se assustou emitindo um grito agudo.

Olhei para a mesa na sua frente, arrumada com diversas cartas de tarot. Pensei que a adivinhação servisse para prever o que ia acontecer, como ela não sabia que eu ia entrar?

- Desculpe, professora Erika. Eu preciso cuidar da sala.

- Claro, entre.

Subi o restante da escada e me coloquei em pé para então olhar para baixo e ver o carrinho no piso anterior, patético e inútil.

- Acho que vou precisar subir e descer muitas vezes.

- Não se preocupe, querida. Pode limpar se sentir útil mas eu já faço isso todas as manhãs - a professora levantou a mão e com um feitiço simples as almofadas que serviam de assento bateram uma contra a outra liberando o pó delas.

- Obrigada - suspirei aliviada - me poupou uma hora de trabalho.

- Se está com um tempo sobrando, por que não se senta?

Eu não disse que tinha tempo sobrando, mas alguns minutos de descanso não faria mal, além disso, a sala me trazia uma sensação de conforto como nunca senti. Era como se estivesse em casa, não no grande casarão em que cresci, aquilo nunca foi um lar.

O cheiro forte de café deixava tudo ainda mais aconchegante.

- Já leram seu futuro, Srta. Lacey?

- Pode me chamar de Angie. E não, eu não sou maga.

- Mas isso não importa - Erika apontou uma poltrona no meio da sala onde me sentei sem questionar - basta que a leitura seja feita por uma vidente legítima e para sua sorte - ela fez um gesto com as mãos de cima para baixo apontando o próprio corpo - eu sou.

- Isso me deixa um pouco nervosa, mas estou curiosa.

Erika me entregou uma xícara de café cheia e se sentou à minha frente, dei o primeiro gole, tinha muito pó e nenhum açúcar.

- É assim mesmo, leve o tempo que precisar. Enquanto isso porque não me fala de onde você é?

- Desculpe, mas parece um truque.

Ela riu mas aquiesceu.

- Então eu falo de mim, em primeiro lugar, não gosto de silêncio - por isso a vi falando sozinha pelo castelo - sou subjugada com frequência por minhas poucas habilidades fora a artes, mas o que eles se esquecem é que sou descendente de Cassandra Erika, isso é muita coisa.

- Eles seriam os outros professores?

- Precisamente.

Entreguei a xícara vazia para ela, contendo marcas de pó acumulado no fundo, ela a apanhou com as duas mãos como algo extremamente valioso que pudesse cair e se quebrar, virando de um lado para outro.

- Há um homem.

- Em Cramburg? Espero que não seja o Jones - eu ri, mas Erika pareceu nem ouvir a minha piada, o que me deixou sem jeito.

- Ele vai enganar você, vai te usar para um propósito sombrio - a voz de Erika ficava mais cavernosa à medida que falava, quase podia ouvir o eco dentro da minha cabeça - ah, querida. Ele vai te destruir.

- Aí diz o nome de quem eu tenho que evitar?

Ouvi um latido afastado, Erika levantou os olhos para além de mim vendo algo mais para o fundo da sala, olhei por cima do ombro e o vi com metade do corpo para dentro do cômodo.

- Essa coisa quase foi devorada - o professor Prescott levantava o coelho pelas orelhas bem, acima de sua cabeça - de novo.

- Ah, sim. Acontece o tempo todo - me levantei apressada correndo até ele e pegando o animal da sua mão, o coelho esfregou as orelhas doloridas com as patas - obrigada por salvá-lo.

- Devia cuidar melhor das suas coisas - Prescott resmungou - como os chicletes embaixo das carteiras na minha sala.

- Eu estou indo agora mesmo - coloquei o coelho de volta no aconchego do meu corpo e Prescott me olhou atravessado antes de sair, olhei para Erika que deu de ombros - ele é sempre tão mau humorado?

- Acho que passar muito tempo na sala de magia no porão não deixa ninguém feliz e como diretor da magia e encantamentos, Charles tem muitas preocupações.

- Engraçado como todo homem nesse castelo parece ser diretor de alguma coisa, eu só dirijo o carrinho de limpeza.

- Só não os deixe irritados, sabe... o ego - Erika riu.

- Obrigada pela leitura, Erika.

- Volte mais vezes, as coisas podem mudar.

Eu assenti e me despedi, eu já tinha ouvido os outros professores falarem sobre ela, suas previsões eram quase sempre fantasiosas então não me preocupei com o tal homem. Na verdade, ter um homem já seria lucro.

Além disso, ninguém poderia me destruir, não mais do que eu já estava. Meu coração acelerou e o coelho se agitou.

- Tudo bem, amiguinho. Vou ficar calma por você.

***

Ponto de Vista Charles Prescott

Ela demorou quase meia hora depois que eu já havia chegado e entrou sem bater, estava suada, com a pele brilhando e empurrou o carrinho barulhento para dentro.

- Desculpe, professor. Descer às vezes é mais complicado.

- Deixe o carinho lá fora.

Ela assentiu e o empurrou novamente. Parecia perdida e desastrada, de um jeito que me faria sorrir se não estivesse esperando há dias pelo serviço. Angelique entrou com uma espátula e uma escova.

- Quais mesas, professor?

- Todas elas - respondi sem tirar os olhos do livro na minha frente, mas assim que ela se virou eu a observei, seu corpo bem desenhado parecia moldado por um escultor, era irreal.

Não sou um homem de muitas amantes, mas sei bem como é um corpo feminino e impossível para uma mulher com o quadril tão largo ter uma cintura tão fina e seca. Eu tinha um palpite, mas, como uma faxineira passaria o dia todo usando espartilho?

E ao mesmo tempo que parecia estúpido também me provocava.

Lacey se ajoelhou no chão e levantou o rosto para a parte de baixo das carteiras, a espátula trabalhando rápido, parava vez ou outra para secar o suor da testa. O longo cabelo preto preso em um coque frouxo dava uma falsa aparência de seriedade.

Vê-la assim, ajoelhada, vermelha, transpirando e com a respiração pesada levou meu pensamento para outra situação, uma em que aquele espartilho fosse a única peça cobrindo seu corpo.

Fui interrompido por uma pequena dor aguda no tornozelo, arrastei a cadeira de uma vez e vi o meu inimigo, a bola de pelos pretos tentando mastigar o cadarço do meu sapato.

O levantei pelas orelhas.

- Seu...

- Desculpe, professor. Ele adora o porão é úmido e quente como uma toca de coelho, faz com que ele se sinta em casa.

- Eu já disse para cuidar das suas coisas.

- Bem, eu não posso colocar um simples rastreador no rabo dele - ela riu, desaforada - pode soltá-lo?

Soltá-lo. Sim, eu poderia apenas deixar ele no chão para sair saltitando até sua dona, mas a forma como ela ignorava sua magia me irritou, teimando em agir como um braçal quando era uma maga, rindo da minha capacidade intelectual mesmo que não soubesse.

- Pegue - arremessei o animal através da sala de encontro a ela, Angelique soltou um gritinho assustado e o coelho parou no meio do caminho para então, cair apenas um metro de encontro ao chão, ele correu até Lacey que o devolveu ao seu decote.

- Onde estava com a cabeça? Me assustando desse jeito - ela se levantou rápido, me olhando com seus olhos furiosos.

- Viu o que acabou de fazer? Você impediu que ele caísse.

- Isso não tem graça alguma, se não desse tempo de você segurar com esse feitiço ou sei lá ou sei lá o que.

- Não, Lacey. Não fui eu - como ela podia ser tão estúpida? Mas deixá-la zangada não foi minha intenção - está bem, mas devia cuidar melhor dele.

- Eu estou tentando, mas você e Pequena Lili não estão ajudando nem um pouco.

- Ah, por favor - aproximei a cadeira da mesa novamente - nem deu um nome a ele. E por falar nisso, não é ele. É ela.

- Como sabe?

Não respondi, só havia um jeito de saber se um filhote era macho ou fêmea e não estava disposto a explicar diferenças desse tipo para uma mulher adulta.

- Não sei que nome dar, é difícil escolher.

Ela resmungou, Angelique fazia muito isso. Eu não estava nem um pouco interessado em ter essa conversa novamente então decidi dar eu mesmo um nome para aquela coisa.

- Aléxo.

- Você disse que é uma garota.

- Não importa.

- Não parece nome de coelho.

- É um verbo grego, significa proteger - ela me olhou com a maior cara de dúvida - por ela ter mais capacidade de cuidar de você que você dela.

Eu esperei uma resposta atravessada, mas essa não veio, Angelique abaixou os olhos e acariciou a cabeça do coelho, estava triste.

- É o mesmo significado do nome de meu pai.

- Hum. Se ele te protegesse, não estaria trabalhando como faxineira em uma escola.

Ela se levantou devagar e se aproximou mesmo sem ser chamada.

- Eu não tenho vergonha do meu trabalho, preciso dele - seus dedos passaram sobre a mesa tirando uma camada de pó, ela olhou com a testa franzida e esfregou os dedos - acho que vocês precisam de mim também, mas não fale do meu pai, ele era um homem bom.

- Era?

- Sim, morreu quando eu tinha seis anos.

- Sinto muito - minha resposta foi sincera, mas carregada de uma angústia incomum - se me der licença - disse já me levantando - preciso ver o diretor, leve o tempo que precisar mas termine isso hoje.

- Sim, senhor - levei um segundo para entender que ela havia batido continência.

- Não repita isso.

Subi as escadas andando o mais rápido que consegui, cheguei ofegante à frente da porta e entrei enquanto ela ainda me anunciava.

- Um ano? Eu arrisquei a minha vida pra salvar um homem que viveu mais um ano?

- E está zangado comigo por isso? - sua calma me irritava ainda mais.

- Por que me mostrou a memória? Não fez diferença alguma.

Minha confusão era tanta que eu nem conseguia pensar em como me afetava ou o porquê.

- Achei que ter uma pessoa salva por sua misericórdia pudesse te lembrar do porquê estamos nessa missão.

- Missão - dei de ombros e caminhei pela sala a fim de me acalmar - já faz dez anos, ele está morto. Precisa parar de ver a insurgência em cada canto, acabou.

- Sabemos que não, aliás, como está sua animação para o próximo ano?

- Igual a todos os outros.

- Mesmo sabendo que chegará sua aposentadoria?

- Eu ainda tenho um ano de paz. Não vou pensar nisso por enquanto.

Arthur se sentou em frente a mesa e pegou sua caneta, dizendo sem palavras que não estava a fim de conversa.

- E quanto a Angelique?

- Ela não teve o pai a maior parte da vida, uma figura masculina e mais velha pode ser benéfica a moça.

- Quer que eu seja o pai dela?

- Eu não quero nada, Charles. E você?

- Ela precisa de aulas de magia.

- A Srta. Lacey já passou da idade escolar - ele abaixou os óculos me olhando por cima deles - a menos que algum professor queira lhe dar aulas particulares.

- Talvez a Erika, eu não tenho tempo para isso.

Ele assentiu e deixei a sala.

Aulas particulares era exatamente no que eu estava pensando desde que a vi sob a sombra da árvore, mas o meu tempo era valioso, se Angelique o quisesse, não sairia barato.

            
            

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