Capítulo 7 Calma

Fortão se levantou, começando a sentir o sangue dele esquentar.

- Fala, o que é que eu sou?

Anne engoliu em seco, nervosa.

"Eu e a minha boca grande!", ela pensou.

- É a sua profissão...- ela olhou para baixo.

- Ah... - Fortão disse, parecendo mais calmo e voltando a se sentar.

- O que você achou que eu fosse dizer? - Anne perguntou.

Fortão pareceu sem graça.

- Nada... Deixa pra lá - ele pensou que ela o rechaçar por ele ser mais moreno, como uma outra menina que ele conheceu uns anos antes, e que também não era da comunidade, disse-lhe à época.

- Eu quero saber.

- Eu disse pra deixar pra lá! - ele falou mais alto. Anne se levantou.

- Vai gritar comigo na minha casa, é isso mesmo? - ela perguntou.

Ele levantou as sobrancelhas.

- Tua casa? "Mérmão", essa favela é toda a minha casa!

Anne apertou os lábios, se segurando para não mandar o homem sentado no sofá dela embora aos pontapés. Ao menos na cabeça dela, porque não tinha nem chance de ela conseguir fazer isso fisicamente.

Eles ficaram se encarando, como se aquilo fosse um desafio. Então, Fortão se levantou e sem mais, beijou Anne.

Ela correspondeu, sentindo o corpo todo inflamar.

- Fortão... - ela falou, quando ele interrompeu o beijo apenas para respirar melhor.

- Huh?

- Eu disse que não faço isso... E não "fico".

- Eu sei - ele respondeu, ainda com o rosto próximo ao dela e ambos com os os olhos ainda fechados.

- Nós não...

- Shhh... - ele deu um selinho. - Quer namorar, então?

Ela abriu os olhos e o encarou, atônita.

- O quê? - ela perguntou. Então, apertou os olhos. - Você está me perguntando isso só por uma noite, não é?

Ele sorriu de lado.

- Você é esperta.

Ela deu um empurrão nele que, como não esperava, caiu no sofá. Mas ele não a soltou, então, ela foi junto com ele.

- Me solta! - ela falou e ia dar um tapa no peito dele, mas ele segurou a mão dela.

- Você tem sorte de eu gostar de você, Princesinha.

- Chega de flerte! - ela disse e se sentou ao lado de Fortão. - Você disse que se comportaria.

A voz dela saiu mais baixa, porque Fortão lambeu os lábios e ela sentiu o corpo dela reagir imediatamente.

- E se eu quiser namorar com tú? - ele perguntou. - Vai namorar comigo?

- Você e eu não somos compatíveis.

- Tenta. A gente tenta - ele aproximou o rosto ainda mais do dela. - Eu to doidinho pra tentar.

Os dois se beijaram e Anne ficou totalmente entregue. Fortão sabia que, muito provavelmente, do jeito que ela estava, ele poderia levá-la para o quarto, logo ali, e desfrutar dela por inteiro. Mas ele não era um sacana. Fortão foi diminuindo a intensidade do beijo, até que eles estavam apenas dando selinhos.

- Qual o seu nome? - ela perguntou.

Ele jogou a cabeça para trás e gargalhou.

- Depois desse amasso todo, é isso o que você fala?

Ela concordou com a cabeça.

- Eu tenho o direito de saber o nome do meu possível-futuro namorado.

Fortão arregalou os olhos para o que ela tinha dito.

- Tá falando sério? - ele perguntou e ela concordou com a cabeça.

- Eu vou abrir uma exceção, pra você. Não estaremos namorando oficialmente, mas é bom você manter as suas mãos apenas para mim.

Ele abriu um sorriso.

-Eu prometo.

- Ótimo. Agora, pode ir.

Ela sorriu para ele e Fortão, por outro lado, sentiu o sorriso dos próprios lábios sumir.

- Como assim?

- Você veio hoje até aqui para conversarmos. Já conversamos.

Ela queria evitar a tentação. O homem era um pedaço de pecado e ela estava quase se deixando levar.

- Você... Pera aí, tú tá brincando, né? - ele perguntou, sorrindo, mas ao ver que a expressão dela continuava séria, Fortão ficou lívido. - Princesa... Calma aí. Num faz assim.

- Não adianta choramingar. Se você acha que vai me seduzir depois de algumas bonitas palavras, se enganou.

Ele franziu a testa.

- Beleza - ele se levantou, irritado. - Mas amanhã é sábado e eu vou passar o dia com você!

Ele não esperou a resposta dela e saiu.

Anne deixou o ar que ela estava segurando sair e se abanou com as mãos.

- Minha nossa... Que homem é esse? - ela perguntou baixinho.

Fortão não era chamado assim por nada. Ele era musculoso, alto. Parecia um armário. E aqueles olhos esverdeados dele, super sedutores.

Anne sorriu, contente e abraçou a almofada.

Enquanto isso, Fortão estava indo para a casa dele e, ao chegar lá, os companheiros dele sabiam que ele estava de péssimo humor.

- Quer que chame a Késia? - um dos homens perguntou e Fortão olhou para ele como se pudesse matá-lo.

- Não! Se eu fosse pegar alguma mulher, não seria ela, né?

- Sei lá, tu parecia amarrado nela.

- Ela fodia bem e era isso.

- O cara tá em outra. Na princesinha - Morcegão cutucou o primeiro homem e sussurrou isso a ele.

- Princesinha? - ele perguntou e então, se lembrou. - Ah, a loirinha gostosa?

Fortão chegou nele mais rápido do que uma flecha.

- Tú tá de olho na minha mulher, porra?

O homem negou com a cabeça, já suando frio.

- Não, quê isso? Jamais!

- É bom, mermo. Ou eu encho essa tua cabeça de azeitona preta, seu filho da puta!

Fortão não chegou a tirar a arma da cintura, pois lembrou que Anne desaprovava aquilo.

- Fiquem longe dela. Ela é minha.

- Tá anotado, chefe.

Fortão foi pro quarto dele e bateu a porta com força.

- O cara vai é ficar de bolas roxa se essa daí não der pra ele logo.

- Eu ouvi dizê que ela é difícil, viu? - Morcegão falou.

- Deve ser. O patrão é bonitão. Eu sou macho, mas eu num tenho medo de dizê. O cara é o sonho da mulherada e essa loirinha recusando?

- E não é doce. Ela num dá bola pra ninguém.

Eles continuaram falando, e pra sorte deles, Fortão não estava ouvindo.

Este estava no quarto, na cama, pensando em Anne. A lembrança dos beijos dela, do corpo dela coladinho ao dele fez ele ficar em ponto de bala.

- Eu vou ter que dá uma ajudada em mim mesmo - ele pensou e tirou o shorts.

Depois, quando já estava pronto para dormir, Fortão olhou para o teto.

- Essa mulher... - ele soltou uma risada abafada.

Fortão não namorava à sério. Nunca. Ele sabia das responsabilidades dele ali e a última coisa que ele queria era ter confusão com mulher. Porém, Anne apareceu e ele soube, lá no fundo, que assim que colocou os olhos nela, não tinha mais como ficar longe.

"A minha perdição!".