Morro de Amores
img img Morro de Amores img Capítulo 9 João Gabriel
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Capítulo 11 Apaixonado img
Capítulo 12 Presente img
Capítulo 13 Maravilha img
Capítulo 14 Aulas img
Capítulo 15 Avançado img
Capítulo 16 Preparações img
Capítulo 17 Desentendimentos img
Capítulo 18 A verdade img
Capítulo 19 Perdão img
Capítulo 20 Pazes img
Capítulo 21 Ajuda! img
Capítulo 22 Pro boy! img
Capítulo 23 Primeira vez img
Capítulo 24 A prova img
Capítulo 25 Tudo bem img
Capítulo 26 Tudo com você img
Capítulo 27 Nas news img
Capítulo 28 Tá de parabéns! img
Capítulo 29 Advogada img
Capítulo 30 Lembrei! img
Capítulo 31 Envergonhar img
Capítulo 32 Na festa img
Capítulo 33 Resolvido img
Capítulo 34 Presentes img
Capítulo 35 Notas img
Capítulo 36 Churras img
Capítulo 37 Resultado img
Capítulo 38 Não chegou img
Capítulo 39 Melhor opção img
Capítulo 40 Resgate img
Capítulo 41 Olha quem está aqui img
Capítulo 42 Irmão img
Capítulo 43 Aceitam você img
Capítulo 44 Diversão img
Capítulo 45 O dia img
Capítulo 46 Futuras médicas img
Capítulo 47 Surpresinha img
Capítulo 48 Atentado img
Capítulo 49 Mentiras img
Capítulo 50 Choro img
Capítulo 51 Desgosto img
Capítulo 52 Tem que se comportar img
Capítulo 53 Casar img
Capítulo 54 Acordou img
Capítulo 55 Não permito! img
Capítulo 56 Pra adoçar img
Capítulo 57 Início das aulas img
Capítulo 58 Brincadeiras img
Capítulo 59 Fogosa img
Capítulo 60 Não dá img
Capítulo 61 É pra você img
Capítulo 62 Ajudinha img
Capítulo 63 Apaixonadinha img
Capítulo 64 Tinha curiosidade img
Capítulo 65 Gosta img
Capítulo 66 Ela te deu esperanças img
Capítulo 67 Não vai ajudar em nada! img
Capítulo 68 Vamos pra casa img
Capítulo 69 Desculpe o atraso! img
Capítulo 70 Cachinhos dourados img
Capítulo 71 Olha só o perigo! img
Capítulo 72 Só um pouquinho img
Capítulo 73 Eu acho que o amo img
Capítulo 74 Ele tá vindo img
Capítulo 75 Mulher do Dono do Morro img
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Capítulo 9 João Gabriel

- Anda logo, Gabriel, teu pai tá esperando! - Josefa falou, segurando a mão de Joana, que ainda contava com cinco anos.

- Tô indo, mãe! - ele disse e terminou de colocar a blusa, saindo de casa.

- Tranca a porta.

Ele o fez e seguiu a mãe e a irmã. O pai dele, Carlos, estava esperando perto da oficina onde trabalhava. Eles iriam jantar fora, comer um lanche, mas isso deixava a todos muito contentes. Joana, então, ficava super agitada de tão feliz.

- Papai vai comprar um montão de batata! - ela falou, olhando da mãe para o irmão, quase pulando de tanta alegria.

- Vai sim, lindinha - o rapaz bagunçou o cabelo da irmã, mas a mãe fez cara feia, pois tinha passado um tempinho para fazer aqueles cachos tão bonitos.

- Ôh, meu filho! - ela reclamou.

- Foi mal, mãe.

Os três caminharam e Carlos já os esperava na porta. Ele abriu um enorme sorriso ao ver a família dele e os quatro foram para a lanchonete perto dali.

Carlos era muito conhecido e todos o adoravam. A pequena Joana era um encanto e, João Gabriel, com quinze anos, já era alto e estava começando a pegar corpo de rapaz. As meninas sempre que o viam, piscavam e sorriam para ele.

- Tá arrasando corações já, meu filho? - Carlos brincou.

- Deixe de falar besteiras! - Josefa o repreendeu. - Gabriel é muito novo. Não quero ele metido com essas garotas. Ele tem que estudar. Garantir o futuro dele. Deus me livre esse menino fazer filho...

- Calma, mãe. Eu não vou fazer nada disso.

- Acho bom, seu Gabriel, acho bom!

Após o jantar, todos foram para casa e não perceberam como alguém tinha notado Gabriel.

Duas semanas depois, seu Carlos sofreu um acidente na oficina, ele foi levado para o hospital, porém, ele não sobreviveu. Aquele foi um dia que João Gabriel Azevedo de Moraes jamais esqueceria.

O funeral foi horrível e ali, ele sabia que a vida deles mudaria para sempre. Dali em diante, ele teria que ajudar a mãe não apenas como um filho, mas como o homem da casa. Ele, um rapaz de quinze anos.

João encontrou alguns trabalhos para fazer, sempre aceitava qualquer coisa, desde que no fim do dia, ele pudesse cooperar com as despesas da casa. Apesar de estarem segurando as pontas, não o fariam por muito mais tempo se continuassem naquele ritmo.

Joana ficou doente, e apesar de ter medicação e suporte pelo SUS, Dona Josefa não pôde continuar trabalhando como doméstica e acabou tendo que largar o emprego. Ela fazia uma faxina aqui e ali, porém, João tinha que estudar e trabalhar e, com a menina doente, tudo ficou mais complicado.

- Aí! - um dos homens que João sempre via na esquina falou com ele. Normalmente, ele nem olhava no rosto deles, passava de cabeça baixa, a fim de não arrumar confusão nunca.

- Sim? - Gabriel perguntou, baixo.

- Toma, o chefe mandô dá pra tú.

O homem estendeu uma sacola para João que, mesmo hesitante, a pegou. Ele sentiu que talvez fosse pior se ele ignorasse.

- O que... O que é isso?

- Comida.

Todos ali sabiam da situação deles, e um ou outro ajudava como podia. Mas na comunidade, não tinha gente rica, exceto os traficantes.

- Obrigado - mal sabia João que ao aceitar aquilo, ele estava aceitando muito mais do que uma sacola com alimentos.

Dona Josefa não questionou, afinal de contas, não havia luxo ali e João trabalhava. Ela inferiu que as compras advinham do salário dele. Ele teve vergonha de comentar que aquilo foi uma ajuda de Glutão, o dono do morro.

E aquela não foi a primeira vez. Então, Dona Josefa começou a desconfiar.

- Menino, de onde tá vindo isso tudo? - ela perguntou, apoiada no batente da porta. A mãe de João ficou ali esperando por ele, de braços cruzados, em frente de casa.

- Um amigo tá me dando uma moral - ele respondeu, mas Josefa não era boba e sabia que não era só aquilo.

- Amigo bom, esse. Mas eu não quero mais você recebendo nada, entendeu?

- Mãe, mas a gente precisa...

- Não! - Josefa usou um tom mais firme. João abaixou a cabeça e concordou.

No dia seguinte, ele recusou a ajuda de Glutão. No dia depois daquele, também. No terceiro, ele foi chamado para falar com o próprio.

O homem, de aproximadamente trinta e poucos anos, com algumas correntes no pescoço, pulseiras nos pulsos, estava sentado numa cadeira imensa que, para João, era como um trono.

- Olha só... Chega mais, menino!

João estava tremendo da cabeça aos pés. Ele nunca tinha visto "O homem" tão de perto, muito menos falado com ele.

- Como tá tua mãe, tua irmã? - ele perguntou, simpático.

- Bem, senhor - o jovem respondeu, com a cabeça ainda baixa.

- Senta aí, come algo.

- Eu vou comer com a minha mãe e irmã, obrigado.

- Ah, menino de família. Eu gosto disso - Glutão falou, movendo a cabeça para cima e para baixo. - É o seguinte, ôh, João Gabriel. Eu preciso que tú me ajuda numas parada.

João sentiu o ar preso na garganta.

- Em quê, senhor?

Glutão queria que ele ficasse de olho em alguns pontos, fosse "olheiro". João sabia como aquilo era perigoso. E ele não sabia como recusar sem fazer desfeita. Sem irritar o dono do morro.

- Eu... Eu não acho ...

- Pensa na tua família. Elas precisam de ajuda. Tua mãe tá aí, precisando muito. Coitada. Já trabalhou horrores - Glutão inspirou fundo. - E a tua irmã...

João sabia que era verdade. Ele não queria ver a mãe se acabando de trabalhar.

- Pensa. Me fala amanhã.

O moreno saiu dali, e claro, a mãe quis saber por onde ele andou, porque além de chegar tarde, estava cheirando a maconha.

- João, pelo amor de Deus, me diz que tú não tá se drogando!

- Tô não, mãe! Eu juro!

- Se eu te pegar envolvido nisso, menino, vô te dá um coro que tú nunca levou nem do teu pai!

E ele sabia que a mãe não estava brincando.

No dia seguinte, João estava na escola quando ligaram para avisar que a irmã dele teve que ir pro hospital. Descobriram que ela estava com câncer, por isso todo o mal estar e, incrivelmente, não saiu em nenhum exame anterior, ou os médicos não compreenderam o que se passava.

O jovem foi ao hospital, com dinheiro emprestado da professora, para pagar o ônibus. Dona Josefa estava exausta e isso era claro pelas olheiras encovadas.

Na volta pra casa, um dos homens na esquina fez sinal para João. Ele deu a entender que depois iria. Assim que a mãe se deitou, ele foi falar com Glutão. Ali, ele tinha feito a sua decisão.

            
            

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