Capítulo 8 Cama de solteiro

Anne acordou no sábado com alguém batendo na porta dela. Ao olhar no relógio, viu que ainda eram seis e vinte e dois da manhã. Ela tinha ido dormir mais tarde, pensando em Fortão e quando estava no meio de um sonho tão bom, com ele, a campainha tocou.

- Minha nossa, quem será? - ela se perguntou, sonolenta. - Já vai! - Anne respondeu e as batidas pararam.

A loira foi ao banheiro, lavou o rosto e foi atender a porta. Ela não a abriu toda, apenas uma fresta para poder ver quem era.

- Bom dia, meu amor! - Fortão falou com um sorriso imenso.

- O quê...?

- Abre aí a porta. To com as mãos ocupadas.

Anne ainda estava confusa, mas fez o que lhe foi pedido. Ele se inclinou para um beijo, mas ela balançou que não com a cabeça, afinal, ainda não tinha escovado os dentes, apenas jogou uma água na boca.

- Eu já venho - ela respondeu, monótona.

- Ah... Tá - Fortão falou e foi para a pequena cozinha dela, onde colocou algumas sacolas em cima da bancada.

Anne fechou a porta do banheiro e se encostou na mesma, com os olhos fechados.

"Meu pai, o que esse homem tá fazendo aqui a essa hora?", ela se perguntou, não tão contente. Ela odiava ser acordada, principalmente depois que passou a trabalhar no comércio. Cada minuto de sono era precioso!

Anne tomou uma ducha rápida, escovou os dentes e saiu, ainda de toalha. Fortão a olhou, mas nem teve tempo para apreciar, pois ela foi correndo para o quarto.

"Que delícia...", ele pensou e sorriu, safado.

Anne colocou um short que ia até o meio das coxas e uma blusa mais comportadinha, sem decotes. Ela penteou os cabelos e saiu.

Fortão estava bem na frente da porta, e, claro, ela não esperava por aquilo, fazendo-a olhar para ele com espanto.

- Ah, caramba! - ela levou a mão ao peito e queria dar uns tapas no belo moreno. - Você quase me matou de susto!

Ele olhou a roupa dela e, ainda que ela não estivesse com decote, a roupa deixava o corpo dela bem delineado. Fortão a segurou pela cintura e a beijou, levando-a de volta para dentro do quarto.

- Mmm...

Ele a levantou e a deitou na cama, ficando logo por cima.

- Amor...

- Ai, calma... - ela pediu. Quando ele se encostou mais nela e ela sentiu o que ela sabia que era o sinal do desejo dele, Anne engoliu em seco e o empurrou.

- O que foi? - os olhos dele, anuviados pela paixão, a encararam.

- Nada disso - ela falou, balançando a cabeça. - Comporte-se ou pode ir embora.

- Você não me quer? - ele perguntou e Anne percebeu que ele parecia magoado.

- Eu quero. Não vou mentir. Mas... Eu não tô pronta pra isso.

- Mas você gosta, né? - Fortão perguntou e mordiscou o pescoço dela, fazendo Anne amolecer um pouco e gemer baixo. - Você gosta, que eu sei.

Ela olhou para ele, confusa.

- Eu nunca fiz isso, mas... Pelos beijos, bom, isso eu gosto.

Ele ficou olhando pra ela, sem acreditar.

- Eu achei... Eu achei que você só não tava transando comigo porque eu não era o seu namorado.

- Não é. No presente - ela o corrigiu. Fortão entortou a boca com desgosto.

- É... Bom, você é virgem? Desculpa a pergunta, assim. Eu nem sei como perguntar isso de maneira educada.

Anne soltou o ar.

- Sim, sou - ela respondeu e ao ver a cara dele de assombro, Anne ficou sem entender. - Eu tenho dezoito anos. O que você esperava?

Ele queria dizer que as garotas que ele conhecia já não eram mais virgem aos dezoito anos há muito tempo, porém, achou melhor não falar nada.

- É que você é tão bonita e gostosa...

- Fortão!

- O que foi? Você é! Toda trabalhada na luxúria - ele a olhou sedutoramente e mordeu o lábio. - Amor... Namora comigo.

- E se eu namorar? Como vai ser? - ela perguntou. Ele era fofo com ela, apesar de às vezes falar o que não devia. Bonito, cheiroso, e ela sentia desejo por ele. Anne já tinha se pegado pensando como seria se deixar levar pelo charme de Fortão. Mas aí, ela lembrava que ele era traficante e isso fazia ela sentir que havia uma barreira imensa entre eles.

- Ué, como assim? - ele perguntou. - Nunca namorou?

- Sim, namorei - Fortão esperava que a resposta dela fosse negativa. Ele não gostou nada de saber que outro tinha namorado com ela antes dele, apesar de saber que esse tipo de pensamento era ridículo.

- Foi algum mauricinho, né?

Ela revirou os olhos.

- Ele estudava no mesmo colégio, mas depois ele saiu pra facul. Ele era dois anos mais velho.

- Mmm... E vocês terminaram por causa de quê?

Anne apertou os lábios e Fortão viu que a expressão dela não era boa. Ele se arrependeu de ter tocado naquele assunto.

- Ele não me quis mais depois que a minha madrasta me colocou pra fora.

- Te colocou pra fora? Me conta isso aí. Isso é, se tu quisé, claro.

Ele se sentou ao lado dela e Anne sentiu vontade de se acomodar mais próxima a ele, mas ficou com vergonha. Fortão percebeu e a puxou para perto. Então, eles dois estavam deitados na cama, ela quase em cima dele.

- Não tá desconfortável? - ela perguntou.

- Cama de solteiro, né - ele falou. - A gente precisa colocar uma maior aqui.

- Nem tem espaço pra isso...

- Então você muda de casa. Escolhe a casa, eu pago.

Ela olhou pra ele de cara feia.

- Quando eu puder, eu me mudo. Agora, não. E nem insista ou eu vou ficar com raiva.

- Tá, tá - ele falou. - Agora, conta aí os teus rolo.

Anne contou a ele sobre como as coisas se deram e como ela ficou na "rua da amargura" sem nenhum tostão no bolso.

- Mas que loucura! Ei... Mas... Isso tá errado.

- Eu sei. Porém, eu não tenho como pagar advogado. Eu cheguei a ir até a defensoria, mas eles disseram que eu precisava disso e daquilo... Coisas que eu não tinha como conseguir, então, eu resolvi que iria viver a minha vida e conquistar tudo de novo.

- Eu te admiro, sabia? - ele falou e a abraçou. - Seus pais tem orgulho de você, eu sei disso.

"Já não posso dizer o mesmo dos meus...", ele pensou, com tristeza.