Capítulo 3 3

Minhas pálpebras parecia que estavam grudadas e precisei fazer um pequeno esforço para abri-las. Estava deitada em algo confortável, talvez uma cama, e mesmo naquela posição, sentia que tudo ao meu redor girava numa velocidade impressionante.

Não lembrava de como havia ido parar em casa, apenas que estava saindo do bar acompanhada e que de um instante para o outro minha visão começou a escurecer. Se eu não estava em casa, pois não reconhecia a cor da parede. O que me fez pensar que deveria estar na casa de Rael.

Usando toda a força do meu corpo, consigo sentar e usando a força reserva que ainda me sobrava, levanto, sentindo meu corpo ir para a frente e para trás, como se estivesse sob o efeito de alguma substância.

Os pelos atrás do meu pescoço se levantam, mas é tarde demais. Um

momento estou em pé na pia, no próximo, um mão grande está cobrindo

minha boca enquanto um corpo grande e duro me segura contra o balcão

pelas minhas costas.

- Não grite - Uma voz profunda masculina sussurra no meu ouvido, e algo frio e afiado pressiona minha garganta. -, você não quer que minha

lâmina escorregue.

Eu não grito. Não porque é a coisa sábia a se fazer, mas porque não posso fazer um som. Estou congelada de terror, completa e totalmente paralisada.

Todos os meus músculos travaram, incluindo minhas cordas vocais, e meus pulmões pararam de funcionar.

- Vou retirar minha mão de sua boca - Murmura ele no meu ouvido,

sua respiração quente na minha pele pegajosa. - E você vai ficar em

silêncio. Entendeu?

Não posso fazer muito mais do que lamuriar, mas de alguma forma consigo um assentimento fraco.

Ele abaixa a mão, e seu braço rodeia meu tórax, e meus pulmões

escolhem esse momento para recomeçar seu trabalho. Sem querer, dou uma respirada. Imediatamente, a lâmina pressiona mais na minha pele, e congelo novamente quando sinto o sangue quente gotejando no meu pescoço.

Vou morrer. Oh Deus, vou morrer aqui, num lugar desconhecido. O terror é uma coisa monstruosa dentro de mim, me furando com agulhas

congeladas. Nunca estive tão perto da morte antes. Apenas dois centímetros para a direita e...

- Você precisa me ouvir, Vivian. - A voz de Rael é calma, não

combinando com a faca enterrada na minha garganta. - Se você cooperar, vai sair daqui viva. Se não, vai sair num saco de defunto. É sua escolha.

Viva? Uma ponta de esperança passa pela nuvem de pânico no meu cérebro.

Estranhamente, aquele detalhe me chama um pouco a atenção, me dá algo concreto para minha mente começar a trabalhar.

- O-o que você quer? - As palavras saem num sussurro trêmulo, mas é um milagre que eu possa falar.

Sinto-me como um veado na frente de faróis, chocada e impressionada, meus pensamentos são processados estranhamente lentos.

- Apenas algumas poucas respostas - diz ele, e a faca se afasta um

pouco. Sem o aço frio cortando minha pele, parte do meu pânico diminui, e registro outros detalhes, como o fato de que meu agressor é pelo menos uma cabeça mais alto do que eu e coberto de músculos. O braço em volta do meu tórax é como uma barra de aço, e o corpo grande me pressionando contra minhas costas não deixa espaço, nada macio em lugar algum. Tenho altura média para uma mulher, mas sou magra e com pequena estatura óssea, e se ele é tão musculoso, ele deve ter pelo menos o dobro do meu peso.

Mesmo se não tivesse a faca, eu não conseguiria escapar.

- Que tipo de respostas? - Minha voz é um pouco mais firme desta

vez. Talvez ele apenas esteja aqui para me roubar e tudo que precisa é a

combinação do cofre. Ele tem cheiro de limpeza, como sabão de lavanderia e pele masculina saudável, então, não se trata de um viciado em metafetamina ou vagabundo das ruas. Um sequestrador profissional, talvez?

Se for o caso, estarei feliz em dar minhas joias e o dinheiro de emergência que tinha escondido em casa.

- Quero que você me fale sobre seu irmão. Especificamente sua

localização.

- Anton? - Minha mente apaga quando um novo temor me pega. -

O-o que... por quê?

A lâmina pressiona.

- Sou eu que faço as perguntas.

- P-por favor - Eu engasgo. Não posso pensar, não posso focar em

nada além da faca. Lágrimas quentes descem no meu rosto, e estou com o

corpo todo tremendo. - Por favor, eu não...

- Apenas responda minha pergunta. Onde está seu irmão?

- Eu... - Oh Deus, o que falo para ele? Ele deve ser um sequestrador, a razão para todo o cuidado que meu pai tem. Meu coração está batendo tão rápido que estou hiperventilando. - Por favor, eu não... eu não tenho...

- Não minta para mim, Vivian. Preciso da localização dele. Agora.

- Não sei isso, juro. Por favor, nós estamos... - Minha voz instável. -

Estamos sem saber dele.

O braço em volta do meu tórax aperta, e a faca crava uma fração mais fundo.

- Você quer morrer?

- Não, não, eu não. Por favor... - Estou tremendo mais, as lágrimas

descem no meu rosto incontrolavelmente. Depois dos dias ruins que passei, houve dias em que pensava que queria morrer, quando a culpa e a dor dos arrependimentos eram avassaladores, mas agora que a lâmina está na minha garganta, eu quero viver. Quero muito.

- Então, me diga onde ele está.

- Eu não sei! - Meus joelhos estão ameaçando dobrar, mas não posso

trair Anton assim. Não posso expô-lo a este monstro.

- Você está mentindo. - A voz do meu agressor é gelo puro. - Li suas

mensagens. Você sabe exatamente onde ele está.

- Não, eu... - Eu tento pensar numa mentira plausível, mas não consigo

formar nenhuma. O pânico é amargo na minha língua enquanto perguntas

desesperadas aparecem na minha mente. Como ele pode ler minhas

mensagens? Quando? Há quanto tempo ele está de tocaia. Ele é um deles? - Eu... eu não sei do que você está falando - Anton falava comigo de vez em quando, não era sempre, nem frequente, apenas para dar algum sinal de vida para mim.

A faca pressiona mais fundo, e aperto meus olhos fechados, minha

respiração vinda em soluços ofegantes. A morte está tão perto que posso

sentir seu gosto, cheirá-la... senti-la em cada fibra do meu ser. É o gosto forte metálico do meu sangue e o suor frio descendo pelas minhas costas, o barulho do meu pulsar nas minhas têmporas e a tensão dos meus músculos tremendo. Mais um segundo, ele cortará minha jugular, e sangrarei, aqui no piso da minha cozinha.

É isso que mereço? É assim que aplaco meus pecados?

Aperto meus dentes para que não façam barulho. Por favor, me perdoe, Anton. Se é isso que você precisa...

Ouço meu agressor suspirar, e no próximo instante, a faca desaparece e sou virada sobre o balcão. Minhas costas batem forte o granito, e minha cabeça cai para trás na pia, os músculos do meu pescoço gritando de dor.

Ofegando, eu chuto e tento socá-lo, mas ele é muito forte e rápido. Num piscar de olhos, ele pula no balcão e trepa em mim, me prendendo com seu peso. Ele segura meus punhos com algo duro e inquebrável antes de prendê-los com uma mão, e não importa o quanto luto, não posso fazer nada para me livrar. Meus calcanhares deslizam inutilmente no balcão liso, e os músculos do meu pescoço queimam por segurarem minha cabeça. Sou impotente, presa e um novo tipo de pânico me atinge.

Por favor, Deus. Qualquer coisa, menos estupro.

- Vamos tentar algo diferente - diz ele, e um pedaço de pano cai no

meu rosto. -, veja se está disposta a morrer por aquele bastardo.

Ofegando, eu balanço minha cabeça de um lado para o outro, tentando retirar o pano, mas é muito longo e eu quase não consigo respirar sob ele.

Está ele tentando me sufocar? É esse o plano?

Então, a bica faz barulho, e tudo fica claro.

- Não! - Luto com mais força, mas ele segura meu cabelo com a mão

livre, me segurando sob a torneira com minha cabeça para trás.

O primeiro choque úmido é ruim, mas em segundos, a água desce pelo meu nariz. Minha garganta se aperta, meus pulmões se estendem, e todo meu corpo se agita enquanto fico com ânsia e sufoco. O pânico é instintivo, incontrolável. O pano é como uma mão molhada presa em meus nariz e boca, apertando e mantendo-os fechados. A água está no meu nariz, minha garganta. Estou sufocando, me afogando. Não consigo respirar, não consigo...

A torneira para, e o pano é puxado do meu rosto. Tossindo, eu inspiro com força, soluçando e respirando rápido. Todo meu corpo chacoalhando, tremendo descontroladamente, e pontos brancos dançam na minha visão.

Antes que possa me recuperar, o pano é jogado no meu rosto, e a água é ligada novamente.

Desta vez é até pior. Minha passagem nasal está queimando com a água, e meus pulmões gritam por ar. Estou tremendo e ofegando, sufocando e chorando. Não consigo respirar. Oh, Deus, estou morrendo; não consigo respirar...

No próximo instante, o pano some, e estou convulsivamente puxando o ar.

- Me diga onde ele está, e paro. - Sua voz é um sussurro sombrio sobre

mim.

- Não sei! Por favor! - Sinto o gosto de vômito na minha garganta, e

saber que ele irá fazer aquilo novamente transforma meu sangue em ácido.

Foi fácil ser corajosa com a faca, mas isso não. Não consigo me deixar

morrer assim.

- Última chance - Meu algoz diz calmamente, e o pano molhado cai no

meu rosto.

A torneira começa a fazer barulho.

- Para! Por favor! - O grito sai de mim. - Vou falar! Vou falar.

A água para e o pano é puxado do meu rosto.

- Fale.

Estou soluçando e tossindo tão forte para formar frases coerentes, então, ele me puxa do balcão para o piso e se agacha para me circular com seus braços. Para alguém que estivesse olhando, pareceria como um abraço consolador ou um enlace de um amante. Juntando-se à ilusão, a voz do meu torturador é calma e gentil como doce cantiga nos meus ouvidos.

- Me fale, Vivian. Me diz o que quero saber, e deixo você em paz.

- Ele está... - Eu paro um segundo de falar a verdade. O animal em

pânico dentro de mim exige que eu sobreviva a todo custo, mas não posso

fazer isso. Não posso mandar esse monstro para Anton. - Ele está acampando no norte já tem uns dias- digo ofegando. -, com certeza já deve ter saído de lá.

É uma mentira, e aparentemente não é boa, porque os braços à minha volta se apertam, quase que quebrando meus ossos.

- Não fale essa porra de merda para mim. - A doce cantiga nos meus ouvidos desaparecem, trocadas por ódio mortífero. - Ele saiu de lá, saiu há meses. Onde ele está escondido?

Estou soluçando mais forte.

- Eu não... eu não...

Meu agressor fica em pé, puxando-me com ele, e eu grito e luto enquanto ele me leva para a pia.

- Não! Por favor, não! - Fico histérica quando ele me levanta do chão, minhas mãos presas se mexendo enquanto tento segurar seu rosto. Meus calcanhares batem no granito quando ele sobe em mim, me prendendo no lugar, e bile chega à minha garganta quando ele pega meu cabelo, puxando minha cabeça para trás na pia do banheiro. - Pare!

- Me fala a verdade, e paro.

- Eu... eu não posso. Por favor, eu não posso! - Eu não posso fazer isso

com Anton, não depois de tudo. - Pare, por favor!

O pano molhado bate no meu rosto, e minha garganta se fecha em pânico.

A água ainda está desligada, mas já estou me afogando; não consigo respirar, não consigo respirar...

- Porra!

Sou abruptamente retirada dali e colocada no chão, onde eu colapso

soluçando, tremendo fortemente. Apenas desta vez não há braços para me restringir, e noto levemente que ele se afasta.

Eu deveria me levantar e correr, mas não posso fazer minhas pernas

funcionarem. Tudo o que posso fazer é um rolamento patético para o lado,

seguido de uma tentativa de engatinhar. O medo cega, é desorientador e não consigo ver nada na escuridão.

Não consigo vê-lo.

Corra. Desejo para meus músculos mancos e trêmulos. Se levanta e

corre.

Sugando o ar, eu me seguro em algo – uma quina da parte de cima do balcão e me forço para cima para ficar de pé. Só que é tarde demais; ele já está em mim, a parte dura do seu braço se enrolando no meu tórax quando ele me segura por trás.

- Vamos ver se isso funciona melhor - sussurra ele, e algo frio e

pontudo entra no meu pescoço.

Uma agulha, concluo com um pulo de terror, e minha consciência se apaga.

Um rosto aparece em frente aos meus olhos. É um belo rosto, até muito bonito, apesar da cicatriz que divide a sobrancelha esquerda. Alto, maçãs do rosto inclinadas, olhos cinza aço moldurados por cílios negros, uma mandíbula forte com uma barba por fazer, um rosto de homem, minha mente tenta esquadrinhar. Seu cabelo é grosso e escuro, maior em cima do que nos lados. Não é um homem velho, mas também não é um adolescente.

Um homem na sua plenitude. Mas não é Rael.

O rosto está franzido, suas feições com linhas severas e sombrias. - Anton Costello - diz a boca severa e esculpida. É uma boca sexy, bem acabada, mas ouço as palavras como que vindo de um megafone distante. -, você sabe onde ele está?

Eu assinto, ou pelo menos tento. Minha cabeça está pesada, meu pescoço estranhamente dolorido.

- Sim, eu sei onde ele está. Eu também achei que o conhecesse, mas não o conhecia, realmente não. Você realmente conhece alguém? Eu não acho, ou, pelo menos, não conhecia ele. Achei que conhecia, mas não conhecia. Todos aqueles anos separados, e todos achavam que éramos tão perfeitos como irmãos. Éramos a nata da nata, os herdeiros Costello - Estou vagamente consciente que estou tagarelando, mas não consigo parar. As palavras jorram de mim, toda a dor e amargura presas.

- Meus pais ficaram tão orgulhosos, tão felizes no dia do nosso casamento.

Eles não tinham ideia, não tinham ideia de tudo que iria acontecer, o que aconteceria...

- Vivian. Foque em mim - diz a voz de megafone, e eu sinto um sotaque estrangeiro. Gosto disso, aquele sotaque me faz chegar mais perto e pressionar minha mão naqueles lábios esculpidos, então, passo os dedos

naquela mandíbula forte para ver se tem barba por fazer. Eu gosto de barba por fazer, eu gostava de sentir a barba mal feita, gostava de sentir aquela aspereza nas minhas coxas quando ele...- Vivian, pare - corta a voz, e o cenho franzido no rosto exótico e bonito se aprofunda.

Eu estava falando alto, concluo, mas não me sinto envergonhada, não mesmo. As palavras não parecem minhas; elas apenas vêm por conta própria.

Minhas mãos também agem por conta própria, tentando pegar aquele rosto, mas algo as para, e quando abaixo minha cabeça pesada para olhar para baixo, vejo um lacre de bagagem prendendo meus pulsos, com uma grande mão de homem sobre minhas palmas. É quente, aquela mão, e está segurando minhas mãos presas ao meu colo.

Por que está fazendo isso? De onde veio a mão? Quando olho para cima confusa, o rosto está mais perto, os olhos cinza verificando meus olhos.

- Preciso que me fale onde está seu irmão- diz a boca, o megafone

se move para mais perto. Parece que está bem perto do meu ouvido. Me

afasto, mas ao mesmo tempo, aquela boca me intriga. Aqueles lábios me

fazem querer tocá-los, lambê-los, senti-los no meu... espera. Eles estão

perguntando algo.

- Onde está meu irmão? - Minha voz soa como se estivesse ecoando

nas paredes.

- Sim, Anton Costello, seu Irmão. - Os lábios parecem tentadores ao

formarem as palavras, e o sotaque acaricia minhas partes internas apesar do efeito persistente de megafone. - Me diga onde ele está.

- Ele está seguro. Ele está num esconderijo - Digo - Eles poderiam

vir pegá-lo. Eles não queriam que ele fugisse com ela, mas ele

fugiu. Ele foi bem corajoso, ou estúpido... provavelmente estúpido, certo?

... e, então, o acidente aconteceu, mas eles ainda o perseguem, porque eles fazem isso. Não se importam se ele é um vegetal agora, um pepino, um tomate, uma abobrinha. Bom, tomate é fruta, mas ele é um vegetal. Um brócolis, talvez? Eu não sei.

- Onde é o esconderijo? - Tem uma luz sombria naqueles olhos de aço.

- Me diga o endereço do esconderijo.

- Não sei o endereço, mas é na esquina da lavanderia Ricky's, em

Evanston - Digo para aqueles olhos. -, eles sempre me leva num carro,

então, eu não sei o endereço exato, mas vejo aquele prédio da janela. Tem

pelo menos dois homens naquele carro, e eles ficam dando voltas para

sempre, às vezes trocam de carro também. É por causa dela, porque eles

podem estar observando. Eles sempre mandam um carro para mim, e eles não puderam neste final de semana. Conflito de horários, disseram. Isso acontece às vezes; o turno dos guardas não casa e...

- Quantos guardas tem?

- Três, às vezes quatro. Eles são esses militares grandes. Ou ex-

militares, eu não sei. Eles só parecem assim. Não sei por quê, mas todos eles têm essa aparência.

- Vivian, cala a boca. - Dedos pressionam minha boca, parando a onda de palavras, e o rosto fica até mais perto. - Você pode parar agora. Já terminou - A boca sexy murmura, e eu abro meus lábios, chupando os dedos. Eu sinto gosto de sal e pele, e quero mais, então, eu rolo minha língua em volta dos dedos, sentindo a aspereza dos calos e as pontas grossas das unhas curtas. Já faz tanto tempo desde que toquei alguém, e meu corpo esquenta do gostinho, do olhar naqueles olhos prata.

- Vivian... - A voz com sotaque é mais baixa agora, mais profunda e

calma. É menos do que um megafone e mais um eco sensual, como música feita em um sintetizador. - Você não quer isso.

Oh, mas eu quero. Eu quero muito isso. Eu continuo rodando minha língua nos dedos, e vejo os olhos cinza ficarem sombrios, as pupilas estão aumentando visivelmente. É sinal de ereção, eu sei, e me faz querer fazer mais. Me fazem querer beijar aqueles lábios esculturais, esfregar minhas bochechas naquelas mandíbulas mal barbeadas. E o cabelo, aquele cabelo escuro grosso. Teriam a sensação de maciez ou seriam como cachos espessos? Quero saber, mas não consigo mover minhas mãos, então, apenas chupo os dedos com mais força, fazendo amor com eles com meus lábios e língua, sugando-os como se fossem doces.

- Vivian. - A voz é grossa e rouca, o rosto apertado com uma

necessidade mal contida. - Você tem que parar. Você vai se arrepender disso amanhã.

Me arrepender? Sim, provavelmente me arrependerei. Eu me arrependo de tudo, tantas coisas, e eu solto os dedos para dizer isso. Mas antes que eu possa falar uma palavra, os dedos saem dos meus lábios e o rosto vai para longe.

- Não me deixe. - O grito é triste, como de uma criança grudenta. Eu

quero mais daquele toque humano, aquela conexão. Minha cabeça parece um saco de pedras, e sinto dor por todo o corpo, especialmente no meu pescoço e ombros. Minha barriga também dói. Quero alguém para escovar meus cabelos e massagear meu pescoço, me segurar e me balançar como um bebê. - Por favor, não vá embora.

Algo parecendo com dor passa pelas feições do homem, e sinto a picada fria da agulha no meu pescoço.

- Durma bem, Vivian- Murmura a voz, e apago, minha mente flutuando para longe como uma folha caindo.

            
            

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