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Acordei pelo o que me pareceu ser dias depois, me sentindo fora do meu corpo e com o corpo leve. Não tinha dúvida que a substância ainda estava pelo meu corpo, o que explicava aquele meu estado.
Chegou o amanhecer e, cada minuto que passava, eu ficava cada vez
mais ansiosa com a ideia de ver meu sequestrador novamente.
A substância em meu corpo me abandonava lentamente, permitindo que eu tivesse de volta o controle do meu corpo. Eu levanto e ando em círculos pelo quarto.
Eu estava vestida com as roupas do dia anterior, o quê de certo modo comecei a me sentir desconfortável. Não era o que eu teria escolhido para usar para ser sequestrada, mas eram melhores do que um roupão. Sob a cômoda perto da porta, havia uma calcinha branca de renda sexy e um sutiã combinando, um vestido azul bonito abotoado na frente.
Ele estivera me observando por algum tempo? Descobrindo tudo sobre mim, incluindo o tamanho das roupas?
A ideia me deixou enjoada.
Tentei não pensar no que aconteceria, mas foi impossível. Eu não sabia por que tinha tanta certeza de que minha vida mudaria naquela noite. Era possível que ele tivesse um harém inteiro de mulheres aonde estivéssemos e visitasse cada uma delas apenas uma vez por semana, como os sultões.
Ainda assim, eu sabia que ele chegaria em breve. A noite anterior simplesmente abrira o apetite dele. Eu sabia que demoraria muito para que ele se cansasse de mim.
Finalmente, a porta se abriu.
Ele entrou como se fosse dono do lugar. O que, claro, era verdade, vestia novamente calça jeans e uma camiseta, desta vez, cinza. Ele parecia gostar de roupas simples, o que era inteligente. A aparência dele não precisava de realce.
Ele sorriu para mim. Aquele sorriso de anjo caído, sombrio e sedutor ao mesmo tempo.
- Olá, Vivian.
Eu não sabia o que dizer e falei a primeira coisa que me surgiu na mente.
- Por quanto tempo vai me manter aqui?
Ele inclinou a cabeça ligeiramente para o lado.
- Aqui no quarto? Ou na
ilha?
- Os dois.
- Liam mostrará o lugar a você amanhã. Se quiser, poderá nadar - disse ele, aproximando-se. - Você não ficará trancada, a não ser que faça alguma tolice.
- Como o quê? - perguntei. Meu coração bateu com mais força dentro do peito quando ele parou perto de mim e ergueu a mão para acariciar meus cabelos.
- Tentar machucar Liam. Ou machucar você mesma. - A voz dele era suave e o olhar hipnótico ao olhar para mim. A forma como tocava nos meus cabelos foi estranhamente relaxante.
Pisquei, tentando me livrar do feitiço dele.
- E a ilha? Por quanto tempo pretende me manter aqui?
A mão dele acariciou as curvas em volta do meu rosto. Eu me vi recostando-me na mão dele, como uma gata sendo acariciada, e imediatamente endireitei o corpo.
Os lábios dele se curvaram em um sorriso. O idiota sabia o efeito que tinha em mim.
-Até ter o quê eu quero, espero - disse ele.
Por algum motivo, não fiquei surpresa. Ele não teria se dado ao trabalho de me levar até a ilha se quisesse apenas dar algumas trepadas comigo. Fiquei aterrorizada, mas não surpresa.
Reuni coragem e fiz a próxima pergunta mais lógica.
- Por que você me sequestrou? - O sorriso desapareceu do rosto dele. Ele não respondeu, apenas me encarou com um olhar verde inescrutável.Comecei a tremer. - Você vai me matar?
- Não, Vivian, não vou matar você.
A negação dele me reconfortou, apesar de, obviamente, ser possível que estivesse mentindo.
- Você vai me vender? - Mal consegui pronunciar as palavras. - Para ser uma prostituta ou algo assim?
- Não - disse ele em tom suave. -Não tenho nada m mente ainda.
Eu me senti um pouco mais calma, mas havia mais uma coisa que precisava saber.
- Você vai me machucar?
Por um momento, ele não respondeu. Algo sombrio passou em seus olhos.
- Provavelmente - respondeu ele baixinho.
Estava tentando me manter calma, não entrar em desespero mas, acredito que qualquer pessoa na minha situação, já estaria em desespero. Ser tirada do meio de convívio do jeito que eu fui, torturada em busca de informações e ser praticamente forçada a entregar meu irmão que,deveria estar metido em algo muito sério, pois ao contrário, não estaria ali por causa dele, com um homem que achei que era o céu mas, que estava se mostrando o verdadeiro inferno para mim.
Rael saiu do quarto da mesma forma que entrou e isso foi um alívio, apesar de eu estar com fome e sede. Acabei recorrendo a pia do banheiro, aonde bebi o máximo de água possível, ajudando a fome a diminuir um pouco. Por fim, resolvo tirar o vestido e o sobretudo que vestia e vestir uma das roupas sobre a cômoda e tomar um banho. Pelo menos, até aquele momento, eu tinha direito ao banho,não sabia se teria depois.
Logo depois que saí do banheiro, um homem entrou no quarto, presumi que fosse Liam, o mesmo homem que ajudou Rael a me torturar, carregando uma bandeja de comida e mais roupas. Desta vez, era um café da manhã mais tradicional: omelete com legumes e queijo, uma torrada e frutas tropicais frescas.
Dessa vez, ele sorriu para mim, parecendo determinado a ignorar o incidente do garfo.
- Bom dia - disse ele em tom alegre.
Ergui as sobrancelhas.
- Bom dia para você também - disse eu com a
voz repleta de sarcasmo.
Ao perceber minha tentativa óbvia de alfinetá-lo, o sorriso de Liam aumentou.
- Ora, não seja tão rabugenta. Rael disse que você deve sair do
quarto hoje. Não é ótimo?
Era mesmo ótimo. Aquilo me daria uma chance de explorar um pouco minha prisão, de ver se aquele lugar era realmente uma ilha. Talvez houvesse outras pessoas lá além de Liam, pessoas que seriam mais sensíveis à minha situação.
Além do mais, talvez eu conseguisse encontrar um telefone ou um computador. Se conseguisse enviar uma mensagem de texto ou um e-mail para meus pais, eles poderiam encaminhar para a polícia e talvez eu fosse resgatada.
Ao pensar na minha família, senti um peso no peito e os olhos queimando.
Eles deviam estar muito preocupados, perguntando-se o que acontecera, se eu ainda estava viva. Eu era filha única e minha mãe sempre dizia que morreria se algo acontecesse comigo. Torci para que ela não estivesse falando sério.
Eu o odiava.
E odiava aquele homem que sorria para mim naquele momento.
- Claro, Liam- digo, sentindo vontade de rasgar o rosto dele até que se transformasse em uma careta. - É sempre bom sair de uma gaiola pequena para uma maior.
Ele revira os olhos e sentou-se em uma cadeira.
- Que dramática. Coma sua comida e mostrarei o lugar a você.
Pensei em não comer só para irritá-lo, mas eu estava faminta. Portanto, comi até deixar o prato vazio.
- Onde está Rael? - perguntei entre uma garfada e outra. Eu estava curiosa para saber como ele passava os dias.
- Trabalhando - explicou Liam. - Ele tem muitos negócios que exigem sua atenção.
- Que tipo de negócios?
Ele dá de ombro.
- De todo tipo.
- Ele é um criminoso? - perguntei em tom direto.
Ele ri.
- Por que acha isso?
- Talvez porque ele me sequestrou?
Ele ri de novo, balançando a cabeça como se eu tivesse dito algo engraçado.
Eu quis bater nele, mas me contive. Precisava saber mais sobre os arredores antes de tentar algo assim. Não queria acabar presa no quarto, se pudesse evitar. Minhas chances de escapar seriam muito maiores se eu tivesse mais liberdade.
Portanto, eu me levantei e lancei um olhar frio a ele.
- Estou pronta.
- Então, vista uma roupa de banho - disse ele, indicando as roupas que levara. - Depois, poderemos ir.
Antes de sairmos, Liam mostrou o restante da casa. Era espaçosa e com mobília de bom gosto. A decoração era moderna, com um toque de influência tropical e motivos asiáticos sutis. Predominavam os tons claros, apesar de, aqui e ali, eu perceber uma cor inesperada na forma de um vaso
vermelho ou uma escultura de dragão azul. Havia quatro quartos, três no andar de cima e um no térreo. A cozinha no térreo era particularmente incrível, com aparelhos modernos e balcões de granito brilhantes.
Havia também um aposento que Liam disse ser o escritório de Rael. Ele ficava no primeiro andar e, pelo jeito, era proibido para qualquer pessoa exceto ele. Era onde supostamente ele cuidava dos negócios. A porta estava fechada quando passamos.
Depois de terminarmos o passeio pela casa, Liam passou as duas horas seguintes me mostrando a ilha. E era certamente uma ilha, Rael não mentira.
A ilha tinha apenas cerca de três quilômetros de largura por um de comprimento. De acordo com Liam, estávamos em algum lugar do Oceano Pacífico e o lugar habitado mais próximo ficava a mais de oitocentos quilômetros de distância. Ele enfatizou isso algumas vezes, como se estivesse com receio de que eu resolvesse tentar fugir nadando.
Eu não faria aquilo. Não era uma boa nadadora nem era suicida.
Em vez disso, eu tentaria roubar um barco.
Subimos até o ponto mais alto da ilha. Era uma montanha pequena... ou uma colina alta, dependendo da definição que se quisesse usar. A vista era incrível, com água azul brilhante até onde era possível ver. Em um lado da ilha, a água tinha um tom de azul diferente, com um tom turquesa. Liam disse que havia uma caverna rasa que era excelente para mergulhar.
A casa de Rael era a única da ilha. Ela ficava em um lado da montanha, um pouco afastada da praia e um tanto elevada. Liam explicou que era o local mais protegido contra ventos fortes e o oceano. Pelo jeito, a casa sobrevivera a vários tufões, sofrendo apenas danos mínimos.
Eu assenti, como se me importasse. Não tinha a menor intenção de presenciar o próximo tufão. A vontade de fugir queimava dentro de mim. Não vi nenhum telefone nem computador enquanto Liam me mostrara a casa, mas isso não significava que não existiam. Se Rael conseguia trabalhar da ilha, certamente havia internet. E, se fossem idiotas o suficiente para me deixar percorrer a ilha livremente, eu encontraria uma forma de falar com o mundo
externo.
Terminamos o passeio na praia perto da casa.
- Quer nadar um pouco? - perguntou Liam, tirando a bermuda e a
camiseta. Por baixo, ele vestia uma sunga azul. Seu corpo era esbelto e bronzeado. Estava em tão bem em forma que fiquei imaginando qual seria a idade dele. O corpo poderia pertencer a um adolescente, mas o rosto parecia mais velho.
- Quantos anos você tem? - perguntei em tom direto. Eu teria um pouco mais de tato em circunstâncias normais, mas não me importava se ofenderia aquele homem. O que importavam as convenções sociais quando alguém era mantida prisioneira por duas pessoas loucas?
Ele sorri, nem um pouco chateado com minha pergunta rude.
- Trinta e sete - diz ele.
- E Rael?
- Ele tem vinte e nove.
- Vocês dois são namorados? - Não sei o que me fez perguntar aquilo. Se ele sentia algum ciúme de minha posição como brinquedo sexual de Rael, certamente não demonstrava.
Liam ri.
- Não, não somos.
- Por que não? - Mal consegui acreditar que estava sendo tão direta. Eu fora criada para ser sempre educada e ter boas maneiras, mas havia algo libertador em não se importar com o que as pessoas pensavam. Eu sempre fora uma pessoa agradável, mas não queria agradar aquela mulher.
Ele parou de rir e me olhou sério.
- Porque não sou o que Rael quer nem do que ele precisa.
- E o que é?
- Você saberá um dia - diz ele em tom misterioso, entrando na
água.
Eu o observei, sentindo a curiosidade me devorar, mas ele não parecia ter mais nada a dizer. Ele mergulhou e começou a nadar com braçadas atléticas.
Estava quente e o sol me queimava. A areia era branca e parecia macia. A água brilhante me tentava com a promessa de frescor. Eu queria odiar aquele lugar, desprezar tudo que se relacionava à minha prisão, mas tinha que admitir que a ilha era linda.
Eu não precisava nadar se não quisesse. Não parecia que Liam me forçaria.
E parecia errado sentir prazer na praia enquanto minha família certamente estava muito preocupada comigo, desesperada com o meu desaparecimento.
Mas a atração da água era forte. Eu sempre adorara o oceano, apesar de ter visitado os trópicos algumas vezes. Aquela ilha era minha ideia de paraíso, apesar do fato de pertencer a uma serpente.
Deliberei por um minuto. Em seguida, tirei o vestido e as sandálias. Eu poderia negar aquele pequeno prazer a mim mesma, mas era pragmática demais. Eu não tinha ilusão sobre meu status ali. A qualquer momento, Rael e Liam poderiam me trancar, deixar que eu morresse de fome, bater em mim. Só porque fora tratada relativamente bem até o momento não significava que continuaria assim. Na minha situação precária, qualquer momento de alegria
era precioso, pois eu não sabia o que o futuro me reservava nem se algum tinha teria algo parecido com alegria novamente.
Portanto, me juntei à meu inimiga no oceano, deixando que a água levasse embora o medo e esfriasse a raiva que me queimava por dentro.
Nadamos, deitamos na areia quente e nadamos novamente. Não fiz mais perguntas e Liam pareceu contente com o silêncio.
Ficamos na praia por mais duas horas e finalmente voltamos para a casa.
Havia um motivo pelo qual eu estava ali, estava bem estampado diante do meu rosto e aos poucos me dava conta disso. Estava ali por causa do meu irmão, de Anton, mas não conseguia entender o quê Anton havia feito de tão grave para que duas pessoas me sequestrar e me levar para uma ilha, uma ilha que deveria estar bem longe da minha casa. Eu queria entender, estava me esforçando ao máximo, para tentar descobrir o motivo pelo qual estavam atrás dele e não conseguia pensar em nada, não conseguia imaginar meu irmão fazendo nada de errado.
Ele sempre foi mais na dele, nunca nem arrumou briga na escola. Como é que ele havia ido parar sendo perseguido pelas aquelas pessoas?
Só esperava que um dia ele me perdoasse, por ter entregado sua localização, quando tudo que ele mais me pedia, quando falava comigo, era que não dissesse nem para nossos pais aonde ele estava. Era um segredo nosso, igual quando éramos crianças e fazíamos algo de errado e combinávamos de não contar para ninguém e proteger um ao outro. Quase nunca dava certo, mas tentávamos e daquela vez eu falhei e, só queria que ele entendesse meu lado. E que qualquer que fosse o quê Rael estivesse planejando, em relação ao meu irmão, que algo o fizesse mudar de ideia e que o fizesse me libertar, já que não tinha nada haver com o quê estava acontecendo e que já havia ajudado ele de alguma forma, traído meu irmão, quando achei que iria ser morta. Se não fosse a situação desesperadora, nunca iria fazer tal coisa com ele, nem que a minha mãe implorasse.