Capítulo 4 Você conhecerá seu noivo no altar

Percebo que meus pais estão aliviados com minha decisão,

mesmo notando meu olhar de tristeza e desprezo, porém, decido que o

melhor a se fazer, neste momento, é aceitar de uma vez por todas o destino

que me foi traçado.

Me pego outra vez pensando no destino...

Como que, tão de repente, nossas vidas poderiam mudar tanto?

Hoje você está andando e amanhã, com sorte, está morto. É isso que

eu quero neste exato momento...

Morrer.

Suspiro melancólica me revirando na cama, olho para o relógio e

vejo que já passa das 10 da noite.

Me levanto, saio do quarto, sigo pelo corredor e paro no andar

debaixo, onde fica nossa biblioteca.

Meus pais e eu sempre fomos amantes da leitura, mas com o passar

dos anos e a vida dos dois ficando agitada por conta dos negócios, fui a

única que ainda continuo a vir aqui.

Entro no cômodo com as prateleiras cheias de livros de diversos

tipos e sorrio ao passar a mão em suas lombadas. Pego um qualquer,

pensando em como seria viver uma vida daquelas de romances, onde o casal

se apaixona fervorosamente e constroem uma linda família.

Eu seria assim?

No final de tudo, eu seria feliz ao lado desse homem até então,

desconhecido?

- Você deveria procurar uma foto dele na internet, Laureen, assim se

ele for feio, irá conhecê-lo preparada. - Dou risada das minhas próprias

palavras.

Coloco o livro no lugar de antes, apanho outro e me aconchego na

poltrona. Encolho meu corpo e começo a virar as primeiras páginas,

tentando ao máximo absorver o conteúdo do livro e esquecer o inferno que

está prestes a acontecer na minha vida.

***

Acordo com o barulho do livro caindo no chão e me assusto, não me

recordando o momento em que cochilei na biblioteca. Bocejo me

espreguiçando, levanto e pego o livro do chão.

Volto o livro para a prateleira e saio do local andando tranquilamente

até que próximo ao escritório do papai vejo uma sombra. Ando devagar a

fim de saber quem é, não entendo o motivo de fazer isso, mas sigo meus

extintos e faço o mínimo possível de barulho.

- Você acha que isso é uma boa ideia, Jorge? - pergunta minha

mãe. - Acha mesmo que este casamento vai ser bom para a nossa filha?

- Eu não sei, meu amor, mas não temos outra escolha a não ser essa,

se não fizermos isso, estaremos arruinados para sempre. Não posso permitir

que nossa família se afunde deste jeito.

Fico parada, ouvindo a conversa dos dois, com o coração acelerado

e o suor brotando na minha testa.

- E se Eduardo planejar alguma coisa contra nossa filha?

- Ele não faria isso. Eduardo pode ser tudo, menos um covarde -

responde papai suspirando. - Vamos ter que arriscar e mesmo não sabendo

a real intenção dele em querer que nossos filhos se casem, teremos que

permitir. Não gosto da ideia de ver minha filha casada com um homem que

não ama, mas infelizmente serei obrigado a tirar isso dela se quisermos nos

manter vivos.

- Você fala como se Eduardo fosse nos matar se essa dívida não for

paga - responde mamãe aflita.

- E você dúvida disso? Eduardo é capaz de matar, tenho certeza

disso.

- Assim como você - responde mamãe. - Jorge, o que foi feito

no passado... Aquele acidente... Eu sei que você tem a ver com ele, só não

assume.

- Fique quieta, Elizabeth! - profere papai. - Esqueça o passado,

lembrar dele não resolverá nada... Tudo não passou de um acidente, você

sabe disso...

- Se você não se deitasse com qualquer mulher por aí - responde

mamãe de maneira amarga. - Isso foi tudo culpa sua.

- Pensei que houvesse me perdoado por isto.

- Uma mulher perdoa uma traição sim, Jorge, mas esquecer, isso

nunca.

Fico surpresa ao saber que papai traiu mamãe e saio correndo

disfarçadamente para que eles não me vejam.

Entro no meu quarto e tranco a porta sentindo meu coração acelerado

com tamanha surpresa por descobrir que meus pais não são quem eu

imaginava.

Afinal, do que eles estavam falando?

Sobre qual acidente meus pais estavam se referindo?

Será que Eduardo realmente nos mataria se eu não me casasse com

seu filho?

E o principal, por que sinto que tudo isso está interligado?

***

No dia seguinte, fico pensando na conversa que meus pais haviam

tido e o que eu poderia fazer para descobrir sobre o que realmente

aconteceu.

De que acidente eles estavam falando?

Só de recordar as palavras de mamãe sobre meu pai ser capaz de

matar alguém, um calafrio sobe pela minha espinha.

- No que está pensando? - pergunta Lucy me ajudando a arrumar

minhas roupas.

No café da manhã, meu pai havia dito que era melhor começar a

arrumar minhas malas, pois conforme Eduardo havia dito, o casamento

acontecerá em pouco tempo.

- Nada demais, eu só não dormi muito bem.

- Você engana seus pais, Laureen, mas eu não - diz minha amiga.

- Ande, me diga, o que está acontecendo, além da loucura deste casamento?

- Ontem à noite eu saí para ir até a biblioteca e acabei ouvindo uma

conversa dos meus pais que me deixou bastante aflita.

Lucy me encara com os olhos arregalados.

- Que conversa?

Conto rapidamente para Lucy, que fica espantada com os segredos

cabulosos dos meus pais. Assim que termino, ela segura minha mão e a

aperta.

- Eu quero que você prometa que não vai tentar descobrir sobre o

que eles estavam falando.

- Por quê?

- Pode acabar sobrando para você - diz com a expressão

temerosa. - Há coisas que devemos deixar guardadas debaixo do tapete e

isso é uma delas. Você pode acabar se machucando ao tentar descobrir.

Reflito sobre isso e dou de ombros.

- Eu sei que é perigoso, mas realmente fiquei curiosa sobre a

conversa que eles tiveram.

- Eu sei que sim e confesso que também estou curiosa para saber

mais, contudo, vou pedir de novo, me prometa que não vai se meter em

encrenca para descobrir.

- Tudo bem, eu prometo, mas se por acaso chegar a ver alguma

coisa diferente, não irei ficar calada.

- Está certa, por enquanto apenas foque neste casamento que vai

acontecer.

Concordo e me assusto ao ouvir uma leve batida na porta.

- Filha, você tem visita - diz minha mãe do outro lado.

Me recomponho esquecendo a conversa que havia tido com Lucy, que

vai até a porta, a abre para mamãe, que entra e me encara.

- Que bom que está arrumada, seu futuro sogro está lá embaixo...

Ele quer conhecê-la.

- Me conhecer para quê?

- Para ver a futura nora, minha filha. Por favor, colabore.

Suspiro e concordo seguindo até a penteadeira onde encaro o

espelho. Passo um brilho labial, reforço o perfume e ajeito meu cabelo

colocando um sorriso no rosto.

- Satisfeita? - pergunto sarcasticamente.

- Vamos logo, vai ser rápido, eu prometo.

- Que eu leve um tiro no meio do caminho - sussurro.

- O que você disse?

- Que eu não vejo a hora de escolher meus padrinhos - respondo

segurando o riso.

Lucy disfarça uma risada e mamãe me encara.

- Bem, não havíamos pensado nisso, que tal Lucy ser sua madrinha,

hein?

- Me perdoe, senhora, mas sou uma empregada, não cairia bem -

Lucy diz.

- Não, mamãe está certa - respondo adorando a ideia. - Por

favor, Lucy, aceite, assim será mais fácil. - Encaro minha amiga e

empregada.

Ela concorda dando de ombros.

- Se isso não for prejudicá-los.

- Claro que não, você está conosco há anos e será bom ter um rosto

nesta loucura toda. Sem contar que quando Laureen se casar, você irá morar

com ela, deixando de ser empregada para ter um cargo mais importante.

- Cargo mais importante? - questionamos juntas.

- Sim, ontem quando você nos disse que só aceitaria o casamento se

Lucy fosse com você, eu fiquei pensando sobre isso... Vi que ela não

precisará ser uma empregada, já que com certeza na sua futura casa haverá

diversos.

- Mas, senhora, eu preciso do salário - diz Lucy com a voz

embargada.

- E continuará tendo, porém, pago pelo marido de Laureen. Você

será como uma governanta e ajudará minha filha em tudo que precisar,

entendeu?

Lucy e eu nos encaramos, sem entender aonde mamãe quer chegar.

- Sim, senhora.

- Obrigada. - Ela me encara e noto seus olhos marejados.

- Me perdoe por isso estar acontecendo, minha filha.

- Você não queria que eu me casasse, não é mesmo? - pergunto

próxima a mamãe.

- Não, é claro que não, mas como seu pai disse, é necessário e ter

Lucy ao seu lado será mais reconfortante para mim.

Concordo a abraçando.

- Obrigada, mãe, farei isso por você.

- Tudo bem, querida, agora vamos logo conhecer seu futuro sogro,

ele está esperando há bastante tempo.

Suspiro sem nenhuma opção.

Saio do quarto com mamãe, sigo silenciosamente o caminho até a

escada e desço em direção ao escritório. Assim que passo pelo batente da

porta, um homem um pouco mais velho que papai, de fisionomia dura, olhos

e pele clara me encara e fico sem graça. Sigo até ele devagar, como se

minhas pernas fossem gelatinas.

- Ela está enorme desde a última vez que a vi - diz Eduardo

formando um sorriso em seu rosto.

Forço um sorriso e estendo minha mão para ele.

- Muito prazer em conhecê-lo, me perdoe se não me recordo do

senhor.

- Não se preocupe com isso, minha jovem, na época em que a vi,

era muito pequena, com certeza não iria se lembrar.

Sorrio e ele dá uma risadinha seca, me causando repulsa.

- Me perdoe pela pergunta, mas onde se encontra seu filho, até

então, meu futuro marido?

Vejo meus pais me encararem e Eduardo sorri.

- Meu filho não pôde vir, muitos negócios para resolver, inclusive a

futura casa de vocês e as férias que irá tirar quando se casarem. Você

conhecerá seu noivo no altar, mas não se preocupe, garanto que é um homem

educado, gentil e muito bonito.

Fico perplexa ao ouvir isso.

Então eu só conheceria o homem que vou me casar, no dia da minha

sentença final?!

- Ah, compreendo - digo sem ter muito o que dizer.

- Eduardo está muito animado com a união de vocês, minha filha,

ofereceu até mesmo uma viagem especial para onde quiserem para passarem

a lua de mel.

- Muito generoso da parte do senhor - respondo fazendo o meu

melhor teatro. - Fico realmente encantada com isso.

- Você é um doce, minha jovem, assim como sua mãe, que é muito

educada - diz nos olhando. - Eu escolhi a noiva certa para meu filho.

Sinto uma fúria tomar conta de mim ao ouvir suas palavras, como se

eu estivesse sendo comprada para ser entregue de bandeja ao seu filho.

Analisando a situação, é isso que está acontecendo. Estou sendo comprada

para que meus pais possam ter dinheiro, poder, e não ter suas vidas ceifadas.

Saio dos meus pensamentos insanos, encaro Eduardo estendendo a

mão e com um enorme sorriso.

- Foi um prazer conhecer o senhor, tem alguma previsão de quando

ocorrerá o casamento?

- Em breve... Essa semana, tudo será preparado, os convites

enviados e a prova do vestido. Não poupe nenhum centavo, meu filho faz

questão de pagar tudo.

- Sendo assim, tomarei a liberdade de escolher um vestido

deslumbrante para o momento, afinal, será um marco em nossas vidas, não é

mesmo, papai? - Encaro meu progenitor e ele engole em seco,

concordando.

- Sim, minha filha, será um momento muito especial, agora se nos

der licença, Eduardo e eu temos alguns negócios para discutir.

- É claro, até mais, senhor, mais uma vez, foi um prazer conhecê-lo,

nos vemos em breve.

Me despeço do homem à minha frente e saio do escritório, sentindo

um nó se formar em minha garganta ao saber que esta loucura está cada vez

mais perto.

            
            

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