Capítulo 5 Preparativos

A semana passa em uma lentidão que chega a me dar náuseas.

Não saio do meu quarto para nada, chateada por conta de tudo que está

acontecendo. Evito meus pais o máximo possível, mesmo me conformando

com a sentença que me deram, não consigo aceitar e fingir que nada está

acontecendo.

Como antes, não consegui procurar no Google nada sobre o meu

futuro marido, a dúvida em saber como ele realmente é, me deixa mais

confortável com isso tudo.

Lucy faz de tudo para me animar, me enchendo de sorvete, doces e

meus pratos favoritos, sendo repreendida por mamãe, que alega que preciso

estar magra para entrar no vestido.

Fico ainda mais triste e desanimada quando os preparativos do

casamento começam, com degustação de bolos, doces e outras coisas. Papai

escolheu uma orquestra para a festa, mesmo eu insistindo que seria

completamente desnecessário.

A lista de convidados foi outra briga, já que metade era de sócios

dele e a outra parte, sócios de Eduardo, já que mamãe não tem família e nem

ele. Eduardo com certeza escolheu seus sócios para se enaltecer no

casamento.

A cerimônia seria realizada na igreja católica, outra coisa que

critiquei, afinal, acredito que devemos nos casar em altares divinos quando

há amor de verdade, coisa que não é o caso. Porém, me conformei e aceitei

isso.

A festa seria cheia de comida boa, diversos convidados e uma noite

regada a sorriso forçados, coisa que detestei. Tudo isso me incomoda ao extremo, mas como não tenho escolha, acabo aceitando o que papai e mamãe

desejam, deixando-os bastante felizes.

O dinheiro de Eduardo é gasto com sucesso, meu pai faz questão de

comprar um carro novo para que eu vá até a igreja, já que a festa será na

nossa casa. Aliás, casa deles, porque em poucos dias, eu não pertencerei

mais aqui.

NA verdade, eu não pertencerei mais a lugar algum, somente a um

homem completamente desconhecido.

***

- Como se sente sabendo que agora não é mais uma empregada e

sim uma futura governanta? - pergunto para Lucy que está fazendo uma

trança embutida em mim.

- Bem, tirando as aulas chatas que sua mãe está me obrigando a ter

para entender como se governa uma casa, a sensação é boa. Não ter que

lavar privada é realmente bastante gratificante.

- Eu fico mais aliviada em ter você ao meu lado para enfrentar isso

tudo, assim poderei ter seu apoio nos momentos difíceis.

- Claro que terá, mas não se esqueça que muitas coisas vão mudar,

principalmente o fato de que não viveremos tão grudadas como agora. Você

terá um marido e precisará dar atenção a ele.

- Eu sei, mas só de saber que te terei por perto, é mais tranquilo

passar por isso tudo. - Sorrio e me encaro no espelho, analisando a trança

embutida. - Acha que ficaria legal este penteado para o casamento?

- Não, mas iremos cuidar disso no momento certo, anda, vá se

preparar, o jantar será colocado à mesa logo.

***

- Está animada, querida? - pergunta papai durante o jantar.

- Animada com o quê, papai? Seja mais específico, por favor.

Percebo que mamãe torce o nariz e continuo a comer enquanto os

ignoro como estou fazendo nos últimos dias.

- Pelo menos finja que está animada com este casamento - pede

me observando. - Por acaso vai se casar com essa cara de enterro?

- Se depender de mim, sim - respondo dando de ombros.

- Já chega, vá para o seu quarto agora!

Me levanto derrubando a cadeira para trás e o encaro.

- Sabe qual parte deste casamento vai ser boa, papai? É que não

irei mais conviver com senhor. - Saio antes mesmo de ouvir uma resposta

sua e apenas ouço os estilhaços dos pratos baterem na parede da sala de

jantar.

Me sinto completamente chateada com a situação e me tranco no meu

quarto, desejando que este casamento infeliz aconteça logo e que eu possa ir

embora de uma vez por todas desta casa.

***

Os preparativos continuam e sinto que está cada vez mais perto do

casamento acontecer.

Fico surpresa em saber que realmente meu noivo, que nem mesmo fiz

questão de saber o nome, não veio me conhecer e penso sobre a situação.

Será que ele também está infeliz com esta união?

Como foi para ele saber que se casaria com uma mulher

desconhecida?

Esqueço essas questões e finjo me concentrar no que a estilista fala

em relação ao vestido, dando dicas e mais dicas do que poderíamos fazer.

Disse a ela que poderia ser um vestido qualquer desde que fosse costurado

do zero.

Minhas medidas são tiradas e assim que tudo termina, me sento e

aceito a taça de champanhe que me é oferecida por um dos empregados. Vejo

a mulher negra gesticular, rir e conversar com minha mãe. Não presto

atenção em nada e nem faço questão disso tudo.

Como uma mente tão perturbada consegue desligar tudo que está à

sua volta?

Continuo degustando o champanhe e assim que termino, faço a prova

de um vestido simples para que a estilista tire o molde dele.

- Quero que tenha um decote frontal e que realce meus seios -

digo pela primeira vez em horas. - De preferência com pedras preciosas na

frente e que realce minhas curvas.

As duas me encaram e ficam espantadas, talvez por finalmente dar

palpite sobre algo.

- Certo, querida, você deseja mais alguma coisa nele? - pergunta

a mulher com um sorriso enorme nos lábios.

Analiso suas expressões e fico em silêncio.

Penso se ela sabe a verdade sobre eu não querer me casar de livre e

espontânea vontade.

- Acho que é só isso mesmo - respondo depois de um tempo. -

Tenho certeza de que você vai fazer o seu melhor, sem sequer pensar em

economizar.

- Bem, se a senhorita está me dando liberdade para isso, pode ficar

tranquila que farei o meu melhor - responde sorrindo.

Concordo e me troco encarando as duas.

- Se me derem licença e estiver liberada, irei para o meu quarto

descansar um pouco.

- Claro, fique à vontade, deve ser uma loucura preparar um

casamento assim às pressas - diz a mulher.

- Poderia ser pior, mas eu supero - digo forçando um sorriso.

Antes de dar as costas para sair, noto o olhar de desaprovação da

mamãe e me divirto com isso, indo o mais rápido possível para meu quarto e

me trancando lá dentro sem nenhuma perturbação.

***

Abro os olhos quando ouço a batida na porta e levanto, indo em sua

direção. A abro e vejo o olhar sério da mamãe me encarar.

- Posso? - pergunta apontando para o ambiente.

- A casa é sua - digo dando passagem.

Ela entra encarando detalhadamente meu quarto, vendo na

penteadeira as bonecas de porcelana que coleciono desde nova. Ela e vovó,

que já faleceu, me deram a minha primeira boneca quando tinha seis anos.

Desde então, todo aniversário, até os dezessete, eu ganhava uma boneca

dessas.

- Você cresceu tão rápido - diz pegando a primeira boneca. -

Lembro quando sua vó era viva e ela me ajudou a escolher este presente

para você.

- Sinto falta da vovó também - digo me aproximando e pegando a

boneca das suas mãos. - Ela faz muita falta.

- Sim, se estivesse viva, tenho certeza de que nos ajudaria a nos

livrar desta loucura de casamento.

- Eu te amo, mamãe, mas não finja que realmente se importa com

isso - digo observando suas expressões e o suor é visível em sua testa, que

está franzida. - Sei que está aliviada por eu ter aceitado este casamento,

mesmo que não seja minha vontade me casar com um desconhecido.

- Me perdoe, filha - diz cabisbaixa. - Não vejo outra opção a

não ser esta.

- Ouvi sua conversa com o papai - digo querendo ser sincera.

- Que conversa?

- Sobre ele ter te traído - respondo devolvendo a boneca para o

lugar. - Mamãe, papai tem a ver com a morte da mulher que falavam?

- Não fale besteira, Laureen - diz impaciente. - Seu pai me traiu

sim, mas isso faz muito tempo e você nem era nascida. Esqueça isso e finja

que nunca tivemos esta conversa.

- A senhora não parece ter esquecido, já que jogou na cara dele

isso.

- Não interessa, é algo entre seu pai e eu... Não se intrometa e faça

o que eu disse; esqueça de uma vez por todas, entendeu? Não quero que se

meta em mais problemas, já nos basta este casamento.

- E se eu fugisse, mamãe? Por que a senhora vai permitir que meu

destino seja com um homem que eu não conheço?

- Fugir? - Percebo que a palavra soa desesperada na sua boca. -

Deixe de ser ingrata, garota, seu pai e eu sempre fizemos de tudo por você,

tem os melhores estudos, teve os melhores cursos, agora é sua vez de

retribuir isso.

Fico chateada ao ouvir suas palavras duras, é como se tudo que eles

tivessem feito por mim, fosse apenas para que depois tivesse que retribuir de

alguma maneira. Agora está explicado o motivo deste casamento estar

prestes a acontecer sem meu consentimento.

- Sinto muito - digo.

- Eu também, minha filha... Me desculpe, não quis jogar na cara o

que fizemos por você, pois é nossa obrigação como pais. Só peço que ao

menos finja estar feliz com este casamento, no final, pode ser que você acabe

se apaixonando pelo seu noivo.

- Como se apaixonar por uma pessoa que sequer vi? - questiono

me sentando na cama.

Minha mãe senta ao meu lado e segura minha mão.

- As melhores histórias de amor acontecem quando menos

esperamos.

Dou de ombros, pensando que não adiantaria reclamar, choramingar

e esbravejar.

O meu destino é este, certo?

Agora é só esperar o momento para que aconteça.

            
            

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