Capítulo 3 O Reencontro

Depois do susto na cozinha com Mackenzie e de ter comido um bolo delicioso - a propósito, estava com muita saudade das comidas de Olga. Depois que fui para Nova Iorque, não estive mais no Brasil desde então. Claro que via papai e Chris, eles aproveitavam os feriados estendidos para irem ao Estados Unidos. Por terem sócios por lá, comumente um dos dois estava por lá, para uma reunião, enquanto que o outro geria os assuntos da empresa daqui, do Brasil. Claro que sempre em que apareciam por lá, iam me visitar.

Mas eu, desde que me mudei para lá, tirava meu período livre para me aventurar, viajar, conhecer lugares, culturas e pessoas novas. Um espírito livre, como o de mamãe também havia sido. Claro que eles super entendiam isso e estavam felizes por eu estar construindo e vivendo a minha vida. - voltei ao meu quarto para descansar. É impressionante o quanto essas viagens nos cansam, mesmo a gente só ficando deitado o tempo todo. No meu caso, dormi a maior parte da viagem; ainda assim, estava exausta!

Era por volta das 20h quando ouvi baterem na porta do meu quarto e pedi que entrasse. Era o meu pai.

- Cadê a minha artista preferida?

- Ah, papai! Não faz nem 3 semanas que me formei e nos vimos, na minha formatura.

- 3 semanas? Sério? Pois cada dia longe da minha caçulinha me parece uma eternidade. Estou tão feliz que está de volta, esta casa nunca mais foi a mesma depois que você partiu. - cerrei os olhos, como se duvidasse daquilo, mas sorri ao vê-lo tentando me convencer. - É sério! Você alegra esta casa e sabe disso. Eu e seu irmão só vivemos socados na empresa e sempre chegamos exaustos em casa. Você sempre nos recebia com seu sorriso caloroso e sempre se propunha a nos tocar e cantar uma melodia para nos relaxar. Você se tornou a vida desta casa. - falou com os olhos já marejados.

- Venha aqui! - disse o puxando para mais perto, para mais um abraço.

Ouvimos dois toques na porta. Era Christopher.

- Chris, ei!

- Eu não acredito que, finalmente, está de volta! - disse com um sorriso gigante no rosto e pulando na cama, ao meu lado. Era engraçado como ainda parecíamos crianças ao lado um do outro e não nos importávamos com isso. Embora Chris já com seus 29 anos e eu, 22.

- E eu não acredito que vocês ainda trabalhem tanto. Vocês podem ter uma vida, sabiam?

Chris torceu o nariz. Papai não namorara sequer uma vez, desde a minha mãe e Chris, bem... era o Chris. Não se preocupava em constituir família.

- Eu não tenho mais idade para aventuras, mas quanto ao Chris: você precisará ter herdeiros. - disse meu pai e Chris se engasgou, com a insinuação.

- Claro que você ainda pode se divertir, papai. Existem outros meios de aproveitar a vida que não envolvam festas excêntricas, álcool e tudo mais de repudiável. - falei e Chris me olhou, desconfiado.

- Está dizendo que você, uma universitária estadunidense, recém formada, nunca experimentou... como você disse? "Excentricidades"? - revirei os olhos para o meu irmão.

- É claro que frequentava festas, se é isso que quer saber. Mas nunca me envolvi nos assuntos mais "quentes".

- Chega, isso é demais para mim. Vou deixar vocês dois conversando. Não se esqueçam de descer em meia-hora, para o jantar. - falou meu pai, se levantando da minha cama e saindo do quarto, enquanto eu e Christopher ríamos da reação dele, ao imaginar sua filhinha em festas de fraternidade.

- Vocês ainda jantam bem tarde. - falei e meu irmão suspirou.

- Chegamos tarde da empresa, não há o que ser feito.

- Eu admiro muito o comprometimento de vocês, sei que não seríamos metade do que somos se não fosse por isso, mas me pergunto se vocês não têm exagerado demais. Não é crime CEOs tirarem férias, sabia?

- Eu sei. Mas não me vejo tendo outra vida que não seja essa. Não me vejo sem o trabalho.

- Você não se resume só ao seu trabalho, Chris. Nem o papai! Você sabe que vocês dois usam o mesmo como uma fuga. Isso desde que a mamãe partiu. Vocês se agarraram a isso e passaram a viver somente para o trabalho, como se fossem empresa e não seres-humanos. Não é errado ser feliz, só porque ela não está mais aqui. Nós estamos! Um para o outro e carregamos parte dela conosco. Ela iria querer que vocês vivessem. Sabe disso!

Mamãe havia deixado uma carta para mim e Chris, antes de morrer. Ela sabia de suas condições e que logo nos deixaria, mas seu imenso coração de mãe, até no momento de sua despedida, tento cuidar da gente e amenizar a nossa dor. Em sua carta, ela nos apresentou a Deus, dizendo que Ele seria o nosso consolo e que quando quiséssemos compartilhar algo em nossa vida com ela, para compartilharmos com Deus, porque tudo que dela conhecemos e amamos, na verdade, era parte de quem Deus é.

Meu irmão e meu pai se fecharam. Meu irmão estava na faculdade e já trabalhava na empresa do papai. Eles se apegaram à empresa, como forma de suprir o vazio deles. Quanto a mim, pensei sobre as palavras de mamãe em sua carta. Eu não sabia como falar com Deus, então usava a música como expressão do que sentia e esperava que fosse o suficiente para que Ele entendesse o que eu queria dizer.

Fazia-se um silêncio no meu quarto, entre mim e meu irmão. Ambos estávamos perdidos em pensamentos e nossas próprias lembranças.

- Calista perguntou por você. Acho que por ela, teria vindo escondida na minha mala, só para te ver. - meu irmão sorriu ao ouvir sobre isso. Ele sabia que minha amiga tinha uma quedinha por ele, principalmente depois da noite em que ficaram.

- Sabe, o que me surpreende é que mesmo tendo uma amiga tão... - arqueei as sobrancelhas para ele, esperando pelo que ele diria sobre minha amiga. Depositando nele um olhar que ameaçava-o, caso não escolhesse com cuidado as palavras que usaria para definí-la. - decidida sobre o que quer, você ainda tenha se mantido pura. Quer dizer, você ainda...? - eu ri.

- Sim, Calista sabe bem o que quer e vai atrás disso. Você pareceu gostar bastante, inclusive. Isso não quer dizer que minha amiga seja uma oferecida que sai dando para todo mundo.

- Eu não falei isso! - defendeu-se.

- Eu sei! Agora, o que lhe interessa saber sobre minha vida particular?

- Não Chloe, por favor! Você é minha irmãzinha! Eu não consigo acreditar que um marmanjo a tenha deflorado.

- Credo, Christopher! A começar, eu já sou maior de idade. Não sou mais criança, tampouco uma menininha inocente. Tenho meus desejos e lado obscuro também, sabia? Mas não! Não dormi com ninguém se é o que quer saber. Você sabe que eu não sou do tipo que se envolve por envolver e, bem, não encontrei ninguém que tenha me despertado interesse em algo mais.

- O que há de errado em se envolver sem se apegar? - ele parecia um tanto ofendido.

- Não há nada de errado se ambas as partes estiverem de acordo. Eu só não consigo ter esse tipo de relação, mas não julgo você por tê-la. - concluí.

Ele pareceu concordar, com um leve aceno de cabeça.

- Vamos, Chloe. Papai deve estar nos esperando para jantar. - falou e descemos, para a sala de jantar.

            
            

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