Capítulo 4 O jantar

Eu havia me esquecido do quão bela é a minha casa, ainda mais à noite, com toda a iluminação de lustres altamente planejada. Desci as escadas, iluminadas, com o meu irmão, em direção à sala de jantar. Eu sempre preferi jantar na parte de trás da casa, ao lado de fora. Mas nesta época do ano, era frio em São Paulo - claro, nada comparado ao frio de Nova Iorque - e bem chuvoso. Assim, fazíamos nossas refeições na sala de jantar, mesmo.

Ao terminar de descer as escadas, nos encaminhamos em direção à sala de jantar e lá estava aquele que havia me assustado um pouco mais cedo. Encarei meu irmão, que deu de ombros e passou à minha frente, sentando-se em seu lugar à mesa. Fiquei parada, na entrada da sala de jantar e meu pai resolveu, então, falar.

- Chloe, quero que você conheça Adam, filho de Jeffrey, meu amigo e sócio em Miami. - Adam deu um sorriso fraco para mim, como se estivéssemos nos vendo pela primeira vez.

- Já nos conhecemos. - falei, de repente. O que fez com que meu pai e irmão me olhassem surpresos e curiosos. - O quê? Nada de surpreendente. Vocês só demoraram a chegar em casa. Quando cheguei e fui até a cozinha, levei um susto ao ver um estranho sentado frente à ilha, comendo um pedaço do meu bolo.

- Uh! Você comeu o sagrado bolo de chocolate da Chloe? - perguntou meu irmão, com uma careta, como se isso fosse o pior erro que Adam pudesse ter cometido contra mim.

- Eu não sabia que era especialmente para ela e que era... - ele pigarreou - sagrado.

- Cara, me surpreende que ainda esteja vivo! - falou meu irmão.

- Eu estava cansada demais para cometer alguma atrocidade, irmão. Foi só por isso que ele se livrou. - adentrei, enfim, a sala de jantar e me sentei no meu lugar.

Adam parecia me olhar divertido e como em desafio. Só então reparei em quão bonito ele é. Provavelmente deveria ter a mesma idade do meu irmão ou um pouco mais velho. Não mais que 35, presumi. Aparentemente, Adam malhava. Não que meu irmão não se exercitasse e possuísse um corpo bem sarado e chamativo - Calista e todas as outras pelas quais suspiraram por ele que o diga! - mas Adam parecia ter um corpo ainda maior que o de meu irmão. Mais musculoso... ele realmente parecia um armário! Continha uma barba na medida certa, o que o embelezava ainda mais e o deixava mais charmoso. A pele levemente bronzeada. Seus olhos ainda estavam presos em mim e notei seu pomo-de-adão subindo e descendo. Existia algo nele, convidativo e meu corpo parecia responder a isso. Ele era um pedaço de mau caminho, isso eu teria que admitir, mas eu já havia conhecido outros caras bonitos e sabia muito bem que beleza não me atraía o suficiente para me envolver, em um beijo sequer, com alguém.

O jantar fora posto e era um dos meus pratos preferidos. Sei que já experimentei diversos tipos de comidas deliciosamente diferentes, mas eu sempre ficava animada em se tratando de macarrão à bechamel -o bom e velho molho branco- e camarão.

- Vocês sabem que não precisam me mimar assim, né? Não estou reclamando. Eu amei! Só não precisam se preocupar tanto. - eu disse, enquanto me servia.

- O quê? Isto? Ah, querida, não é por você. É por mim! - disse meu pai, me lançando uma piscadela. Eu sorri.

- Então, qual a razão de Mackenzie estar hospedado em nossa casa? - perguntei.

- Lhe incomoda, de alguma forma? - perguntou meu pai.

- Não. -respondi com calma e negando com um gesto suave de mão- Acho que só fui pega de surpresa. E agora me encontro curiosa a saber o que o traz aqui.

- Achei que não se importasse com assuntos da empresa. - disse meu irmão.

- Não posso ser completamente apática a algo que desrespeita à minha família e, de certo modo, minha vida. Também tenho direito à empresa, só optei por seguir outro caminho. Mas se houver algum problema, tenho direito em saber. -falei.

- Não há problema algum! A senhorita pode ficar despreocupada. Estou aqui à fins de negócios, apenas. Meu pai não pôde vir e pediu que eu viesse, mas está tudo sob os conformes. E por favor, me chame de Adam. -concluiu.

- Pois bem, Adam. -falei dando ênfase em seu nome - Se não há problemas, então por que seu pai lhe mandou?

- Questão de sociedade. Como sócio, ele também tem parte na empresa. É natural que compareça à reuniões e tenha participação na mesma.

- Não me lembro de já terem estado aqui, antes, para "questões da empresa". - falei, fazendo aspas com as mãos.

- As poucas vezes em que Jeffrey esteve aqui, foi somente para a reunião e foi embora. Ficava hospedado em um hotel. A maior parte das reuniões com ele ocorria em Miami. Entretanto, Adam deverá assumir os negócios de seu pai, quando for a hora. Mas ele nunca conheceu nossa sede. É natural que Jeffrey o mande para conhecer seus negócios. -explicou meu pai.

- Então você está aqui para conhecer a empresa? - Adam fez que sim com a cabeça - e por que não estava na empresa com meu pai e meu irmão, hoje?

- Ele teve um mal-estar hoje, mas trabalhou de casa. - explicou meu irmão.

- Além do mais, já conheci a empresa. Cheguei já faz alguns dias e me dediquei a conhecer cada detalhe. -completou Adam.

- Então já está de partida? - indaguei e meu irmão se engasgou com o vinho, como se quisesse rir.

Adam arqueou uma sobrancelha.

- Minha presença a incomoda? Gostaria que eu partisse?

- Tenho certeza que eu não disse isso. Apenas perguntei a cargo de curiosidade.

- Ficarei até o aniversário de seu irmão. - olhei de sobrancelhas franzidas para meu irmão - Somos amigos, Chloe.

- Sim, já nos conhecemos há bastante tempo. Você sabe que Jeffrey e papai são sócios e amigos há anos. Eu e Adam nos conhecemos em uma das viagens que fiz com papai, anos atrás.

- Ai meu Deus, então ele é... - meu irmão arregalou os olhos para mim, para me impedir de falar. Enquanto Adam olhava curioso entre mim e meu irmão. - certo e conhecendo bem as amizades e aventuras de meu irmão imagino que esteja bem ansioso para essa festa.

- Okay... - interrompeu meu pai, pondo as mãos sobre a mesa. - creio que tenha sido um dia exaustivo para todos nós, estamos todos cansados. Por que não nos retiramos para nossos quartos? - sabia o que aquilo queria dizer: não se toca mais no assunto.

Sequer havíamos chegado à sobremesa, mas ninguém ousou questionar o meu pai. Certamente eu e meu irmão atacaríamos a geladeira em busca da sobremesa, mais tarde. Era algo nosso, desde a infância. Quando papai nos mandava para o quarto porque brigávamos à mesa do jantar, fugíamos do quarto mais tarde para pegarmos a sobremesa, escondidos. Lógico que meu pai sabia o que fazíamos, mas fingia não saber, pois achava divertido a nossa "aventura de irmãos".

                         

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