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Minaçu – 2007 A 2015:
Jane seguiu inabalável. Sentia-se vitoriosa, pois provara a todos que contos de fadas não existem. Continuou sua vida li-vre, saindo com um e outro ao seu bel prazer.
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Os pais de Beto ainda tinham alguma esperança em um retorno de Gaby e na oportunidade do filho se redimir. Aquele episódio fora deplorável para todos. Os pais não pouparam Beto pelo ato vergonhoso e desleal com Gaby e sua família.
Na cidade a notícia logo se espalhou. Pior é que Beto aprontou o que aprontou e nem com Jane ficou. Depois do ocorrido e do esbregue dos pais, andou largado pela cidade de bar em bar por cerca de três meses.
Até Fred que era amigo dele se afastou. Estava magoado com Beto por dois motivos: pelo que fizera com Gaby e por ter ficado com Jane sabendo do interesse dele. Depois de três meses de esbornia, Beto se deu conta de que a vida continuava e que se um dia reencontrasse Gaby, queria estar bem para tentar re-conquistá-la.
Em 2010, Beto concluiu o curso de contabilidade e seguiu trabalhando na empresa de extração de amianto, onde alguns anos depois, assumiu o departamento de Contabilidade. O salá-rio era muito bom, o que lhe garantiria uma vida confortável, além da que já possuía na casa dos pais. Ele continuou saindo com mulheres, mas nada sério.
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Fred se formou em Agronomia, montou uma casa de produtos agropecuários e ajudava o pai a cuidar do amado sítio da família.
Fisicamente Fred mudou muito. Finalmente encorpou depois que começou a fazer academia e os anos a mais lhe deram um certo charme. Ele se aproveitou desse charme com as mulheres, rendendo-lhe a fama de "Don Juan". Mas ele até então não queria se prender a ninguém.
Reveillon de 2012, por um acaso do destino, Fred e Beto se esbarraram na festa da cidade. Beberam juntos e lembraram do passado. Recordaram-se do tempo em que fugiam para Campinaçu para "pegar" garotas.
-Putz! Cinco anos se passaram. Ainda parece que foi ontem. – disse Fred.
-Pois é, parece que foi ontem. -Beto concordou.
-Como as coisas mudam. Hoje a gente não precisa fugir para sair com mulheres... – Fred falou rindo.
-A gente fugia por causa da Gaby. – Beto falou com olhar distante. -Você não precisava fugir, sempre foi livre!
Fred também ficou com olhar distante ao se lembrar de Gaby e após refletir um pouco, disse:
-É vai entender o ser humano. Você tinha o bilhete premiado da Mega Sena nas mãos, mas preferiu jogá-lo fora por causa de um lance fugaz. – disse Fred.
Aquilo ainda incomodava Fred, pois Beto não havia engatado nenhum relacionamento com Jane, nada que justificasse o estrago que ele fez.
As palavras dele atingiram em cheio Beto, que ao constatar seu erro, disse:
-Verdade! Eu tinha o bilhete premiado da Mega Sena. – repetiu as palavras de Fred.
-Ainda me lembro do olhar triste de Gaby, quando a coloquei no ônibus para Goiânia. – disse Fred sem perceber.
-Como é que é??? Você a colocou no ônibus para Goiânia? – falou Beto indignado com a descoberta. -Você era MEU amigo e foi capaz de colocá-la num ônibus para ela ir embora para longe de mim??
Fred percebeu que havia falado demais, mas agora já era tarde. E não perdeu a oportunidade de jogar algumas coisas na cara de Beto.
-Você era MEU amigo e foi capaz de transar com a garota que você sabia que eu era a fim!
-Foi um ato impensado. – Beto tentava se justificar.
-O seu ato foi impensado. O meu foi apenas ajudar uma amiga que precisava de ajuda.
Beto ficou calado, parecia envergonhado. Fred prosseguiu:
-Eu a vi sair de sua casa como um furacão. Ela estava muito ferida. Eu a levei para longe e conversamos. Ela me contou que pegou você transando com Jane e que você ainda teve a coragem de chamá-la para ver.
-Eu a chamei??? – perguntou ele ainda sem acreditar no que ouvia. -Mas eu nunca faria isso! Ela apareceu lá do nada e pegou a gente.
-Gaby disse que você passou mensagem para ela chamando-a para ir ao seu quarto porque você tinha uma surpresa para ela.
-Não acredito! Eu não fiz isso! – pareceu estarrecido com a descoberta. -Foi Jane! Só pode ter sido ela! – passou as mãos pelos cabelos -Ela deve ter armado tudo! Eu estava no banho e de repente ela entrou no banho nua e me disse que era um presente de noivado! Ela deve ter pegado meu celular no quarto e mandado a mensagem para Gaby como se fosse eu.
-Puta que pariu! Isso parece trama de cinema. – disse Fred meio incrédulo.
-Merda! Eu perdi a mulher da minha vida por causa da armação da Jane.
-É parece que sim. Mas independente da armação você foi pego com a boca na botija. Isso não dá para esquecer. – falou Fred.
-E você, hein?! Colocou a minha garota num ônibus para Goiânia e esses anos todos nem me contou. – ainda parecia indignado por Fred não ter lhe contado nada.
-Cara, ela me pediu para não contar. Eu não ia negar ajudá-la. Não nego nada para mulher, muito menos ajuda a uma amiga.
-O pai dela disse a meu pai que ela havia se estabelecido em Brasília.
-Ah! Isso eu não sei. Só se ela foi para Brasília lá de Goiânia, porque eu a coloquei no ônibus que saiu da rodoviária de Uruaçu com destino a Goiânia. E ela jurou nunca mais voltar aqui!
A conversa acabou ali. Beto foi embora com a informação de que Jane havia armado todo o circo que afastou para sempre a mulher da sua vida e que ela certamente estivera em Goiânia todo esse tempo.
Fred pegou seu carro e saiu perdido em suas lembranças. Aquelas lembranças haviam voltado depois de anos. Nos primeiros meses as lembranças eram bem vivas em sua mente, mas o tempo e a ausência de notícias haviam as levado para longe.
Sem perceber, Fred se dirigiu exatamente para o local em frente ao lago em que passou as últimas horas com ela. Instintivamente, sentou-se no mesmo banco e bebeu com a lembrança do olhar triste de Gaby. Lembrou-se de como ela estava linda com aquele vestido e de ter sentido vontade de beijá-la, mas ela era a garota do seu melhor amigo, portanto, era território sagrado.
Ela estava fragilizada, precisava de um ombro amigo para chorar e se sentir protegida. Ele então a abraçou e cuidou dela como amigo. Lembrou-se de como foi bom senti-la adormecer em seus braços... e o cheiro bom que vinha dela.
Quando ela lhe disse que ia embora, teve vontade de pedir-lhe para ficar, porém sabia que não tinha aquele direito. Ela estava ferida e queria se afastar de tudo aquilo. Quando se despediu dela na rodoviária, sentiu naquele abraço que estava perdendo algo, mas não entendeu o quê exatamente era. Talvez fosse só a energia do momento da despedida e por ter absorvido parte das emoções negativas dela.
Depois que a colocou no ônibus ele fez o cálculo de horas da viagem e quando imaginou que ela já havia chegado em Goiânia, chamou em seu celular, mas estava desligado. Ligou mais 2 ou 3 dias seguidos, com o intuito de saber se ela estava bem e não obteve sucesso.
Quase 5 anos havia se passaram e ele agora se perguntava "Como será que ela estava?" Porém ele sabia que não teria a resposta dessa pergunta. Os pais, assim como ela, haviam cortado todos os vínculos com a cidade.
Em suas idas à Goiânia ele até sentiu vontade de procurá-la e saber como ela estava. Mas onde? Não fazia ideia. Goiânia era uma cidade grande e ele não tinha nenhuma informação para o ajudar. Até o número de celular ela havia trocado. Diante da dificuldade, havia deixado de lado a ideia de encontrá-la. Se fosse da vontade do destino, um dia eles voltariam a se cruzar, porque o destino também une amigos.
Nos anos seguintes, Fred firmou-se como comerciante, além da casa de produtos agropecuários, comprou um supermercado e uma farmácia. Seu tino para negócios bem-sucedidos acabou atraindo para si o olhar de Jane que, interesseira que só ela, passou a lhe ver como um pretendente em potencial.
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Desde sua conversa com Fred sobre Gaby no réveillon de 2012, Beto havia passado a procurá-la. Aquilo tinha se tornado uma obsessão. Ainda mais por ter percebido que Fred nutria algum tipo de sentimento por Gaby. Notara seu carinho ao falar nela e o fato dele ter a acolhido em seu momento de desespero e fragilidade o incomodava. Desconfiava que algo mais tivesse acontecido entre eles, pois Fred era livre e possuía um certo charme com as mulheres. Beto sempre foi muito competitivo, principalmente quando o objeto da competição envolvia seu amigo Fred e sempre havia sido difícil aceitar a vitória dele. Talvez por isto tenha sido fácil para ele se envolver com Jane, já que Fred nutria algum sentimento por ela.
Sobre o que havia descoberto da armação de Jane, na época foi tirar satisfações e ela nem se abalou. Apenas riu em sua cara e lhe disse que ao menos tinham passado momentos gostosos e ainda sugeriu repetir a dose, coisa que Beto não rejeitou. Ela era impossível! E se deitava com quem bem entendesse. Não tinha preconceitos, nem pudores e ele gostava disso. Eles eram livres e a química entre eles era excepcional. Mas ele tinha consciência de que ela não era mulher para se prender e formar família.
Gaby sim era para formar família. E por isso decidiu procurá-la. Tinha certeza de que a encontraria, a traria de volta para casa e eles teriam os quatro filhos que planejaram ter na adolescência, pois ele não era homem de não conseguir o que queria.
Os anos se passaram e Beto profissionalmente continuava na mesma. Na vida pessoal saía com muitas mulheres, mas nenhuma o preenchia. Era só satisfação carnal e depois vinha um vazio. Gaby, sempre foi bondosa, alegre e querida por todos e ele tinha a sensação de que todas as pessoas da cidade, que sabiam de como seu relacionamento com Gaby havia terminado, o acusavam de tê-la feito sofrer. Um reflexo claro da sua consciência pesada por ter errado tanto com uma pessoa que praticamente o idolatrava.
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