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Eu odiava ouvir o som da porta do armário ser aberta, era sempre na mesma hora, e sempre na madrugada. Meu irmão gêmeo ficava parado sentado de frente para a porta aberta conversando com os casacos, ou pelas palavras dele "meu amigo, Noun".
Jogando um dos meus travesseiros nele eu o mando ficar quieto. Era estranho uma criança de sete anos ter um amigo imaginário, pelo menos para mim a única filha normal da minha mãe.
- Noun disse que se você continuar falando ele vai arrancar sua língua.
- Diz pro seu amigo Noun que estou esperando.
- Ele disse que você é uma menina respondona e abusada.
- Já chega! Mãe! - Grito ligando meu abajur. - Rafa! - Digo após ver uma coisa estranha entrar para dentro dos casacos. Tinha o corpo contorcido e era negro como a escuridão. Correndo até Rafael eu continuo chamando minha mãe até que uma mão cheia de dedos pontudos furam meu braço me fazendo soltar meu irmão. Afastando-me rapidamente eu bato com minhas costas no pé da mesinha fazendo o abajur cair e se quebrar.
- Maria!
- Mãe! Mãe! - Grito assim que vejo seu rosto após a luz ser acessa. Eu estava sendo puxada pelos cabelos, mas me soltei dos pés da cama quando minha mãe estendeu os braços para mim. - Não! Mãe! Não! - Grito em lágrimas quando vejo o rosto contorcido com longos dentes afiados para fora da boca ir até minha mãe.
Havia fechado meus olhos, e só os abri novamente quando minhas pernas foram puxadas.
- Noun! - Minha mãe estava sem os olhos. "Nunca deveríamos ter comprado essa casa"