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" - O dinheiro muda a cabeça das pessoas filha, elas ficam gananciosas! Jamais deixe o dinheiro lhe subir a cabeça ouviu?"- minha avó materna disse para mim nos meus 15 anos, acho que de toda família ela é a mais simples e amável. Ela costumava me dizer quando eu era bem pequena que Ciclos tendem a ter inícios, meios e fim, mas não era para eu me entristecer ao fim de um ciclo pois outro seria bom para o meu amadurecimento.
(...)
Ao chegar ao meu destino, desembarquei do ônibus rumo a casa da pessoa mais sábia que eu conhecia, eu sabia que era ali que eu encontraria o apoio e o amor que eu preciso. Eu não ia na casa da vovó com frequência, na verdade quase nunca íamos visita lá sabe? os meus pais não gostam de ouvir os mais velhos então fazem questão de não visitá-la. Mas pelo menos eu consigo me lembra perfeitamente do caminho ate sua casa, que não ficava tão longe do ponto de ônibus então eu poderia facilmente ir a pé, e isso é ótimo pra uma pessoa que não tem absolutamente nada além das roupas do corpo no momento.
E cá estava eu, vagando pelas ruas desertas e escuras rumo a minha única esperança de salvar o meu bebê dos meus pais, embora eles não escutassem a vovó eles a respeitavam muito por ela ser uma mulher religiosa. Ela jamais permitiria que eles me tirassem essa criança, então ela era a salvação do meu bebê. Eu não fazia ideia de que horas eram, mas provavelmente ja era madrugada e estava frio, depois de andar por uns 6 quarteirões desertos e escuros finalmente cheguei ao meu destino. A vovó dormia cedo mas tem o sono leve então se eu chamar com toda certeza ela vai acordar.
De frente ao velho portão preto e desgastado, sem pensar muito apenas apertei a campainha e esperei um pouquinho, logo vi as luzes da casa se acender.
- Quem esta ai?- ouvi a voz da minha amável avó. ouvi a porta se abrir e ela se aproximar do portão assim se aproximando do mesmo.
- Vovó?- minha voz saiu fraca e não contive as lágrimas quando ela abriu o portão, apenas desabei em em prantos.
- Querida o que faz aqui?- ela sai com seu pijama florido e uma touca na cabeça ao meu encontro.- venha cá criança.- ela me abraça e finalmente depois de longas horas de dor e humilhação eu me senti acolhida e amada. Eu pude contar tudo pra ela, e foi decidido que eu ficaria com ela.
(...)
5 De julho/ 9:30 horário de Brasília
- Vocês querem saber o sexo do bebê?- a moça simpática que fazia minha ultrassonografia perguntou com um sorriso amarelado em seu rosto.
- Sim!- Eu e minha avó respondemos empolgadas quase gritamos na verdade, fazendo a ultrassonografista rir de nossa atitude.
- Você terá um belo e forte menino, meus parabéns!- Eu ja chorava de felicidades, e minha avó então nem se fala né?
Fazem 3 meses que eu vim morar na vila com minha avó, os meus pais foram obrigados a me deixar com o meu bebê pois a minha avó nos defendeu com unhas e dentes, então eles só fizeram como antes: fingem que eu não existo. mas sabe de uma coisa? ta tudo bem, eu finalmente tenho o amor que eu quis em toda minha vida e agora vou poder amar alguém e fazer diferente dos meus pais.
- Ele ja tem um nome?- a minha avó me tira dos meus devaneios.
- Angelo- eu respondi com o coração cheio de amor, e limpando o gel da minha barriga, que já aparecia com o papel que a moça da ultrassom tinha me dado. ela me entregou o papel com os dados da ultra e saimos da clínica.
- E pra onde você vai daqui mocinha?- minha avó pergunta
- Vou pra escola e depois pra sorveteria.- disse assim que chegamos ao ponto de ônibus.
- Acha que consegue sair pra comprar algumas coisas do Ângelo no horário de almoço?- ela pergunta.
- Sim vovó mas a gente só não vai poder demorar, eu ja vou chegar atrasada pro trabalho hoje.- Digo respondendo a minha querida e amável vovó. Este emprego que arrumei na sorveteria tem me ajudado muito nesses últimos dois meses que me mudei pra casa da minha avó, eu fui transferida para estudar aqui também, acho que finalmente minha vida vai ganhar um rumo ao lado de pessoas que sei que me amam e eu farei de tudo por eles.
- Olha minha filha, meu ônibus vindo ali- vovó me tira dos meus pensamentos sinalizando para o ônibus.
- Tchau querida, se cuida viu? e cuida do nosso Gegê.- ela diz
- Vá com Deus, toma cuidado ok? qualquer coisa liga pra escola que eu vou correndo até a senhora.- digo dando um abraço forte nela, mas aquele abraço era diferente! eu senti despedida, senti como se aquele fosse o nosso último abraço. Quando nos soltamos ela me deu um de seus sorrisos mais bonitos e entrou no ônibus e Assim que o ônibus partiu eu fui rumo a escola, afinal agora mais que tudo eu precisava estudar, pois preciso dar um bom futuro para nós três.
Na escola quase não prestei atenção na aula, aquela sensação ruim no peito não me deixava quieta, no fim da aula a professora pediu pra que eu fosse até a mesa dela.
- Katrina, eu sei que você esta passando por um momento difícil, mas você precisa se esforçar mais.- ela diz assim que paro de frente para ela.
- Eu to tentando dona Sônia, mas hoje eu não estou me sentindo muito legal, eu prometo tentar mais ok?- digo tentando ser breve.
-O que você pretende fazer quando terminar a escola?- Ela pergunta e me faz refletir bem. Eu não havia pensado sobre isso.
- Um cursinho, talvez arrumar um emprego pra manter meu filho, estou vendo ainda.- Eu disse tentando parecer confiante.
- Mas e sua profissão? você precisa pensar grande Katrina! você é uma menina inteligente, tenho certeza que pode ter a carreira que quiser.- ela diz me dando um sorriso de canto.
- Eu vou pensar mais sobre o assunto dona Sônia.- Realmente ela não estava errada, mas eu não fazia mesmo ideia de que carreira poderia seguir, ainda mais com o Ângelo pra criar, acho que eu não teria tempo.
- Tudo bem, está liberada então.- ela diz e eu saio imediatamente.
O dia na sorveteria foi calmo, geralmente os dias de semana são realmente mais calmos. quando deu o horário de almoço corri para a loja de bebê onde iria encontrar minha avó, não ficava longe da sorveteria eu só iria precisava descer a ladeira e atravessar a rua. É uma vila tranquila onde todos se conhecem e se gostam, então não há problema algum não é?
Quando cheguei ao fim da ladeira vi a minha vó acenando pra mim do outro lado da rua, sorri para ela e atravessei a rua sem olhar para os lados e apenas senti o impacto, vi tudo escurecendo.