Capítulo 3 Estranho bonitão

Antonella Clifford

Cinco meses depois...

Eram 20 horas, estava no meu apartamento e fazia meia hora que havia chegado do trabalho. No caminho da empresa até em casa, Enrico me ligou umas cinco vezes. Conheci ele em uma balada aqui perto de casa há menos de uma semana, foi uma noite incrível, bebi muito e fiquei com ele. Não transamos. Foi apenas uns amassos, então não me arrependo. O problema é que ele quer me encontrar mais vezes. Parece um cara legal, sei que é um homem para relacionamento, dá para ver isso de cara. E eu não quero magoa-lo, pois não estou afim de relacionamento. Já tentei uma vez, sei que ninguém é igual e que nem todo homem é mal caráter, mas não quero. Só não gostei de como eu lidei com aquilo e de como aqueles momentos mexeram comigo. Prefiro ficar solteira, estou na minha melhor fase. Às vezes, sinto que não nasci para ter esse tipo de coisa - ser namorada definitivamente não é para mim. Além de todos os meus problemas e meus bloqueios.

Tenho 25 anos e não quero relacionamento nem tão cedo. Conversarei com Enrico pessoalmente, no dia do baile de gala, que será ser na empresa. Vai ser mais para alguns negócios, é um bom momento para eu conhecer outros CEOs. Será daqui a uma uma semana, mandei enviarem todos os convites.

A dor que eu sentia antes, de quando perdi meu pai, não me sufoca mais. Estou me divertindo e seguindo a vida. O vazio que ele deixou no meu coração continua, e acho que nunca vou deixar de sentir um aperto no peito, como até hoje sinto por causa de minha mãe.

Meu celular começa a tocar, eu respiro fundo já sabendo quem é.

– Enrico, se eu não te atendi na segunda vez foi porque não quis. Não ligue outras vezes! - eu disse, impaciente.

– Nossa, cada vez mais carinhosa. Princesa, não sou de desistir fácil, o que custa você ir jantar comigo? - Falou e eu reviro os olhos. A única coisa chata nele, é que sabe como sou mas não quer aceitar.

– Como você conseguiu meu número? – Não me lembro de ter dado e Alice sabe muito bem como são as coisas, então está fora de cogitação, tanto ela como meu irmão ter dado meu número a ele.

– Tenho meus meios, querida. Pode ser amanhã? - ele diz com uma insistência irritante.

– Não, eu não vou jantar com você. Te vejo no baile, e não me chame de princesa! - falo por fim, desligando o celular. De princesa eu não tenho nada. As vezes em casa sou toda destrambelhada, mesmo sabendo andar de salto perfeitamente. Meus primos me chamavam de "canhão" quando eu era criança, pois não parava quieta, e era um perigo eu ficar muito perto de ponta de mesa e entre outras coisas consideradas perigosas para crianças, eu realmente era muito desastrada. Claro que hoje eu não corro pela casa, mas que eu bato alguma parte do corpo em algum lugar, com certeza.

Me deitei para dormir, pois no dia seguinte teria que estar na empresa. Os meses passados serviram de adaptação para nós três. Fora pesado, mas nada que eu não possa dar conta, claro que, com a ajuda do meu irmão e Alice.

DANTE STEFANO

Estávamos em mais uma missão. Os filhos da puta eram péssimos, parece que entraram nesse mundo há pouco tempo. Meus homens são quase tão bons quanto eu. Não tem como serem iguais a mim, eu fui criado para isso. Não me orgulho, passei por coisas dolorosas para chegar até aqui, e alguns deles estão comigo no máximo há 20 anos.

Na briga com um dos homens de outro clã -mão a mão, pois eu havia derrubado a arma dele -, larguei minha arma no chão e fui pra cima do homem, que tentou me dar um soco mas eu desviei. Ele sabia que não tinha chance contra mim, todos me conhecem bem. Costumo deixar poucos vivos para tirar informações depois, fora isso, são todos mortos.

Então, ele tirou uma faca do sapato e veio em minha direção, com um movimento conseguiu fazer um pequeno corte na minha sobrancelha. Provavelmente levaria uns três pontos. Dei um largo sorriso para ele, e o mesmo me olhou com uma expressão assustada. Estava pouco me fodendo para o corte, estou acostumado com coisa pior que isso.

Fiquei entediado, resolvi acabar logo com aquilo e com movimentos ágeis, tirei a faca da mão dele e enfiei de baixo para cima em seu queixo, de uma forma que o matasse rápido.

Nunca me escondo atrás dos meus homens, são como uma família para mim, faço questão de que todos saibam, também, o respeito que tenho por eles. São todos fiéis a mim, e não deixamos ninguém para trás.

Quando cheguei em casa, encontrando meu irmão sentado no grande sofá de couro preto - com seu típico sorriso debochado no rosto - já sabia do que se tratava.

– Irmão, que bom que vc chegou! Achei que fosse demorar mais... ouvi boatos de como tudo ocorreu – Falou. Meu irmão não costumava participar dos meus negócios, só quando eu realmente precisava. Ele preferia os trabalhos mais fáceis como cuidar das casas noturnas e brincar com mulheres. Perece nunca querer se meter quando eu peço.

– Fala logo – Grunhi sem paciência para as gracinhas dele.

– Minha noite foi maravilhosa, ela estava linda com um vestido amarelo colado naquele corpo gostoso. E melhor ainda, quando eu o tirei com a boca. – Conta ele, com os olhos brilhando. Eu conheço ela por fotos, meu pai nunca deixou me aproximar. Ele sabe o estrago que eu faço com o coração de uma mulher e o perigo que esta correria. Meu irmão também tem ordens de não chegar perto, mas ignora. Não acredito que ele tenha tido algum tipo de relação com ela além de conversas, mas não perco meu tempo batendo boca.

– Você sabe que vai arrumar um problema com nosso pai, se ele souber – Não que a gente tivesse medo, só não queremos decepcionar nosso velho mais do que já fizemos quando entramos para a máfia.

– Não tem como ele descobrir, tem tanto tempo que não conversa com o pai dela, que já deve ter esquecido. – ele diz.

– O pai dela morreu de câncer há cinco meses. Nosso pai ficou mal por duas semanas seguidas e você não percebeu. Estava ocupado de mais imaginando maneiras de foder a filha do melhor amigo dele. E você desobedece a única regra que ele nos deu! – falei, já ficando estressado, sem fazer muito esforço, ele recuou para trás, não preciso gritar, ele sabe que se me estressar mato ele, mesmo sendo meu irmão. Nós nos amamos muito, mas não somos como as famílias normais.

– Eu não fui para casa visitá-lo aqueles dias, estava viajando. E eu não vou me envolver com ela. Ela é muito difícil, mas também não é como se fosse impossível que se apaixonasse por mim. - diz com um pequeno sorriso.

– Estava com sua puta, que te trai todo final de semana. E sobre essa outra menina, acho que ela não se apaixonaria por você. - digo o corrigindo

– O nome da primeira é Giovanni, não ligo para ela, só me divirto. Matei o cara que a comeu. O mesmo sabia que ela estava comigo e transou com ela mesmo assim. – Falou normalmente. Ele mata qualquer um que não tenha medo dele. É um fodido narcisista.

– Isso não me interessa, já disse o que queria falar? Preciso descansar – falei querendo que ele vá embora logo.

– Ainda não irmão. Ela vai fazer um baile. Vai ser daqui a uma semana. – falou e eu comecei a me interessar. Não quero ter problemas com meu pai, mas como o Enrico falou, não tem como ele saber. Nunca a vi pessoalmente, confesso que estou curioso.

– Não vou. – Falei. Mas, talvez eu vá.

– Tudo bem, é bom que eu fico com ela pra mim. – Brinca, indo em direção à porta.

– Não sei como ela é, mas se for igual ao pai, você está fodido – Falei antes de ele fechar a porta e saír.

Eu estou curioso para um caralho, quero saber se ela é tudo isso que dizem, e é claro que eu vou nesse baile. Não vejo perigo nenhum. O pai dela era realmente importante para mim, e ele estava certo em fazer o que fez, apesar de tudo.

Estou exausto. Mas, pensar no tipo de agitação que terei amanhã me dava energia para qualquer coisa. Eu tenho coisas pendentes na cede da máfia.

...

– Tem certeza de que não quer falar nada? – pergunto em tom de deboche. Com um sorriso no rosto, aceno para um de meus homens para arrancar mais três dedos da mão direita do que está sentado. Deixamos uns vivos para fazer algumas perguntas.

Diogo senta na cadeia, em frente a do homem torturado, pega a faca e se prepara para cortar o primeiro dedo. Sorrindo, ele começa.

– Mais devagar! – Mandei, olho para o homem e o mesmo contem ódio e medo em seu rosto. Estava pegando leve, quero começar devagar hoje.

Ele começa a cortar o primeiro dedo. O homem grita, não muito alto. Está tentando aguentar.

Seu corpo todo tremia. Diogo corta mais dois, o outro continua gritando e tentando se soltar. Eu dou a volta na cadeira lentamente, coloco a mão direita no ombro dele e abaixo para falar no ouvido esquerdo do mesmo.

- Aproveita a hospedagem, toda noite você terá uma visitinha. Você sabe que não adianta resistir, daqui você só sai morto. – Após dizer as palavras, me levantei e reforcei: – Lembrando que ele não dorme! - Falei alto, para que meus homens ouvissem. Aviso para todos os quatro homens, que estão mais à frente. – joguem água com gelo nele toda noite, de dia podem se divertir. Não matem! – digo por fim e saio da sala.

Pietro começa a me seguir para meu escritório. Ele é minha mão direita aqui, sei que posso contar com ele para tudo. Sento na minha cadeira e ele entra fechando a porta.

– O Clã Contini não aceitou ser nosso aliado. – Diogo disparou.

– Isso pode ser um problema. – falei não ligando muito, eles teriam que ser muito espertos para tentar algo. Tivemos uns desentendimentos há alguns anos atrás. – Vamos ficar atentos. Tenho que ir para a empresa, cuide de tudo enquanto não estou aqui. – falo.

ANTONELLA

Fechei meus olhos, dançando no ritmo da música. É muito bom se entregar e se sentir dona de si mesma, sem preocupações, livre de estresse.

Com as mãos para o alto juntas, balancei o meu quadril. Minha amiga estava aos amassos com um homem bem grande. Já vieram alguns homens querendo me tirar daqui, e fazendo propostas indecentes: apenas uma bebida por uma noite, ou uma rapidinha. Dispensei todos, acho isso uma coisa normal, não vou deixar de me divertir por idiotas que aparecem numa balada. Consigo ser bem ignorante em certos momentos, não é tão difícil afasta-los. E quando estou num nível de alegria enorme e não quero me estressar, eu falo que sou lésbica. Os homens desistem na hora. Porém, quando sinto interesse, não tenho receio de chegar e tomar a iniciativa ou ceder quando se aproximam.

Enquanto estava dançando, senti alguém se aproximar de mim, por trás. Ele colocou a mão grande na minha cintura, seu toque é leve, respeitoso e sensual, ele se moveu um pouco me acompanhando na dança. Olhei para trás e, puta que pariu, ou melhor, Deusa que pariu. É um homem lindo de se arrepiar só de olhar. Havia um corte na sobrancelha o deixando com a expressão ainda mais sombria. Dava para notar que o pequeno corte era recente.

Ele analisou meu rosto, ainda sério e então se afastou devagar com um pequeno aceno em negação, indo embora, mas não antes de eu ver aquele brilho no olhar. Não entendi o motivo, mas não acho que seja por ele não ter gostado de mim, o pau semi-ereto há instantes diz isso.

Faltam dois dias para o baile, não estou muito ansiosa, vai ser um baile em que vou ter que falar com um monte de gente séria, pessoas que não sabem se divertir. Estou gostando do meu trabalho, cuido bem e ainda está do mesmo jeito que meu pai deixou, organizado e com um bom rendimento. Contudo, não deixo de ser a mulher que sou, alegre e divertida. Livre.

No dia do baile, só terá pessoas do tipo: séria de mais para se soltar em uma dança animada; preocupada demais para perder a elegância.

O bom é que minha melhor amiga e meu irmão vão estar lá, espero encontrar o Enrico também, juntos formamos um quarteto bem animado. Pensando nele. O vejo sentado em um banquinho no bar, e vou até lá.

– Oi... veio sozinho? - digo animada por causa da bebida.

– Vim com meu irmão. - Disse, com um largo sorriso, olhando para minha roupa, me analisando de cima a baixo. - Gata é pouco, estou sem palavras para dizer o quanto está belíssima com está roupa Reviro os olhos. Ele sempre me elogiando como se só o que importasse fosse meu físico.

- Obrigada! Seu irmão deve estar pegando várias por aí. Vamos, se junte a mim e Alice na pista de dança. E sem muita aproximação, estou esperando uma pessoa voltar, se me ver com vc vai queimar meu filme. - falo em tom de brincadeira. Realmente espero que o grandão volte.

Na última vez em que conversamos, falei para Enrico que só nos veríamos novamente no baile, mas não vou deixar ele aqui sentado sozinho. Tenho certeza que outras mulheres chegariam nele, mas elas poderiam chegar nele na pista de dança enquanto ele se diverte com nós três. Ele é um belo homem, é alto, cabelo curto e preto, em um corte moderno, tem um corpo magro e musculoso, mas não muito.

- Logo atrás de você, princesa. - Fala gesticulando para a pista.

No local, nós três pulamos e dançamos com pessoas diferentes. As batidas da música soando nos meus ouvidos e me controlando. Ficamos lá por alguns minutos e depois nos cansamos. De volta para o bar, respirando pesadamente, Enrico disse:

– Três shots para nós, por favor. - Olhou para nós duas e voltou a atenção para o bartender. – Seis! Quero seis! – Minha amiga olha para ele assutada.

– Não, eu tenho que levar Antonella para casa e tenho que me levar também. Falando nisso, onde está seu irmão, branquinha? – Indagou e ri dela, o jeito que fala é engraçado, talvez seja a bebida, talvez seja a felicidade, ou o amor que tenho por ela e a gratidão por tudo que fez durante tantos anos para me apoiar e cuidar de mim.

– Certeza de que ele está pegando alguém por aí. Ele não bebe então está tudo bem. E hoje ele não vai embora com a gente. – Expliquei para minha amiga. – Alice tem razão, não podemos extrapolar na bebida – Me direcionei à Enrico, um pouco chateada. Não sou de recusar bebida.

– Não tem problema, meu irmão leva a gente, ele é de segurança. Nesse momento ele deve estar de olho na gente de longe. – Enrico diz.

– Mas ele é um, e somos três. E por quê acha que ele ficaria de olho na gente ao invés de pegar quem quiser e se divertir? – Minha amiga diz. A lingua afiada como sempre. Eu concordo, seria uma missão.

– Eu preciso de mais que dois desses para ficar completamente bêbado, gatas. E tenho certeza de que meu irmão dá conta de duas e meio, eu não vou ficar mal, garanto. – Sei que ele vai cuidar de nós duas. E nunca fui de ser certinha mesmo. – E meu irmão não está muito animado, por isso sei que ele vai vir atrás de mim daqui a pouco.

Ele parece confiável, mas tem coisas nele que me deixa confusa. De qualquer jeito, não faria mal para mim ou minha amiga. E foi nessa que nós bebemos muito. Apenas minha amiga se controlou mais, isso é bom, sei que ela vai tomar cuidado com qualquer coisa. Por essas e outras que eu a amo de mais, é como uma irmã.

            
            

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