Ver novamente Hugo Gratteri no mesmo dia não me anima muito. Minhas mãos soam só de lembrar do toque dele, poderia agradecer por ter me segurado, impedindo que caísse. Mas não sinto essa vontade, ele continua sendo um grosseiro. Ainda não consigo entender porque foi até a boutique contestar-me por ter jogado fora as flores.
- Porque parecem preocupados? - Lorrana perguntou, eu pedi para mamãe me ajudar a sentar no sofá.
- Não estamos preocupados, mas tentando entender o motivo do jantar. Não é comum alguém como o Hugo pedir um jantar - papai responde. Ele não tem nada a temer, mas está cismado quem sabe com o que, tenho certeza que não falará.
- Devia ter dito Não! - resmunguei. Os três pares de olhos me fitaram com as testas franzidas. Não encarei nenhum, só fitei minhas mãos nervosas.
- Tem algum problema com o Hugo, filha? - papai perguntou, mas ele próprio respondeu. - Não, como poderia ter, nem foram apresentados no jantar de noivado.
- Mas hoje isso vai acontecer - mamãe falou animada, agora não sei porque esse sorriso nos lábios dela.
- Hoje o sr. Hugo apareceu na boutique - Lorrana olhou para mim com um risinho, não quis contar nada para ela. Igor que mencionou o aparecimento do irmão. - Foi falar com alguém.
- Com quem, filha? - papai indaga.
- Acho que com a Pérola - respondeu, arregalei os olhos, não pensei que diria isso. Eu não contei nada, será que ela ouviu ele falando comigo? - Ouvi ela respondendo para ele.
Bingo! Ela ouviu, quem sabe tudo, e eu aqui escondendo tudo que aconteceu, desde a noite de jantar a esse bendito dia.
- Explique isso, Pérola! - papai falou com a voz diferente, enciumado.
- Não tenho nada para explicar! - falei, arredando-me no sofá para sentar na cadeira. Mamãe novamente me ajudou, me olhando com os olhos brilhantes. Que loucura é essa? O que ela está pensando? - Aviso que não descerei para jantar, estou cansada, minhas pernas precisam de massagem, farei isso sozinha no meu quarto!
- Pérola! - papai falou em tom de reclamação. Mas não parei, segui para o elevador, e vi a Lorrana rir de mim.
Como de costume na minha rotina nada comum, tomei banho. Decidi ficar só de camisola, a minha favorita de renda transparente. Tenho uma paixão por lingerie, acho tão bonito. Há algumas peças escondidas no meu closet, elas servem para me fantasiar na mente o dia impossível que me casaria e meu marido ficaria louco só de me olhar. Suspiro, seguro nas barras que tem no meu quarto, elas servem de apoio para me locomover. Pego meus cremes de pele e massagem.
❇❇❇
Hugo Gratteri - Narrando
19h34 ... Porra! Porque essas horas não passam mais depressa? Estão contra mim? Diabos! Estou um pouco fora de controle, me sinto assim.
- Não está facilitando para mim, Hugo! - reclama Igor aparecendo no meu quarto, ajeitando a gravata. - Quero possuir a Lorrana, vê-la essa noite não vai me ajudar a me controlar até o maldito casamento.
- É só não ir ao jantar! - lhe mostro a solução para que pare de tagarelar no meu quarto. Estou sem paciência.
Sinto que Igor está me encarando. Respiro fundo.
- Porque foi atrás da Pérola? - pergunta. Demorou para ser intrometido.
- É assunto meu, Igor - olho para o relógio no meu pulso, já são oito horas. Encaminho-me para a porta.
- Ela é muito bonita - fala o que já sei, compartilho da mesma opinião sobre essa pequena. Ele faz o nó na gravata, passa na minha frente. Reviro os olhos.
❇❇❇
De partida para o jantar, meu celular começou a tocar, olhei na tela, era a Simone. Em hipótese alguma atenderia, não era o momento para tratar de negócios. Meu foco precisa estar na menina, quero desvendar logo porque o vulcão dentro de mim quer eclodir.
- Simone ainda é apaixonada - Igor comentou. Ela alguns anos atrás se declarou para mim. Nunca tivemos nada, assim permanecerá.
- O problema não é meu. Ela sabe que não estou interessado - continuei dirigindo, encerrando o assunto que não deveria nem ter começado.
Alguns minutos depois ..... NA CASA DE PÉROLA ..
Essa é a primeira vez que adentro a casa de Holando, não é comum visitar qualquer pessoa em sua residência. Vejo alguns quadros espalhados, ele é um colecionador de pinturas, os quadros dão um charme ao local.
A sala é bem ampla, ele me indica o sofá onde me sento. Procuro por Pérola no quadrado que estamos. Ela não está aqui!
" O jantar vai ser servido em alguns minutos " uma empregada avisa.
Lorrana apareceu na sala, minha expectativa de ver logo em seguida Pérola, morreu. O jeito foi conversar com Holando sobre negócios, quando na verdade queria a filha dele, não demoraria muito para perguntar, tentarei ser discreto, não quero mostrar nenhum tipo de interesse.
- Onde está a sua filha mais velha? Não recordo o nome - perguntei assim que fomos para a sala de jantar, o qual já estava servido. Igor olhou para mim quase rindo. Controlei-me para não lhe dar uns cascudos na frente da noiva toda apaixonada.
- É Pérola. Ela não está se sentindo bem, está no quarto - Holando respondeu. Essa desculpa não passa pela minha garganta, ela pode estar querendo me evitar.
- O casamento dela será logo depois da Lorrana com o Igor? - perguntei, lembro do tal namorado dela. Augusto não me trouxe nada ainda.
- Pérola não tem namorado - a mãe é quem respondeu. Finjo que isso não tem importância.
- Posso saber o porquê da pergunta, Hugo? - Holando perguntou tentando esconder seus ciúmes.
- Ela é a filha mais velha. Lorrana em breve se casará, é comum que aconteça o mesmo com a Pérola, isso com alguém aprovado por mim - essa resposta foi obviamente bem aceita, não daria margem para especular sobre qualquer interesse pessoal da minha parte.
A feição de preocupação abateu Holando momentaneamente, talvez pensando que iria propor casamento para Pérola com alguém das famílias ligadas à máfia. Mesmo isso sendo descartado, não aliviaria seus pensamentos.
Durante a sobremesa um intruso apareceu, pedindo permissão para ver Pérola. O suposto e descartável namorado dela, tinha nas mãos uma pequena caixa.
Meu súbito repente fez-me interromper o pedido do homem, denominado guarda costas de Pérola, assim Holando lhe apresentou para mim.
- Dei-me a caixa, eu mesmo entregarei, Danilo! - estiquei a mão para que me desse, ele relutante me entregou. Sei que isso, essa minha atitude levantaria suspeitas, mas não conseguiria voltar atrás. - Qual o quarto da Pérola?
Holando e sua esposa se entreolharam chocados com a minha pergunta.
- Terei que perguntar novamente? - questionei com poder de líder, fazendo assim Holando ceder, respondendo a minha pergunta. - Não quero ninguém atrás de mim.
- Hugo, tem algo com a minha filha? - perguntou sem conter-se. Sorte dele eu apreciar seu trabalho como capo e amigo.
- Sim, um assunto inacabado - respondi o suficiente, não explicaria nada, ninguém me obrigaria.
Fui para as escadas. O último quarto é o dela, chegando perto, decidi não bater. Mas me detive no lugar, repensando. Estou ultrapassando meus limites, e penso em desistir, porém a imagem do rosto dela e suas palavras usadas contra mim, fizeram-me persistir. Abri a porta e entrei.
O ar no quarto estava delicioso. Esperei por uma reclamação, mas estava tudo silencioso. Varri com os olhos o cômodo, vendo tudo em seu devido lugar, única coisa incomum eram as barras espalhadas. Fui para o centro do quarto, olhei para minha esquerda, tive que afrouxar a gravata ao ver Pérola em frente ao espelho, de costas para mim, usando somente uma camisola transparente, sem nada por baixo.
Meus pés automaticamente guiaram-se para perto dela. O grito que rasgou da sua garganta ao perceber-me foi escandaloso. As mãos dela apertaram a barra de ferro que ficava no espelho.
Me aproximei rapidamente dela.
- O que está fazendo no meu quarto, sr. Gratteri? - ela queria se cobrir, correr, mas não tinha como, e eu não facilitei. Fiquei com os olhos presos no corpo dela. - Pare de me olhar! Além de grosseiro é abusado, tarado um invasor!
- Não imaginei que estivesse vestida assim, tão provocante - desculpo-me, sem qualquer arrependimento de vê-la tão mulher, esse corpo é tentador, vai além da minha sanidade.
- Sai do meu quarto! - ela mandou exasperada. - Está passando dos limites! Chamarei meu pai!
- Quero conversar com você, Srta Savarin! - falo normal fitando suas costas que parecem ser macias. - Seu pai sabe que estou aqui. Não sairei até que me ouça, e me dê a resposta que desejo.
- Droga! - ela pragueja. - Pelo menos vire-se para que eu vista algo decente!
Permaneci mais alguns segundos olhando-a, e me virei, caminhei para perto da cama. Escutei os resmungos dela, por esse motivo e ainda a curiosidade de estudar seu corpo, virei novamente para olhá-la. Pérola estava tão nervosa que conseguiu sair do lugar, me deu agonia vê-la tentando falhamente locomover-se.
Soltei um suspiro, não um de irritação ou aborrecimento, mas de busca de autocontrole. Direcionei-me a ela, e a peguei no colo.
- Tire suas mãos de mim! - ela resmungou me olhando com raiva.
A coloquei na cama, puxei o tecido para cobri-la. Para minha sorte filha da puta, consegui ver os seios dela.
- Pronto! Até que conseguisse chegar ao seu closet, já teria visto todo seu corpo nessa camisola - minha voz saiu baixa, ela puxa o tecido cobrindo todo corpo a vista de meus olhos.
- Não irei agradecer por isso. Não devia entrar em um quarto sem antes bater! Invadiu minha privacidade. Que ódio de você! - ela expressa com facilidade suas emoções. Ela esquece quem sou eu? - Diga de uma vez o que quer comigo, e saia!
- Ouça, Pérola! - me sentei na beira da cama, passei minha mão pela sua nuca dela e a puxei para perto do meu rosto, assustada colocou sua mão em meu braço. - Reconsidere o tom usado para falar comigo, não sou tão tolerante. Não a vejo como uma coitada pela sua condição física, pelo contrário, vejo uma mulher forte o bastante para aguentar o peso do meu julgamento!
- Porque me julgaria? - indagou com respiração acelerada, evitando olhar diretamente em meus olhos.
Ah. Ela não entendeu qual seria meu julgamento. Seria somente o peso de minhas mãos em seu corpo, mas ela se assustaria mais, isso que queria dizer.
- Porque merece! - resmungo, seguro seu queixo.
- O senhor que merece ser julgado! Me constrangeu, e me humilhou com suas palavras grosseiras. E a citação desnecessária sobre virar jantar do seu cachorro, quando não conseguia nem levantar sozinha - fala dessa vez me encarando, um olhar machucado.
- Me perdoe por ter dito isso, agir feito um grosseiro - falo sincero, me arrependo. Mas confesso, se Pérola não fosse assim, não me desculparia. Nunca precisei me desculpar com ninguém.
- Parece sincero, o perdoo! - ela fala desviando seus olhos dos meus, depois de avaliar-me, ficou sem jeito. - Agora se afaste, por favor!
Colocou as mãos no meu peitoral para me afastar. Demorei mais que o necessário para soltar seu pequeno queixo. Estou fascinado com a beleza dela. Pensei que ficaria satisfeito, por me perdoar, mas não estou.
- Disse o que queria. Pode sair do meu quarto, não me sinto confortável, foi muito abuso seu - ela fala se arredando na cama para longe de mim, pelo menos um pouco. Isso me incomoda, ela não quer ficar perto, isso é novo, todas as mulheres querem ficar grudadas em mim.
- Vai jantar comigo amanhã! - falo autoritário, não irei perguntar, imagino sua resposta. Saiu da cama.
- Desculpa, mas não...
- É uma ordem do seu líder. Vai jantar comigo! - engrosso a voz. Ela é muito arisca.
Deixo o quarto. Paro no corredor antes de prosseguir, praguejo pelo "convite" feito. Porra! Eu gosto e odeio isso.