Capítulo 2 O que aconteceu depois

A jovem Sara, tinha agora 15 anos. Era o dia do seu aniversário. O pai chegara estranho, falando coisas desconexas. Ela lembra de um barulho muito alto, "BOOOM" e depois de um silêncio sepulcral. Lembra que ambas, mãe e filha, foram em direção ao quarto. Que bateram de leve na porta chamando o nome do pai.

A lembrança era da porta sendo aberta aos poucos e mostrando o homem caído em uma poça escarlate , quase do outro lado do cômodo, um objeto negro, pequeno estava caído. Choro, abraços, gritos.

Após isso, as imagens que ainda vagueiam por sua mente são uma sala escura, ela e a mãe de preto e talvez mais duas outras pessoas que ela não sabia ao certo quem eram. O pai, em uma caixa de madeira simples, custeada pelo estado. Alguém, talvez o ex chefe do seu pai fora no velório .

Lembra que sua mãe discutiu algo como ter direito a seguro, indenização. E que o homem baixinho e gorducho riu, dizendo que não tinham quaisquer direitos, após Estevam agredir seu imediato . Aparentemente, ele não suportou bem a notícia de ser dispensado como um trapo e acabou saindo mesmo assim. Só que agora, sem direitos por isso.

Os dias que se seguiram pareciam um flagelo, escrito por um Deus cruel. Não havia dinheiro, em lugar algum. Estevam sempre foi do tipo de gastar tudo agora e não guardar nada para depois. Eles moravam de aluguel.

A mãe entrou em uma tristeza profunda, não se banhava, não comia sozinha. Não falava. As vezes, olhava para as portas da casa por mais da metade do dia. A mulher linda, loira, de olhos azuis intensos e um corpo de parar qualquer trânsito, já não era mais a mesma. Estava magra, com olhos vazios, olheiras e profundas rugas, que marcavam seu rosto.

Em pouco tempo, havia perdido mais de 15 quilos e o fato de não sair de casa, tornava sua pele pálida como a de um fantasma.

Sara não teve tempo para chorar, para viver seu luto. Ela entendeu que não havia dinheiro, ponto. Começou a se virar como podia. Levava compras ali, cães para passear aqui. Faxinas pesadas em diversas casas, muitas vezes recebendo metade do que uma profissional

da área receberia. Devido tanto esforço e ainda mais o adicional de ter que cuidar de sua mãe como uma criança pequena, teve que largar o colégio. Dormia cerca de três horas por dia , para render melhor.

Sara nunca reclamou para a mãe. Bem pelo contrário , quem as visse , sempre comentava que ela era extremamente amorosa e paciente com a senhora, que tinha apenas 45 anos, mas devido ao sofrimento e ao auto descaso, parecia ter bem mais.

Sara não conseguira manter o custo de vida na antiga casa, mesmo trabalhando muito. Então tiveram que se mudar para uma comunidade, alugando um cômodo, um único quarto embutido com cozinha mas que o banheiro era do lado de fora, comunitário. Eram nesses momentos, que os vizinhos viam a menina sempre encaminhar sua mãe para lhe dar banho , higienizar e cuidar. Sempre com amor e cuidado. Quando precisava trabalhar, pagava uma das vizinhas, uma velha mexeriqueira, para olhar sua mãe de vez em quando, alimentar, etc.

Sara sempre sorria apesar de tudo. Sempre.

** Que vida horrível! Para que você vai se levantar de novo? **

Aquela voz, que ressoava no fundo de sua cabeça lhe trouxe a realidade. Eram 4h25, hora de levantar já.

Só havia uma cama no pequeno cômodo , que Sara ofereceu a mãe. Ela mesma, dormia em um pequeno colchão cedido por um dos vizinhos. Antes disso, ela só colocava alguns cobertores no chão e tava tudo certo. Não poderiam trazer todos os móveis da antiga casa, que era maior. Então venderam boa parte para conseguir levantar uma grana.

Ela se levantou em silêncio, se trocou. Colocando uma camiseta de mangas curtas, preta. E uma calça jeans de lavagem escura, bem surrada. Ajeitou as longas e encaracoladas madeixas vermelhas e sorriu para o espelho ;

"Hoje seu dia será incrível!! Você vai até aquela entrevista e vai mostrar quem manda!! Vai ter um salário muito melhor, com todos os benefícios. Vai tirar a mamãe daqui, para voltar ao tratamento dela . E depois fará faculdade e vai ser uma senhora advogada!"

Sara teria uma entrevista hoje, na parte da tarde. O cargo era de faxineira numa famosa rede de academias da família Goller.

Ela sabia que a vaga pagava muito bem para o tipo de ramo, bem demais até. Mas não era para se espantar já que essa família era cheia da grana. Eles tinham mais de 50 pontos de sua rede pelo país. Era uma academia para a elite e ela nunca tinha visto tantos zeros em uma parcela de pagamento para um mês de treinos (foi pesquisar no site).

O filho da família Goller, Allen Jr, além de influenciador digital, era garoto propaganda da marca e era o homem mais lindo que ela já havia visto. Ela o seguia na rede social, apesar de não mexer muitos nessas coisas, mas era uma forma de sempre estar ligada em alguma possibilidade de emprego. Foi assim que ficou sabendo dessa vaga.

Ela deixou café da manhã pronto para a mãe e despediu-se da mesma , dando um beijinho na testa da senhora.

- Até logo mãe! Me deseje sorte!!

Áurea nada falou e nem sequer olhou para filha.

Sara saiu com sua mochila, contendo os materiais de limpeza e uma muda de roupas para a entrevista. Sua patroa concordou que ela se trocasse lá antes de ir para seu destino final. Ela deixaria os materiais lá também e depois voltaria para buscar. Das casas que ela fazia faxina, essa era a melhor. A moça que a contratava , uma senhora com seus mais de 40 anos e três filhos, sempre a tratava muito bem e dava generosas gorjetas a Sara.

"Gente boa, ela", pensou.

A manhã foi tranquila. Ela fez o que tinha que fazer. Sua contratante, pagou e além disso ajudou a se arrumar, deu dinheiro para um carro de aplicativo (que chique) e dinheiro para comer. Era uma mulher boa, trabalhava como dentista e era separada. Então tinha muita empatia por Sara que tanto se esforçava. Ela queria ver a menina prosperar, não só ficar a vida toda lavando banheiros.

Deu o horário de Sara. Ela dirigir-se ao local da entrevista, num complexo de comércios suntuosos, localizado no centro da cidade.

Ela identificou-se na portaria e foi encaminhada até o pavilhão onde estava localizada a academia, e que academia! A fachada, imensa, era de um vidro negro espelhado, com uma porta dupla automática na frente , que daria acesso a portaria interna .

Ela entrou , estava com os cabelos cacheados presos em um coque caprichoso. Ela trajava um terninho feminino , azul marinho (que na verdade , era da filha da patroa dela, mas ninguém precisava saber), sapatilhas pretas e levava uma bolsa de mão com seus documentos, um pouco de dinheiro e seu celular de modelo simples.

A recepcionista a olhou de cima , com claro desdém quando ela disse que estava ali pela vaga de faxineira. Sara, não se abalou e apresentou seu documento. Ela era pequena, com apenas 1,51, os seios já bem avantajados, se destacavam ainda mais quando ela estufava o peito, parecendo um galo de rinha ao perceber os desaforos.

Pois bem, ela foi encaminhada para uma luxuosa sala de espera da sede. O sofá, parecia uma nuvem de tão macio. De cor bege.

A sala além disso contava com uma televisão tão grande que Sara jurava estar num cinema . Tinha uma máquina que servia diversos cafés e chocolates , gratuitamente. Sara até ficou com vontade, mas teve medo e vergonha de se levantar e pegar .

Foi quando uma pesada porta de madeira maciça se abriu a sua frente. Ela levantou os olhos e ... UAU!

            
            

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