Capítulo 4 Tempo de adaptação

Allen percebeu o tom audacioso da jovem a sua frente. Apenas sorriu, frio. Discutir com a plebe? Jamais. Preferia seu hobby favorito; Espezinhar o irmão mais velho.

- Vai mano, saí desse escritório! Por ficar dias metido nesse computador, nessas contas, que tu é um encalhado!

Seu tom de voz era vexatório, jocoso.

Alexander suspirou de leve e pousou o olhar no irmão.

- Se eu não ficar o dia todo metido no computador ou em contas o negócio falhe, pois sem planejamento por trás , um rostinho bonito não é nada.

Allen pareceu surpreso, o irmão não costumava retrucar! Tão pouco na frente de desconhecidos. Isso fez Allen se aborrecer.

- Ótimo, morre na bronha!! - disse trincando os dentes e batendo a porta.

Alexander sorriu, envergonhado com a cena.

- Desculpe senhorita Kasilhes, não sei onde enfiar a cara - desabafou.

Sara achou muito fofo.

- Fica tranquilo patrão, já ouvi coisa pior por aí.

Pobre ser chamado de pobre não é ofensa, é realidade.

Falou e riu com gosto. Os dois riram.

Sara saiu tão contente do escritório de Alexander que não viu a moça loira a sua frente, ela não chegou a trombar, mas encostou levemente os ombros.

- Aaaai! - esbravejou a loira

- Minha nossa! Desculpa senhorita, estava com a cabeça nas nuvens! Te machuquei? - falou sem graça, a pequena.

- Olha por onde anda, sua orca! - gritou num tom cheio de raiva - Ou além de gorda é cega ??

Sara engoliu em seco, não queria brigar. Tinha acabado de conseguir o emprego e não ia perder por causa de uma loira aguada.

- Sinto muito senhorita, se houver algo que eu possa fazer ...- tentou continuar.

- Claro que pode fazer algo! Voltar das profundezas do mar que você veio e não mais sair de lá!!

Sara já estava vermelha de raiva, ia abrir a boca para dizer algo, mas a porta do escritório se abriu. Era Alexander.

- O que está acontecendo aqui ?

Sara gelou. Óbvio que o gerente escolheria proteger sua cliente, mesmo sem saber o que aconteceu.

- Essa obesa trombou em mim, Alex! Ainda falou desaforos! Exijo que você chame a segurança. Pelo menos uns dois seguranças para erguer esse hipopótamo e pôr na rua!

Sara não acreditava no que ouvia. Já muitas pessoas olhavam para cena, mesmo o escritório ficando mais afastado do pavilhão principal, iniciou uma pequena comoção pelos gritos histéricos da loira.

** Adeus emprego, ola miséria ** - ouviu de sua mente.

Alexander examinou as duas mulheres, suspirou de leve. Cruzando os braços. Os olhos pousaram em Sara.

- O que aconteceu, Senhorita Kasilhes?

A loira esguia não conseguia acreditar que ele estava dando voz a outra.

- Alex!? Você está ficando surdo ??? Eu disse ...

- Seu sobrenome é "Kasilhes", senhorita Janet? - o homem a interpelou abruptamente.

A loira se calou ao ouvir isso e perceber que pessoas riram dela com o fora dado por Alexander.

- Por favor, Sara - Alexander chamou pelo primeiro nome. O que fez a moça corar.

- Eu estava saindo do escritório do senhor, estava um pouco distraída. Então eu acabei por encostar na senhorita aqui. Pedi desculpas.

Alexander sorriu.

- Por mim, é o suficiente. Semana que vem você começa. Pode ir e tenha um bom dia.

Sara ficou aliviada, fez um sinal de despedida para Alexander e uma referência com a cabeça para Janet, como que pedindo desculpas de novo e saiu.

A mulher observou a saída de Sara e esbravejou de novo;

- Eu não acredito que você deu ouvidos a gorda e me humilhou assim, Alex! E minha consideração? Temos uma história e...

- Você humilhou a moça, exagerou o acontecido e ainda queria expulsar a menina a pontapés. Era para concordar com isso ? - interrompeu de forma objetiva - E história? Qual? A de que você saía comigo e depois começou a sair com meu irmão ? - continuou o jovem.

Janet estava branca. Realmente, quando adolescentes ela e Alexander tiveram um envolvimento amoroso, as famílias se conheciam há anos e esperavam casar os dois para uma conveniência financeira. Mas a jovem voltou os olhos para o irmão de Alexander, e eles dormiram juntos. Curiosamente após conseguir , Allen não quis mais ficar com ela. Hoje , raramente se falam. A não ser quando o homem quer uma transa fácil.

- Você ainda tem ressentimentos de mim, Alex? - choramingou, com voz doce - Eu sempre lhe digo, podemos começar da onde estávamos e...

Alexander revirou os olhos e voltou-se para seu escritório, fechando a porta na cara de Janet.

Sara voltou para casa, a vizinha que olhava sua mãe de quando em quando, isso mediante pagamento, disse que fora tudo bem. Áurea até se alimentou um pouco.

Sara entrou no casebre exultante.foi até a mãe e beijou. Áurea estava sentada na cama, os ralos cabelos loiros molhados, a vizinha havia lhe ajudado a tomar banho.

- Mamãe! Conseguimos! O emprego é nosso!! Paga muito bem, é registrado, tem benefícios ótimos! Vamos ter plano de saúde. Plano chique! E a senhora vai poder continuar seu tratamento! E eu, mamãe? Eu vou poder voltar a estudar! - Sara tinha lágrimas nos olhos, ela estava com a cabeça recostada no colo da mãe, já que a mesma estava sentada na cama . Sara estava no chão. Surpreendente, Sara sentiu o acarinhar nos cabelos cacheados, já soltos. Ela olhou para cima , esperançosa que a mãe reagisse com sua felicidade. Áurea estava com a mesma expressão inerte. Os olhos sem vida. Mas aquele carinho já era alguma coisa.

- Eu te amo , mamãe.

A semana passou , o dia marcado para o início do treinamento chegou e pontualmente Sara chegou no complexo de comércios, dirigindo-se só pavilhão que ia trabalhar. Uma senhora gorducha e quase da sua altura com os cabelos presos em um coque e um uniforme composto de camisa de botões e calça , ambos pretos , tinha detalhes dourados nas mangas da camisa curta e na barra da calça. Era de seda. Com o logo da rede Goller no leito , ao lado do coração.

"Bonito o uniforme. Gostei!"

A senhora a cumprimentou, bem simpática.

- Bom dia, menina Sara. Eu sou a Berta , e é meu nome , não diminutivo de Roberta viu . Por que ? Sei lá , meus pais queriam só Berta- a senhora riu.

Sara não entendeu muito bem, mas achou que a explicação era válida. Sempre bom saber o nome das pessoas e não apelido.

- Bom dia senhora Berta, estou começando agora. Conte comigo para tudo.

- Pode deixar menina, vou ser sua imediata, você vai ficar junto de mim na ala "Monte Olimpo". Aqui é separado por áreas , normalmente deixam quatro a cinco responsáveis pela limpeza por área. Mas como nessa parte só tem bacana , eles preferem deixar pouca gente para não incomodar os alecrins dourados. - A mulher riu de novo.

- Imagino que eles queiram se sentir a vontade , por isso façam isso - tentou ponderar Sara , mas achando graça em como a mulher nomeava os ricos.

- O patrão Alex falou que você já tem boa experiência em limpeza , certo ? Bom aqui não é lá muito diferente, precisa ter atenção contante , limpará de cima a baixo. Lavar banheiro, etc. Isso tudo sem incomodar os clientes, que é o mais importante e difícil. Pensa num povo cricri, menina .... - Resmungou a Berta.

- Imagino...

- Bom, basicamente . Viu que tá sujo, limpa! O cliente terminou de usar o aparelho e não tem ninguém na fila de uso, limpa! O cliente jogou algo no chão, você pega. E nunca, nunca mesmo conteste. Por que você vai acabar arrumando encrenca da feia. E mais importante ainda; Não se meta com três pessoas aqui ; Janet S. Jones , ela é do tipo vingativa. Filha única de uma família riquíssima, ouvi dizer que estava até prometida para um dos jovens Goller - fofocou a mulher.

- Hmm... - Deixou escapar. Sara não queria pensar que fosse compromisso com o Alexander. Mas querem era ela para cogitar isso ?

- Mas acabou ficando sem nenhum e se contenta a correr atrás de qualquer um dos dois. - continuou - Segunda pessoa que nunca você deve se meter ; Allen Maximilian, é o patriarca da família. Um homem de maus bofes. Foi coronel e casou com Kassandra Goller, mãe dos meninos, por interesse, visto que a família da moça era mil vezes mais abastada e depois de conquistar ela, ele vivia saindo , deixando a coitada se virar com as duas crianças. Ouvi dizer que ela morreu de câncer , mas eu acho que foi é de tristeza. Pois ele não a visitava no hospital e nem deixava as crianças irem. Pare e que ele obrigou a senhora a assinar uma procuração com plenos poderes e ainda em vida, ficou com metade de tudo. A outra metade seria dividida aos dois filhos como seria herdeiros legítimos.

Sara estava impressionada, como Besta era fofoqueira. Mas ela estava adorando saber.

- E o último, e principal que você deve passar a 200 metros de distância e fazendo o sinal da cruz; o senhor Allen Jr.

Berta sentiu um calafrio, achou melhor não continuar. Mas advertiu;

- O que esse rapaz tem de lindo, ele tem de perverso! Pelo amor que você tem a sua mãe menina, fica longe dele!

            
            

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