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Olívia Wright

GabsMacedo
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Capítulo 1 Prólogo

Oakland, Califórnia. Março de 2018.

Tamborilava os dedos com impaciência sob a superfície da mesa. Era a última aula e eu não via a hora de ir embora. Ainda mais depois da confusão que Audrey arrumou com o diretor. Não sabia como ela estava sentada ao meu lado e não expulsa. Alice me lançava olhares rápidos de 5 em 5 minutos. Ela estava tão curiosa quanto eu, mas não podíamos falar, já que Adam estava de mau humor e com a expressão mais fechada que o normal hoje.

Adam Scott era um homem peculiar. Era nosso professor de Anatomia e Fisiologia Humana. Estava sério, na maioria dos dias. Falava pouco e explicava o básico. Mas os olhares que me lançava, desde o primeiro dia de aula, não eram nada sérios ou comportados. Eu conhecia o olhar de um homem, quando era diferente. E o dele era.

Mas é claro que eu tinha que ignorar aqueles olhares. Primeiro, porque eu namorava. Segundo, porque ele era meu professor. Aquilo era errado, de todas as formas. Eu jamais trairia Riley, ainda mais com meu professor da universidade. Era absurdo até pensar naquilo. Riley era o namorado perfeito e eu não o trocaria por ninguém.

A hora parecia estar se arrastando naquela manhã. E ainda teríamos plantão no hospital. Só de pensar em enfrentar uma tarde inteira dentro da minha sala no hospital eu já me sentia exausta. Eu só queria que aquele dia fosse uma folga, que eu não tinha.

- Olívia? - Alice chamou minha atenção, fazendo com que eu erguesse o olhar pra ela. Os olhos castanhos de Alice pareciam confusos. - Você ouviu o que ele disse?

- O quê? - perguntei, perdida. Até Valerie se virou para me olhar.

- Atividade para amanhã. Ele acha que nós não temos o que fazer - Audrey revirou os olhos ao explicar.

- Nós vamos trabalhar - protestei, incrédula. - Ele não pode fazer isso!

- Ele já fez - Alice soltou o ar, aborrecida.

- Nós damos conta - Valerie deu de ombros, despreocupada. Ergui as sobrancelhas.

- Nós não, Valerie. Você fará sozinha já que escolheu morar com seu namorado. Nós três teremos que nos virar - Audrey rebateu, já pegando suas coisas e se levantando quando o sinal tocou. Eu e Alice nos entreolhamos antes de fazer o mesmo e segui-la. Vi, pelo canto de olho, Adam me medir antes que eu saísse da sala. Os olhares dele estavam cada dia mais explícitos. Aquilo podia ser perigoso.

Tentei não pensar naquilo enquanto andava pelo corredor com Alice ao meu lado, mas parei de andar ao perceber que minha bolsa estava aberta e sabia que faltava algo.

- Eu esqueci algo na sala - murmurei. Alice voltou-se para mim e Valerie passou por nós. Audrey estava impaciente na porta nos esperando. - Não demoro. Vá controlando Audrey, para que ela não arrume mais problemas com nosso professor de Farmacologia e diretor da universidade

Alice concordou, rindo, enquanto eu dava meia volta. O corredor estava quase vazio e não havia mais ninguém na sala de aula quando retornei, à não ser pelo professor. Puxei o ar e entrei, indo até minha mesa. Meu estojo não estava lá. Franzi a testa, procurando pela bolsa.

- Procurando por isso, srta. Wright? - A voz de Adam me assustou, fazendo-me arfar. Levei à mão ao peito enquanto me virava. Ele estava caminhando até mim com meu estojo de pano mole nas mãos.

- Sim, professor. Eu esqueci - Tentei usar o tom de voz mais normal possível. Mesmo não admitindo, os olhares me afetavam. E a voz dele também.

- Aqui está - Adam entregou-me o estojo. Peguei rapidamente, evitando o contato.

- Muito obrigada - Agradeci, enquanto guardava na bolsa e virei-me para sair da sala.

Fiquei completamente surpresa ao perceber que ele me seguida para o estacionamento. Porra! O que ele estava pensando? Por que estava me seguindo?

Saí da universidade o mais rápido possível e fui na direção do carro, onde as meninas já me esperavam dentro, no conforto do ar condicionado. Abri a porta de trás ao chegar perto, porque eu sabia que Audrey tinha aproveitado para ir na frente com Alice.

- Srta. Wright, espere - Adam pediu, fazendo com que eu parasse de andar. Me virei devagar, cruzando os braços.

- Algum problema, professor? - Inqueri, erguendo uma sobrancelha. Adam riu, aproximando-se devagar. Passando por mim, ele fechou a porta do meu carro. Naquele momento, eu travei.

- Talvez - Respondeu, já perto de mim. A proximidade me causou um sobressalto estranho. Medindo-me, ele parou na minha frente. Nos encaramos. Ergui as sobrancelhas, esperando pelo que quer que ele fosse fazer.

O momento pareceu passar muito devagar. E, quanto mais Adam se aproximava, mais devagar parecia passar. Eu deveria sair dali, dar um passo ou sair do alcance dele. Mas simplesmente não consegui.

Eu fiquei paralisada enquanto Adam se aproximava e seus lábios encostaram nos meus. Minha respiração acelerou e meus braços se descruzaram; Os braços dele me envolveram pela cintura, puxando-me para ele.

O beijo não foi calmo ou rápido. Foi lento, intenso e demorado. Até eu me tocar de que aquilo estava errado. De que eu estava errada. Aquilo não estava certo. Não deveria estar acontecendo.

Abri os olhos, no susto, e empurrei Adam. Ele parecia confuso. Sua boca estava vermelha e a respiração tão acelerada quanto a minha. Respirei fundo. Eu deveria dar um tapa nele, mas não podia.

- O que pensa que está fazendo? - Berrei, irada.

- Eu quero você, Olívia. - Adam respondeu, simplesmente. Engoli em seco.

- Eu tenho namorado. Você não pode me beijar! - Me exaltei. Quem ele pensava que era?

- Gostaria de dizer que sinto muito por isso, mas não sinto. Aliás, sinto. Sinto por você namorar.

- Pelo amor de Deus! Para de falar bobagem. - Revirei os olhos e eu cruzei os braços, como uma defesa.

- Eu não vou desistir, Olívia. Pode ter certeza.

Encarei meu professor. Adam era determinado, não iria desistir. E, de alguma forma, aquilo não me incomodava. E o fato de não me incomodar, me deixou incomodada. Porque, por mais que não quisesse e odiasse admitir, gostei daquele beijo.

            
            

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