Fui descendo as escadas do salão principal, onde David, me esperava longo no final. Ao chegar, no fim da escada, fui surpreendida com David, logo ao meu lado, aproximando seu nariz perto da linha do meu pescoço.
– Você está muito cheirosa. – Ele disse, com aquela voz rouca que, me deixava intrigada todas as vezes e que me fazia arrepiar. – E muito linda.
– Obrigada. – Falo, tentando sair o quanto antes de perto de dele que, acabou por segurar minha cintura e aproximar sua boca da minha orelha.
– Devagar. – Mais uma vez, aquela voz irritantemente atraente. Ele acabou por me conduzir ao carro, me deixando boquiaberta ao fazer a gentileza, de abrir a porta do mesmo.
Realmente, David não estava batendo bem da cabeça.
Ao entrar no carro, garanti de ficar o mais longe possível – o que era difícil com aquele enorme vestido – dele.
Chegando ao local do baile, fiquei chocada com o tamanho da mansão. Vários carros importados estavam chegando e a bela mansão clássica, estava brilhando com as luzes que se sobressaíam de noite.
David, me conduziu até a entrada, fazendo com que eu estranhasse mais ainda.
– Aqui que seus pais moram?
– Você não viu nada. – Falou, o homem educado.
Estava de boca aberta. Não conseguia tirar meus olhos da entrada espetacularmente linda; até que, ao fundo, vi uma mulher um pouco mais velha que David, se aproximando.
– Lá vamos nós. – Escuto, David ao meu lado. Ele estava revirando os olhos
Enfim, aquela bela mulher de longos cabelos pretos e olhos azuis, com um corpo escultural, estava nos fitando e vindo em nossa direção:
– Cadê, Katherine. – A primeira coisa, que saiu da boca da bela mulher foi, nada menos, que uma pergunta/afirmação altamente perigosa.
– Ela nunca gostou de festas. – David foi direto, não querendo enrolar mais. – Bom, mãe lhe apresento minha noiva, Elisa.
É claro que ela era mãe dele, os dois se pareciam muito, mesmo assim, fiquei surpresa. A mulher me olhou dos pés à cabeça, logo abrindo um lindo sorriso.
– Você é linda, Elisa. Venha, precisa conhecer o irmão de David. – Achei estranho o fato de que ela já estava me puxando pela mão, mas acho que era costume. E achava que, David não era muito bom no requisito: destinado a irmãos, pois, pelo que eu observava de suas expressões, não gostava muito deste.
– Ah, quase esqueci de me apresentar, me chamo Sharon e é um prazer lhe conhecer. – A linda mulher, que agora sabia o nome, me guiou entre a multidão de olhos curiosos até chegarmos a um canto do belo salão; David não estava confortável e isso dava para ver em seus olhos.
– Daniel? – Sharon chama por um homem que está de costas para nós; ele se vira, então me deparo com mais um homem incrivelmente bonito.
– Oh! Vocês chegaram! – Impressionantemente, Daniel estava muito contente em nos ver, dando um abraço tanto em mim quanto em David, que relutou um pouco.
– Olá irmão. – Parecia mesmo que, David não estava muito confortável com aquela situação.
– Hora, Dominic, nem parece estar feliz em me ver. – O, agora irmão de David, abre um sorriso totalmente encantador e simpático, me deixando um pouco desconcertada.
– Hora, Tristan, quando foi a última vez que me viu feliz? – De repente, o sorriso encantador desapareceu e no lugar veio uma expressão envergonhada.
Um silêncio mortal paira no ar, as palavras que saíram da boca de David, pareciam ter um significado mais oculto. Finalmente, Sharon quebra aquele silêncio sombrio.
– Esses meninos, sempre relembrando seus nomes de 5 séculos atrás. –Sharon ri, mudando um pouco aquele clima horrível.
– É bom relembrar as coisas de vez em quando, mas eu vou... pegar uma taça, enquanto a mãe lhe apresenta os convidados. Foi bom te conhecer, Elisa. – Tristan, que agora se chama Daniel, tinha se virado e ido embora com um semblante triste, o que me deixou com vontade de correr atrás dele para perguntar o que estava acontecendo e consolá-lo.
– Elisa, me desculpa pelos meus filhos. Eles são que nem gato e rato. Agora vamos. – Sharon diz, segurando minha mão, enquanto David revira os olhos, parecendo uma criança birrenta.
– Acho que vão ter que ir sem mim, vou ter que ir ao jardim ver se... enfim, coisas. – A desculpa de David, não colou nem um pouco, mas dava para ver que ele precisava ficar sozinho, então nem eu e nem Sharon, argumentamos. David foi embora com um semblante triste.
Algo estava errado, e isto estava nítido. Talvez, conversando mais com a mãe de David, eu poderia entender melhor a situação. Afinal, ela era legal. Diferente de certas pessoas.
Uma hora depois...
Sharon, me apresentou para todos que estavam presentes na festa; mais de 50 pares de olhos curiosos, tentando me decifrar. Não sei o porquê, mas David foi o único que leu minha mente, até agora, ou pelo menos, o único que eu descobri.
– Está gostando de sua família, Elisa? – Sharon pareceria animada, creio que ela não foi obrigada a se casar com um vampiro, igual eu.
– Sim...? – Não queria demonstrar minha tristeza, mas já era tarde e ela acabou percebendo e, abriu um sorriso compreensivo.
– Sabe, eu também morei em um orfanato. – Minha cabeça estava abaixada, mas quando ela disse aquilo, um certo interesse despertou em mim. – Eu fugi aos 15 e, fui abordada de surpresa por 5 homens nojentos, que me estupraram, um por um, no mesmo dia. Foi quando eu percebi que lá fora, é um lugar mal e que eu era frágil. Mas depois que conheci meu marido, que me levou para sua casa e se casou comigo, eu finalmente descobri o que é estar viva. Agora eu sou tão forte psicologicamente e fisicamente, quanto sempre desejei. Então, pense que, o lance do casamento é a menor das suas preocupações.
– Eu realmente, sinto muito. – Fiquei muito arrependida de ter pensado que para ela foi fácil. Mas, se Sharon foi adotada também, então por que David está mentindo para ela?
– Você não sabia, não tem o que se preocupar. Mas por favor, guarde este segredo que nossa família esconde. – Agora eu tinha ficado confusa pelo fato de que, que segredo era esse?
– Desculpa, mas acho que não sei do que está falando.
– Bom, as regras para os vampiros puros, é que se apaixonem para gerar um descendente forte. Só que, a verdade, é que ninguém daqui liga mais para paixão. Então, por mais que ninguém admita, todas as mulheres aqui foram adotadas ou compradas de algum lugar.
– Mas se você sabe disso, por que David, não sabe?
– Tínhamos esperança de que, com ele fosse diferente. Eu pensei pelo menos... e na verdade foi, mas depois, acabou dando errado.
– Sharon abaixa sua cabeça e vejo uma lágrima escorrendo pela a ponta de seu nariz, até cair aos seus pés.
– Sharon, fique tranquila. Eu cuidarei bem dele. – Não sei o porquê de ter dito aquilo, sendo que David pretendia se livrar de mim depois do casamento, mas mesmo assim, queria dar um pouco de esperança para Sharon (a mãe que, David não merecia). Acabo abrindo meus braços e abraçando ela, que se surpreende, mas permanece no abraço.
– Obrigada...
Horas de conversa com Sharon depois...
– Bom, acho que, David deve ter tomado chá de sumiço. – Sharon diz, olhando ao redor. – E, parece que, Daniel também.
– Vou encontrá-los. – Digo, na esperança de que, Sharon fique um pouco mais animada.
– Obrigada novamente, Elisa.
– Bom, vou procurá-los.
– Vai lá. – Sharon, aperta minha mão e eu saio a procura dos meninos.
Achei melhor ir ao jardim primeiro, para procurar David, mas surpreendentemente, quem estava lá, era Daniel. Deveria me aproximar? Bom, agora já tinha feito minha promessa a Sharon.
Eu, antes de chegar perto dele, relembrei o que Sebastian (o provável faz tudo da mansão) disse na biblioteca, acho que o medo era um pouco parte de mim em relação ao David, desde então.
– Daniel? – O chamo, ele parece estar distante em seus pensamentos, enquanto olha o belo céu, que está bem iluminado pelas estrelas. Então, ele se vira para mim e dá um sorriso meio desajeitado.
– Elisa, o que faz aqui fora?
– Eu vim lhe ver, queria saber se estava tudo bem. Depois que, você e David, conversaram, achei que os dois se sentiram mal.
– Não se preocupe, eu estou bem. Mas acho melhor você ir ver David, ele está em algum lugar pela casa com pensamentos sombrios. – Daniel estava preocupado, era nítido. Acabei por confiar em suas palavras e fui direto para o hall perguntando para todos os convidados onde estava David, mas sem respostas.
– Onde um vampiro, safado e depressivo, poderia estar? – Me pergunto tentando pensar em como encontrá-lo.
Meus olhos passavam por cada canto do imenso salão, e nenhum sinal de, David. No bar, perguntei para todos, inclusive para o barman, se aquela desgraça tinha passado por lá e, nada.
Suspiro, tentando conter a vontade de dar um grito de ansiedade e preocupação. Afinal, o que o deixou tão para baixo?
Os únicos cômodos, em que eu não o havia procurado, eram os de cima e, não estava com nem um pouco, de vontade de subir, me dava calafrios imaginar David e eu, sozinhos em um quarto escuro. Se bem que não seria nada mal. Pera ai! O que estou pensando? Credo.
Meus passos até as escadas, são os mais lentos possíveis, pensei em desistir umas mil e uma vezes, mas sempre me lembrava, que prometi a Sharon que cuidaria do "bebezão" dela.
Ao chegar no andar de cima, me surpreendo com a bela vista vindo de baixo, o salão. Realmente, a mansão era linda. Mas eu deveria me concentrar no que vim fazer. Entrei no primeiro corredor que vi, era enorme e escuro. Jura? Nunca tenho paz não?
– David? – O chamo, mas sem respostas. Então viro à direita e, do nada, sinto algo me pegando pela cintura e encostando seu peito em minhas costas. Aterrorizada, fico paralisada.
– Elisa? – A voz soa familiar e logo a reconheço. Era David. Logo me viro e, me deparo com a sombra de seu rosto na plena escuridão.
– Onde você estava? – Pergunto, querendo respostas o mais rápido possível para me livrar daquele abraço, que deixava meu coração disparado.
– Isso não importa. Mas, Elisa? - ele pergunta em um tom choroso.
– O que?
– Promete que não vai me deixar? – A pergunta, me pega de surpresa. Simplesmente, não sabia o que fazer. Mas ao lembrar da minha promessa para a mãe de David e, que não adiantaria muita coisa, olho bem em seus olhos.
– Prometo.
Eu nunca esperaria um momento como aquele. Os braços dele em volta de mim, me cobrindo como um manto. Me senti envergonhada no começo. Não sabia o que fazer ou o que dizer, além de prometer não me afastar.
– Você não vai ficar sozinho. Eu prometo. – Digo, o abraço ainda mais forte.
– De verdade? – Naquele momento, David parecia uma criança carente, era tão fofo que deixei escapar uma risadinha.
– De verdade. Afinal, parece que vamos ter um bommmm tempo juntos. – Digo sorrindo, tentando descontrair. Mas seu rosto fica sério e aparece tristeza em seus olhos.
– Acho melhor voltarmos. – Ele não disse mais nada. Tirou seus braços de minha cintura e então foi indo em direção a escadaria.
Não sei o que se passa na cabeça dele. O que é muito injusto, porque ele sabe o que se passa na minha. Acabei não fazendo mais perguntas, porque eu mesma sabia que iria ficar em um loop eterno.
Ao descer, vi Sharon conversando com algumas pessoas no meio do salão. Era como se ela chamasse a atenção de todos, apenas com um sorriso. David tem para quem puxar. Penso comigo mesma.
Não sabia se, me aproximava ou, se ia direto encher a cara depois da conversa louca com, David. Quase vou pela segunda opção, quando Sharon me vê, e vem em minha direção com todo o seu glamour.
– Você está pálida. Está tudo bem, querida? – Sharon diz, com uma feição preocupada. Eu fico vermelha. Não sabia como dizer o que aconteceu.
– Eu encontrei o David. Ele está bem. Eu só estou assim, porque não estou me sentindo muito bem. – Digo, tentando achar desculpas para as próximas perguntas. Sharon me olha e abre um sorriso.
– Que bom que o encontrou. Eu entendo o porquê de não estar sentindo bem. Tem muita gente aqui, é sufocante. Vá tomar um ar que, eu cuido dos olhares curiosos. – Sharon pisca para mim e vai em direção a outro grupo de pessoas. Dou um suspiro. Essa foi por pouco. Pensei. No fim, decidi tomar um ar, era preciso respirar um pouco.
Fui em direção ao jardim. Não era nada fácil estar aqui, com esse vestido sufocante e me sentindo uma carne exposta no açougue. Respiro profundamente e olho ao redor.
– Está cansada? - Escuto aquela voz, que tanto já estou acostumada.
– Você muda de humor muito rápido, David. – Digo, e ele faz uma careta, depois concordando. Viro meu rosto, o encarando.
– Eu sou um pouco problemático. – Diz, abrindo um sorriso sincero.
– Um pouco? – Digo, o olhando com cara de deboche.
– Valeu, sempre soube que você me amava. – Ele fala, e eu solto uma risada. O clima estava tão leve, essa era a primeira vez que isso acontecia.
– Você deveria me agradecer, fiquei preocupada...
– Comigo? – Merda. David parecia surpreso, quando perguntou.
– Um pouco. Tudo, por causa, que você não para quieto. – Ele ri, me encara. Acabo sorrindo, sem perceber.
– Estava apenas, tentando não perder o controle. – Diz, olhando para o céu, para não ter que me encarar.
– Por quê? – Digo, confusa.
– Porque, se eu fico muito tempo ao seu lado... – Me encara, e se aproxima um pouco. – Acabo não aguentando. Você é muito chata.
Ele ri da minha cara de surpresa. Apenas o fuzilo com o olhar.
Queria que aquele momento durasse, mas logo ouvi um grito vindo de dentro da casa, e me apressei junto a David, para saber o que havia acontecido.
Ao chegar, uma roda de pessoas estava me impedindo de ter uma visão, mas logo escutei, algo ou alguém, se lamentando e gritando como se o mundo fosse acabar.
Quando finalmente consegui abrir o espaço e olhar, as minhas pernas congelaram e o meu suor gelou. Era Sharon, ela estava caída nos braços de quem, eu acho que deveria ser o pai de David. Ela estava toda ensanguentada e parecia que havia morrido, mas vampiros não morrem, não é?
– Mãe! – David diz, indo na direção do corpo de Sharon.
Aquilo tudo parecia estar em câmera lenta, era como se não fosse verdade. Então vi Daniel vindo na direção dos três e, então minha ficha caiu. A noite ia ser longa.
Eu olhava todos ao redor, preocupados e não sabendo o que fazer. Estava estática. Aquela linda mulher, que havia me recebido de braços abertos e com um lindo sorriso, estava no chão como se realmente estivesse morta.
À passos lentos. vou me aproximando do corpo. A bainha do meu vestido esbarra no sangue no chão, mas não me importo. Me ajoelho e fixo meu olhar, nas incrivelmente azuis, íris de Sharon. Ela me olhava. Mas parecia não estar presente.
– Elisa. – Escuto o meu nome sendo pronunciado por Daniel, ele toca meu ombro, me fazendo tirar os olhos de Sharon. – Você não tem que ficar aqui se não quiser. – A calma dele me impressionava. Como eu não ficaria ali? Como a deixaria?
– Não, obrigada. – Falo tirando sua mão bruscamente, o que faz com que ele demonstre uma feição triste, o que fez me arrepender um pouco de minha ação imprevisível.
– O que fazemos, pai? – David diz, segurando a mão de Sharon e se dirigindo para o homem a minha frente.
– Oremos. – Eu nunca pensei ouvir aquela frase saindo da boca de um vampiro. Achei que eles não acreditavam em divindades superior a eles. Mas não. Lá estava o marido dela, fechando os olhos e sussurrando palavras sagradas.
...
Alguns minutos se passaram. O que na realidade, pareciam horas. Sharon estava ferida e foi levada ao quarto. Perdida entre o turbilhão de pessoas agitadas passando, encontrei um olhar familiar. Nós nos encaramos e ele veio em minha direção, logo segurando meu pulso delicadamente e me levando consigo.
– O que está acontecendo? – As palavras saem lentamente de minha boca, como se eu estivesse as processando.
– Minha mãe, foi ferida por uma faca envenenada. – Ele diz suspirando. – Esse veneno que contém na faca, é muito raro e, quase ninguém, sabe extrai-lo sem matar a vítima. – Quanto mais ele falava, mais confusa eu ficava. Mas ela é uma vampira, e vampiros já estão mortos.
– Sim, minha mãe é vampira. – Ele começa, me deixando com raiva por ter lido mais uma vez, minha mente. Será que nem nessa hora, ele pode me deixar em paz? – Mas ela é uma transformada. Ela não é como nós descendentes da raça. Sharon, ainda guarda uma parte humana dentro de si. Seu coração ainda pulsa, apesar de nunca envelhecer. Só nós vampiros sabemos desse segredo. Guardamos ele há séculos, para nunca ser revelado, pois isso poderia ser o fim de nossa vida imortal.
– Então, se só vampiros conhecem esse segredo, então quer dizer que foi alguém daqui? – Digo, David está com olhar está sombrio.
– Sim, e eu vou descobrir quem foi. – David estava determinado e eu faria de tudo para ajudá-lo.
– Mas, tem cura? – Pergunto, tentando obter o máximo de informação possível.
– A menos que tenhamos um alquimista por perto, vamos ter que esperar. – Aquela palavra, "Alquimista", me parecia familiar. Era como se isso tivesse alguma ligação indireta comigo. Em um momento de loucura acabo soltando.
– Me deixe ver sua mãe. Agora. – David, vendo minha seriedade, assente e me leva ao quarto de sua mãe.
Ao chegar lá, estava tudo escuro e o tapete fedia a sangue. Olhei ao redor e, avistei uma cama posicionada no meio do quarto. Lá estava ela.
David me deixou sozinha um pouco. Coloquei a mão em sua testa, apesar de ser idiotice e, por incrível que pareça, estava muito quente, então peguei um pano molhado e coloquei em sua testa.
Estava no banheiro lavando as mãos ensanguentadas, quando senti um cutucão nas costas, me viro e vejo o corpo de Sharon, na cama. Mas se ela está deitada, quem fez isso?
Me sentei ao lado de Sharon. Ela estava dormindo, talvez em coma. Um cheiro ardente saia de sua pele enchendo minhas narinas. É o veneno. Logo penso. Vou de encontro ao lugar, onde o cheiro está mais intenso, e para minha surpresa, eu conhecia aquele veneno e, não era difícil de curar.
Era como se, eu já tivesse lidado com esse veneno antes. Fiquei insegura se fazia ou não, porque se caso desse errado, seria o meu fim e o dela. Mas eu tinha uma vida em mãos... bem, quase vida.
- Eu já volto. Você vai melhorar, eu prometo. – Digo, abrindo um sorriso e indo correndo pelo corredor a fora. O fato de estarem todos distraídos era bom, eu poderia pegar o que precisava.
Fui entrando nos cômodos, até achar a cozinha. Uau! Ela era enorme! Mas o foco não é esse, Elisa!
Fui à procura de sal, ervas daninhas, canela e algo que estava na hortinha que, eu tinha quase certeza que era o que eu precisava.
Ao voltar a passos sutis, entro no quarto e ligo a luz rapidamente. Sharon, apenas se contorce de dor e se mexe um pouco. Vou em sua direção e a cubro com os "ingredientes". Era como se estivesse fazendo uma salada, mas não era exatamente isso.
Senti como se estivesse sendo guiada, por uma força maior. Eu dizia palavras sagradas, que pareciam ser em arcaico. Eu tinha fé. Muita fé. Aquilo a curaria. Sentia sua pele fria em meus dedos, era como um cadáver.
Foi quando fui pegar a água que, uma mão me surpreendeu. Era Sharon, ela havia acordado.
– Obrigada. – Ela disse, com dificuldade.
Estava quase falando, quando fui interrompida por nada menos, nada mais, que David:
– O que você está fazendo?!
Ficou um clima tenso pois, David havia chegado em um momento um pouco, digamos, ruim.
– Eu estou, de algum jeito, à ajudando. – Digo, chegando mais perto de, Sharon.
– Você está fazendo salada da minha mãe! O que pensa que tá fazendo?! - Ele diz desesperado. Suspiro. Até quando o assunto é sério, ele faz ficar estúpido.
– Ela vai me ajudar, filho. - De repente, sinto uma mão agarrando meu braço. Era Sharon usando a pouca força que tinha, para me proteger.
Eu começo a ficar nervosa. Parecia que antes estava em modo automático. Como se não fosse eu a estar ali. Ao sentir a minha pele pálida e o chão se aproximando, tudo ficou escuro e então as trevas dominaram tudo.
...
*Sonho:
Acordei, minha respiração estava pesada. Olhava em volta e não reconhecia o lugar em que estava. Parecia ser a mansão de David, só um pouco mais... rústica?
Me levanto. Não sabia o que estava acontecendo. Olhei para meus pés, que estavam descalços, e fiquei surpresa ao ver que, usava uma camisola branca, que cobria meus braços e ia até a canela.
Fui então, ao banheiro. E me deparei com uma outra pessoa, no lugar de meu reflexo. Não era eu. Isso eu tinha certeza. Ela tinha olhos intensamente azuis. Seu cabelo estava desgranhento em um enorme nó preto. Tinha cara de cansada.
Saio do banheiro do quarto e, vou em direção a escada. Tudo parecia vazio, como se nenhuma alma ou qualquer coisa estivesse ali.
Ao tentar descer pelas escadas, minhas costas começaram a doer intensamente. Foi então, que olhei para baixo e vi um enorme volume em minha barriga. Levantei a camisola, devagar e suspirando, com medo do que fosse acontecer. Foi então que me toquei que estava grávida. Devia ser um sonho – Muito realista por sinal.
Já que, não conseguiria descer as escadas, me virei para ir de volta ao quarto, mas para minha surpresa, lá estava Katherine, me olhando com um sorriso maldoso que eu nunca imaginei que iria ver.
– Tic Tac... seu tempo acabou. – Eu a olho, tentando entender o que está acontecendo, mas não consigo falar. E então, quando finalmente consigo, sinto algo perfurando minha barriga e uma dor incontrolável.
Olho para baixo e vejo sangue, muito sangue saindo de mim. E então, em choque, olho para Katherine.
Quando penso que ali seria meu fim, sou surpreendida, pelos braços de Katherine, que me lançam para fora do parapeito da escada.
Me sinto caindo em câmera lenta, então, a última coisa que vejo, é o olhar de Katherine, ao chegar perto do meu quarto ensanguentado, que está caído, morto no chão.
....
Era como se, eu estivesse em um lugar escuro e apagado da minha mente. Parecia que, aquilo que presenciei, era real, mas era só fruto da minha cabeça, não é? Não pode ser real. Ainda mais que, Katherine nunca faria uma coisa dessas.
– Elisa? – Ao fundo, escuto uma voz distante, tentando me puxar para a realidade. A voz repete e repete o meu nome várias vezes, até que levanto ofegante.
– O que está... – Olho ao redor, minha visão falha um pouco. No meu campo de visão, havia um céu escuro e cheio de estrelas. Sentia algo pinicar em minhas costas. Era a grama. Ao olhar para o lado, vejo a silhueta masculina de David, me encarando preocupado.
– Finalmente! Te chamei umas mil vezes. Achei que estava morta! – Ele me olha, com uma expressão séria.
– Como eu vim parar aqui? Cadê a Sharon? O que está acontecendo? – Me levanto em um impulso, me fazendo ficar tonta.
– A gente estava conversando, e aí você ficou pálida e caiu no chão desmaiada. - Ele fala, com convicção, me fazendo ficar ainda mais confusa. - E por que está perguntando pela minha mãe?
– Eu... Eu não me lembro o porquê. – Digo, era como se, as coisas que eu tinha presenciado, estivessem sendo apagadas da minha cabeça como borracha, para que David não lesse minha mente. Mas seria muita coincidência, né?
– Vou te levar lá para cima. Você deve ter bebido muito álcool, para alguém que não bebia nada. – Ele diz, segurando levemente minha mão.
Esse não era o motivo do desmaio. Não era mesmo. Eu só havia bebido uma taça de champanhe e nem foi inteira.
Suspirei. Eu acabei me dando por vencida. Ia ficar quieta um pouco. Tudo o que vi parecia muito real e louco. Só queria me deitar e ficar em silêncio.
Não fiquei preocupada em subir com David. Ele estava ali para me ajudar, dava para ver em seus olhos, o quanto ele estava preocupado. Eu achei fofo. Nunca pensei que ele sentiria isso por mim.
Estávamos novamente lá. Onde ele me abraçou pedindo para que não o deixasse. Ao lembrar disso, dei um pequeno risinho e olhei para David, que para minha surpresa, estava vermelho.
– Às vezes, eu ficava acordada a noite inteira no orfanato. Escutava a respiração das outras meninas, aquilo me acalmava. Saber que tem vidas ao seu lado. Pessoas que você compartilhou um laço, sabe? – Admito. David apenas nega, mas vejo em algum lugar de seu olhar, que ele sabe o que sinto.
– A solidão é algo normal no cotidiano de um vampiro. Pessoas nos temem, mulheres se aproximam por interesse, e nossas esposas nos odeiam. – Ele olha para mim de um jeito triste.
– Eu prometi que não te deixaria, lembra? – Digo. Seus olhos azuis me encararam com intensidade.
Ele abre um sorriso e aproxima seu rosto do meu. Sentia sua respiração na minha, e sua boca na linha de meus lábios, quase os encostando. David era hipnotizante. Então, começou a chegar mais perto, e em um movimento incalculado, eu fechei meus olhos. Esperei e o beijo não veio. Fiquei decepcionada, até sentir um leve beijo em minha testa, em seguida, um abraço. Era reconfortante. Então, ele me levou até a porta de um quarto, e pediu para que eu entrasse e descansasse, então virou e se foi.
Era esquisito, vendo-o sair assim. David não era o mesmo, nesse baile, ele parecia... sei lá, um lorde? Talvez ele tenha tomado vergonha na cara.
– Eu preciso lavar meu rosto. – Digo, indo na direção ao corredor tentando achar um banheiro.
Ao adentrar pelos corredores, não conseguia decifrar qual deles era o banheiro. Entrei no primeiro quarto virando a esquerda; porque sabia que lá havia um banheiro – como todas as outras suítes.
Ao entrar no quarto, percebi um cheiro estranho, parecia ser de alguma coisa queimada. Não sabia explicar.
O quarto todo estava uma bagunça: livros no chão, lençóis rasgados, muita poeira e o que me surpreendeu, tinha um quadro de uma mulher, que era identifica aquela de meu sonho, a mesma que eu vi no espelho.
Os mesmos cabelos pretos, só que, só arrumados, os olhos azuis pareciam infelizes e sua pele pálida, como antes.
– A gente sente falta dos detalhes. – De repente, escuto uma voz feminina atrás de mim. Fico estática. - Do vento batendo no rosto, o Sol refletindo em nossa pele, a água refrescando nosso rosto. – Sentia que a voz chegava mais perto a cada momento. – Não tenha medo, eu estou aqui para contar a verdade. – Podia sentir a voz em minhas costas.
Eu devo me virar e enfrentar meus medos. Então me virei devagar.
– Quem é você? – Encarei a voz.
– Digamos que, agora sou sua mentora. Você vem de uma linhagem quase extinta, Elisa. – Ela diz, e se vira, indo em direção ao quadro da mulher. Era ela! – Eu já estive aqui, como pode ver. Já fui muito importante, mas fui esquecida pelo tempo. Mas pelo menos, algo sobreviveu de dentro de mim. Acho que você viu no sonho. – Ela me encarava com seus olhos acinzentados. Ela se referia ao sonho. Foi então que eu me toquei.
De repente, senti que aquela mulher, era extremamente familiar. Eu sabia minha próxima pergunta:
– Você é minha mãe? – Ela apenas assente.
...
Levantei-me da cama. Espere, quando que eu dormi? Estava me sentindo extremamente bem. Que estranho. Pensei, afinal, acabei de me de parar com uma figura misteriosa, que diz ser minha mãe. Falando nisso, ela havia sumido. Nenhum rastro sequer. Talvez eu estivesse tão cansada, que acabei delirando. Deve ser isso.
Sentia que algo não estava certo comigo, me olhei no espelho e percebi que estava um pouco pálida - mais pálida do que devia.
Olhei ao redor, resolvi sair daquele quarto e ir para um em que eu não visse alucinações. Mas infelizmente, não adiantou muito, já que enquanto estava andando, do nada, bato com a minha cabeça na parede. Aí! Soltei. Já havia desmaiado duas vezes e essa foi quase a terceira. Perfeito.
Eu jurava que estava na porta do quarto, quando essa parede apareceu?
Foi então, que acabei por decidir, entrar no primeiro quarto que vi. Me deitei na cama e esperei o cansaço me dominar. Nada. Virei para o lado. Nada. Virei para o outro lado. Ainda nada. Mais que merda! Acho que os desmaios foram suficientes para me deixar sem sono.
– Elisa? – Escutei a voz familiar de David, me chamando.
– Estou aqui! – Gritei, já me levantando e esperando a porta abrir. David entra, mais esquisito que o normal.
– Como se sente? – Aquela pergunta, foi dita de uma forma bem preocupada, o que fez, com que ficasse estranho o ambiente. Ao perceber isso, ele tentou dar uma concertada. – Quer dizer, é claro que você está bem. Só está um pouco pálida. Mas está tudo bem, não tá tanto assim não. – Ele disse, com um semblante nervoso.
– Eu notei uma coisa meio estranha, depois que eu acordei, quer dizer, quando me olhei no espelho. – Parecia que toda palavra que saía da minha boca, ele acompanhava concentradamente. – Meu cabelo, ele está mais pálido também. Acho que tomei algo que não me fez bem.
– Por que não descemos um pouco? – Vampiros suam? Porque acho que ele estava suando naquele exato momento. Assenti, e o segui pelas escadas.
Ao entrar no salão, não havia mais quase ninguém. Uma única pessoa familiar que vi, foi Daniel. Ele estava com uma cara estranha, a mesma que o irmão, David acabou pegando na minha mão e me levando até onde o outro estava.
– Precisamos sair agora, antes que percebam que sumimos. – Diz David a Daniel, que assenti e pega na minha outra mão. Sem entender nada, apenas me deixo levar.
Acabamos por percorrer a cozinha, que dava para uma saída ao estacionamento. Os dois estavam apressados, então me fizeram andar a passos rápidos. Todos nós entramos no carro que, presumi que fosse de Daniel e, começamos a sair da casa.
– Nós dois, estamos muito ferrados. – Diz Daniel, colocando a mão na testa.
– Não me diga, vidente. – David dirigia, e isso me deixou meio insegura, porque estava indo rápido demais, para uma simples volta para a casa.
– Alguém pode me explicar, o que está acontecendo aqui? – Parecia que, era a primeira vez que eles tinham notado a minha presença. Sinceramente...
David, me olha:
– Vamos voltar para casa e lá eu te conto. – E ficou por isso.
...
Ao chegar, fomos logo para a sala principal onde, Kate estava nos esperando.
–Vocês voltaram cedo.
– Pois é, pois é. – David estava totalmente impaciente (novidade).
– E por que, Daniel veio junto? – Kate pergunta confusa. Ela abraça o irmão.
– Não é hora para perguntas. Vamos para o escritório. Tenho que ter uma conversa séria com vocês. Inclusive, – ele dá uma pausa dramática. – Acho que vou precisar de álcool. Muito álcool.
Não me surpreendia, David querer beber do nada. Mas o fato, dele querer falar sério com a conosco, a ponto de nos tirar do baile para vir para cá, parecia algo no mínimo preocupante. As vezes não, mas geralmente é.
Fomos para o escritório. Kate estava confusa, tanto quanto eu. Não sabia como me portar, se sentava ou ficava de pé, ou andava de um lado para o outro ou ficava quieta.
– Acho que você já pode explicar. – Kate toma a frente, e eu a agradeço mentalmente.
– Muito bem. – Ele começa. Até agora, Daniel não havia dito uma palavra se quer, desde que chegou aqui. – Aconteceu algo que, provavelmente, vai fazer Elisa surtar.
Ele já começado muito mal, porque antes mesmo dele falar, eu já estava hiperventilando. David vendo a minha preocupação, tentou me acalmar:
– Calma, vamos respirar. Preciso que você me escute com muita atenção e por favor não me bata, porque a partir de agora, vai doer para um caralho. – O final da frase foi muito estranho, o que me deixou mais confusa do que eu já estava.
– Eu não sei como começar. Mas eu vou tentar explicar de uma maneira direta. – David estava debruçado na mesa, enquanto gesticulava.
Era possível, um vampiro nobre, hiperventilar? Porque parecia.
– A Elisa foi envenena, ela bebeu algo enquanto estava comigo e simplesmente...– Ele pausa.
Nesse momento, eu nem respirava mais. Na verdade, parecia que estava sem respiração há um tempo. David, estava sendo direto demais, não conseguia tomar tempo de digerir e conseguir lidar com a bomba que estava por vir.
– Ela caiu no chão, e eu achei que havia morrido. – Como assim "havia"?
– Você não fez isso... fez? – Kate interrompe, encarando seu irmão, totalmente branca (se era possível ficar mais do que já era).
– Como assim gente? O que está acontecendo? – Estava cansada de dar voltas e voltas.
– Eu achei que houvesse te perdido, Elisa. E eu posso ter me equivocado ou não. E agora é tarde demais. – Ele diz, e eu fico confusa por um momento.
– Mas o que...– Foi então, que me toquei. – David, como você pôde?!
*Bônus David:
Eu não merecia estar ali abraçado com ela. Foi ali que percebi, o quão ruim fui com ela. Não devia tê-la forçado, mas não posso abandoná-la, pois agora só o que ela tem sou eu.
Depois do abraço, eu resolvi sumir. Espairecer. Parecia que algo havia mudado. Um sentimento estava crescendo ali, ou melhor, dois: a culpa e algo mais, que eu não sabia descrever.
Sabia que os últimos dias, tinham sido horríveis para ela. Eu não pensei em ninguém, além de mim mesmo.
Agora, sabia que faria de tudo para melhorar seus dias perto de mim. Por mais doloroso, não podia mais afastá-la disso, agora era tarde.
Quando ela desmaiou em minha frente, eu me desesperei, não sabia o que fazer. Achei que estava morta, então eu a mordi. Não suportaria, não ter mais sua companhia.
E realmente eu estava certo, ela havia parado de respirar, como se alguém a tivesse envenenado. Agora não havia mais volta. Ela ainda não percebeu, no que está se transformando, e eu não sei como contar à ela.
Quando eu vi que, não se sentia bem depois de ter desmaiado, a levei para cima. Queria ter ficado com ela e tê-la protegido. Mas ela precisava descobrir isso sozinha, ou eu iria piorar a situação. Agora já é tarde para ela. Eu à salvei, mas infelizmente também à condenei.
Elisa, não estava nos meus planos, você ficar na minha vida para sempre...
...