- Seu pai esta aqui e nós vamos até ao
mercado, depois voltamos e estaremos todos juntos, eu, seu pai, sua tia Kucaia,
suas irmãs e os amigos.
- O papa e tia Kucaia não gostam de
mim.
- Gostam sim, eles só não sabem
demonstrar
- Mas eu...
- Também não podemos demorar muito, o
Lacaio também ira se juntar a nós! Temos que ter pronto antes dos amigos do
papa chegarem.
Kataleya pediu tanto a sua mãe para que fosse
com elas, mas Lussandra recusou deixando em casa. A pequena ficou no quintal da
casa, sentada na areia e começou a chorar, desenhando o rosto do seu pai na
areia. A pequena sabia desenhar como ninguém, como passava maior parte do tempo
sozinha acostumava-se com a solidão.
Sua mãe e suas irmãs não ligaram,
pensavam que ela apenas estivesse chorando por birra, ignorando o apelo da
pequena.
Marifa já havia saído com as suas
amigas da aldeia, mal brincava com a
Kataleya, na verdade sentia o mesmo desprezo que o seu pai sentia.
Horas depois, Lussandra e suas filhas
estavam a sair da feira de verduras que ficava um pouco distante de casa, se deparando
com uma chuva forte pelo caminho. As três apressaram os passos, para chegar a
casa o quanto antes.
- Vamos!
Temos de ser rápidas, senão ainda ficamos doentes com a chuva!-
Lussandra afirmou, segurando as sacolas.
- Não seria melhor adiar essa festa?-
Kilaila teimou.
- Já não vamos à tempo, o Lacaio e os
amigos do pai já devem ter chegado, estamos atrasadas. - Lussandra pegou a sua tanga
e cobriu as suas filhas, deixando-as de mãos livres e ela própria segurando as
sacolas.
- Vamos logo e ainda temos de preparar
algo para comer!
- Eles devem estar mais interessados
nas bebidas do que em comida, mãe...- Fánua riu-se enquanto corria da chuva ao
lado da kilaila.
Quanto mais cedo chegassem, menos atrasariam
para preparar as comidas, pois o Abelar não ajudava em nada. Era tipo de homem
que diziam que lugar da mulheres é nas panelas. Depois de tanta chuva e tanto
correrem, chegaram na aldeia, estando poucos metros da casa.
- Os amigos do pai, já chegaram!
Consigo ver pela janela!- Fánua apontou com o dedo.
Kilaila: - Mãe quem é aquela?- Kilaila
apontou o dedo, vendo uma menina de longe que por conta da chuva ela não
conseguia reconhecer.
Lussandra ainda de longe reconheceu-a:
- Kataleya, filha o que fazes fora de casa com essa chuva?
Kataleya estava andando em direção a sua mãe
,de forma tão penosa, parecia estar cansada e coxeava, que acabou caindo no
chão. Pressionou as mãos contra a areia e gritou chorando.
Sua mãe e suas irmãs se aproximaram.
Lussandra aflita passou a mão no rosto de
Kataleya, não quis acreditar quando viu a roupa da sua pequena rasgada e
sangue entre as suas pernas.
- Dói mama... Esta doendo- Kataleya chorava nos braços da sua mãe.
- o que ela tem mãe? - Kilaila não
entendeu o que havia acontecido.
-Esperem aqui, fiquem com a vossa irmã,
não entrem na casa. - Lussandra se levantou e correu até a casa, pegou num
machado que estava encostado num dos troncos no chão. Furiosa pôs se a correr e
foi até a casa, ao entrar ela viu o Lacaio e os amigos do seu pai na sala,
todos embriagados de tronco nu e ajeitando as suas calças. Viu o sangue da sua
filha junto com sêmen no chão. Enxergou a crueldade que fora feita na sua ausência.
- Minha filha... Voces magoaram a
minha pequena! Ela tem oito anos! - Lussandra
com um machado na mão, ameaçando-os, um deles quis se aproximar mas ela
cortou a mãos irada e fora de si, mas eles eram muitos, Eram oito contra uma
mulher. Contra uma mãe de cinquenta anos que estava fragil. Ela foi agredida em seguida por eles, de forma tão violenta, enquanto outro sem mãos fugia de casa. A Fánua ouvindo os
gritos da sua mãe, correu ate a casa e logo foi até ao quarto do seu pai.
Abelar desceu pegou em duas facas e desceu até a sala, ele apesar de estar
embriagado ainda tinha forças, foi quando os homens se retiraram. Lacaio teve a
ousadia de romper o casamento com a Marifa, afirmando que ele conseguia algo
melhor.
- Lussandra... - Abelar se aproxima da
sua esposa que estava machucada no chão.
A Lussandra se levantou, foi ao
encontra da Kilaila e da Kataleya,
regressou a casa com pequena no colo.
Abelar olhou para sua filha de forma penosa,
sentia-se culpado por não ter a protegido. Logo depois a Marifa, chega à casa,
vê a casa desarrumada e não entende o que aconteceu. Olha para os seu pai que
estava devotado pelo sucedido. So pelo
olhar dele, ela percebeu que algo de grave aconteceu.
- Onde estavas? Até está hora!- Abelar gritou.
- Com amigas, eu disse que... - Marifa
encarou-o supresa.
- Não chegaste de encontrares com o
Lacaio, pois não? de te deitar com aquele homem?
- Não papa, ele não estava aqui
contigo? Já decidiram quando e como será o meu casamento e o dote...
- Não havera dote.- Abelar afirmou.
- Mas porque? Eu...
- Lacaio cancelou o casamento, assim
como nós não fazemos questão de o ter como família.
- Não entendo, o que houve? - Marifa
implorou quase chorando.
- Lacaio estuprou a sua irmã.
- O que? Não, ele não faria isso!
- Ele o fez... Não tem casamento.
Marifa
deu passos para trás, não crendo e saiu correndo ate o seu quarto, se
deparando com as outras a Fánua e Kilaila.
- É verdade, o Lacaio...
As duas acenaram positivamente a
cabeça. Marifa se deitou na esteira, chorando em silencio por ter perdido o seu
noivo, por seu sonho se desfazer em fração de minutos e pelo horror que
aconteceu.
Lussandra caminhou pela casa, com a
pequena colo e ao passar do seu quarto viu a sua irmã deitada na sua cama. As
irmãs entre olharam-se, podia se enxergar uma mãe ferida e uma mulher
satisfeita. Lussandra poderia expulsá-la, mas ela tinha a filha que precisava
dela e foi a pequena quem ela deu prioridade. Levou-a ate o banheiro, ordenou
que a Fánua preparasse um balde agua morna, enquanto ela tirava os trapos de
pano que um dia foi um vestido da
Kataleya. Via o olhar triste da sua pequena, acompanhado de hematomas
espelhados pelo corpo tão pequeno.
- Dói mama... - Kataleya se encolheu quando foi tocada na pele,
pelas mãos suaves da sua mãe.
- Eu sei, eu sinto muito minha
pequena... Sinto muito.
Logo mais a Fánua entrou com o balde
de agua e deixou ao seu lado e logo se retirou, não suportando ver o estado da
sua irmã.
- Eu tenho que te dar banho, deixas-me?
- Dói - Kataleya estremeceu.
- Eu sei, mas precisas estar limpa!
Vou ter cuidado...Prometo. - Lussandra apelou vendo a dor da sua filha.
Kataleya acenou positivamente a cabeça,
aceitando que a ela fosse tocada mais uma vez, deixando que a agua passasse no corpo
de criança.
- Mama...
- Diz filha...
- Todas vocês fizeram isto que eu fiz?
- Kataleya olhou para a sua mãe. - As
minhas irmãs também fizeram o que eu fiz, elas sangraram muito... Doeu muito
como eu... Por que vocês não me falaram que um dia eu teria que fazer isso?
Lussandra soltou lagrimas, sem saber o
que responder. Como ela explicaria q a pequena que foi violentada e não tinha
que passar por isso. Como explicar que ela foi machucada.
- O que eu fiz? - Kataleya deixou cair
uma lagrima.
- Tu não fizeste nada filha...
-Então porque eles me machucaram? Aquilo
dói, eu não quero fazer mais!
Lussandra com dedo polegar calou-a,
não suportando a situação que a sua filha estava.
- Tu nunca mais vais passar por isso
de novo, nunca mais! Eu prometo!
- Eles disseram que foi assim que eu
nasci...
- O que eles fizeram contigo foi
maldade!
- Então se eles foram maus, eles vão
ser castigados? Aqui na aldeia quando uma pessoa é má, tem castigo.
Lussandra, ficou em silencio. Ela
sabia que nada fariam aos criminosos, pois no seu tempo o estupro sempre era a
culpa da mulher. Ela continuou dando banho a
Kataleya, tentando entretê-la com outros assuntos, apesar de saber que
não adiantaria de nada. Tentava apagar a crueldade da memoria da sua filha, que
fora estuprada e torturada com tamanha brutalidade. Nessa noite uma criança,
como muitas no mundo fora vitima de estupro e os criminosos ficou impunes.