Capítulo 10 O casal e o companheiro de laboratório

Perspectiva de Larissa

O dia acabou de começar e eu estava de saco cheio, não gostava dos alunos desta escola, na minha aula de História tudo o que recebi foram olhares e olhares de nojo. O que eu fiz para merecer o ódio de todos? Ela já entendia porque Sheila odiava estar naquele lugar, mas, naquele momento, ela entendia melhor sua dor, e nem tinha passado o dia inteiro. Porém, eu tinha que aguentar, Sheila era minha amiga e ela precisava de mim, além disso, ainda precisava terminar, pelo menos, o ensino médio.

Depois disso, fui para aula seguinte, Inglês, e mesmo assim não compartilhava com nenhum dos meus amigos; por que eu tinha um horário tão ruim e solitário? Revirando os olhos, entrei e conversei com o professor, então ele me disse que deveríamos trabalhar com o Hamlet e indicou onde eu deveria sentar, sorri e agradeci, antes de ir para o final da sala. Alguns alunos já estavam lá, uns conversando e outros em silêncio.

Não passou muito tempo e finalmente o sinal tocou, assim que mais estudantes entraram correndo e buscaram suas mesas, honestamente, não prestei atenção neles; não estava ali para fazer amizade com ninguém que tivesse magoado Sheila, e a grande maioria daqueles alunos, tinham feito. De repente, enrijeci quando um cheiro inebriante atingiu meu nariz com força. Meu parceiro estava aqui! Tinha que ser um dos mocinhos, certo?

Só de pensar nisso; entrou um menino que poderia ser comparado com uma versão de Adônis, seu cabelo castanho estava desgrenhado, como se tivesse acabado de sair da cama; ele era muito atraente. Ele tinha olhos verdes fascinantes, que fizeram meus joelhos fraquejarem, quase derreti. Ele olhou na minha direção, nossos olhos se encontraram instantaneamente, um sorriso deslumbrante apareceu nos seus lábios e meu coração se encheu de felicidade por saber que ele me amava.

Ele era um dos mocinhos.

Ele aproximou-se de mim rapidamente e sentou-se à minha direita, apertou minha mão na sua, seu sorriso não parava de brilhar a todo o momento. "Olá, minha linda parceira, meu nome é Brendo, qual é o seu nome?", ele perguntou, e imediatamente meu sorriso desapareceu. Eu conhecia esse nome, aparentemente afirmei muito cedo que era um dos mocinhos. Sheila havia mencionado aquele nome algumas vezes e doía saber que meu parceiro podia tratar alguém com tanta crueldade.

"Não é problema seu", eu resmunguei, tirando apressadamente minha mão da dele. Instantaneamente, já sentia falta do seu toque, mas sabia que não poderia ser tão compreensiva. Eu vi a dor estampada no seu rosto, seu sorriso desaparecendo e seus olhos perdendo o brilho. Doeu vê-lo assim, mas de jeito nenhum eu aceitaria essa merda.

"Por que você está chateada comigo? Eu fiz alguma coisa errada?", ele questionou, evidentemente confuso com minha atitude hostil. Eu o observei, querendo dar um soco na cara dele por ser tão cruel.

"Estou chateada por ter acabado de encontrar meu parceiro, e ele acabou se revelando uma pessoa horrível, que anda por aí perseguindo outras pessoas sem motivo aparente. Sheila alguma vez fez alguma coisa contra você?" Eu disse baixinho, porém minha raiva estava crescendo rapidamente e meus punhos começaram a tremer. Minha loba concordou comigo, afirmando que essa raiva do nosso parceiro era justificada, a Sheila não merecia a forma como as pessoas a tratavam, ninguém merecia! Naquele momento, ele percebeu porque eu estava com raiva dele, e o arrependimento rapidamente foi substituído pela confusão. Eu sabia que teria que contar para minha amiga sobre isso mais tarde.

"Me desculpe, realmente sinto muito pelo que fiz à nossa Lua. Todos nós aqui sentimos muito. Eu sei, isso não é desculpa, mas me sinto muito mal por isso, meu amor. Sinto muitíssimo. Quando Kim contou a todos nós que Wagner tinha falado para ele que sua irmã estava morta, todos nós...", ele ia continuar falando, mas eu o interrompi imediatamente.

"Espere um minuto, foi Wagner quem disse para Kim que ela estava morta?" Perguntei para ter certeza se estava certo o que tinha acabado de escutar. Brendo acenou com a cabeça e suspirou tristemente.

"Sim, foi assim, aparentemente Kim conseguiu convencer o pai a deixá-lo tentar ligar para a Sheila. Obviamente, o pai dele não tinha o número do telefone dela, então ele deu o número de um dos seus irmãos para Kim, que acabou sendo o de Wagner. De qualquer forma, quando Kim ligou, Wagner imediatamente lhe disse que Sheila havia se suicidado por causa do que ele tinha feito com ela. Ele era um idiota. Por um tempo, tivemos que vigiá-lo de perto, porque tínhamos medo de que ele tentasse se matar. Era como se ele não tivesse nada pelo que viver. Kim foi melhorando aos poucos com o tempo, queria ser o homem que ela merecia, embora não estivesse mais conosco, ou bem, pensávamos que não estava. Quando ele nos contou a notícia da morte dela, todo o bando ficou arrasado, estou ciente de que era tarde demais para reconsiderar todo o mal que havíamos feito, mas, sinceramente, todos sentimos muito. Na verdade, quem realmente sentia remorso ficou arrasado", explicou Brendo, contando tudo ao mesmo tempo. Eu apenas fiquei sentada ali, chocada com todas as informações que ele havia me dado.

"Lembro que Lucas tentou várias vezes perguntar quem contou para Kim sobre a morte da Sheila, mas Kim tinha contado somente para mim a história toda. Agora que penso bem, Lucas tentou muitas vezes falar para Kim que ela ainda estava viva, mas ele não acreditava no pobre menino. Meu amor, eu realmente sinto muito pela maneira como tratei Sheila no passado, mas por favor, estou perguntando para você, pode me perdoar e nos dar uma chance?", meu parceiro implorou, seus olhos refletiam total sinceridade e amor. Naquele momento, eu estava em um dilema, uma parte de mim queria continuar irritada com ele, enquanto a outra parte queria agarrar seu rosto e beijá-lo, suspirei enquanto olhava para minhas mãos, e vi quando ele pegou uma delas suavemente. Eu o olhei diretamente nos olhos e percebi o arrependimento no seu olhar.

"Bem, eu vou nos dar uma chance, mas você tem que fazer as pazes com Sheila primeiro", fui direta. Eu achava que ninguém conseguia vencer a cara feliz de Joel cada vez que ele via a comida, mas Brendo imediatamente assumiu o primeiro lugar, pois me abraçava com força, agradeceu, eu o abracei de volta e a sensação de estar tão perto do meu parceiro fez que tudo fosse perfeito.

O resto da aula passou voando, tentamos conversar o máximo que podíamos, sem nos metermos em problemas com o professor. Durante todo aquele tempo, queria que ele me abraçasse, mas isso teria que acontecer outra hora. Saímos da sala quando tocou o sinal, o Brendo queria vir comigo mas não deixei, expliquei que tinha que ir falar com a Sheila sozinha. Relutante, concordou e foi embora, mas antes, me deu um beijo na bochecha, me senti como uma colegial, enquanto caminhava pelos corredores, estava com as bochechas vermelhas. Estava um pouco ansiosa para contar para Sheila tudo o que acabei de saber, mas sabia que não podia esconder dela, ela merecia saber a verdade sobre o que Wagner havia feito, junto com a identidade do meu parceiro. Eu só esperava que ela não o desprezasse muito.

Perspectiva da Sheila

Quando entrei na aula, procurei entre os alunos para tentar descobrir a quem pertencia aquele cheiro, rapidamente, meus olhos estavam fixos em um menino com olhos âmbar brilhantes. Então, caminhei em direção ao professor, desviando o olhar dele, mesmo assim, pude sentir o olhar dele em mim o tempo todo, mas tentei ignorar. Quando, o professor finalmente me designou um lugar para sentar e um parceiro de laboratório, percebi que aquele menino era o escolhido. Então, suspirei aborrecida, a verdade é que queria evitá-lo a todo custo. Eu não sabia quais eram seus motivos para estar ali, então fiquei alerta enquanto me sentava ao lado dele, pronta para atacar se necessário.

"Meu nome é Celso, e o seu?", ele perguntou de repente, enquanto estendia a mão para mim. Eu aceitei com um pouco de dúvida, enquanto respondia à sua pergunta. Ele apenas balançou a cabeça, embora parecesse estar pensando em algo, e então me lançou um olhar curioso.

"Foi você quem eu vi ontem à noite no lago, não foi?" Achei que não adiantava esconder que era eu, já que, até agora, ele só me conhecia como um lobo normal.

"Sim, era eu; mas você pode me dizer o que estava fazendo no território dos lobos? Isso, normalmente, é uma missão suicida. Além disso, devo mencionar o fato de que você é o primeiro vampiro que vejo nesta escola, por que isso?", eu disse, sussurrando. Não queria que mais ninguém ouvisse nossa conversa. Ele riu, enquanto se recostava na cadeira e suspirava suavemente.

"Acho que gosto do perigo." Ele deu de ombros, enquanto um sorriso se espalhava por seus lábios. Olhei para ele aborrecida e ele simplesmente ergueu as mãos em sinal de rendição, enquanto ria.

"Bem, você com certeza sabe que a maioria dos vampiros não gosta de ir para a escola com humanos, muito menos com lobos. Essa seria a maioria, no entanto, o meu não se importa de estar perto de outras espécies, mas ele prefere ficar ao lado da sua própria espécie. Eu só queria uma pequena mudança de cenário, queria frequentar uma escola que não fosse somente de vampiros, por esse motivo, pedi para ser transferido, e meu clã aceitou", disse ele sem mais, enquanto encolhia os ombros, tirando a importância de ser o único vampiro em fazer tal coisa.

"Eu sei que a grande maioria dos vampiros luta para se controlar quando está perto dos humanos, na maior parte do tempo. Então, como é que você tem tanto controle sobre você mesmo?", perguntei com preocupação evidente na minha voz. Isso era totalmente verdade, os Antigos me contaram muitas histórias de vampiros que tentaram viver entre humanos, mas a fome que sentiam era demais e, normalmente, eles acabavam atacando. Ele coçou a nuca nervoso, como se realmente não quisesse me contar.

"Hum, bem, isso é porque eu sou um Mestre do Clã. E sim, apenas os Mestres e aqueles que pertencem à realeza podem se controlar, como eu." Eu apenas balancei a cabeça, embora houvesse algo que parecia estranho. No entanto, decidi não prestar atenção a esse sentimento. Eu sabia que poderia usar meus poderes para arrancar a verdade dele, mas eu teria que expor quem eu realmente sou para começar, e em segundo lugar, alguns poderes causavam outros efeitos sobre mim quando eu os usava. Infelizmente, os poderes tinham seus prós e contras.

Conversamos pelo resto da aula, sem nos preocupar em tocar em tópicos mais pessoais. Tinha que admitir que Celso era um menino muito agradável e muito bonito também, mas eu ainda tinha um parceiro. Embora o referido companheiro tenha sido um idiota completo para mim no ano passado, mas, independentemente, ele ainda era meu parceiro. Além disso, eu também duvidava muito que Maya me permitisse ter outros tipos de sentimentos por alguém que não fosse seu parceiro.

Despedi-me de Celso no final da aula e verifiquei meu horário, para descobrir que minha próxima aula seria Contabilidade. Fiquei muito animada porque sabia que nessa aula eu estaria com meus amigos, principalmente, porque queria contar para eles sobre Celso. Ao entrar na sala de aula, imediatamente os vi sentados em uma das áreas, com uma cadeira livre entre eles, então me aproximei e sentei. Eu sabia que algo estava errado quando olhei para Lari, mas ela começou a falar antes que eu pudesse perguntar.

"Há algo que devo lhe dizer", disse ela, seu nervosismo se percebia na sua voz. Ela respirou fundo, enquanto observava todos nós.

"Hoje encontrei meu parceiro."

"Lari, isso é incrível! Quem é ele?" Eu perguntei, com um sorriso brilhante nos meus lábios. Embora não tenha durado muito porque desapareceu quando percebi a tristeza nos olhos de Larissa.

"É o Brendo. Eu sei que você não gosta dele, e eu sei que ele estava debochando de você, Sheila, mas ele pode ter mudado, e eu realmente quero dar a ele uma chance. Peço, por favor, que você não me odeie!", ela disse, gaguejando. O medo era evidente na sua voz, enquanto falava. Olhei para ela sem poder fugir do meu espanto, não pelo fato de o seu companheiro ser Brendo, mas pelo fato de ela ter pensado que eu poderia odiá-la. Mas, eu nunca poderia fazer isso. Eu estava ciente da importância dos casais, sabia do valor daquela companhia. Nunca seria capaz de odiá-la por isso.

"Lari, antes de mais nada, eu nunca poderia odiar você. Sim, é verdade que ele foi um idiota comigo, mas as pessoas podem mudar e se, realmente, você viu algo diferente nele, algo bom, quem sou eu para atrapalhar?", eu disse sorrindo. Sim, não era segredo que muitas pessoas naquela escola tornaram minha vida um inferno e, no ano passado, eu não poderia ter imaginado perdoá-las. No entanto, quando eu estava com os Antigos, aprendi que não era certo agarrar-se a toda aquela raiva, tinha que perdoar e seguir em frente. Simples assim. No final das minhas palavras, ela abriu um sorriso de alegria, enquanto corria para me abraçar com força e me agradecer. Eu a abracei com muito mais força, mas revirei os olhos com suas palavras. Quando ela se afastou, percebi que ela parecia muito mais nervosa do que antes.

"Você está bem? Você parece muito mais nervosa", Antônio questionou, seu rosto expressava preocupação.

"Bem, quando falei com Brendo, descobri quem disse para Kim que você tinha morrido", disse ela, parando de falar depois e olhando para outro lugar, exceto para mim. Imediatamente, a curiosidade e a raiva invadiram meu corpo. Tinha estado tentando descobrir isso há muito tempo, mas não estava nem perto da verdade.

"Quem foi, Lari?" Eu perguntei, suprimindo um rosnado em meus lábios, quando senti minha loba se levantar, querendo ir atrás daquela pessoa e fazê-la pagar.

"Foi o Wagner."