Capítulo 8 A decisão

Um ano depois.

Tinha passado um ano inteiro, longe da minha cidade natal, longe dos meus melhores amigos e longe do meu ex-parceiro, no entanto, não mudaria por nada no mundo todas as pessoas que conheci, e o treinamento para se tornar mais poderosa e forte. Falando dessa experiência e de não arrepender-se, meus irmãos, finalmente tinham conhecido suas parceiras.

Já levávamos alguns meses vivendo com os Antigos, quando nos contaram que uma parte do castelo abrigava lobos abandonados. Ou porque eles perderam sua família, ou porque não tinham um bando e se recusavam a ser lobos solitários. Já tinha escutado falar muito sobre isso e, honestamente, queria ser voluntária, como fazia na minha cidade, ajudar os mais necessitados me deu um novo propósito. Tive que convencer um pouco meus irmãos, eles não compartilhavam, como eu, a mesma paixão por ajudar os mais necessitados, mas logo começaram a seguir meus passos. Ao entrar naquela ala do castelo, os três pararam e gritaram "casal".

Imediatamente, eles correram para entrar, seguindo os diferentes aromas que os levariam as suas parceiras, fiquei em um canto, olhando com alegria para os meus irmãos e também com um pouco de inveja por não ter aquele amor. Foi um momento precioso, nunca tinha visto tanto amor em um mesmo lugar e em tão pouco tempo.

Além de encontrar suas parceiras, descobrimos que duas delas tinham irmãos; a companheira de Wagner, que se chamava Mariana (ou Mari, como eu a chamo), tinha três irmãos trigêmeos mais jovens que ela, Antônio era o mais velho deles e o mais maduro; Saulo é o do meio, e bem temperamental, porém quando você precisa dele, está sempre lá para você. Finalmente, o irmão mais novo, e sem dúvida o mais chato, é Joel, mas se alguém estivesse triste, ele sempre conseguia desenhar um sorriso no rosto, além disso, há três coisas que fazem conhecê-lo bem, sem as quais ele nunca poderia viver: comer, tirar sarro do Saulo, quantas vezes fosse possível e fazer piada com sua família.

Depois tem a companheira do Cauã, ela tem uma irmã mais nova, Larissa, mas todos a chamam de Lari. Desde o momento em que nos conhecemos, nos tornamos inseparáveis. Graças a eles, todos os dias difíceis e cansativos de treinamento foram como um passeio no parque; contei para eles a verdade sobre mim e eles me aceitaram de braços abertos, dizendo que iam me proteger.

Mesmo estando longe por muito tempo, consegui dar um jeito para me comunicar com Douglas e Cristiana, que me mantiveram informada de tudo o que estava acontecendo na minha cidade, enquanto estava fora. O que nunca imaginei escutar foi o quanto Kim mudou depois que eu parti, aparentemente, ele tinha ficado profundamente deprimido, sem sair de casa durante algumas semanas. Eu sei que ele merecia a dor que estava passando, mas não ajudava o fato de que meu coração estivesse apertado por ele, eu não queria que ele tivesse que passar por isso. Douglas me explicou que, depois de alguns meses, Kim estava completamente diferente do que era antes. Não saía mais para festas o tempo todo, decidiu dar um passo a frente e ser o Alfa que seu bando merecia. No entanto, o que mais chocou todo mundo foi quando Kim convocou uma reunião do bando e finalmente anunciou que eu era sua parceira.

Nem nos meus sonhos mais loucos teria imaginado que ele, Kim Oliveira, me declarasse como sua parceira, nunca acreditei que ele pudesse se arrepender de ter me rejeitado e, mesmo assim, aqui estamos. Obviamente, eu não podia esquecer o fato de que ele havia me machucado, na verdade, eu ainda estava profundamente magoada. Mas, parecia que toda aquela raiva que eu estava segurando estava desaparecendo pouco a pouco, a medida que ele ia fazendo coisas boas. Sim, é muito cafona, eu sei. Podem me crucificar.

Porém, havia algo que tinha me irritado, e é que, assim que ele terminou o discurso em que anunciava que eu era sua companheira, ele acreditava que eu estava morta, que, na verdade, havia me suicidado. Lucas me explicou que Kim mal conseguia falar antes de cair no choro. Mas de onde diabos ele tirou a ideia de que eu estava morta? Ele definitivamente tinha perdido a cabeça! Tanto Lucas quanto Cristiana tentaram perguntar quem havia dito tal coisa, mas ele sempre ignorou a pergunta e simplesmente se afastou, enquanto a dor se refletia nos seus olhos. Meus dois amigos tentaram várias vezes dizer para ele que eu estava realmente viva, mas ele nunca acreditou neles, pensava que eles só queriam dar falsas esperanças para ele. Depois daquela última vez, eles não tiveram outra chance de falar com ele, ele estava sempre imerso nos seus deveres com o bando e com a escola. Bem, ele teria que acreditar muito em breve, quando eu voltasse.

Balancei a cabeça para afastar meus pensamentos e continuei caminhando em direção ao quarto de Guilherme, queria saber a que horas sairíamos. Não me incomodei em bater na porta e já fui entrando, o que foi um grande erro. Gritei como se tivesse acabado de ver a cena de uma morte sangrenta, fechei os olhos com força, enquanto tentava apagar da minha mente a cena que acabava de presenciar.

"Meus pobres olhos virgens e inocentes! Vista alguma roupa, por favor!", gritei com eles, virando meu rosto e fechando meus olhos com muita força.

Bem, talvez se você tivesse um pouco de educação e tivesse batido na porta antes de entrar, não teria que ver isso", disse Guilherme, em tom de brincadeira, enquanto os escutava moverem atrás de mim por todo o quarto. Eu zombei do que ele disse, mas não respondi nada até escutá-lo dizer que eu poderia me virar.

"Então o que você quer, 'corta barato'?", ele brincou, sentando-se na cama ao lado da sua parceira, enquanto eu rosnava pelo apelido que ele tinha acabado de me chamar.

"Não me chame assim!"

"Está bem, então eu chamo você de 'Sua Alteza'?", ele brincou de novo, então lancei um dos seus sapatos nele.

"Isso é muito pior, e você sabe disso!" Ele sabia muito bem o quanto eu detestava formalidades, não gostava de ser chamada assim, não sei porque, só sei que me irritava.

"Enfim", soltei, realmente lembrando porque eu tinha descido para vê-lo e disse:" A que horas iremos?" Eu perguntei, levantando uma sobrancelha e vendo que sua parceira apenas começava a embalar as coisas dos dois. As aulas iriam começar no dia seguinte, então tínhamos que voltar antes disso, meus irmãos também voltariam à escola, embora o motivo principal deles fosse cuidar e zelar pelas suas companheiras, se fosse eles, teria me recusado a fazer isso; quem iria querer estudar mais um ano somente para cuidar das companheiras? Pode ter certeza de que eu não.

"Nos vamos hoje à noite às sete, agora vá", disse ele, me dando uma olhada. Levantei as mãos para o céu, em sinal de rendição, sabia muito bem o que estava para acontecer ali, não era preciso ficar para presenciar isso de novo, portanto, corri rapidamente, rumo à sala de treinamento.

Esse foi o meu último dia de treinamento com os Antigos, a Deusa da Lua havia atribuído a todos eles diferentes poderes para que eles pudessem treinar com a sucessora dela, que seria eu. Aparentemente, eles não tinham sido os primeiros lobos a vagar pela Terra, mas viveram por mais de mil anos. Eles me explicaram que começarão a envelhecer assim que eu nomear os dez novos Antigos. Eu sabia que se tratava de uma grande decisão, mas, também me explicaram que, quando chegasse o momento certo, eu saberia quem seriam os merecedores desse título.

No início do treinamento, eles me levaram ao meu limite, sempre me dizendo que eu deveria estar preparada para as decisões mais difíceis a partir daquele momento, eles se certificaram de que era difícil conseguir dominar dez poderes ao mesmo tempo. Eles me disseram que cada Deusa da Lua possui um décimo do poder, que ninguém sabia o que era, mas que viria até mim quando eu mais precisasse. Os poderes que possuía eram variados em muitas áreas: água, terra, ar, fogo, teletransporte, levitação, hipnose, metamorfose, leitura de mentes e, finalmente, a cura.

Ao longo do ano, percebi que toda vez que estava na minha forma de loba e usava meus poderes, os redemoinhos azuis espalhados por todo o meu corpo começaram a brilhar, dando a impressão de ser chamas azuis ao meu redor. Conversei muito com Maya, principalmente quando o estresse e a ansiedade começavam a me afetar, ela me acalmou dizendo que eu não estava sozinha nisso tudo, que a tinha, e também meus amigos e minha família.

Por fim, chegou o momento da partida, me despedi dos Antigos, agradeci imensamente tudo o que tinham me ensinado ao longo daquele ano, tanto para mim como para os meus irmãos. Todos nós havíamos passado por muita coisa naquele ano, o que nos tinha aproximado muito mais a cada dia que passava. Quando terminamos as despedidas e agradecimentos, finalmente fomos embora.

Fiquei em silêncio durante a maior parte da viagem, a única coisa que conseguia pensar era em ver Kim novamente, minha mente estava presa em tomar uma decisão ou dar a ele outra chance, ou tentar seguir em frente e encontrar alguém para amar. Por um lado, havia o fato de ele ter me machucado tanto que eu realmente senti que estava morrendo, mas, por outro lado, ele percebeu o erro, e havia mudado, mesmo pensando que eu tinha morrido, ele não mudou porque tinha a ideia de que eu voltaria e minha maneira de vê-lo seria diferente, não, ele mudou acreditando que eu nunca mais voltaria.

Eu já havia tomado uma decisão: daria outra chance para ele, embora talvez, devêssemos começar como amigos, não queria me arriscar e acabar dando tudo por ele, e isso nos levar novamente à rejeição. Estou ciente de que meus amigos e familiares não ficarão tão entusiasmados com a ideia, mas a escolha é minha.