Capítulo 9 O vampiro

"Lar, doce lar!", gritei de alegria, não me importava se o mundo inteiro acabava de me escutar. Quando entrei no corredor, imediatamente deixei cair minhas malas, tinha sentido tanto a falta de nossa antiga casa, tudo parecia estar como antes. Meus pais tinham organizado para que um amigo viesse uma vez por semana e mantivesse a casa limpa enquanto estávamos todos fora. Eu ouvi um rosnado atrás de mim, enquanto observava todos os outros entrarem na casa.

"Você precisa gritar assim? Não somos surdos e você está começando a me dar dor de cabeça", reclamou ele, esfregando a cabeça dramaticamente, como se alguém estivesse batendo nela com um martelo. Revirei os olhos ao escutar suas palavras, tive que lidar com isso por um longo tempo.

"Como você pode me culpar? Ficamos horas trancados naquela máquina voadora da morte, sequer consegui dormir", quando terminei de falar fiz beicinho, e o vi com um olhar de cachorro inocente. Ele olhou para mim de forma divertida, sabendo muito bem que eu não tinha conseguido dormir no avião, pois tinham se encarregado de me incomodar quase todos de todas as formas possíveis. Eu era o alvo mais fácil.

"Eu apoio Saulo, irmã, espero que tenha misericórdia de nossas almas quando assumir a posição de Deusa da Lua", brincou Cauã, com um sorriso malicioso no rosto estúpido. Eu apenas olhei para ele, enquanto bufava e cruzava os braços sobre o peito.

"Bem, querido irmão, você deve ter em mente que eu posso liberar minha fúria sobre você, caso não fique ao meu lado", eu disse, com um sorriso para tentar parecer inocente; enquanto continua: "Embora, por enquanto, eu possa simplesmente fazer isso!" Quando o vi encharcado da cabeça aos pés, sorri feliz. Então, ri da expressão amarga no seu rosto, enquanto ele olhava para mim, pelo o que eu tinha acabado de fazer.

"Olha, eu apoio você totalmente quando se trata de provocar Cauã, mas tinha que ser minha água, justo quando eu preciso tomar um gole?", Wagner choramingou, virando sua garrafa de água para baixo para mostrar que estava realmente vazia.

"Ah, vamos! Você sabe que teve um uso muito melhor em Cauã", brincou Guilherme, cutucando Wagner com o ombro. Em resposta, ele pulou em Guilherme, enquanto rosnava e o jogava no chão. Tive que me jogar no chão com as mãos na barriga, porque não conseguia parar de rir daquilo tudo. Todos ao nosso redor estavam rindo comigo, quando Cauã decidiu se juntar ao dogfight, fazendo com que os outros dois ficassem molhados também. O único que se manteve sério e balançou a cabeça em desaprovação foi Antônio, que ficava resmungando que éramos todos como crianças.

"Olha quem está falando, aquele que faz birra quando as coisas não saem do jeito que ele quer!", Joel disse brincando e assim imediatamente começou outra competição de wrestling entre os dois. Logo, todos estavam rindo e brincando.

"Bem, é hora de ir para a cama. Boa noite a todos!", Guilherme gritou, o que levou quase todo mundo a fazer o mesmo. Em um segundo, apenas ficamos eu, meus pais, Joel, Antônio, Saulo e Larissa; isso, porque meus pais estavam mostrando a eles onde dormiriam. E, finalmente, fiquei sozinha na cozinha. Então, peguei um copo para enchê-lo de água, pensando no que aconteceria no dia seguinte. Eu tinha mantido contato com Lucas e Cristiana e, aparentemente, Lucas tinha uma surpresa para mim quando eu chegasse à escola, porém, a única coisa que ocupava a minha cabeça era como seria quando voltasse a ver Kim.

Eu balancei minha cabeça, sabendo que estava pensando demais naquele momento. Eu estava me preocupando por nada, bem, não por nada, mas esse não era o ponto. Embora já passasse das oito horas, eu ainda estava muito ansiosa, então decidi que correr seria o melhor para mim, subi as escadas rapidamente e disse para Guilherme através da porta do seu quarto, não precisava entrar e testemunhar nada, de novo. Ele respondeu que estava tudo bem e me lembrou de mudar a cor do meu pelo.

Uma das minhas habilidades era ser capaz de mudar a cor do pelo, entretanto, tinha a desvantagem de que eu só poderia mudá-la depois de me transformar na minha loba branca. Portanto, não podia me transformar na frente de qualquer pessoa que não conhecesse meu segredo. Ao sair, corri em direção a uma grande árvore para tirar minhas roupas, colocando-as com cuidado uma sobre a outra, antes de me transformar. Então, balancei meu pelo, curtindo a sensação de estar na minha verdadeira forma. Eu quase nunca poderia ficar assim, pois era muito perigoso para mim fazer isso, sem importar onde estivesse. Rapidamente, mudei a cor do meu pelo para um tom prateado, muito próximo do branco, mas sem levantar suspeitas de quem me visse. Não era mais pelo branco como a neve, com redemoinhos azuis brilhantes movendo-se sobre mim.

Eu me alonguei antes de começar, não importa quanto tempo eu correria ou para onde eu fosse. Mesmo assim, parei ao escutar o barulho da água correndo, caminhei naquela direção e me deparei com um rio, depois comecei a segui-lo. Não demorou muito, cheguei à um lindo lago, o luar brilhava sobre a água, dando a quantidade de luz perfeita para testemunhar uma bela noite. Porém, o que mais me impressionou foram as flores ao redor do lago, não eram flores normais, estavam brilhando, não fazia sentido, mas também não questionei muito.

Caminhei mais para perto das flores, as observando com alegria, e curtindo aquele momento de paz e tranquilidade, sem nenhum tipo de responsabilidade, apenas com a total liberdade de poder ser eu mesma. Bem, não exatamente.

Depois de um tempo, decidi que era hora de voltar, mas parei imediatamente, percebendo que os pelos da minha nuca se arrepiaram. Então, me joguei no chão, pronta para me jogar sobre qualquer coisa ou qualquer pessoa que quisesse atacar. Escutei com atenção, tentando descobrir o que era, mas nada apareceu. Nenhum movimento, nenhum som, tudo estava completamente silencioso e justamente isso, foi o que me deixou mais nervosa. Eu podia sentir perfeitamente que algo estava lá, me observando. Decidi voltar imediatamente, mas fiquei de olho, caso o que quer que estivesse lá decidisse que era hora de atacar.

Com muito cuidado, comecei a caminhar para casa, ainda sentindo a presença perto de mim. Tentei cheirar o ar algumas vezes, mas não consegui reconhecer nada, até que finalmente, descobri. Eu sei que já tinha sentido aquele cheiro antes, os Antigos me ensinaram que todas as criaturas têm um cheiro diferente, e eles fizeram questão de que eu aprendesse a diferenciar cada um deles. Eu continuei quebrando a cabeça, tentando lembrar a quem aquele cheiro pertencia, até que finalmente me dei conta.

Era de um vampiro!

Imediatamente, o nervosismo percorreu meu corpo, tive medo que essa pessoa soubesse quem eu realmente era. Eu estava ciente de que era improvável, já que não estava na minha forma natural de loba, mas mesmo assim, o medo tomou conta de mim. Os Antigos também me disseram que, embora os vampiros tivessem uma reputação muito ruim, eles eram na verdade muito gentis e não guardavam rancor de nenhuma outra espécie. Da mesma forma, não baixei a guarda até chegar em casa. Peguei minhas roupas com a boca, voltei rapidamente e consegui abrir a porta, de jeito nenhum eu iria me trocar enquanto estava sendo observada por um vampiro. Quando fechei as portas atrás de mim, o cansaço finalmente me atingiu de cheio. Eu bocejei enquanto subia as escadas, para finalmente dormir um pouco.

"Sheila, levanta! É hora de ir pra escola!" Escutei alguém gritar e resmunguei de dor ao sentir que alguém havia pulado em cima de mim.

"Deus, como você é pesada!", provoquei Larissa, enquanto ela se afastava de mim. Depois, ouvi um barulho seco e um grito de dor, eu ri enquanto me inclinei para fora da minha cama e a vi caída no chão. Ela acenou com o dedo para mim, antes de se levantar e sair do quarto. Eu ri e saí da cama, me preparando para o dia. Tentei não permitir que minha mente vagasse tanto sobre quem eu veria em um momento, eu sabia que se isso acontecesse, me deixaria tão nervosa que eu não iria querer sair de casa. Quando terminei de tomar banho, me vestir e fazer todo o resto, peguei minha bolsa e desci as escadas.

Todo mundo já estava lá embaixo, comendo alegremente, exceto meus pais, eles precisavam ir para seus novos empregos logo cedo, naquela manhã. Sentei-me em um dos bancos e peguei algo para comer.

"Prontos para ir para a escola?" Perguntei entre mordidas, sorrindo, todos me olhavam de relance, ninguém queria concordar. Todos continuaram comendo, sem me responder, fiz beicinho antes que todos nós começássemos a rir e logo, terminamos o café da manhã.

"Bem, vamos tropa!", Joel ordenou, fingindo ser um general do exército. Revirei os olhos, peguei minha mochila e me dirigi para nossas motocicletas, que meus pais compraram para nós. Meus irmãos e suas companheiras entraram no carro e partiram imediatamente, nós os seguimos.

Depois de um tempo chegamos na escola e, rapidamente, encontramos um lugar para estacionar. Todos os outros começaram a caminhar do estacionamento, em direção à entrada principal, enquanto eu tentava me acalmar, eles sabiam porque eu estava atrasada, então não me pressionaram, respirei fundo e finalmente desci da moto.

Fui em direção a eles e começamos a nos aproximar da entrada principal. Estávamos caminhando e imediatamente vi Kim e seus amigos, percebendo que todos olhavam para nós. Em seguida, os nossos olhares se cruzaram, nos observávamos fixamente. Quando ele me notou, esboçou um sorriso nos lábios, sua felicidade era bem evidente, senti meu coração queimar com aquela ação, porém, a raiva me consumia ao pensar que alguém havia lhe contado que eu tinha morrido.

Justamente quando estávamos prestes a passar por eles, eu engasguei, foi quando alguém me pressionou contra seu grande peito e uns braços fortes rapidamente me envolveram, por o formigamento que sentia, sabia que era Kim, queria ficar lá para sempre, mas o momento não durou muito, alguém tinha me tirado dos seus braços. Eu ouvi Maya choramingando em minha cabeça, por seu parceiro, ela queria estar perto dele novamente.

"Não toque nela!", Saulo rosnou, empurrando Kim para trás. Kim rosnou com raiva para ele, mas não deu atenção ao meu ex-companheiro, naquele momento todos começaram a me arrastar para dentro, para longe dele. Olhei para ele uma última vez, por cima do ombro, deixando um pequeno sorriso aparecer nos meus lábios, ele percebeu na mesma hora, e sorriu como se tivesse acabado de ganhar na loteria.

Assim que entramos, fomos à secretaria pegar nossos horários, comparando todos, descobri que tinha quase todos as aulas com um deles. Almoçaríamos todos juntos, embora tivesse uma hora livre, também tinha aulas de Química e Matemática, as quais faria sozinha.

Nossa primeira aula foi de Biologia e eu a tive com os meninos enquanto Larissa fazia História. Eu gostava de alguns aspectos da história, mas não de tudo. Nos despedimos e fomos para a aula.

Ao entrar, todos olhavam para nós, eu conhecia a maior parte deles, e não em um bom sentido. Conversamos um pouco com a professora e descobrimos que agora mesmo ia ter uma prova, os meninos saíram na hora, mas me ofereci para fazer. A professora concordou, me entregando o papel antes de me avisar que não seria nada fácil, revirei os olhos, e imediatamente encontrei um lugar para sentar. Eu podia escutar muitos sussurros enquanto estava indo me sentar, mas não prestei atenção neles, não precisava escutar o que eles tinham a dizer sobre mim.

A professora permitiu que começássemos de imediato, ao ler a primeira questão sorri, respondendo com facilidade. Embora eu estivesse estado com os Antigos durante um ano, isso não significava que meus pais deixaram que nossos estudos ficassem de lado. Os Antigos nos tinham encontrado um tutor muito bom, para nos ensinar tudo o que precisávamos saber.

Depois de uns quinze minutos, larguei o lápis, terminei minha prova com facilidade, olhei em volta, esperando para ver quem mais havia terminado, mas fiquei surpresa ao ver que a maioria deles ainda estava na primeira página. Me levantei da minha mesa, chamando atenção, enquanto entregava minha prova para a professora.

"Acabei, posso ir?", eu perguntei, pronta para ir e colocar o papo em dia com os meninos. Escutei algumas risadas atrás de mim e alguns comentários, eles falavam sobre como eu falhei e que simplesmente desisti, os ignorei e observei a professora ler todas as perguntas.

"Estou bastante impressionada, senhorita Sheila, você acertou tudo, bom trabalho, pode sair", disse a professora surpresa, largou minha prova e me deu permissão para sair. Parei na porta, escutando uma voz familiar atrás de mim.

"Isso é um lixo! Ela nem sabe sobre esse trabalho!" Quando revirei os olhos, descobri que era Brendo, amigo de Kim e terceiro no comando do bando.

"E, no entanto, sei muito mais do que você", respondi antes de sair da sala. Brendo nunca foi um dos meus principais agressores, sim, na hora de insultar, ele falava, mas nunca fez nada mais do que isso. Os meninos já estavam esperando por mim quando entrei no corredor, "Adivinho? Você acertou cem por cento", disse Joel brincando, colocando o braço no meu ombro. Eu ri, enquanto caminhava com eles e falavam sobre um filme, olhei minha horário para descobrir que aula eu teria a seguir, seria de Química. Infelizmente, nenhum dos meus amigos tinha aquela aula comigo, eu disse aos meninos que os alcançaria mais tarde, então decidi ir ao banheiro. Quando terminei, simplesmente passeei pelos corredores até a hora da próxima aula.

Cheguei um pouco atrasada, não tinha percebido quando o sinal tocou para a aula que eu precisava assistir, que era do outro lado da escola. Corri angustiada, entrei desculpando-me pelo atraso e então parei quando um cheiro familiar atingiu meu nariz, era o mesmo cheiro da noite anterior.

O vampiro...