Eu sabia seus limites, tudo era difícil já que ele era gay e a sociedade não aceitava muito isso. Ele trabalhava em uma pequena empresa, mesmo sem precisar. Adorava animais e tinha um cãozinho chamado Rock.
Tinha alguns namorados, mas nada que fosse sério.
Assim que conheci Oliver, liguei para ele muito animada. Lembro dele ter dito: "Não se meta com a família Lasier, eles são perigosos."
Não dei bola, afinal ele sempre exagerava em tudo.
Nas sextas-feiras íamos para sua cobertura, comíamos pizza e ríamos até adormecer. Nunca fomos de festa, a faculdade nos traumatizou nessa parte, pois eram tantos jovens bêbados e chatos que prometíamos nunca tomar porre daquele jeito.
Já era noite quando eu recebi uma ligação.
- E aí, perua. Vamos sair ou vai ficar pensando no teu príncipe encantado?
- Francisco, deixa de bobagem, conheci ele ontem e são só negócios.
- Sei, soube que o dia foi bem agitado.
- Eu jamais teria chance com ele.
- Não se tiver usando essas roupas de velha.
- Francisco, você não presta mesmo.
- Você sabe que eu te amo, mesmo quando mistura verde com laranja.
Rimos muito.
- Quer vir aqui para casa para jantarmos?
- Ah, querido. Estou muito cansada e não sei o que o dia me reserva amanhã.
- Ué, vai ir para a realeza novamente?
- Sim, tenho que conhecer mais a empresa e o trabalho dos Lasier.
- Aí está ficando importante, né?
- Pare de deboche, já estou cheia de pressão por conta do meu chefe.
- Amiga, você sempre arrasa. Por que agora seria diferente?
- Não sei, mas achei que seria muito diferente e vou te dizer, achava que o Oliver era bem diferente.
- Ui... Oliver.
- Deixa de palhaçada e vou desligar; preciso tomar banho.
- Está bem, amiga. Eu te amo!
- Também amo você, seu bobo.
Desliguei e logo recebi uma mensagem.
"Adorei passar o dia com você! Ansioso por amanhã!"
Fiquei incrédula com aquela mensagem. Não poderia nem pensar em ter alguma coisa com aquela pessoa de outro patamar e tantas riquezas. Mesmo que o senhor Ricardo tinha dito que era para ir com tudo, acho que não era bem isso que ele estava falando.
Até pensei se eu deveria responder ou se era um teste para ver o quanto eu era interesseira.
Resolvi apenas mandar um emoji sorrindo e não obtive resposta.
Logo pensei como eu era boba. Ele devia estar falando dos negócios e quis me deixar à vontade para o próximo dia.
Estava sem sono e decidi ir pesquisar sobre a família Laiser. Descobri que o legado vem antes do avô do Oliver. Algumas pessoas diziam que ele enrolou um fazendeiro rico, casou-se com sua filha e herdou toda a fortuna; ela faleceu em um acidente misterioso, parece que os freios de seu carro falharam. A partir dali, a fortuna só foi crescendo e como não havia herdeiros do tal fazendeiro, a família Laiser foi aumentando o patrimônio. Mas quem realmente alavancou a fortuna foi o Sr. Olavo que fez negócios internacionais com empresas importantes.
O Sr. Olavo já havia sido casado e tinha uma filha de 25 anos que morava na mansão com a família. Era óbvio que Joana a odiava, pois lembrava muito sua mãe que era sua melhor amiga, até a traição. Dizem que Manuela morreu de desgosto quando sua filha completou 8 anos. Pois tinha tudo quando casada com o Olavo, até mesmo ajudava a alavancar a empresa, tinha muito conhecimento sobre negócios. Mas apresentou sua amiga Joana ao marido, sem imaginar que a tragédia estava por vir. Depois de 6 meses sendo querida e prestativa, veio a quebra da confiança. O Sr. Olavo anunciou seu divórcio e divulgou seu novo relacionamento com Joana. Dali por diante, Manuela se viu obrigada a morar na casa que era para os empregados, junto com sua filha Rebeca. Não podia nem acessar a mansão e chegar próxima ao casal. Quando Rebeca completou 8 anos, Manuela estava esgotada e não tinha mais vontade de viver; pegou uma corda e amarrou na viga mais alta que a casa tinha, morreu na mesma hora. Joana lamentou e disse que a amiga sempre apresentou problemas psicológicos.
Joana era de família pobre e sempre se definiu como uma mulher boa demais para aquela vida simples. Era muito quando jovem, morena alta, esbelta e com grandes atributos. Sempre dizia para a mãe: "Jamais irei casar com um pobre como você". Haviam mais 4 irmãs que trabalhavam na roça e já estavam casadas com simples homens, mas educados. Um dia encontrou sua mãe chorando; seu pai havia falecido cortando cana. Fizeram o enterro simples e sem luxo; foi aí que Joana colocou um ponto final na história. Iria se mudar no outro dia para a cidade grande e encontrar o homem mais rico e poderoso de todos.
Começou a pesquisar todos os homens da cidade grande; alguns eram bonitos, mas não eram ricos o suficiente. Até que recebeu um panfleto de uma empresa chamada Laiser. Ficou alucinada por um tal de Olivio Lasier e nem se importou que o casal tinha uma filha. Começou a vigiar a mansão e monitorar cada passo deles. Até que um dia viu Manuela com roupa de corrida e anotou o horário. No outro dia, lá estava Joana toda pronta para a corrida; comprou roupas em um brechó próximo à pousada em que ficava, conseguia se manter com o dinheiro que recebia de alguns amantes. Assim que Manuela começou a correr, Joana viu sua oportunidade, começou a corrida e simulou um tombo. O que fez Manuela ajudá-la e levá-la para dentro da mansão. Os dias foram passando e ambas começaram a se encontrar; Joana contava histórias para Manuela de como era morar no interior e que seus pais eram ricos e estaria na cidade para concluir seu mestrado. Claro que com a inocência de Manuela, foi bem fácil para Joana frequentar a casa e despertar interesse em Olavo.
Já era tarde e eu precisava dormir; desliguei o computador e adormeci.