Papai ficou em silêncio por um momento, como se ja soubesse o que teria vindo depois disso. Ele arqueou a sobrancelha e maneio a cabeça confirmando a pergunta em seus olhos. Claro que Noah e eu tínhamos brigado como cão e gato.
- Tenho uma tarefa para você!
Me aproximei ainda segurando as saias de meu vestido e desviando do sofá carmesim no meio do caminho.
- Para mim? Raramente você me da tarefas, papai. Geralmente as da para tio Nicolas, Leon ou Gideon. Até mesmo as minhas irmãs..._ Sussurrei a última baixinho e ele me avaliou baixo a cima.
- Pessoas devem ser colocadas nas tarefas certas, querida. _ ele tocou meu queixo, erguendo meu rosto para me encarar nos olhos. _ Não mandaria você fazer algo que eu sei que não é seu ponto forte.
- Meu ponto forte parece ser discutir com o futuro rei de Midorina, papai. _ ri amarga e meu pai sorriu abertamente. _ Vamos diga logo o que tem para mim! Estou curiosa...
- Tenho desconfiado que Avarya possa estar se tornando uma ameaça. _Meu sorriso morreu e o encarei séria, apertando levemente as sobrancelhas _ Eles darão um baile muito em breve e você irá.
- O que eu tenho que fazer?
- Será meus olhos e ouvidos! Não posso confiar isso a mais ninguém.
- Darei o meu melhor!_ acenei com convicção, e a mão de meu pai pousou em meu ombro, seus olhos tinham um brilho preocupado. _ Vou descobrir tudo que o rei estiver tentando esconder de nós, e cada uma de suas intenções!
- Precisa ir casualmente, levando um pequeno acordo em meu nome. Isso exigirá que sua viagem seja sigilosa.
Acenei fervorosamente ainda o encarando nos olhos e meu pai abriu a boca, como se quisesse dizer algo, mas as palavras estariam presas em sua garganta.
- Eu quero mandar alguém com você... Não é que eu não confie que você seja capaz de lidar com tudo sozinha... É que... Bailes... _ meu pai respirou fundo, apertando os olhos por um momento _ Você cresceu minha filha, e se tornou uma mulher muito bonita. Manda-la sozinha seria como mandar um cordeiro para lobos.
Sorri estreito com sua preocupação e o abracei forte abruptamente o pegando de surpresa. Meu pai me abraçou, colocando seu queixo sobre o topo de minha cabeça,sem se importar se acabaria se molhando por minha causa.
- Vou cumprir com honra essa tarefa, pai! E voltarei segura para casa!
- Eu sei, querida! Eu sei... Vou mandar alguém de confiança. Alguém que não vai tirar os olhos de você. Pode ser que seja um pouco incômodo, mas é o mais seguro...
- Quando devo partir? _ perguntei erguendo minha cabeça, enquanto ainda estava embalada em seus braços.
- Amanhã antes da alvorada.
Meu corpo paralisou enquanto o encarava atonita. Sua mão percorreu por meus cabelos molhados e ele deu um sorriso ladino abatido.
- Tão rápido? _ Ele acenou tranquilo, e me afastei um pouco. _ Então devo preparar minhas coisas...
- Já estão prontas, Merlia. Eu ja mandei prepara-las. _ ele acenou com a cabeça para fora. _ Helena também está a sua procura.
- Pai, posso fazer uma pergunta?
- É claro!
- Seus olhos e ouvidos sempre foram o tio Nicolas. Então por que eu?
- Seu tio Nicolas precisou ir a um lugar por mim averiguar algo também. E você herdou algo de sua mãe... Sagacidade! _ ele apertou a ponta de meu nariz e ri baixinho.
Ele sempre fazia isso quando eu era uma menininha, e continuou com o tempo. Quando papai faz isso, sinto como se voltasse a ter cinco anos novamente, tentando convence-lo a me dar o que eu queria.
O dei um beijo na bochecha apressado e sua mão deslizou pelas pontas de meus dedos enquanto me afastei em direção a porta. Parei abruptamente o olhando por cima do ombro, pensando se deveria conversar com ele a respeito do noivado, mas foi seu olhar preocupado em mim que me fez desistir, por enquanto.
- Você terá que me conceder um desejo quando eu voltar para casa, pai! Vou perder a caçada! Isso não é nem um pouco justo...
Ele gargalhou acenando com a mão para que eu fosse logo.
- Eu vou pensar.
- Não me faça começar a cantar, papai...
- Isso não funciona mais em mim! Aprendi a ignorar as cantorias de piratas.
Ri rouca balançando minha cabeça em negativa e sai.
- Te vejo no jantar, papai.
***
- Você teve problemas?_ perguntei baixinho atravessando o salão da casa dos Bonthor, com Ambar enroscada em meu braço.
- Um pouco de sermão durante o caminho até aqui. E você?
- Acho que ninguém informou meu pai sobre, ainda. _ Sussurrei e seus olhos azuis vasculharam meu rosto de forma tensa. Mas sabia o que ela estaria me perguntando _ É! Como sempre.
Yan surgiu em nosso campo de visão, lendo um livro. Ao ouvir nossas vozes, seus olhos azuis subiram abruptamente, e ele se curvou em reverência.
- Não esperava você por aqui tão cedo, alteza...
- Você continua com as formalidades, Yan. Achei que tínhamos crescido todos juntos para que essas coisas não fossem necessárias entre nós. _ comentei o tocando no braço. _ Obrigada pela ajuda mais cedo.
- É melhor ficarem longe do rio por enquanto. Com a caçada, todos querem arrumar uma vantagem. Noah e eu estávamos justamente procurando por tocas próximas... Pela segurança de vocês, é melhor se refugiarem em casa. Lordes bêbados realmente se tornam uma pedra no sapato.
Acenei em concordância e os olhos azuis de Yan me vasculharam com cuidado. Certamente se perguntando se eu teria fugido para o ducado para falar com Ambar ou havia outro motivo.
- Preciso falar com Helena. _ comento e ele aponta para fora.
- Ela está na estufa. Vossa alteza conhece o caminho ou gostaria que eu a acompanhasse?
- Eu sei o caminho. _ acenei e segui o corredor, deixando Ambar para atrás com seu irmão. Os ouvi cochichar algo, mas não dei importância.
O caminho até a estufa foi longo e silencioso. Abaixei a maçaneta de prata talhada e empurrei a porta, revelando um cômodo bonito de vitrais incolor e madeira, havia tantas plantas e flores que o verde era intenso, o que destacava de longe os cachos ruivos de tia Helena, sentada sobre uma escrivaninha com uma bolsa de couro ao seu lado.
- Desculpe a demora. _ comentei e ela tirou seus olhos de alguma erva que em suas mãos.
- Bem-vinda, Mia!
Sorri acenando e ela acenou para que eu me aproximasse. Meus olhos vagaram nas samambaias brotando as margem de um pequeno chafariz ao centro da enorme estufa. Certamente esse é o lugar favorito da duquesa, assim como minha mãe gosta da biblioteca.
- Você anda colecionando muitas plantas por aqui... Parece que há mais do que me lembro.
- O duque sempre me presenteia com alguma que nós não tenhamos aqui.
Ri baixinho tombando a cabeça. Isso era a cara de Dylan, mimar Helena com coisas que ele sabia que a faria feliz. Raramente entrei aqui, mas podia jurar que se fechasse meus olhos, conseguiria os imaginar juntos, com as mãos na terra, plantando algo e conversando de um jeito que só tia Helena sabia para arrancar as melhores gargalhadas do duque.
Parei diante da escrivaninha ao seu lado e ela me estendeu um pote.
- Seu pai me procurou alguns dias atrás... Você precisa levar isso com você. Tome sempre que comer algo, logo imediatamente após, ou antes ... É melhor que seja antes para que o efeito seja mais eficaz.
- E o que é?
- Mesmo que vossas altezas reais tenham resistência a veneno, não são completamente imunes. Eles ainda podem matar você. Sinceramente eu fiquei surpresa quando sua mãe começou a envenena-los e trata-los com antídotos._ ela sussurrou ainda vasculhando a bolsa. _ Se você sentir algo após comer, certamente estava envenenada. Não preciso dizer o que isso significa, certo?
- Se eu sentir virei o mais rápido possível para a senhora!
- Faz bem! Na bolsa tem tudo que você precisa... Está tudo especificado no livreto, então você ficará bem._ Peguei a bolsa e tia Helena me encarou por um momento e sorriu ladino._ Olhar para você é como olhar para sua mãe nessa mesma idade. Seus olhos são verdes como os de seu pai no entanto, e seus cabelos mais escuros também... Mas as semelhanças são realmente notáveis.
- Acho que isso é um bom elogio, já que homens continuam a brigar pela atenção de minha mãe.
Tia Helena riu concordando e me deu tapinhas em meu ombro.
- Se você não fosse noiva de Noah, certamente eu a faria ser esposa de Yan.
Dei um sorriso envergonhado, sentindo minhas bochechas corarem. Yan era realmente bonito. Suas feições eram parecidas com a do Duque. Seus cabelos eram uma mistura entre loiro e ruivo, como cobre claríssimo e polido. Seus olhos eram intensamente azuis nas bordas e mais claros ao centro como o céu do inverno como os de Dylan. Além de ser alto e forte.
Mas sempre que eu me lembro de Yan, a imagem de Noah me vêem a mente. Os dois estão constantemente juntos, e quando nos aproximamos enquanto conversam, se calam imediatamente. Ainda vou ouvir o que eles tanto conversam que é segredo.
- Bom, se Noah não quiser se casar comigo depois de espantar meus pretendentes devido ao noivado... Eu certamente me casaria com o melhor amigo dele como vingança._ maneio a cabeça com uma sobrancelha arqueada e tia Helena gargalhou.
- Esse é o espírito! _ ela se recompôs com animação_ Você precisa ir agora. Tome cuidado!
- Obrigada! Ficarei atenta! _ aceno e me apresso para ir embora. Ainda havia uma pessoa para ver, e certamente ela me daria alguma informação extremamente importante. Minha mãe...
***
A porta da velha biblioteca rangeu, deixando no ar um som grotesco. Meus olhos vagaram pelas enormes prateleiras de livros, colecionados ao longo dos anos tanto por meu pai quanto por minha mãe.
Esse lugar sempre foi silencioso e vazio. Não era o mais frequentado no castelo, mas aqui sempre se acharia duas figuras importantes desse reino: a rainha, e o conselheiro do rei.
- Mãe?_ a chamei vagando entre duas prateleiras robustas que iam até o teto.
- Está atrasada..._ sua voz foi doce enquanto ela trocava a página de um livro que ecoou o som no ar de forma simplória. Dobrei o corredor de prateleiras, a encontrando de pé com o libro aberto em mãos e seus olhos correndo pela página.
- Tive alguns imprevistos..._ murmurei baixinho.
- Serei direta querida. Seu tempo está passando... Não aceite a generosidade de ninguém. Isso não significa ser rude!
- Entendido.
Ela trocou a página na mesma paciência, antes de soltar um breve suspiro.
- Você sabe como deve agir, como deve se referir ... Não precisa que eu liste tudo aquilo que você já sabe. _ seu livro foi fechado e ela se voltou para mim com um sorriso ladino terno. _ Tome cuidado!
Acenei com um sorriso tranquilo surgindo, e me aproximei abaixando minha cabeça. Minha mãe deixou um beijo terno em minha testa e ergui meus olhos para encarar seu rosto.
- Mãe...
- Hum?
- E se... _ mordi o lábio contendo as palavras e ela arqueou a sobrancelha intrigada_ e se Noah não quiser prosseguir com o noivado? O que aconteceria comigo?
O silêncio se fez presente enquanto ela vasculhou meu rosto indecifrável. Minha mãe apenas voltou a abrir seu livro e se voltar para a prateleira.
- Você decide o que aconteceria com você, Merlia. Nós te damos a chance de ser uma rainha... Se você vai quere-la ou não, é de sua escolha, juntamente de suas demais consequências.
Acenei em positiva, entendendo sua resposta. Independente da decisão, teríamos que lidar com as consequências do rompimento do noivado. O que significava conversas se espelhando pelos reinos, e movimentações de lordes ou outros reis tentando arrumar um matrimônio vantajoso. Eu teria que lidar com bailes, jantares e cortejos com frequência. O que iria rapidamente me tirar do sério...
- Eu entendo...
- Mas e se não for Noah querendo romper o noivado?_ Minha mãe sussurrou e abaixei meus olhos para minhas sapatilhas.
- Bom ... É que ... As coisas não são boas entre nós.
- Sabia que, quando vocês eram pequenos, Noah vivia atrás de você? Voces eram bem unidos...
- Parece que as coisas mudam, não é? Não nos suportamos no mesmo ambiente. Imagino o fracasso que será reinarmos juntos.
- Hum._ minha mãe maneou a cabeça com seus fios grisalhos se destacando em seus cabelos castanhos perfeitamente alinhados. _ Talvez vocês precisem vocês precisem resolver essa desavença de uma vez. Pelo menos para manterem uma boa convivência entre os reinos se resolverem romper com o noivado.
- Eu irei pensar nisso. Mas não é fácil... Não é fácil para mim apenas dialogar com Noah.
- Então tente mais uma vez. Pelo menos só mais uma vez..._ ela repetiu um pouco mais baixo trocando a página de seu livro _ Mande uma carta se precisar de ajuda com algo...
- Tudo bem, mãe. Obrigada pelos conselhos.
Ela acenou e voltei a caminhar em direção a gigantesca porta da biblioteca.
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Boa leitura!
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