comecei a recuar pela casa escura e desconhecida. Minha mente estava em
turbilhão, e meu coração batia descompassado. Eu sabia que não podia deixá-los
me alcançar, mas parecia que não havia saída. Eu continuava correndo,
desesperada para escapar daqueles estranhos.
Mas então, em um momento de terrível
desespero, eu tropecei em algo e caí. Tudo ficou escuro, e minha consciência
desapareceu. Eu não conseguia lembrar o que aconteceu em seguida. A escuridão
envolveu minha mente, e eu me perdi em um abismo de incerteza e medo.
Acordei, ainda atordoada, com uma
sensação de impotência. Minha visão estava embaçada, e eu me dei conta de que
estava amarrada a uma cadeira. Olhei ao redor, mas nada parecia familiar. Eu
estava em um lugar estranho, sem pistas de como havia chegado ali.
A confirmação de que algo terrível
havia acontecido veio quando ouvi a voz de um homem ao telefone. Ele estava
falando com meu pai, e suas palavras ecoaram em meus ouvidos, fazendo meu
coração afundar.
O sequestrador foi direto ao ponto,
exigindo que meu pai pagasse todas as suas dívidas. A ameaça de que, se ele não
fizesse isso, eu "sumiria", fez meu corpo tremer de medo. Eu estava
sendo usada como moeda de troca em um jogo sujo de dívidas e ameaças.
Eu não conseguia entender
completamente a situação, mas uma coisa ficou clara: eu não queria ser vendida
no lugar das dívidas do meu pai. O que fazer agora? Como eu poderia sair dessa
situação aterrorizante? Minha mente estava borbulhando de pensamentos e medos,
e eu sabia que teria que encontrar uma maneira de lutar pela minha própria
liberdade e proteger minha família de um destino terrível.
As horas arrastavam-se no cativeiro,
e eu estava suja, faminta e sedenta. A situação era desesperadora, mas eu só
queria sair dali, não importava o quanto sofresse. Finalmente, um dos
sequestradores me trouxe um pedaço de pão e água. A fome era insuportável, e eu
não resisti, comi com avidez. Enquanto eu comia, o telefone tocou, e o outro
sequestrador atendeu. Era meu pai, informando que tinha conseguido o dinheiro e
marcando um local de encontro.
Quando o sequestrador desligou o
telefone, ele olhou para mim e proferiu palavras que me deixaram em choque.
"Nada mal. Se eu soubesse que seria tão fácil fazer seu pai pagar essa
dívida, eu já teria te sequestrado há muito tempo, ao invés de matar sua
mãe."
Aquela revelação abalou o meu mundo.
Minha mãe não havia morrido de doença como eu pensava; ela havia sido vítima
das dívidas do meu pai. As lágrimas escorreram pelo meu rosto, uma mistura de
tristeza, raiva e incredulidade. Meu pai havia mentido para mim durante todos
esses anos, e eu me senti traída. A realidade era mais sombria do que eu
poderia imaginar, e eu sabia que, assim que tivesse a chance, precisaria
confrontar meu pai sobre suas ações e as mentiras que ele havia perpetuado em
nossa família.
Enquanto mais algumas horas se
arrastavam no cativeiro, o cansaço finalmente me venceu. Ainda estava amarrada
àquela cadeira desconfortável, mas o sono pesado acabou me fazendo cochilar.
Acordei abruptamente com a sensação de alguém me vendando e amarrando um pedaço
de pano sujo na minha boca. Um dos sequestradores me instruiu a ficar quieta,
sem alarde, e eu só conseguia chorar em meio àquela situação angustiante. Em
seguida, me jogaram em um carro, e momentos depois, senti o veículo parar.
Finalmente, eu estaria livre e poderia confrontar meu pai, foi o que pensei.
Entretanto, fora do carro, escutei a
voz do meu pai, dizendo para os sequestradores não me desamarrarem
completamente, apenas tirar a venda e o pano da boca. Em seguida, eles me
transferiram para outro carro. A única coisa que vi e ouvi foi meu pai fechando
a porta e pedindo perdão em lágrimas. O carro acelerou, e meu pai ficou para
trás.
Em meio a essa situação desoladora,
me senti suja, utilizada como moeda de troca por meu próprio pai. Para onde eu
estava sendo levada? Tentei conversar com o motorista e o homem ao seu lado em
busca de respostas, mas o silêncio imperava. Quando percebi, o carro havia
parado em algum lugar. O homem ao lado do motorista saiu e, minutos depois,
voltou com um hambúrguer e um refrigerante, meus preferidos. Por um breve
momento, meus desejos alimentares me fizeram esquecer a situação angustiante.
Comi o sanduíche enquanto observava a paisagem pela janela.
O carro retomou sua viagem pela
estrada, e, apesar de toda a tristeza e confusão que inundavam meus
pensamentos, o cansaço prevaleceu, e eu acabei pegando no sono, perdida em meus
próprios pensamentos e incertezas.