tras paixões, desde pequeno lembro de colecionar carrinhos de corrida, e assistir meu irmão na televisão quando jovem reacendeu essa chama já apagada dentro de mim, mas é àquilo, cada escolha tem uma consequência, e minha escolha de ser um dos melhores corredores do mundo, trouxe como consequência a fama, e sobre isso eu ainda não sei lidar, não consigo pensar que existem pessoas que são obcecadas por mim, não acho que isso seja saudável.
Eu apenas sou um piloto nada mais, e as vezes eu recuso algumas coisas absurdas e repugnantes, como presente caros, propostas que me dão nojo, e coisas do tipo, para falar a verdade nem autógrafos eu gosto de dar, mas sei que faz parte do meu trabalho, as crianças são com quem me identifico mais, pois nelas eu vejo um amor puro e genuíno pela minha profissão e não por mim. Elas se espelham em mim para realizar seus sonhos, e isso sim é extraordinário, ser admirado pelo seu trabalho, não há preço que pague.
Esse é meu lema; se eu escolhi fazer algo na vida, então que eu seja o melhor, ou pelo menos um dos melhores naquilo que faço, não por mim, mas para glorificar quem me deu capacidade de executar meu talento com eficácia.
Então, meu Conselho é tudo que faça na vida, seja simples ou não, procure fazer o melhor, ser o melhor a cada dia, e assim colherá bons frutos do seu trabalho.
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Emma estava com certeza vagando pelo salão a minha procura, e sabia que de alguma forma ou de outra, ela acabaria me obrigando a tira-la para uma dança, e isso seria um prato cheio para minha mãe, afinal de contas, ter fotos nossas na revista seria o resumo de uma noite perfeita, porquê para dona Raquel tudo que importa era que Emma Carter fosse sua nora, não importava com quais dos filhos ela se casasse.
E foi tentando fugir da ex noiva do meu irmão e minha amiga de infância que eu a avistei, ela estava parada no meio do salão olhando tudo a sua volta, parecendo perdida no meio daquela multidão, com um vestido rosa claro discreto, porém que a deixava mais bela do que qualquer mulher dessa festa, que vestiu-se de forma extravagante para chamar a atenção, e seus cabelos castanhos que batiam até o meio das suas costas, seu rosto delicado e ao mesmo tempo marcante, senti uma sensação estranha dentro do peito, uma emoção a qual eu não era familiarizado, por isso não poderia descrever do que tratava-se, dei meia volta pensando em retornar para meu quarto, e foi então que meus olhos capturaram Emma vindo na minha direção apressadamente, foi por esse motivo que tomei uma decisão não muito inteligente, e de certa forma impulsiva que não condiz com minha personalidade e a convidei para dançar.
Graças a Deus! eu não levei um toco. E tentei soar o mais natural possível, sem bem que a minha atitude em si, já detonava insólito.
Quando a trouxe para meus braços fui tomado de uma coragem a qual eu desconhecia, nunca fui bom em conversar com mulheres sem ser de maneira profissional, exceto minha mãe, Emma e a mulher que foi minha cuidadora e claro, minha psicóloga, eu não tinha amizade com o sexo oposto, e sinceramente eu não fazia questão, mas com ela eu simplesmente consegui ter uma conversa divertida e casual, embora não pude deixar de notar sua língua afiada, e seu jeito marrenta de ser, e apesar disso o clima não ficou estranho. Claro! Porque Isso aconteceu depois que eu praticamente fugi do salão, assim que a música acabou.
Quando retornei, o local era uma tremenda bagunça, Arthur havia surtado, minha mãe parecia que estava querendo explodir de raiva, e eu apenas consegui avistar seu vulto saindo correndo do salão. Andei depressa tentando alcança-la e procurar entender o porquê dessa bagunça toda, mas tudo que encontrei após tentar passar furtivamente pela multidão, foi seus dois pares de sapatos no chão jogados. Os observei, eram brilhosos, com pedras grandes e coloridas, totalmente o oposto do vestido, para falar a verdade bem chamativo. Notei algo na parte de trás de cada um deles, mulheres! realmente se sacrificam tanto para ficarem belas.
E para minha surpresa, aquela mulher a qual eu encontrei os sapatos na noite anterior, agora estava aqui diante de mim me olhando como se eu não estivesse no meu juízo perfeito. E talvez eu não esteja, porque além dela destruir meu carro, e me deixar visivelmente irritado, agora aceitei a exigência do Arthur, meu irmão que até ontem a odiava, agora faz questão de querer ela por perto, alegando que além de mim, ela foi a única que não o tratou como um coitado, mas para falar a verdade seu repentino interesse por ela, me causava uma certa preocupação.
___ Isso é uma piada, não é? Já sei, estou participando de uma câmera escondida? Onde ela está? - começou a procura-la dentro do próprio carro.
__ Eu disse que estava falando sério. É tão difícil acreditar que quero te contratar para cuidar do meu irmão? - franzi a testa.
___Não! Para falar a verdade eu acredito. - sorrio com irônia.
___Então?
___O difícil é o senhor pensar que eu irei aceitar!
___Como? E posso saber o porquê? - comentei surpreso por ter recusado. ___Eu lhe pagarei muito bem, eu garanto que se aceitar minha oferta poderá mudar sua vida completamente, já notei que é de classe média.
___Pode dizer que sou pobre, mas dinheiro nenhum pode pagar meu amor próprio, embora não pareça eu tenho um pouco de orgulho, e eu prefiro mil vezes ser humilhada pela minha madrasta e enteada, do que pelo seu irmão que me jogou aquela jarra de água, e se ele fez isso na frente de todos, que fará quando estiver a sós com uma simples empregada? Você disse que ele está de bom humor por minha causa, se é esse seu lado bom, não quero conhecer seu lado mal humorado. Por isso, minha resposta é não.
__Mesmo que não acredite, meu irmão se simpatizou muito com a senhorita, o que é bem peculiar, porque ele não gosta de humanos, por isso vou deixar meu número se acaso mudar de ideia - insisto tirando o cartão da minha carteira, mas de certa forma me sinto aliviado por ela ter rejeitado.
___Obrigada, mas eu não irei. Eu sei que a maioria de vocês ricaços são acostumados a querer mandarem em tudo, se acham os donos do mundo, e as outras pessoas não passam de marionetes que vocês controlam, mas eu não sou assim, seu dinheiro não pode me comprar e.. - a cortei.
___Certo, não tem necessidade dessa palestra toda, eu ofereci um trabalho e você recusou, fim da história.
__ Eu não aceito, e nunca vou aceitar. - repetiu.
Meus olhos mudaram de direção e encarei seu calcanhar por alguns segundos.
__O que houve com seu pé? Se não estou enganado tive a impressão que estava mancando quando correu para o outro lado. - ela girou o pescoço me olhando surpresa.
__Percebo que está reparando muito em mim, senhor Adrian Salvatore?!
__Eu costumo reparar muito em algo, se isso me deixa intrigado.
__ E eu te deixo intrigado?
__ De certa forma sim. Sabe, eu não costumo encontrar mulheres, que em uma noite destrói a festa da minha família, e no dia seguinte meu carro. Além disso, foi muito corajosa em enfrentar o Rodrigo, é muita sorte que o carro que tenha amassado seja o meu e não o dele. - expliquei tranquilamente.
__Eu não tenho medo desse tipo de gente, o poder deles não me assustam.
__Mas deveria, você não faz ideia do que as pessoas são capazes. - adverti seriamente.
__Acredite em mim, eu sei muito bem o que pessoas com dinheiro são capazes.
__Você tem algo contra em ter dinheiro? porque é o que parece. - rebati transparecendo meu incomodo.
__ Não, eu não tenho nada contra o dinheiro, tenho contra as pessoas que usam dele para se safarem na vida. Mas, acredite essas pessoas podem até escapar da lei dos homens, mas não da lei de Deus.
__OK, de qualquer forma, não precisa se preocupar com meu carro, eu irei paga-lo.
__ Eu não estava preocupada, não tenho dinheiro para pagar, e outra, Deus já pagou pelos meus erros na cruz, então Deus lhe pague. - falou me olhando ousada abrindo a porta e descendo e dei um sorriso.
Desci do outro lado tirando meu aparelho celular do bolso, para ligar para um Uber, e dei a volta para ir na calçada. Como da primeira vez, nós nos encontramos no caminho e fixamos nossos olhares um no outro, uma coisa da qual eu havia reparado nessa garota, é que ela sempre andava de cabeça erguida, e olhava dentro dos seus olhos, como se fosse de igual para igual, e isso de certa forma me agradava.
___ Tem certeza que não quer que eu te acompanhe até sua casa? - indaguei encarando seu rosto harmônico.
__Não é necessário, a menos se quiser sair casado de lá. - deu um sorriso.
__Vai depender de quem for a noiva - rebati e me arrependi ao notar seu olhar questionador. __ Estou brincando! acho que está na hora de se apresentar, qual é seu nome? - estendi a mão.
__Ana Júlia! - sorrio me cumprimentando.
___Ana Júlia, belo nome, combina com você. - Abaixou o olhar um segundo e seu rosto ruborizou levemente.
___ Adrian Salvatore, também combina com o senhor, é um nome de peso, elegante de gente rica. - provocou.
__Não deboche, você nem ainda conhece meu segundo nome, meu pai é um talento em criatividade em escolher os nomes para seus filhos - sorri cruzando os braços.
__Me diga! agora quero saber. - tocou no meu braço entusiasmada.
___Promete que não vai rir? - silabei seriamente. E me encarou alguns segundos em seguida explodiu em uma risada.
___ Do que está rindo?
___ Do seu nome. - Responde com a voz entrecortada.
__ Eu nem contei.
___Eu sei, mas já estou imaginando. Desculpa, é que quanto mais me manda não rir, mais eu tenho vontade de rir. - comentou tentando recuperar do seu ataque de riso repentino. __ Mas, então qual é seu segundo nome.
___ Asteroide. - falei baixinho tampando a boca com a mão disfarçando.
__ O que? não entendi, fala para fora. - exclamou e a olhei fulminante.
___Asteroide. - sorri falso e ela ficou congelada me encarando.
__Asteroide? E porquê? - Questionou seria.
___ Sim, meu pai escolheu esse nome por.....
___É muito melhor do que eu pensava! - voltou a gargalhar espalmando sua perna. __ Combina muito com o senhor, é porque é uma rocha dura e não tem sentimentos!
__ Muito engraçado. Boa tarde senhorita, vou deixar se divertindo com sua recém descoberta.
__Já imagino, Asteroide ultrapassou outro carro e venceu a corrida até a linha de chegada. Asteroide orbitou no meio da pista. Eu juro! seria muito mais divertido assistir suas corridas com esse nome. - me olhou sorrindo com os olhos e a fitei curioso.
__Se me permiti, tenho que ir, meu carro já chegou. - apontei para o outro lado da estrada. __ Não achei que diria isso, mas foi muito divertido te conhecer.
___ Também, senhor Asteroide. Boa rotatória, digo viagem- falou sorrindo e neguei com a cabeça.
___Isso é bullying. - adverti semicerrando os olhos.
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Cheguei exausto em casa tirando o paletó e afrouxando a gravata, tentando não pensar muito no fato dessa garota ter entrado nas nossas vidas, não que tivesse algum motivo afinal, mas talvez eu desejava que fosse esse o caso, confesso que fiquei tentado a perguntar se ela também era cristã, mas que tipo de pessoa chega na outra fazendo perguntas pessoais, somente por ela ter se referido a Deus uma, ou duas vezes?
Isso é totalmente normal no nosso país, muita gente fala sobre Deus, nas músicas, durante o seu dia a dia, é algo que se tornou como um hábito, mas poucos vivem verdadeiramente a fé nele e esse poderia ser o seu caso. Sou afastado dos meus devaneios quando senti a presença do Arthur próximo a mim.
___E então? espero que tenha a resposta a qual eu quero ouvir - falou me olhando de forma implacável.
Suspirei apertando os olhos, aguardando o que viria depois.
__ Ela não aceitou. - me ajeitei no sofá cruzando as mãos nos joelhos.
___Como assim não aceitou? - bradou impaciente. __ Você não a persuadiu o suficiente? mostrou o quanto dinheiro estamos dispostos a pagar?
___Eu falei Arthur, mas a garota disse que dinheiro nenhum, pagará a humilhação que fez ela passar. - reafirmei e deu uma risada medonha.
___Humilhada? Ela me desonrou na frente de todos, e agora quer bancar a vítima? Me passa o endereço dela, eu mesmo vou busca-la, se quer algo bem feito faça você mesmo. - me olhou desafiador querendo sair com a cadeira, e eu segurei firme o impedindo.
___Não! - protestei. ___ Você fez uma oferta, e ela recusou, fim da história.
___Eu digo quando é o fim, e essa história irmão, está longe de acabar. Agora me deixa ir. - soltei o ar dos pulmões.
___Você acha que não sei o que pretende fazer? quer usar essa garota para fazer ciúmes a Emma! Não envolva Anna nisso. - ele sorrio de forma sombria.
___Anna, que intimidade, não me diz que está de olho nela, claro, a garota é bonita não se pode negar.
__Não fale besteiras.
___Exato, porque você vai se casar com Emma, ela é o amor da sua vida a qual eu tirei, lembra?. - rolei os olhos.
___Eu já disse que não vou me casar com a Emma, compreendido? Ela não é mulher para mim.
___Quero ver até quando vai sustentar essa mentira usando como desculpa sua religião. Agora eu tenho que ir buscar minha nova aliada. - tenta sair novamente e eu seguro firme.
___Eu já disse que não vai.
__Você acha, que porquê estou em uma cadeira de rodas pode me deter Adrian? Se você não der um jeito de fazê-la trabalhar aqui, eu darei, e acredite eu posso usar de meios não muitos convencionais para garantir o que almejo, e você não vai conseguir me parar. - Respirei fundo tentando me acalmar e esfreguei a testa.
Eu sabia muito bem que o Arthur seria capaz de tudo para conseguir o que deseja, infelizmente a garota se tornou sua mais nova obsessão, uma arma para o plano maquiavélico que já deve estar arquitetando em sua cabeça, e assim como fez com a Emma ele poderá machuca-la, e eu sou o único que posso impedir, mas para isso, preciso estar à frente das decisões.
___Senhores! com licença, eu achei esse embrulho no lixo do salão ontem, posso joga-lo fora. - a empregada nos interrompeu meio hesitante. -Arthur levou a mão para pegar, porém eu fui mais rápido.
___Deixe, que eu examino isso. - ergui os olhos rapidamente o fitando e rasguei o pacote na sua frente abrindo, meus olhos se escararam surpresos ao notar que era uma bíblia. Deslizei algumas páginas, procurando algum vestígio de algo que indicaria o possível dono, ou dona, haviam algumas anotações interessantes e desenhos fofos, mas foi ao chegar nas páginas finais e me deparar com as fotos tiradas, e sua dedicatória que tudo pareceu se encaixar, repuxei os lábios em um sorriso contido. Sentindo um frio estranho na boca do estômago, meu coração se aqueceu por um momento, tem que ser dela!
___Então você gosta de caras sensíveis? que expressão seus sentimentos através da arte? Realmente, eu não faço ideia do que é isso.
___Do que está falando?! De quem é isso? - Arthur quis saber, e eu já havia me esquecido dele, fechei a bíblia abruptamente.
___Você quer que a garota trabalha aqui, ela vai trabalhar, mas será do meu jeito. Ela não gosta muito de você, e preciso tentar convence-la, e para isso eu tenho um plano. - passei a língua entre os lábios, me virei para empregada.
___ Marta, você guardou os sapatos que eu encontrei ontem?
___Sim, senhor!
___Ótimo! Vamos anunciar uma nota de premiação, procurando a dona desses sapatos e dessa Bíblia, a pessoa em questão terá a chance de fazer uma viagem comigo com tudo pago, e assistir de perto minha próxima corrida. E melhor ainda, se por acaso ela for uma jornalista, poderá ter uma exclusiva comigo e ter acesso a todos os bastidores.
___ O que está fazendo? - Arthur perguntou confuso.
___ Trazendo a garota para trabalhar aqui, mas eu já lhe aviso com antecedência Arthur, ela estará sobre minha proteção, então nem pense em machuca-la na minha frente. Eu perdoei tudo que fez comigo e a Emma, mas não vou admitir que você, nem o papai destrua mais a vida de ninguém - apertei os lábios em linha reta.