Capítulo 4 Conhecendo Aleksander

Capítulo 4

Aurora Morneau

Ao menos naquela tarde eu me sentia bem, estava bem-vestida graças à Serena, que me emprestou uma de suas roupas. Fui levada ao Recursos Humanos, passei toda a documentação e fui acompanhada pelo simpático funcionário até a sala de Niume. Ela vestia um vestido elegante e seus longos cabelos castanhos estavam presos em um coque sofisticado. O olhar dela ainda era como eu tinha visto da última vez, me encarava com uma curiosidade estranha, mas ao menos desta vez o sorriso em seus lábios era genuíno.

- Bom dia, Aurora. Seja bem-vinda à BioNex.

- Bom dia, muito obrigada pela oportunidade. - Sorri de volta.

- Bom, sei que estava esperando ser contratada para a vaga em nosso laboratório de pesquisas. Mas a vaga foi preenchida por alguém com mais experiência...

À medida que ela falava, fui ficando confusa. Eu tinha assinado os papéis, tão emocionada por ter conseguido a vaga que apenas conferi meus dados.

- Assinei o contrato... - murmurei, confusa.

- Sim, achei que já tinha lido o contrato. Bom, você vai ser assistente do meu irmão, Aleksander Vargr. Ele é o diretor da empresa, o que comanda todos nós. Sou sincera em te advertir que eu sou a parte melhor da família; ele é um pouco... difícil. - Ela deu um sorriso e se levantou.

- Não tenho experiência em ser assistente ou secretária, enfim... talvez não esteja à altura da vaga... - fui sincera, visto que parecia ser um cargo importante e apenas o nome daquele homem já me deixava ainda mais nervosa.

- Acredite, você está bem qualificada para a vaga. Aleksander já possui uma secretária, você vai auxiliá-lo diretamente, será a ponte entre ele e todos os setores da empresa. Vai passar muito tempo com ele, auxiliando no que for preciso, até mesmo em reuniões e viagens. Mas não se preocupe, às vezes ele tem situações que exigem que ele viaje sozinho e passe semanas sem colocar o pé na empresa, isso vai te deixar respirar um pouco.

Estava em pé, ouvindo suas palavras enquanto ela caminhava até um armário, me entregando em seguida uma agenda e um tablet.

- Seu material de trabalho, nunca desgrude disso. Vamos, venha comigo.

Segurando tudo em minhas mãos, a segui, e os únicos sons que se ouviam eram os dos nossos saltos no mármore do corredor. Ela me apresentou a sala da secretária de Aleksander, a sala de fotocópias e a cozinha, explicando o que o diretor da empresa costumava beber e como eu deveria preparar.

Assenti, prendendo nota de tudo o que era dito, e então a segui novamente até o fim do corredor. O cheiro que sempre me acompanhava nos momentos mais absurdos inundou meu olfato, meu coração parecia bater fora do normal e eu me sentia quente. Niume pareceu perceber meu desconforto, olhando por cima do ombro quando hesitei em meus passos. Ela deu duas batidas em uma porta no fim do corredor e logo uma voz grave e forte autorizou a entrada.

Ela entrou na frente e fez sinal para que eu entrasse. Fiz isso, mas nada me preparou para o que vi. O homem alto, musculoso, de cabelos castanhos e olhos de um verde que eu jamais tinha visto, me encarou. Ele era bonito, talvez o homem mais bonito que eu já tinha visto até então, mas seu olhar era ainda mais frio do que o de sua irmã.

- Aleksander, te apresento Aurora, sua nova assistente...

- Muito prazer, senhor Aleksander... - respondi, saindo do meu torpor.

Ele se levantou de forma abrupta e encarou a irmã como se fosse matá-la. O olhar dele me fez dar um passo para trás.

- Niume, não combinamos isso.

Calmamente, Niume se virou em minha direção e disse:

- Por favor, Aurora, prepare um chá para Aleksander. - Rapidamente, saí da sala e segui para a cozinha.

Fiz tudo como Niume havia recomendado antes. Tremendo, preparei o chá do agrado dele. A secretária se manteve em seu lugar, ela também parecia não ter gostado muito de mim, assim como o seu chefe. Isso me levava aos tempos de escola, onde eu era diferente de todos, onde me chamavam de estranha por eu me alterar com cheiros, barulhos, correr e ser mais forte que todos. Isso me fazia controlar todos os meus sentidos, pois odiava ser notada e apontada.

Equilibrei a bandeja de chá na minha mão e segui para a sala novamente. Dei uma leve batida e Niume abriu a porta, permitindo que eu entrasse. Aleksander estava em pé, próximo à mesa, e o cheiro que me chamava a atenção pareceu se intensificar, como se algo naquela sala exalasse aquela fragrância.

- Obrigada, Aurora, pode colocar a bandeja na mesa de Aleksander. Já estamos resolvidos por aqui, pode começar seu trabalho na sala da secretária. - Ela sorriu enquanto eu tentava não olhar para o homem encostado na mesa.

Ele era bem alto, musculoso, e usava um terno de três peças, mas naquele momento não usava o paletó. Sua camisa estava dobrada nos braços, destacando ainda mais os músculos. Os cabelos castanhos escuros, com leves mechas douradas, caíam um pouco sobre o rosto. Seus lábios eram atrativos, mas foram os seus olhos que mais me chamaram a atenção. Eram claros, verdes, mas possuíam fortes traços dourados, uma cor bem diferente.

Ele estava sério, me observando. Eu me sentia uma presa, prestes a ser atacada. Eram poucos passos até ele, mas tudo parecia uma eternidade. Quando cheguei próximo o suficiente da mesa, cometi o erro de levantar meu olhar. O cheiro novamente se tornou forte, o calor se intensificou em meu peito, mas o que mais me assustou foi o olhar dele. Por uma fração de segundos, jurei que seus olhos tinham se tornado completamente dourados e ele pareceu ter rosnado. O ato me fez perder o equilíbrio da bandeja, fazendo o chá cair e respingar no carpete e nos sapatos do homem, que praguejou.

Ele disse algo em algum idioma desconhecido para mim, olhando para os seus sapatos.

Rapidamente peguei um guardanapo e me ajoelhei tentando limpar a bagunça.

- Me desculpe ... Senhor Aleksander... eu...

Novamente ele rosnou, o que era aquilo?

- Aurora! Levante-se!...

Antes que ele pudesse falar algo a mais eu o encarei o dourado não estava lá, mas seus olhos continuavam ameaçadores.

Vi de relance seus dentes brancos e ele não estava sorrindo para mim.

- Você rosnou?

Ele pareceu ainda mais irritado, me segurou pelos braços me levantando. Como eu pude fazer uma pergunta tão estupida. Sabia muito bem que a falta de tomar o meu chá nas horas certas e na quantidade que eu precisava me fazia ser estranha, me fazia ver e ouvir coisas que não eram reais.

Niume se aproximou de nós e se colocou na minha frente. Não consegui falar mais nada além de pedir desculpas novamente, estava pronta para chorar.

- Você se queimou? - Niume perguntou docemente olhando para mim.

Neguei com um gesto de cabeça e vi Aleksander se afastar.

- Me desculpe, Senhor...

- Saia! - Foi o que saiu de sua boca.

A situação tinha me deixado péssima. No máximo fazia uma hora que eu havia sido contratada e agora provavelmente me demitiriam.

Niume tocou o meu ombro, o que me fez olhar para ela.

- Não se preocupe, vá fazer o que pedi. Vá para a sua sala e comece o seu trabalho. Peça ajuda a Kylie se precisar.

Envergonhada, apenas concordei e saí da sala, incapaz de olhar para o homem que parecia detestar a minha contratação.