Uma águia gigantesca, acredito que a maior delas, pousa à minha frente - suas garras são do tamanho da minha cabeça, e deve ter pelo menos cinco metros de altura e, nesse momento, está grasnando em minha cara. Queria estar ofendida como a pequena bebê dragão que está cravando as próprias garras em meu ombro, mas estou só... maravilhada. O clã dos pássaros do céu não passava de uma lenda sobre guerreiros que atiram flechas montados em águias gigantes.
Aurora solta um pequeno rosnado e Elanor se coloca em posição de ataque no momento em que um homem muito alto desce da ave. Quando se aproxima, percebo que é muito, muito alto mesmo. Bem maior que a maioria.
Uau.
Ele parece uma montanha de músculos, diferente de Aidan, que é esguio. Esse homem tem uma densidade natural. Sua estrutura é grande. Esse deve ser o Rei.
Cosmo. - Os ventos sussurram em meus ouvidos.
Seus cabelos pretos, um pouco grisalhos, balançam com a brisa. Ele abre um sorriso travesso. Seu dente é levemente entortado para a esquerda, o que poderia ser considerado um pequeno defeito. Algo que a natureza deve ter colocado ali para não criar algo perfeito. Um charme.
- Eles sussurraram para você, não é? - sua voz é grossa e grave, exatamente como o esperado.
Ele escuta os ventos também? Responde a eles? Ele pisca para mim – como se soubesse exatamente em que estou pensando, antes de se voltar para a águia e estender a mão para ajudar uma mulher – sua Rainha, a desmontar.
Não que ela precise, mas aceita o cavalheirismo como a dama que é. A mulher também é alta e musculosa, mas seu corpo é magro e atlético, diferente do dele. Seus cabelos são brancos como a neve, e ela usa uma coroa simples e ornamentada, remetendo a asas de águia.
Quando finalmente encontro seus rostos, dois pares de olhos azuis-prateados me encaram de volta. A semelhança entre os dois é assustadora, mas quando olho ao redor, fora os meus, todos têm cabelos escuros, cinza ou branco, e os característicos olhos.
Paro de encará-los quando os monarcas inclinam levemente a cabeça em uma reverência a mim. Repito a formalidade.
- Majestade – a Rainha cumprimenta, sua voz é melodiosa, canto para meus ouvidos. - É um prazer para nós estarmos em sua presença, sou Lua - ela parece sincera. Abro um sorriso para eles.
- O prazer é meu, não é sempre que bilhetes caem do céu - não consegui evitar soltar essa pra quebrar o gelo. Há uma onda de tensão às minhas costas.
Seu sorriso simpático chega aos olhos, bem como aos do rei.
- Que belas criaturas têm aqui, em? - ele maneou a cabeça em direção aos meus "animaizinhos de estimação".
- Posso dizer o mesmo sobre as suas, senhor.
- Elas são incríveis, sim - ele responde.
- Podemos entrar? - convido, fazendo um gesto em direção à minha tenda.
- Como quiser - Cosmo inclina a cabeça em concordância.
Começo a me virar quando um grasnado chama minha atenção. Me viro a tempo de ver uma águia imperial - muito diferente e menor do que as outras - dando um rasante no acampamento. Em um ágil e rápido movimento, um homem de cabelos brancos se materializa exatamente à minha frente.
- Majestade - ele toma minha mão rapidamente e deposita um beijo ali.
Fico sem fôlego, e pego Aidan olhando de cara feia.
O moço olha para a própria mãe e leva uma mão ao coração.
- Não acredito que começariam sem mim - seu tom de voz me faz abrir um pequeno e discreto sorriso. A rainha revira os olhos.
- Você não tem jeito mesmo, não é moleque?
- Moleque? - ele dá uma risada deliciosa. - Poucos me chamariam de moleque - ele desvia o olhar para mim. - Pela idade sabe? - dá uma piscada.
- E quantos anos você tem? - Misty questiona.
Ele a ignora. Me olhando de cima à baixo e diz:
- Você é mais bonita de perto.
O que isso quer dizer?
- Meu Deus, é demais pra mim! - a rainha levanta as duas mãos em sinal de rendição. - Vamos entrar antes que sejamos expulsos ou pior.
O homem cai na risada e me olha com expectativa – esperando que eu entre.
- Vamos lá, então - digo e adentro a tenda.
Tudo foi arrumado para recebê-los. Desde a melhor comida até a decoração. Tudo remetendo ao fogo. Nos acomodamos em volta de uma mesa improvisada, o homem de cabelos brancos se senta ao meu lado, o Rei à minha frente e Kenom... do meu outro lado. Me viro para o rei:
- E então? Você pediu uma audiência, cá estamos.
- Direta ao ponto, gostei disso – o príncipe fala.
Aidan bufa, o que rende um olhar mortal vindo de mim, e um de curiosidade do homem águia.
- Pediu não, exigiu - Lana pontua, ela é sempre tão calma, firme. E seu tom de voz revela desconfiança.
- Sim... peço perdão por isso, Vossa Majestade - o Rei diz. - Tive que usar de qualquer meio para ser recebido.
- E por quê? - pergunto.
- Acredito que... bom. Nós vimos o que o rei dos humanos fez com vocês - ele lança um olhar igualmente desconfiado a Kenom. - Sky, meu filho aqui, estava agora mesmo dando uma olhada na região para ter certeza de que estamos seguros.
Sky, esse nome combina muito com ele. Não digo nada, e o rei continua:
- Acredito que a Senhora não saiba exatamente com o que está lidando.
Isso chama minha atenção.
- Ah é? - sinto a seriedade do assunto pairar no ar. O que ele quer exatamente dizer com isso?
- Sinto muito, Majestade, mas sim - Sky complementa a fala do pai. - Nós assistimos tudo de cima, e acreditamos que há uma chance para todos nós dessa vez, se trabalharmos juntos.
Celeste bufa e dá uma risada sarcástica.
- Quem disse que vamos trabalhar com vocês? Que podemos confiar em vocês?
Até que demorou pra ela se meter... Rei Cosmo a analisa por alguns segundos antes de apontar um dedo para mim.
- Ela.
- Como assim? - Misty questiona.
- Ao que reza a lenda, os pássaros do céu também respondem a Treze.
- De fato - diz a rainha deles. - Se eles assim desejarem.
- E nós desejamos, Majestade - Sky completa, sério pela primeira vez desde que chegou.
- É difícil acreditar, visto que não podem existir duas rainhas - Kenom comenta. Sua voz soa inofensiva, mas sabemos que não é o caso.