Não é minha intenção, de forma alguma, usar isso contra ele. Eu só quero a lealdade da família. Embora meus instintos me digam para confiar neles, será difícil sem qualquer garantia. Primeiro, por não conhecê-los. Segundo, porque minhas Juradas de Sangue não se conformariam. Muito embora eu tenha certeza de que acatariam minha palavra.
O Homem Águia solta uma gargalhada, que tem um toque de humor genuíno. Ele se levanta e fecha as mãos em frente ao rosto em namastê, como se fosse fazer uma oração. Caminha até mim e para à minha frente, fazendo uma profunda reverência. Ele se levanta e me avalia.
- Mas que criatura fascinante – diz, com brilho e adoração nos olhos.
Alguém solta o ar pesadamente – acho que Aidan. Mas não olho em sua direção, estou focada demais em Sky e sua singularidade.
Tudo sobre ele é tão... magnético. É como se tudo e todos fossem atraídos para ele. Os olhos dourados não escondem o que ele é, seu corpo musculoso e ossos grandes lhe conferem a aparência de um predador. E, me olhando assim de cima, me sinto sua caça. Um homem páreo para mim. E isso mexe comigo de muitas maneiras.
O Príncipe dos Céus estende a mão para mim.
- Faça as honras. Será uma honra servir a Senhora – não há apreensão, medo ou dúvida em seu olhar.
Embora para mim e para os meus possa parecer estranho, ficou óbvio que nos observaram dos céus, já que chegaram convictos do que querem.
Seguro sua mão, grande e calejada, seus dedos são longos e quadrados, muito másculos. A mão de um guerreiro. Levanto o dedo indicador e vou em direção à palma dele quando:
- Espere – pede a Rainha.
Seguro a respiração. Eu sabia que estava fácil demais. Volto o olhar para ela.
- Sim? – arqueio as sobrancelhas.
- Nós só temos um pedido a fazer – Cosmo anuncia.
- Estamos doidos para ouvir – Celeste grunhe.
Ninguém olha na direção da Bruxa General.
- Queremos anunciar nós mesmos ao nosso povo essa nova aliança, e as consequências dela. Deixaremos que decidam quem vai e quem fica.
Eu os analiso por alguns segundos antes de me voltar para Sky, cuja mão ainda está sobre a minha.
- De acordo – e com isso, furo sua mão com minha garra.
Quando seu sangue, dourado, entra em contato com minha pele, meu dedo começa a formigar, e então minha mão. É como um choque elétrico subindo pelo meu braço.
- O que é isso? – questiono a ele, com os olhos arregalados.
- A ligação – informa.
É diferente do que foi com as bruxas. O lastro de choque vai até meu peito e para... bem no meu coração. Ele tira a mão da minha.
- Está feito.
- Ótimo – murmura o Príncipe da Terra. – Acabamos por aqui?
Olho de esguelha para ele.
- Por quê? Saudade da sua noiva? – provoco com um sorrisinho de escárnio.
Mas fica óbvio que não há diversão nenhuma. Ele revira os olhos. Sky observa tudo atentamente... E vendo-o, uma ideia me ocorre. Parece que enfim posso igualar esse jogo.
Entrelaço meu braço no do Homem Águia. A carranca de Aidan é instantânea. Ótimo. É bom que prove do próprio veneno. Ele nem se aproxima de Ólive, mas não significa que eu não me sinta mal sabendo que são noivos toda santa vez que os vejo.
- Vamos – conduzo Sky em direção à saída. – Temos um anúncio a fazer.
Quando entramos na tenda, o sol estava escondido entre as nuvens, e agora somos praticamente ofuscados por seu esplendor. O astro rei brilhando lá do alto. Forte e constante.
Deixo que o Rei e a Rainha tomem a frente, uma última vez, e eles param diante do nosso povo. A mulher caminha elegantemente em direção ao centro.
- Pássaros dos Céus! - a Rainha clama, e o burburinho cessa de imediato. - Eu e seu rei temos algo a dizer. Peço que nos ouçam com atenção!
Vários pares de olhos azuis cintilam em nossa direção. Não são tantos quanto pensei com o choque inicial. Não passam de centenas.
- Eu e sua estimada rainha Lua estamos aqui, diante de vocês, para anunciar a nossa renúncia ao trono - Rei Cosmo entoa.
Um silêncio ensurdecedor se espalha. Até o vento e as árvores param pra ouvir.
- Não podem haver duas rainhas para um único povo - Lua diz, sua voz é firme e não transmite dúvidas. - Eu e Cosmo renunciamos e saibam que fazemos isso com prazer e de nossa própria vontade. O príncipe Sky fez o juramento de sangue para a Treze, nossa soberana.
O choque se espalha entre seu povo. Sky me lança um breve sorriso e da uma piscadinha, antes de desentrelaçar nossos braços e se aproximar da mãe, tocando seu ombro. Gosto de como eles parecem funcionar em unidade, um cedendo espaço para o outro.
- E queremos saber quem vai estar com a gente. A Rainha aceitou que façam suas próprias escolhas – o Homem Águia se dirige a eles. – Quem não aceitar a Treze como soberana, terá o direito de ir.
O povo dos céus assente em aprovação para mim. Mantenho o queixo erguido, mostrando minha anuência e consentimento. Cosmo se vira para mim.
- Estamos com você - e olha dentro de meus olhos ao se ajoelhar, seguido por Sky e Lua.
Me pergunto se já se ajoelharam alguma vez em suas vidas. Quando curvam a cabeça em direção ao solo, todos os presentes, inclusive as águias, bruxas e humanos, fazem o mesmo. Não me surpreendo ao olhar para trás e ver Aidan Kenom prostrado.
Olho para frente, controlando a ardência de emoção que me atinge, só para ver Ólive em pé, observando de longe. Ótimo. É só olhar para ela que chego a fervilhar. Mais uma vez, conquisto a lealdade de um povo diferente, unificando nossos povos.
- Agradeço a confiança que cada um aqui deposita em mim - eles se levantam para ouvir. - Trabalharemos todos juntos para trazer paz à esse reino, ou morreremos tentando. Eu juro minha vida a vocês.
E então, eu me curvo diante de todos. Afinal, uma rainha deve servir ao seu povo.
- SALVEM A RAINHA! – alguém grita.
Logo, os clamores ecoam na clareira, os aceito com um grande sorriso e a garganta embargada. Céus, isso é tão glorificante. Ergo a mão, em sinal de que quero a palavra, e o som se extingue.
- Como prova de minha sincera gratidão e respeito, concedo a Cosmo, Lua e Sky um lugar em meu conselho.
Eles se curvam em uma reverência.
- Será uma honra.