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O vento soprava com força lá fora, fazendo as árvores do lado de fora do grande hotel sussurrarem segredos que apenas o tempo conhecia. Alícia estava sozinha agora, sentada na poltrona de couro envelhecido do escritório, os dedos ainda trêmulos pelo contato com Dante. O corpo ainda pulsava com o resquício do desejo que ele provocara. Mas o silêncio ao redor a forçava a encarar algo muito mais complicado do que a luxúria: seu próprio passado.
Uma década atrás, Alícia havia deixado aquela vila com o coração em pedaços. Tudo o que ela possuía estava em uma mala pequena e, dentro de si, uma esperança quebrada. Crescera ali, entre os sussurros dos moradores e as regras rígidas que cercavam as famílias tradicionais. Seu pai, um homem de rígidos valores, não aceitava falhas – e tampouco aceitava Dante Ferrer. Ele havia sido o primeiro grande erro de Alícia, aos olhos do pai.
Mas o que Dante representava era mais do que rebeldia. Ele fora sua primeira paixão, seu primeiro amor, e também a primeira grande decepção. O que começou como um romance proibido se transformou em um furacão de emoções e expectativas que nenhum dos dois estava preparado para lidar. Ela era jovem, ingênua, acreditava que o amor poderia superar qualquer barreira. Até que tudo desmoronou.
A lembrança daquele dia ainda doía. Era uma tarde de tempestade, o céu tão carregado quanto seu peito. Alícia e Dante haviam sido pegos juntos, e as consequências foram avassaladoras. Seu pai, furioso e temendo que a reputação da família fosse destruída, deu-lhe um ultimato: ou esquecia Dante para sempre ou enfrentava o exílio. A decisão nunca fora realmente dela. Seu coração foi arrancado de suas mãos, mas não lhe restava escolha a não ser partir.
Longe da vila, Alícia construiu uma nova vida. Tornou-se independente, forte. De alguma forma, as cicatrizes se tornaram sua armadura. Trabalhou duro, estudou, fez carreira em um mundo que não lhe perdoava deslizes. Mas, por mais que tentasse enterrar o passado, Dante nunca deixara de ser uma sombra presente em seus pensamentos. Ela jurou a si mesma que jamais seria vulnerável novamente.
E agora, ali estava ela, sentada no mesmo lugar onde tudo começara. Enfrentar Dante novamente não fazia parte do plano, mas era inevitável. A vila precisava dela para resolver questões que envolviam a propriedade da família e o futuro do hotel, e Dante era parte disso. Ele assumira o controle de praticamente tudo na vila, e isso incluía qualquer decisão que envolvesse seu retorno.
Alícia fechou os olhos e respirou fundo. Quando os abriu, forçou-se a olhar em volta, a perceber cada detalhe do ambiente que agora parecia carregado das lembranças do passado. Tudo ali trazia memórias – boas, ruins, e algumas que preferia esquecer. Cada canto daquele lugar trazia imagens de Dante, do garoto que ela conhecera e do homem perigoso em que ele se transformara.
Enquanto pensava, a porta do escritório se abriu suavemente, trazendo-a de volta ao presente. Era Helena, a antiga governanta do hotel, uma mulher de rosto enrugado, mas olhos ainda afiados. Helena a olhou com ternura e preocupação, como se pudesse ver através de sua fachada de força.
- Sabia que você voltaria um dia – disse a mulher, com um sorriso triste. Alícia tentou sorrir de volta, mas não encontrou forças.
Helena era uma das poucas que sabiam de tudo. Ela estava lá na noite em que Alícia partira, ajudando-a a sair em silêncio. Sempre fora mais uma mãe para ela do que sua própria mãe, que nunca desafiou a autoridade do pai.
- Não voltei por escolha – Alícia murmurou, tentando manter a postura. Mas Helena apenas assentiu, como se entendesse cada camada do que ela não estava dizendo.
- O passado tem um jeito estranho de nos encontrar, querida. Talvez você ainda tenha algo a resolver – disse Helena, pousando a mão sobre a dela.
As palavras pesavam. Era verdade. Enfrentar Dante não era apenas sobre os negócios; era sobre os sentimentos não resolvidos, as feridas que nunca cicatrizaram. E agora, com ele tão perto, o perigo não era apenas perder o controle sobre os negócios – era perder a si mesma novamente.
Alícia se levantou, determinada. Não podia deixar Dante definir sua vida novamente. Precisava enfrentá-lo, precisava ser mais forte. Mas enquanto repetia isso como um mantra, seu corpo ainda lembrava o toque dele, o desejo que reacendera como se os anos não tivessem passado. Ela odiava a fraqueza que sentia, mas sabia que a batalha real estava apenas começando. Desta vez, ela não deixaria seu coração decidir – pelo menos era o que prometia a si mesma.