A Obsessão do Rei do Cartel
img img A Obsessão do Rei do Cartel img Capítulo 8 7
8
Capítulo 11 10. img
Capítulo 12 11. img
Capítulo 13 12 img
Capítulo 14 13 img
Capítulo 15 14 img
Capítulo 16 15 img
Capítulo 17 16 img
Capítulo 18 17 img
Capítulo 19 18 img
Capítulo 20 19 img
Capítulo 21 20 img
Capítulo 22 21 img
Capítulo 23 22 img
Capítulo 24 23 img
Capítulo 25 24 img
Capítulo 26 25 img
Capítulo 27 26 img
Capítulo 28 27 img
Capítulo 29 28 img
Capítulo 30 29 img
Capítulo 31 30 img
Capítulo 32 31 img
Capítulo 33 32 img
Capítulo 34 33 img
Capítulo 35 34 img
Capítulo 36 35 img
Capítulo 37 36 img
Capítulo 38 37 img
Capítulo 39 38 img
Capítulo 40 39 img
Capítulo 41 40 img
img
  /  1
img

Capítulo 8 7

Camila

O calor escaldante do México parecia atravessar as paredes da igreja, se somando à pressão que latejava em minha cabeça.

O véu caía sobre meu rosto, abafando a visão e o ar, e eu sentia o suor frio escorrendo pela nuca. Minha pele parecia presa em seda e renda, mas aquilo não era nem de longe uma armadura.

Era o traje de uma prisioneira prestes a cumprir uma sentença.

A Catedral de Guadalupe estava lotada. Cada canto era ocupado por figuras importantes, aliados de ambos os cartéis, além dos curiosos que sabiam da cerimônia e queriam ver a união dos Mendonzas e dos Herrera. Para eles, aquilo era um espetáculo. Uma aliança histórica. Um "conto de fadas" de poder e influência, onde as famílias mais temidas da região colocavam as armas de lado e se uniam sob o pretexto de paz. Mas, para mim, tudo continuava sendo uma sentença perpétua.

Olho para o altar, onde Javier me esperava, o rosto oculto sob a mesma máscara impassível que ele vestia em todas as nossas interações.

Ele parecia uma estátua, imóvel, intocável, com as mãos cruzadas atrás das costas, o olhar fixo no vazio como se eu não passasse de um detalhe naquele cenário. A raiva crescia dentro de mim, misturada com o medo do que me aguardava depois do "sim".

Foi difícil engolir o nó na garganta enquanto a música começava, cada nota ecoando pela igreja e reforçando a sensação de que eu estava marchando para meu próprio destino inevitável. Minhas mãos tremiam de leve, e eu as escondi apertando o buquê com mais força. Tentava respirar fundo, mas o ar parecia mais denso, carregado de expectativa e de um estranho tipo de luto.

Não era o casamento em si que me deixava nervosa. Não. O que me assustava era o depois, quando todos os rostos conhecidos e estranhos fossem embora

e eu me visse a sós com Alejandro. A realidade daquele casamento não envolvia apenas alianças, contratos e formalidades, mas a entrega do meu próprio destino nas mãos de alguém que eu mal conhecia, que carregava um semblante frio e, aparentemente, uma total falta de empatia.

Meus pés se moviam quase mecanicamente pelo tapete vermelho, mas minha mente estava longe. Pensava no que aconteceria depois, nas portas se fechando atrás de nós, no peso das expectativas que ele certamente carregava e que eu teria de suportar.

Eu não sabia se ele me trataria com indiferença ou com crueldade. No pouco tempo que passamos juntos, ele foi frio, calculista, e a ideia de ser só mais uma peça no tabuleiro dele me fazia querer correr, gritar, implorar por ajuda. Mas, com todas aquelas pessoas ao redor, estava mais sozinha do que jamais estivera.

Com os olhos baixos, percebi Roberta na primeira fileira de bancos, enxugando uma lágrima disfarçada no lenço, enquanto Juan Carlos me lançava um olhar quase orgulhoso, como se me dissesse que eu finalmente estava me tornando "útil" para a família.

Aquilo doía. Doía de um jeito profundo, mas não podia fazer nada, senão continuar caminhando até o altar.

Finalmente, chego à frente de Javier. Ele estende a mão, e eu a segurei, minha pele gelada contra a firmeza morna da dele. Seu rosto não demonstrava qualquer emoção, e, por um instante, ele desviou os olhos, como se algo o incomodasse - ou talvez fosse apenas um reflexo do meu próprio desconforto.

O padre começou a falar, palavras sobre amor, honra e respeito. Eu quase ri da ironia, mas a verdade era amarga demais para ser engraçada.

No fundo, sentia uma fúria presa, como um animal tentando escapar da jaula. E, enquanto o padre falava sobre união e felicidade, eu apenas me perguntava quanto tempo até que o meu mundo fosse completamente moldado pelas ordens de Javier.

Quando chega o momento dos votos, minha voz estava baixa, quase inaudível, mas forço as palavras a saírem.

- Aceito - murmuro, com o coração pesado e a mente vagando, tentando imaginar como seria a minha vida depois daquilo. Eu mal conseguia olhar para ele, mas sabia que ele mantinha o mesmo olhar frio e fixo.

- Aceito - ele diz em seguida, sem hesitar. Sua voz ecoou pela catedral, firme, sem qualquer vestígio de hesitação.

Quando o padre finalmente nos declarou marido e mulher, Javier segurou minha mão com firmeza e me guiou para o final do altar.

Ele me oferece o braço para que eu o segurasse, e eu o fiz por pura obrigação, os aplausos ao redor soando distantes, como se fossem para outra pessoa, em outro lugar.

Enquanto descíamos a nave, mantinha o rosto erguido, mesmo que por dentro tudo estivesse em pedaços. Meu corpo parecia agir por conta própria, como se eu tivesse treinado aquela saída por anos, mas meu coração pesava, e a respiração estava rasa.

Não conseguia evitar a sensação de que algo dentro de mim estava sendo levado embora para sempre.

Os convidados nos observavam com olhares aprovadores, alguns com sorrisos falsos, outros com inveja, mas todos alheios ao turbilhão que eu tentava disfarçar.

Mal sabia o que me esperava quando estivessémos só nós, quando os olhos do mundo deixassem de nos observar.

            
            

COPYRIGHT(©) 2022