Ele respirou fundo, os olhos percorrendo a área ao redor. Ao longe, avistou Floco de Neve se aproximando. A égua, com seu instinto afiado, voltou para o local, pronta para ajudar. Carlos, sem perder tempo, levantou Giulia do chão, a colocou cuidadosamente sobre a égua e subiu logo em seguida, segurando-a firme enquanto cavalgavam de volta para casa.
Quando chegaram à fazenda, Carlos desceu do cavalo e carregou Giulia para dentro. Ele a colocou gentilmente no sofá da sala. Vitória, que estava do lado de fora, viu seu pai chegando com Giulia nos braços e correu para dentro, preocupada.
- Pai, o que aconteceu com ela? - perguntou Vitória, já ao lado de Giulia, visivelmente ansiosa.
- Ela está bem, só tomou uma pancada na cabeça. Fica aqui com ela. Vou ao escritório fazer uma ligação - Carlos respondeu, tentando manter a calma, mas ainda com o rosto marcado pela tensão do confronto.
No escritório, ele pegou o telefone e discou rapidamente.
- Marcos? Preciso da sua ajuda. Tem que ser feita uma limpeza no riacho. Vou te explicar depois - disse Carlos, a voz firme, mas carregada de urgência.
Após desligar, Carlos retornou à sala. Giulia ainda estava desacordada, com Vitória ao seu lado, segurando sua mão.
- Ela vai ficar bem? - perguntou Vitória, preocupada.
Carlos se ajoelhou ao lado de Giulia, verificando seu estado mais uma vez. Ele suspirou, passando a mão no rosto antes de responder:
- Vai sim, filha. Ela só precisa descansar um pouco.
Vitória, com o rosto marcado pela preocupação, passou delicadamente a mão pelos cabelos vermelhos de Giulia. No entanto, ao sentir uma umidade, seu coração disparou. Quando olhou para seus dedos, viu que estavam manchados de sangue.
- Papai! - exclamou, a voz tremendo de pânico. - Ela está machucada! Olha o sangue!
Carlos, que estava ao lado delas, imediatamente se levantou ao ouvir o alarme da filha. Ele se aproximou rapidamente, afastando os cabelos de Giulia para examinar o ferimento com mais atenção. A coronhada que ela havia levado tinha aberto um corte.
- Droga - murmurou Carlos, sentindo a adrenalina subir novamente. - Não é tão grave quanto parece, mas precisamos limpar isso e estancar o sangue.
Vitória, ainda assustada, observava atentamente os movimentos rápidos e eficientes do pai. Carlos correu até a cozinha, pegando um kit de primeiros socorros, enquanto Vitória permanecia ao lado de Giulia, segurando sua mão.
- Ela vai ficar bem, pai? - perguntou Vitória, ainda com os olhos cheios de preocupação.
- Vai, filha, vai sim - respondeu Carlos, voltando para a sala com gaze, antisséptico e bandagens nas mãos. Ele se ajoelhou ao lado de Giulia, limpando cuidadosamente o ferimento enquanto falava. - O corte não é profundo. Eu já lidei com coisas bem piores na fazenda. Só precisamos mantê-la em repouso por um tempo.
Enquanto ele trabalhava, Giulia começou a dar sinais de que estava recobrando a consciência. Seus olhos se abriram lentamente, e ela gemeu baixinho, sentindo uma dor aguda na cabeça.
- O que... o que aconteceu? - murmurou ela, tentando entender onde estava.
- Calma, você está segura agora - disse Carlos, com a voz mais suave.
Giulia piscou algumas vezes, focando em Vitória e depois em Carlos. A dor ainda era intensa, mas o sorriso no rosto dele a fez relaxar um pouco.
- Obrigada - disse ela, respirando fundo. - E os homens... eles foram embora?
Carlos assentiu, concentrado em terminar o curativo.
- Acabou, por enquanto. Mas temos que ficar atentos. Não sabemos quem eram ou o que queriam.
Giulia tentou se sentar, mas Carlos colocou a mão em seu ombro, gentilmente a impedindo.
- Fica deitada, Giulia. Você precisa descansar. Não se preocupe, eu vou cuidar de tudo - disse ele, com um olhar firme e protetor.
Vitória sorriu, aliviada por ver que Giulia estava acordada, e ainda segurando sua mão, disse:
- Você nos assustou! Eu achei que... que tinha sido pior. Mas ainda bem que meu pai está cuidando de você.
Giulia sorriu fraco, sentindo o carinho na voz da menina. A situação ainda era confusa para ela, mas estava grata por estar em um lugar seguro.
- Parece que cheguei aqui causando mais confusão do que queria - brincou Giulia, apesar da dor.
- Não se preocupe com isso agora. Fique com ela, querida. Vou pedir para fazerem algo para comer - disse Carlos, lançando um olhar de tranquilidade para a filha antes de sair.
Vitória assentiu e, assim que ele saiu, voltou sua atenção totalmente para Giulia, passando delicadamente a mão pelos cabelos vermelhos e lisos. Giulia, ainda um pouco tonta, estava prestes a agradecer quando seus ouvidos foram capturados por uma melodia suave.
Dos lábios de Vitória, saiu uma bela canção, doce e carregada de emoção. Giulia ficou quieta, ouvindo enquanto a menina entoava as palavras de "Evidências", uma famosa canção sertaneja. A afinação perfeita de Vitória e a intensidade com que ela cantava surpreenderam Giulia. A letra da música, repleta de sentimentos de amor e dúvida, ressoou profundamente no coração de Giulia, que já estava vulnerável pelos acontecimentos do dia.
- Quando digo que deixei de te amar... É porque eu te amo...
Giulia piscou algumas vezes, impressionada. A voz da garota tinha um tom doce, mas poderoso, capaz de envolver qualquer um que a ouvisse.
Quando Vitória chegou ao final da música, encontrou o olhar de Giulia, que parecia emocionada.
- Você... você canta lindamente - disse Giulia, a voz um pouco rouca.
Vitória sorriu timidamente, corando um pouco.
- Obrigada. Eu sempre gostei dessa música, ela me faz pensar na mamãe.
Giulia assentiu. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Carlos voltou à sala.
- O pessoal está preparando algo leve para você.
Carlos olhou para Vitória, percebendo o ambiente tranquilo que havia se instalado entre as duas.
- O que vocês estavam fazendo? - perguntou ele, notando o olhar sereno de Giulia.
Vitória deu de ombros, um sorriso discreto nos lábios.
- Só estava cantando um pouquinho.
- Ah, sim. Vitória adora cantar, parece que a música está no sangue dela.
Giulia sorriu, ainda se sentindo mais leve depois de ouvir a canção.
- Ela tem muito talento.