Capítulo 2 O Início do Casamento

A cerimônia de casamento foi breve e sem brilho. Clara, com seu coração puro e cheio de esperanças, tentou a todo custo conquistar o homem que mal se importava com ela. Marco a tratava com frieza, apenas cumprindo a formalidade do matrimônio, sem nenhum sinal de afeto ou consideração. Ele estava distante, quase indiferente. A única coisa que ele queria era garantir que o casamento durasse o tempo suficiente para que ele pudesse acessar a sua herança empresarial.

Naquela mesma noite, enquanto Clara permanecia em casa, ainda vestida com o simples vestido que escolhera para o casamento, Marco saiu sem dar explicações. Ele foi até um bar no centro da cidade, acompanhado de amigos que pareciam tão alheios à importância daquele dia quanto ele. Clara ficou sozinha, sentada no sofá da sala, encarando o vazio. A dor em seu peito era quase insuportável. Ela havia sonhado com um casamento repleto de amor e companheirismo, mas tudo o que tinha era solidão e desilusão.

Sem saber o que fazer, Clara pegou o telefone e ligou para sua amiga de infância, Ana, que morava no interior. A voz familiar do outro lado da linha foi um alívio imediato, e Clara desabou em lágrimas.

- Ana, eu não sei se vou aguentar - disse, com a voz embargada. - Nem no dia do casamento ele conseguiu me tratar bem. Saiu para beber com os amigos e me deixou aqui, sozinha.

Ana, sempre compreensiva, tentou acalmar Clara.

- Você é forte, Clara. Mas não precisa carregar esse fardo sozinha. Se ele não está disposto a mudar, você precisa pensar no que é melhor para você.

Clara respirou fundo e enxugou uma lágrima que escorria por seu rosto.

- Eu sei, Ana. Mas esse casamento não é só por mim. Você sabe que, com o dinheiro que receberei no final do contrato, poderei pagar todas as dívidas que meu pai deixou antes de morrer. Não é só sobre aguentar Marco; é sobre dar um fim ao sofrimento da minha família.

Ana ficou em silêncio por alguns segundos, compreendendo o peso da escolha de Clara.

- Só não esqueça de cuidar de você, Clara. Não vale a pena se perder no processo.

As palavras de Ana ecoaram na mente de Clara, mas a decisão já havia sido tomada. Ela só precisava aguentar aquele ano.

Mais tarde naquela noite, enquanto Clara ainda estava acordada, perdida em seus pensamentos, o avô de Marco, o senhor Augusto, apareceu na sala. Ele a observou por alguns instantes antes de se sentar ao seu lado.

- Clara, eu preciso falar com você - disse ele, com a voz grave e cansada. - Sei que meu neto não é fácil. Ele pode ser frio, até cruel às vezes, mas ele não é uma má pessoa.

Clara levantou os olhos, tentando conter as lágrimas.

- Ele me trata como se eu fosse nada, senhor Augusto. Eu não sei se consigo viver assim.

O idoso suspirou profundamente antes de continuar.

- Marco já foi diferente, sabe? Mas ele foi muito magoado no passado. A ex-namorada dele o traiu com o melhor amigo. Ele confiava nos dois mais do que em qualquer outra pessoa, e isso o destruiu. Desde então, ele construiu essa muralha ao redor de si. Ele acha que, se não se importar com ninguém, não poderá se machucar novamente.

Clara ouviu atentamente, tentando processar aquelas informações. Era difícil imaginar que alguém tão frio e distante pudesse carregar tamanha dor dentro de si.

- Não estou dizendo que isso justifica o comportamento dele - continuou Augusto. - Mas talvez, se você tiver paciência, possa ajudá-lo a enxergar que nem todos vão feri-lo.

Clara hesitou antes de responder.

- Não sei se tenho forças para isso, senhor Augusto. Tudo o que quero é terminar este ano e seguir minha vida.

O senhor a observou por um momento, como se tentasse medir suas palavras.

- Clara, eu prometi ao seu pai que cuidaria de você. Ele foi meu amigo nos meus piores dias, quando eu não tinha nada. Ele me ajudou quando ninguém mais acreditava em mim. Esse casamento... talvez não seja o que você sonhou, mas espero que você não desista de Marco tão cedo.

Clara sentiu um misto de compaixão e dúvida. A história de Marco explicava muitas coisas, mas não tornava sua situação menos dolorosa. Ela sabia que precisava tomar uma decisão: continuar lutando por um homem que parecia inalcançável ou seguir seu próprio caminho, em busca de felicidade.

Enquanto a noite avançava, Clara ficou sentada na sala, refletindo sobre as palavras de Augusto e a conversa com Ana. O peso do casamento que mal havia começado parecia insuportável, mas, no fundo, ela ainda tinha uma centelha de esperança. Talvez, só talvez, Marco pudesse mudar.

            
            

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