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Os dias que se seguiram ao casamento foram monótonos e marcados por uma rotina fria. Clara acordava cedo, preparava o café da manhã e tentava iniciar pequenas conversas com Marco, mas ele raramente respondia. Sentado à mesa com o jornal nas mãos, Marco resmungava algo incompreensível ou apenas balançava a cabeça, deixando claro que não estava interessado em diálogo.
Depois do café, ele saía para o trabalho, deixando Clara sozinha na enorme mansão. Apesar do conforto que a casa oferecia, Clara sentia-se aprisionada. Os cômodos amplos e silenciosos faziam ecoar sua solidão. Sem muito o que fazer, ela passava horas organizando os armários, lendo livros antigos que encontrava na biblioteca ou cuidando do pequeno jardim nos fundos da casa.
Certa tarde, enquanto regava as plantas, seu celular tocou. Era Ana.
- Clara, como você está? - perguntou Ana, com a voz carregada de preocupação.
- Sobrevivendo - respondeu Clara, soltando um suspiro pesado.
- Ele ainda está te ignorando?
- Ignorando, sendo rude, saindo todas as noites... Não sei por quanto tempo vou aguentar isso, Ana. Ele é tão frio, tão distante. É como se eu nem existisse.
Ana ficou em silêncio por um momento antes de responder.
- Você já tentou falar com ele sobre isso? Talvez ele precise ouvir como você se sente.
- Tentei, mas ele sempre corta a conversa. Diz que esse casamento é só um contrato e que não devemos esperar mais nada um do outro.
Ana suspirou do outro lado da linha.
- Isso não é justo, Clara. Você merece mais do que isso.
Clara sentiu os olhos se encherem de lágrimas, mas rapidamente as enxugou.
- Eu sei, Ana, mas estou aqui por um motivo. Preciso pagar as dívidas do meu pai. Depois disso, vou seguir minha vida.
***As Saídas de Marco
As noites eram ainda mais difíceis. Marco raramente jantava em casa. Ele chegava tarde, muitas vezes cheirando a álcool, e evitava qualquer interação com Clara. Uma noite, Clara decidiu esperá-lo na sala. Quando ele entrou, já passava da meia-noite.
- Você poderia, pelo menos, avisar que vai chegar tarde - disse Clara, tentando esconder a irritação.
Marco a olhou com desdém, jogando as chaves sobre a mesa.
- Não sabia que precisava pedir permissão.
Clara cruzou os braços, decidida a não recuar.
- Não é questão de permissão, Marco. É uma questão de respeito.
Ele riu, mas não havia humor em sua expressão.
- Respeito? Esse casamento é um contrato, Clara. Não precisa fingir que se importa.
As palavras dele cortaram fundo, mas Clara se recusou a demonstrar fraqueza.
- Você pode achar que isso aqui é só um contrato, mas, para mim, é minha vida. E eu não vou passar o próximo ano sendo tratada como um fantasma.
Marco a encarou por alguns segundos antes de subir as escadas sem dizer mais nada. Clara ficou sozinha na sala, sentindo o peso de sua escolha mais uma vez.
***Os Dias Solitários de Clara
No dia seguinte, Clara decidiu sair para espairecer. Foi até uma cafeteria próxima e ligou para Ana. Quando a amiga atendeu, Clara desabou.
- Ana, eu não sei mais o que fazer. Ele é tão cruel, tão insensível. Não sei como vou aguentar isso por um ano inteiro.
Ana, sempre paciente, tentou acalmá-la.
- Clara, você precisa se lembrar do porquê está fazendo isso. Pense na sua família, nas dívidas que serão quitadas. Mas também não esqueça de cuidar de você. Não deixe ele te destruir.
- Eu sei, Ana. Só que é tão difícil. Ele nem tenta.
Ana hesitou antes de responder.
- Talvez ele esteja esperando que você desista. Talvez ele ache que você não é forte o suficiente para aguentar. Prove que ele está errado.
As palavras de Ana deram a Clara uma nova determinação. Ela decidiu que, mesmo que Marco não quisesse mudar, ela faria o possível para não deixar a situação consumi-la.
***A Rotina do Casal
Os dias se tornaram uma dança silenciosa entre os dois. Clara continuava tentando manter uma rotina normal, enquanto Marco fazia questão de manter a distância. Ele saía cedo, voltava tarde e evitava qualquer tipo de conversa.
Certa manhã, enquanto Clara preparava o café, Marco entrou na cozinha, ajustando a gravata. Ela tentou iniciar uma conversa.
- Você tem alguma reunião importante hoje?
Ele respondeu sem olhar para ela.
- Sempre tenho.
Clara suspirou, frustrada.
- Marco, você poderia, pelo menos, tentar ser um pouco mais civilizado.
Ele finalmente a encarou, com uma expressão cansada.
- Clara, eu já disse. Não espere nada de mim.
Ela sentiu a raiva borbulhar, mas decidiu não responder. Em vez disso, pegou sua xícara de café e saiu da cozinha, deixando Marco sozinho.
Apesar de tudo, Clara não desistia. Todos os dias, ela tentava uma nova abordagem, uma nova forma de se conectar com Marco, mas ele parecia determinado a manter a barreira entre eles.
***Uma Luz na Escuridão
Certa noite, Marco chegou em casa mais cedo do que o habitual. Clara estava na sala, lendo um livro. Ele parecia diferente, menos arrogante, quase... cansado. Sem dizer nada, ele se sentou no sofá ao lado dela.
Clara olhou para ele, surpresa, mas decidiu não dizer nada. O silêncio entre eles era estranho, mas não tão desconfortável quanto antes. Por um momento, ela pensou que talvez houvesse uma chance de as coisas mudarem.
Mas, como sempre, Marco se levantou e saiu da sala sem uma palavra.
Clara suspirou, sentindo a esperança escorregar por entre seus dedos mais uma vez.
Mesmo assim, ela decidiu que não desistiria. Não ainda. Afinal, o ano estava apenas começando, e o destino, como sempre, tinha seus próprios planos.