Capítulo 5 A Noite Inesquecível

Marco estava sentado em um bar de iluminação baixa, com a música ambiente preenchendo os silêncios entre ele e Rafael. O amigo o observava com atenção, percebendo a inquietação que Marco tentava esconder atrás de goles de uísque.

- Você sabe que está se sabotando, não é? - disse Rafael, quebrando o silêncio.

Marco bufou, recostando-se na cadeira com desdém.

- Lá vem você de novo. Já disse, Rafa, isso é só um contrato. Nada além disso.

Rafael girou o copo na mão, pensativo. Ele conhecia Marco há anos, desde os tempos de faculdade. Também sabia o que havia acontecido com ele no passado. A traição de Amanda, a mulher que Marco amava, ainda era uma ferida aberta. Pior ainda, ela o trocara por um dos melhores amigos deles, Pedro.

- Marco, eu entendo que você esteja com medo de confiar em alguém de novo - começou Rafael, escolhendo cuidadosamente as palavras. - Mas Clara não é Amanda.

Marco riu amargamente.

- Você não entende nada. Todas as mulheres são iguais. Clara só está nisso pelo dinheiro do contrato. Assim como Amanda só estava comigo até encontrar algo melhor.

Rafael estreitou os olhos, irritado.

- Isso é injusto, e você sabe disso. Clara é diferente. Ela tem mostrado isso desde o começo. Você que está se escondendo atrás desse seu cinismo.

Marco deu de ombros, erguendo o copo para um brinde vazio.

- Eu só quero a empresa, Rafa. Esse casamento é um meio para um fim.

Rafael suspirou, frustrado. Ele sabia que não adiantava insistir. Marco havia se tornado amargo desde a traição, e parecia determinado a não deixar ninguém se aproximar de verdade.

- Certo, você é quem sabe. Mas, falando nisso, quanto tempo falta para o contrato acabar?

Marco olhou para o amigo com uma expressão cansada.

- Dois meses. Dois meses e eu finalmente assumo o controle total da empresa. Depois disso, cada um segue o seu caminho.

Rafael inclinou-se para frente, cruzando os braços sobre a mesa.

- E você acha que Clara vai simplesmente sair da sua vida como se nada tivesse acontecido? Você realmente acredita que isso não vai mexer com ela?

Marco desviou o olhar, incomodado.

- Não sei, Rafa. Não é problema meu. Ela sabia o que estava fazendo quando assinou o contrato.

Rafael balançou a cabeça, desapontado.

- Você pode repetir isso quantas vezes quiser, mas está se enganando. Se continuar agindo assim, Marco, vai acabar perdendo algo que nem percebeu que já tem.

O silêncio pairou entre eles, carregado de significados não ditos. Marco terminou o uísque em um gole só e levantou-se, sinalizando para o garçom.

- Preciso ir.

Rafael observou o amigo sair, sabendo que suas palavras provavelmente cairiam em ouvidos surdos.

***A Noite com Clara

Ao chegar em casa, Marco tropeçou ao abrir a porta, o som ecoando pelo hall silencioso. Clara estava na sala, terminando de organizar alguns papéis, e ergueu o olhar surpresa ao vê-lo naquele estado.

- Marco, você está bem? - perguntou ela, aproximando-se com cuidado.

Ele não respondeu imediatamente. Seus olhos, meio turvos pelo álcool, fixaram-se nela de uma maneira que Clara nunca tinha visto antes. Era como se, por um instante, ele a visse de verdade.

- Clara... - murmurou, a voz arrastada.

Antes que ela pudesse reagir, Marco segurou sua mão e a puxou para mais perto. O gesto foi inesperado, e Clara sentiu o coração disparar.

- Marco, você está bêbado. Deveria...

Ele a interrompeu, beijando-a com uma intensidade que a deixou sem palavras. Clara hesitou, surpresa, mas acabou cedendo. Era o momento que ela havia desejado por tanto tempo, mesmo sabendo que ele não estava em seu estado normal.

Marco a guiou até o quarto, os movimentos um pouco desajeitados, mas cheios de uma ternura que ela nunca havia experimentado antes. Ele a deitou na cama com cuidado, os olhos fixos nos dela, como se estivesse vendo algo precioso.

- Você é linda... - murmurou, antes de beijá-la novamente.

Os lábios de Marco exploravam cada centímetro do corpo de Clara, como se ele estivesse memorizando cada detalhe. Seus toques eram ao mesmo tempo firmes e delicados, criando uma tensão que fazia o coração de Clara acelerar. Ele desceu os beijos pelo pescoço dela, os ombros, e continuou explorando seu corpo com uma paixão que parecia surgir das profundezas de sua alma.

Clara sentiu um arrepio quando ele segurou seu rosto entre as mãos e a olhou nos olhos, como se estivesse tentando dizer algo que as palavras não conseguiam expressar. Ela fechou os olhos e se entregou completamente, sentindo-se segura nos braços dele.

Quando finalmente se uniram, foi como se o mundo ao redor desaparecesse. Marco a guiava com uma mistura de urgência e cuidado, como se estivesse tentando compensar todas as vezes em que a manteve à distância. Clara sentiu uma onda de emoções intensas - desejo, amor e uma vulnerabilidade que nunca havia experimentado antes.

A noite foi longa, repleta de suspiros, sussurros e toques que pareciam contar histórias. Marco parecia outro homem, mais humano, mais real. Ele a segurava como se tivesse medo de deixá-la ir, e Clara desejou que aquele momento durasse para sempre.

***O Dia Seguinte

Quando Clara acordou, o sol já estava alto. Ela se virou na cama, mas Marco não estava lá. Um sorriso tímido surgiu em seus lábios ao lembrar da noite anterior. Talvez, finalmente, ele tivesse baixado a guarda.

No entanto, sua esperança começou a desmoronar quando desceu as escadas e o encontrou na cozinha. Marco estava com a expressão de sempre, fria e distante, como se nada tivesse acontecido.

- Bom dia - disse ela, hesitante.

Marco apenas acenou com a cabeça, focado no celular.

- Sobre ontem à noite... - começou Clara, mas ele a interrompeu.

- Ontem? - Ele ergueu o olhar, confuso. - Eu estava bêbado. Se fiz alguma coisa, desculpe.

Clara sentiu o coração se partir. Ele não se lembrava. Ou, pior, estava fingindo que não se lembrava.

- Claro... Não foi nada - respondeu ela, forçando um sorriso antes de sair da cozinha.

Enquanto subia as escadas, Clara sentiu as lágrimas escorrerem. A noite que para ela fora inesquecível, para Marco, parecia não ter significado algum.