Capítulo 4 Tentativas Frustradas

Clara continuava a se esforçar para construir algo minimamente decente em seu casamento. Ela preparava jantares especiais, arrumava a casa com cuidado e tentava ser compreensiva com o comportamento frio de Marco. Mas, apesar de todos os seus esforços, ele permanecia insensível, tratando-a apenas como uma obrigação contratual.

Certa noite, Marco saiu novamente, como de costume, sem dar muitas explicações. Clara já havia parado de perguntar para onde ele ia, pois as respostas sempre eram vagas ou carregadas de desdém. No entanto, dessa vez, as coisas tomaram um rumo diferente.

Na manhã seguinte, a mídia estava em polvorosa. Manchetes de jornais e sites de fofocas traziam fotos de Marco em um restaurante luxuoso, conversando com uma mulher deslumbrante. A legenda insinuava um possível romance, e os comentários eram repletos de especulações sobre a identidade da misteriosa acompanhante.

Clara viu as fotos enquanto tomava café. Seu coração apertou, mas ela se forçou a respirar fundo. Ela sabia que o contrato proibia traições e, até onde podia ver, as imagens não mostravam nada que indicasse algo além de uma conversa. Mesmo assim, a exposição pública a afetava.

Quando Marco chegou em casa naquela noite, Clara o encarou com firmeza.

- A mídia está falando de você, Marco. Com outra mulher.

Ele bufou, irritado.

- E daí? Eu não fiz nada de errado.

- Talvez não tenha feito - respondeu Clara, tentando controlar a voz. - Mas você sabia que isso chamaria atenção. Você sabia que as pessoas começariam a falar.

Marco revirou os olhos.

- Isso não é problema seu.

Clara se levantou, frustrada.

- Você está certo, Marco. Não é problema meu. Nada sobre você é meu problema.

Ela saiu da sala, deixando Marco sozinho.

***A Intervenção do Avô

No dia seguinte, Augusto Bezerra convocou Marco para uma conversa em seu escritório. Assim que Marco entrou, o avô o encarou com uma expressão séria.

- Precisamos conversar, Marco.

Marco suspirou, sentando-se em uma das cadeiras.

- O que foi agora, vô?

Augusto jogou uma das manchetes na mesa.

- Isso. Essa mulher. Você sabe o que essas fotos estão fazendo com sua esposa?

Marco cruzou os braços, irritado.

- Clara sabe que isso é só um contrato. Não tem motivo para ela se importar.

Augusto bateu na mesa, fazendo Marco se encolher.

- Não seja tolo, Marco! Clara é uma mulher de valor. Ela está se esforçando para fazer esse casamento funcionar, enquanto você age como um garoto mimado.

Marco revirou os olhos, mas o tom de seu avô o fez hesitar.

- Eu não fiz nada de errado.

- Talvez não tenha traído, mas você a humilhou publicamente. A mídia não sabe quem é sua esposa porque você nunca teve a decência de apresentá-la ao mundo. E agora ela é obrigada a ver seu nome associado a outra mulher.

Marco ficou em silêncio, sentindo um leve desconforto crescer dentro de si. Ele nunca pensara nas consequências de suas ações para Clara. Para ele, o casamento era apenas um fardo, algo que precisava suportar para alcançar seus objetivos.

Augusto continuou.

- Se você não começar a agir como um homem, Marco, vai acabar perdendo a única pessoa que pode realmente ajudá-lo a se tornar alguém melhor.

Marco não respondeu. Ele se levantou e saiu, mas as palavras de seu avô continuaram ecoando em sua mente.

***Clara e Augusto

Alguns dias depois, Clara decidiu conversar com Augusto. Ela sentia que precisava esclarecer suas intenções e deixar claro que não esperava mais nada de Marco.

- Senhor Augusto, eu queria falar sobre meu casamento com Marco - começou Clara, sentada no escritório do patriarca.

Ele a olhou com gentileza.

- Claro, minha querida. O que você tem em mente?

Clara respirou fundo antes de continuar.

- Eu sei que o senhor tinha boas intenções ao nos unir, mas... Marco não quer mudar. Ele deixou isso claro desde o início. Eu não vejo como esse casamento pode durar além do contrato.

Augusto suspirou, passando a mão pelos cabelos brancos.

- Clara, eu entendo sua frustração. Marco é teimoso, mas ele não é um homem ruim. Ele só precisa de tempo.

- Tempo é algo que eu não tenho, senhor Augusto. Esse contrato dura um ano, e depois disso, quero seguir minha vida. Não posso continuar me machucando por alguém que nem tenta.

Augusto a observou em silêncio por alguns segundos antes de responder.

- Eu entendo, Clara. E, se chegar a hora e você decidir ir embora, não vou julgá-la. Mas saiba que eu ainda acredito que você é a única pessoa capaz de alcançar o coração do meu neto.

Clara forçou um sorriso, mas não conseguiu esconder a tristeza em seus olhos. Ela sabia que Augusto tinha boas intenções, mas não podia carregar sozinha o peso de um casamento que Marco parecia determinado a destruir.

***A Distância Cresce

Depois do incidente com as fotos, Clara se tornou ainda mais reservada. Ela parou de tentar agradar Marco, limitando-se a cumprir sua parte no contrato. As conversas entre eles, que já eram raras, praticamente desapareceram.

Marco, por sua vez, começou a notar a mudança. Ele não sabia por que, mas a distância de Clara o incomodava. Ele estava acostumado a vê-la tentando, a ouvir suas palavras gentis, mesmo quando ele as ignorava. Agora, o silêncio dela parecia ensurdecedor.

Certa noite, Marco entrou na sala e encontrou Clara lendo um livro. Ele hesitou por um momento antes de se sentar no sofá oposto.

- Clara - começou ele, mas a voz soou estranha até para ele.

Ela levantou os olhos, esperando que ele continuasse.

- Eu... sobre aquelas fotos. Não foi nada.

Clara fechou o livro com calma e o encarou.

- Eu sei que não foi nada, Marco. Mas isso não muda o fato de que você não se importa com o impacto das suas ações.

Ele ficou em silêncio, incapaz de responder.

- Boa noite, Marco - disse Clara, levantando-se e saindo da sala.

Enquanto ela subia as escadas, Marco ficou sentado, sentindo pela primeira vez o peso de sua indiferença. Talvez, ele começasse a perceber que o contrato que assinara com Clara não era apenas um acordo frio, mas uma oportunidade que ele estava desperdiçando.

            
            

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