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O Inferno Sobre Rodas
Simone
As luzes ainda piscam no hospital, instáveis, me deixando ansiosa e apreensiva, vidas depende do tempo que a energia vai demorar para ser restabelecida.
Enquanto o gerador luta para sustentar os aparelhos essenciais. Mas a energia não volta por completo.
Meu coração bate descompassado enquanto corro para a emergência, sentindo o suor escorrer pela minha nuca.
- O que temos? - pergunto, tentando recuperar o fôlego.
A enfermeira me encara com olhos arregalados.
- Um acidente grave na avenida principal. Os semáforos pararam... Doutora, é um massacre lá fora.
Aperto os dentes. Droga.
- Quantos feridos?
- Ainda não sabemos. Os bombeiros estão trazendo mais vítimas.
Olhando em volta, vejo que não temos leitos suficientes, nem pessoal para isso. O hospital está sobrecarregado, e agora essa catástrofe só piora tudo.
Sinto uma presença ao meu lado. Enrique.
Seus olhos analisam tudo com precisão, como se calculasse a gravidade da situação. Não é um olhar de quem está apenas observando.
É o olhar de um soldado.
Ele me encara, e por um instante, sinto que não estou sozinha nisso.
–Fique tranquila doutora sou bombeiro, sou treinado para emergências, possível ajudar.
Precisamos mesmo de ajuda nesse caos
Mas não há tempo para distrações. O barulho de sirenes corta o ar, e os paramédicos entram empurrando macas.
O inferno acaba de começar.
Enrique
A cena é pior do que imaginei.
Corpos ensanguentados, feridos gemendo, médicos e enfermeiros correndo de um lado para o outro. Caos absoluto.
Vejo Simone no meio disso tudo, comandando a equipe como se fosse uma general no campo de batalha.
Seu rosto está coberto de suor, os cabelos presos de qualquer jeito, mas nada nela vacila.
Sinto algo no peito.
Admiração.
E preocupação.
Um paramédico passa por mim empurrando um homem desacordado. O cheiro de gasolina e metal queimado invade minhas narinas.
Eu reconheço isso. É cheiro de tragédia.
Mas uma coisa não sai da minha cabeça: os semáforos não param de funcionar sozinhos.
Isso foi provocado? Me pergunto desconfiado.
Vejo Simone se abaixar ao lado de uma mulher presa em uma maca, grávida pelo jeito uma gravidez já avançada,os olhos dela cheios de dor e terror.
- Eu estou com você - Simone diz, segurando sua mão. Suave e firme ao mesmo tempo.
A mulher aperta os dedos dela, desesperada.
–Salva meu bebê, por favor! Eu imploro, salva ele!
Algo em mim aperta.
Me aproximo sem pensar.
- O que aconteceu com ela?
Simone levanta a cabeça, surpresa ao me ver ali.
- Hemorragia interna. Se não operar agora, ela não resiste.
Olho em volta. A equipe está sobrecarregada. O hospital inteiro está um caos.
Ela não tem para onde correr.
E por alguma razão que não consigo explicar, não quero que ela enfrente isso sozinha.
- O que precisa? - pergunto, minha voz firme.
Simone pisca, confusa.
- O quê?
- Você precisa de mim?
Os olhos dela brilham com um misto de exaustão e alívio.
- Sim. Preciso.
Eu nunca soube recusar um pedido de ajuda.
Simone
Enrique segura a maca junto comigo enquanto corremos pelo corredor. A mulher geme de dor, e eu pressiono a gaze contra o ferimento, tentando conter o sangramento.
- Fica comigo! - digo a ela. Mas a consciência dela está oscilando.
Enrique olha para mim.
- Ela vai conseguir?
O tom dele é sério, mas vejo algo mais nos olhos castanhos. Ele realmente quer saber.
- Se eu puder operá-la a tempo...
O problema é que o hospital não tem energia suficiente para manter todos os equipamentos funcionando.
E se a sala de cirurgia apagar no meio do procedimento?
A resposta vem antes mesmo que eu possa terminar o pensamento. As luzes piscam e... apagam.
O hospital inteiro mergulha na escuridão.
Enrique
–Porra!
O pânico toma conta dos corredores. Os alarmes disparam, médicos gritam, pacientes choram.
Simone fica imóvel por um segundo. E então age.
- Continuem as ventilações manuais nos críticos! Enfermeira, quero lanternas em todas as salas!
Ela vira para mim, e vejo o brilho da adrenalina nos olhos dela.
- Enrique, preciso que me ajude com essa maca. Não posso perder essa paciente.
- Diga o que fazer - respondo imediatamente.
Ela me encara por um instante, como se não esperasse minha resposta tão rápida.
Depois, assente.
E seguimos.
Simone
Chegamos na sala de cirurgia improvisada, e minha equipe já está preparando os materiais sob a luz de lanternas. É precário, mas é o que temos.
Enrique me ajuda a transferir a paciente para a mesa, e pela primeira vez percebo o quão forte ele realmente é.
Vejo os músculos dos braços dele se contraírem sob a camisa enquanto segura a mulher com cuidado.
Eu não deveria estar notando isso agora.
Ele olha para mim.
- E agora?
Eu engulo em seco.
- Agora eu salvo essa vida.
Mas no fundo, sei que estamos à beira de algo muito maior.