Capítulo 4 Uma Nova Vida no Caos

Uma Nova Vida no Caos

Simone

A sala de cirurgia improvisada está iluminada apenas por lanternas, mas o calor da tensão é palpável.

Enrique ainda está ao meu lado, com as mãos firmes na maca da paciente, mas seus olhos estão em mim, observando cada movimento meu.

Eu não tenho tempo para nada além de agir. A mulher está sangrando em uma taxa alarmante, o monitor cardíaco não para de emitir bipes constantes. Ela está se despedindo da vida, e eu, apesar de todas as minhas tentativas, não consigo impedir.

- Não pare, Simone. Você vai conseguir. - Enrique diz com uma calma que beira a inquietude, suas palavras uma âncora que me mantém focada.

Mas a verdade é que eu não consigo e eu me sinto impotente, sei que o fôlego de vida está se esgotando

Meu coração se aperta ao perceber que os sinais vitais da mulher estão desaparecendo. O silêncio da sala me sufoca. O que fizemos até agora não foi suficiente.

Ela perde a consciência, e não consigo evitar o suspiro de frustração. Eu já vi isso acontecer muitas vezes, mas quando é com uma mãe... Eu não consigo aceitar.

- Eu... eu não posso - murmuro, quase sem fôlego.

Enrique inclina a cabeça, como se tivesse lido minha mente.

- Você salvou tantas vidas antes. Não desista agora.

Eu respiro fundo, tentando controlar a raiva e a dor que invadem meu peito. A paciente não resistiu.

Mas não posso me dar ao luxo de ficar parada. Não agora. Não com o bebê.

Olho para a maca dela e, no momento em que me preparo para fechar os olhos e encarar a derrota, algo se move.

O bebê.

O pequeno corpo ainda está lá, se mexendo ligeiramente, mas tão frágil.

Eu rapidamente me agacho e começo a trabalhar com uma precisão que nem eu sabia que tinha, conectando o monitor fetal, tentando identificar o estado do pequeno.

Enrique está ao meu lado, em silêncio, mas sinto a tensão nele. Ele me observa com um cuidado que não entendo bem. Ele não me interrompe. Ele espera.

- Preciso de ajuda para estabilizá-lo - digo, minha voz rouca de cansaço.

Ele se aproxima e, sem hesitar, coloca as mãos delicadamente sobre o bebê, como se fosse algo precioso demais para ser manuseado com qualquer tipo de força.

Eu ignoro o fato de que o bebê é extremamente prematuro. Ele está em uma incubadora. Não podemos esperar por muito tempo.

- Enrique, você vai ter que dar o primeiro passo até a incubadora. Eu vou precisar de você para estabilizar as funções vitais. Se ele sobreviver a isso, terá uma chance.

Ele não hesita.

- Pode contar comigo, Simone.

Mas eu vejo algo mais nos olhos dele agora. Medo.

Ele não fala, mas é como se estivesse me perguntando, sem palavras, se ele consegue ser o suporte necessário para esse bebê, como se fosse mais do que só uma questão médica.

Eu dou ordens rápidas à equipe e eles começam a preparar tudo para a transferência para a incubadora. O tempo é uma questão de vida ou morte. Cada segundo é crucial.

O bebê está tão pequeno, seu corpo bem abaixo do peso, porém ele luta pela vida. Minhas mãos tremem, mas faço o que é necessário para ajudá-lo a vencer essa batalha.

Enrique está ao meu lado, segurando a incubadora com tanto cuidado que poderia ser um ato de carinho. Mas eu sei que é muito mais do que isso.

Eu estou exausta. Minha mente está atordoada, meus dedos queimam de tanto esforço, mas quando vejo o bebê sendo colocado na incubadora, há um raio de esperança, e eu percebo que não posso falhar agora.

Enrique olha para o bebê com uma intensidade que me pega de surpresa. Seu rosto está tenso, mas também há algo mais ali, algo que me deixa inquieta.

Ele não se afasta da incubadora, e eu posso ver a dor em seu rosto. Não é uma dor de impotência, mas uma dor do tipo que quem já perdeu muito e sabe o que é.

- Ele vai sobreviver - digo, com mais confiança do que realmente sinto.

Ele me encara, e seus olhos brilham com uma emoção que ele não tenta esconder. Não é só gratidão ou alívio. É algo mais profundo.

Enrique segura minha mão com firmeza.

- Não sei como agradecer. Você fez isso. Não foi só a medicina, Simone. Foi você.

Eu me viro rapidamente. Não posso lidar com isso agora. Não depois de ter perdido a mãe. Não depois de ver a dor da perda estampada naquelas feições.

Enrique sente isso.

- Eu não estou pedindo para você me agradecer, Enrique. Esse bebê tem uma chance agora. Essa é a minha missão. Eu... eu vou cuidar dele. Ele vai sobreviver.

Ele assente, e quando vejo a firmeza em seus olhos, algo se acende dentro de mim.

Ele não está apenas agradecendo. Ele está olhando para mim como se me visse de forma diferente. Como se tivesse encontrado algo que ele também precisasse.

Eu não posso me permitir pensar nisso agora. Mas, no fundo, sei que algo mudou entre nós.

Algo muito maior do que esse caos.

Eu apenas olho para o bebê na incubadora, esperando que ele tenha a chance que sua mãe não teve.

            
            

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